Sigma DP# Merrill

Força bruta pixel a pixel


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 283MB).

Tempo estimado de leitura: 16 minutos e meio.

Abril/2015 – As Sigmas DP#Merrill são de longe as câmeras mais controversas que eu tenho no kit do vlog do zack. Ou você ama ou você odeia. Elas são dotadas de um revolucionário sensor Foveon para captura de cores e detalhes de maneira essencialmente diferente do arranjo Bayer tradicional, com maior nitidez pixel a pixel e cores “profundas” que ninguém faz igual. Mas vale a pena? Mudará alguma coisa na vida de alguém? Nem a Sigma responde mas define poeticamente: “as DP são ferramentas filosóficas para expressão artística individual, com qualidades emocionais”. Vai saber o que é isso, mas pior é que eu tenho de concordar. ¯\_(ツ)_/¯ (click here for english text)

Sigma DP Merrill Foveon

“Atacama” com a DP1M em f/8 1/400 ISO100.

O que acontece é que os fotodiodos dos sensores não reconhecem cores. Então nas câmeras tradicionais cada conjunto de quatro pixels é pintado com os filtros vermelho, azul e dois verdes, gerando um mosaico RGGB colorido chamado “arranjo Bayer”. Depois da exposição este quebra cabeça é desmontando no computador num processo chamado “demosaicing”, que interpola cada pixel para “adivinhar” a imagem. Um filtro low pass de efeito anti-aliasing é usado para evitar moiré, e a foto essencialmente sai borrada embora algumas câmeras novas tenham se livrado dele.

Sigma DP Merrill Foveon

Mosaico do arranjo Bayer: 50% verde para luz e só 25% vermelho e 25% azul para cores. Créditos: foveon.com

A ideia do X3 é aproveitar uma característica do wafer de silício em permitir diferentes espectros de luz penetrarem diferentes profundidades do sensor. Então três fotodiodos são colocados um em cima do outro, cada um com uma cor RGB por pixel, o que a Sigma chama de “direct image sensor”. Nesta geração Merrill são incríveis 45 megapixels num APS-C espalhados por 15MP de resolução espacial 4800×3200 em três camadas (15MPx3= 45MP). No final o arquivo sai com “apenas” 4704×3136 mas cada um destes pixels contém informações exatas de cores e detalhes. Sem demosaicing nem exigência de filtro low pass, os resultados são nítidos, com mais detalhes.

Sigma DP Merrill Foveon

Foveon X3: 100% RGB para cores e detalhes reais. Créditos: foveon.com

O problema é que o volume de informações é tão absurdo que francamente a Sigma não é a fabricante mais preparada para lidar com uma ideia destas. Quando o Foveon foi apresentado em 1999, ele prometia revolucionar o mercado de retratos com um laptop completo anexado, com processadores gigantes ligados na tomada; por US$27.000! Mas a Sigma decidiu criar uma série de compactas “premium” que simplesmente não entregam a mesma usabilidade de outras câmeras atuais. As DPs são relativamente lentas, a bateria não dura mais que 70 fotos, e a edição exige um software próprio. Ou você ama ou você odeia. Eu decidi amar e comprei as três DP Merrill.

O “laptop Foveon” de 1999: US$27.000 e mount Canon.

O “laptop Foveon” de 1999: US$27.000 e mount Canon. Créditos: foveon.com

Sigma DP Merrill Foveon

E as três atuais Sigmas DP1, 2 e 3 com sensor Foveon X3 geração “Merrill”; APS-C compactas e objetivas prime.

Tudo começou pela DP1M no Wukesong Camera Market de Beijing em 2012. Eu andei por mais de uma hora sob os -18ºC do inverno chinês para chegar num mega-standcenter-xing-ling que não fica perto de nenhum metrô, num lugar que nenhum taxista fala inglês, num espaço dominado por Canon e Nikon; só para não encontrar ninguém que entendesse o que eu queria. Vá falar “Sigma dí-pi-uan-êm” (DP1M em inglês) de chinês em chinês pra ver se eles entendem; é cômico pra não dizer trágico. Mas por acaso eu encontrei uma DP2M jogada numa vitrine, fiz uma happy dance e comprei; apesar de não ser a DP1M que eu queria. E confesso que achei uma verdadeira b*sta os arquivos na tela LCD da câmera nos primeiros dias, e rolou até um arrependimento.

Wukesong Camera Market

Wukesong Camera Market: se você avistar o Jackie Chan, já sabe que chegou!

Wukesong Camera Market

Dentro do Wukesong Camera Market: o pai do “Stand Center”.

Wukesong Camera Market

O jeito chinês de vender: Canon L na vitrine da Leica, tudo embaladão no “majipack”. :-D

A busca pela DP1M continuou naquele mesmo ano em outro país quando eu digitei um casual “camera store” no Google Maps de Singapura. Ele indicou um tal de SIM LIM SQUARE equivalente ao Wukesong de Beijing, mais ajeitadinho e com cara de shopping. E lá fui eu perguntar de loja em loja se alguém conhecia o que era Sigma. Foi fácil: os malaios entendem inglês e logo no primeiro lugar encontrei em estoque. Comprei sem pensar duas vezes e de novo achei a mesma b*sta na tela LCD da câmera: nitidez bem aquém do que eu pensava, cores estranhas, e nada de entregar as vantagens em pouca luz do sensor grande. Fiz uma cagad*? Gastei dinheiro à toa?

SIM LIM SQUARE

SIM LIM SQUARE (em CAPS): o maior shopping de eletrônicos de Singapura. Seis andares e até escadas rolantes!

Compra da DP1M teve direito até a post em tempo real no www.instagram.com/vlogdozack. \o/

Compra da DP1M teve direito até a post em tempo real no www.instagram.com/vlogdozack. \o/

Mas foi depois da minha primeira experiência masoquista com o Sigma Photo Pro que a ficha caiu: a resolução e as cores na tela do computador eram espetaculares, especialmente lado a lado com as mesmas fotos de uma EOS 60D, também APS-C apesar de maior resolução, e usando uma objetiva parecida. As DP Merrill eram muito, muito, muito mais nítidas. As fotos eram “reais”, com uma aparência pixel a pixel de detalhes e contraste que eu nunca tinha visto. Tudo parecia borrado nas outras câmeras ao lado do Foveon. Cada ponto era um ponto da tela. Eu estava convertido.

Crop 100%, Canon EOS 60D a esquerda e Sigma DP1M a direita. Não, péra… o_0 Raw disponível no Patreon.

Crop 100%, Canon EOS 60D a esquerda e Sigma DP1M a direita. Não, péra… o_0

Crop 100%, Canon EOS 60D a esquerda e Sigma DP2M a direita. Dear lord! O_o

Crop 100%, Canon EOS 60D a esquerda e Sigma DP2M a direita. Dear lord! O_o

Crop 100%, Canon EOS 60D a esquerda e Sigma DP2M a direita. Motherfucker! O-O

Crop 100%, Canon EOS 60D a esquerda e Sigma DP2M a direita. Motherfucker! O-O

No fim a DP3M foi mais fácil de comprar. A B&H Photo sempre teve os três modelos em estoque e um desconto de US$300 selou o negócio para completar a família agora em 2015. Eu “me encontrei” no Foveon X3: a resolução bruta é incrível para impressões, as cores são muito mais legais que Canon e Nikon para paisagens, e a conversão preto e branco é fantástica. O sentimento está desenvolvido e a Sigma estava certa: só o emocional decidirá se você amará ou odiará uma DP# Merrill. Se você der chance a uma delas, te desejo boa sorte, paciência, e boa leitura!

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Sigma DP Merrill Foveon

Descrevei no geral a construção e operação das Sigmas DP# Merrill porque as três são virtualmente idênticas. Do lado de dentro todas tem o mesmo sensor Foveon X3 da geração “Merrill” com formato APS-C e 45MP (15MPx3), e dois processadores TRUE II. Do lado de fora cada uma gira em torno de uma prime específica: DP1M com uma 19mm f/2.8 (28mm equiv.), DP2M com uma 30mm f/2.8 (45mm equiv.), e DP3M com uma 50mm f/2.8 Macro (75mm equiv.); pesando 340g, 329g e 400g respectivamente. Cada lente tem um formato diferente e a DP3 Merrill é a maior delas porque a função macro precisa de mais espaço. Mas no dia a dia todas se comportam da mesma forma.

Sigma DP Merrill Foveon

Construídas em “space-grade aluminium” (?), a sensação de segurá-las nas mãos é “oca” já que os corpos são grandes para o peso. Parecidas com as dimensões de um iPhone 5 em 12.2 cm x 6.6 cm, a menor é a DP2M em 5.8cm de espessura, e a maior é a DP3M em 8.1cm. O design é sóbrio e mais lembra um bloco de metal do que uma câmera fashion-hipster-moderna: nada de design retrô, nada de grip “estilo SLR” na frente, nem peças de borracha moldada atrás. É tudo liso para dissipar o calor da forma mais eficiente possível dos processadores + sensor Foveon X3 de 45MP.

Sigma DP Merrill Foveon

Por isso a Sigma também evitou firulas como viewfinder eletrônico, conexão sem fio, tela touch retrátil, flash embutido ou até um assistente LED para o AF. Tudo ficou de fora a fim de manter a temperatura certa dentro. Se parece uma decisão kamikase, ela é! Logo de cara todas as DP# Merrill saem “ultrapassadas” da caixa sem recursos divertidos para entreter o fotógrafo. Se você quer um brinquedo para mostrar para os amigos ou fotografar as crianças no final de semana, estas não são as câmeras para você. Fique com o seu smartphone ou uma DSLR “profissional”.

Sigma DP Merrill Foveon

Com tanta simplicidade pelo menos a construção é excelente e percebemos que estamos lidando na verdade com uma ferramenta. Você nota ao apertar os botões “click” um feedback mais preciso que por exemplo as borrachas afundadas da Sony RX1R, outra compacta high end por aí. Em cima o botão POWER tem um LED que indica o funcionamento da câmera, ao lado do botão MODE que seleciona a lógica da exposição. E a direita está o disparador com dois níveis, um para acionar o AF + AE, e o outro para tirar a foto. Ao redor dele um jog emborrachado multi funcional rola os controles de exposição sem qualquer balanço, é bem construído.

Sigma DP Merrill Foveon

 

 

Atrás o painel é dominado pela tela LCD 3” de 920k pixels. Ela não é sensível ao toque, não tem sensor de proximidade nem de luz, e entre o plástico de fora e a tela em si há um espaço pra gerar reflexos. Ou seja, é difícil usá-la sob muita luz solar. E embora a quantidade de pixels seja boa, a renderização em tempo real do Foveon é péssima. Qualquer linha fina “pisca” com os movimentos das mãos por causa do aliasing. A Sigma ainda não fez um processador que lide com o Live View de 45MP e o resultado é feio. Fica difícil saber se o foco está certo e quais cores sairão de fato. Por outro lado no playback e nos menus a tela funciona melhor que uma Leica M9.

Sigma DP Merrill Foveon

A direita nós temos um botão AEL programável para travar a exposição, ou travar o foco no ponto central (AFL), ou fazer os dois juntos. O botão QS de “quick setup” aciona dois menus rápidos customizáveis com ISO, AWB, self-timer etc. E por último fica o botão MENU que leva para um sistema de abas como nas Canon EOS. Ao alcance do dedão nós temos um “OK” central e quatro direcionais ao redor. E embaixo nós temos um playback que também serve para ligar a câmera só para ver as fotos (segure por dois segundos), e um “display” que circula as informações do LCD ou até desliga a tela no caso de usar um viewfinder óptico.

 

Sigma DP Merrill

Não faz sentido explicar todos os menus e botões uma vez que eles são programáveis. Mas destaques vão para a memória do último estado da câmera entre cada liga/desliga. Se você usar o tempo inteiro ciclando para economizar bateria, não perderá tempo reprogramando tudo. Em modo “M” os ajustes de obturador e abertura ficam entre a roda de cima e os botões esquerdo/direito, intuitivos. E vou repetir que o click tátil dos botões AEL, QS etc é muito mais “profissional” que outras compactas por aí. Eles não falham depois de alguns meses (oi, Sony) nem foram substituídos por uma tela touch que não funciona com luvas (oi, Canon M).

Sigma DP Merrill Foveon

No dia a dia tudo é simples e funcional. O foco automático é do tipo contraste e obviamente não acompanhará objetos em movimento. Mas pelo menos é preciso e rápido com objetos estáticos. As baterias de 1250mAh duram no máximo 70 fotos, o que é terrível, até você lembrar dos arquivos de 50-60MB que saem do Foveon X3 e o processamento que eles exigem. Por isso vão duas na caixa, o suficiente para usar uma enquanto a outra carrega. Eu que tenho os três modelos DP1, 2 e 3 Merrill tenho seis tijolinhos para um dia inteiro de fotos, que religiosamente são recarregados um a um.

Sigma DP Merrill

As portas e o modo vídeo também são patéticos. Não, as Sigmas DP não fazem vídeo HD e o 640×480 VGA nem precisava estar lá. Leve o seu iPhone pra gravar filmes. Não tem HDMI já que o vídeo VGA tosco não precisa do “HD” do “MI”. E a porta USB 2.0 é jurássica com um plugue que só vi na Lumix GF3 de 2011, compre um cartão de leitores SD para o seu computador. É tudo simples, mas a Sigma fez algo realmente errado com as DP# Merrill ou nós temos um equipamento especializado, compacto, de bolso? Você sabem qual é a resposta.

SIGMA PHOTO PRO 6

Tão controverso quanto a tecnologia Foveon e a operação das câmeras DP# Merrill é o processamento dos arquivos raw .X3F. Ele é feito exclusivamente pelo software Sigma Photo Pro e devo reconhecê-lo como outra dificuldade para trabalhar com estas câmeras. O SPP até roda bem na versão 6 e arrasta bem menos que a anterior 5. Mas não se comporta como um Photoshop ou Lightroom, e nenhum OS suporta este formato; ou seja, nem preview dos arquivos pode ser feito nos thumbnails. É tudo feito pelo SPP e que está na mesma classe dos outros pacotes próprios como o Canon Digital Photo Professional: interface antiga com recursos nada intuitivos e performance questionável, diferente do bom e velho pacote da Adobe.

Sigma Photo Pro: navegador, preview e processador dos arquivos .X3F.

O que acontece é que os 45MP fazem qualquer computador levantar a bandeira processando o arquivo de cabo a rabo para dar saída; igual quando você exporta um arquivo raw deste tamanho no Photoshop. A diferença é que o engine Mercury da Adobe consegue trabalhar com arquivos proxy, com parte da resolução, enquanto você ajusta exposição, cores e contraste. O Sigma Photo Pro não: ele vai processar o arquivo inteiro a qualquer click nos sliders, e você terá de esperar de 8 a 10 segundos para ver o resultado na tela. Enche o saco e demora. Demora pra ca-ra-lh*.

Janelas de ajustes: controles simples de exposição e nenhuma ferramenta de edição.

Primeiro há sim um “Display Speed Priority mode” que trabalha só com parte da resolução do arquivo, que vai depender das dimensões do seu monitor. Com ele ligado você não consegue dar zoom 100% nem usar a lupa para ver os detalhes de perto, mas a performance sobe quase 25%. Segundo, os arquivos .X3F vem por “default” com três fases de redução de ruídos ligadas: chroma, luminance e banding. Quem faz “noise reduction” nos programas da Adobe sabe que eles também começam a arrastar com estas opções. Então basta desligá-las para ganhar performance.

Performance: desligue os três níveis de “noise reduction” (esquerda) e use o “display speed priority mode”.

Com tudo isso ligado/desligado dá pra viver no Photo Pro 6.0.5. Lógico que ele não é tão rápido quanto trabalhar em JPEG, que as DP também fazem e eu não recomendo; você perde resolução e profundidade de cores. E também é lógico que na hora de exportar as fotos você terá de esperar os longos 15 segundos por arquivo, afinal estamos falando de 45 milhões de pontos não importa a resolução final de 4704×3116. Mas a Sigma está na direção certa com o Photo Pro 6 e não vejo mais como um argumento contra as câmeras. Get over it!

QUALIDADE DE IMAGEM

“Sn. P. de Atacama 117” com a DP1M em f/8 1/160 ISO100.

“Sn. P. de Atacama 117” com a DP1M em f/8 1/160 ISO100.

Resumindo até aqui: tecnologia controversa, nenhuma função especial e software diferente. Tem alguma coisa de positivo nas Sigmas com o sensor Foveon X3? Puta que p@riu, tem, e é a qualidade de imagem. Vamos tirar uma coisa logo do caminho: estas câmeras entregam arquivos com resolução muito além de qualquer máquina Bayer parecida, com nitidez inacreditável e detalhes que dão um “look tridimensional” pixel a pixel, com cores reais sem invenção do computador que nenhum outro sistema consegue fazer. Nem Fuji X-Trans, nem full frame 135, nem médio formato 16-bit; nenhum deles faz cores como as Sigmas com Foveon.

“Muralha da China” com DP2M em f/8 1/80 ISO100.

“Muralha da China” com DP2M em f/8 1/80 ISO100.

E vamos deixar clara outra coisa: “qualidade de imagem” é um termo genérico usado por todo mundo que quer tirar fotos melhores sem aprender a fotografar. Não estou falando desta “qualidade de imagem”. Estou falando de 1) resolução bruta para impressões; 2) cores fiéis com valores exatos de azul, vermelho e verde; 3) e objetivas com clareza e contraste perfeitos, com estrelas de quatorze pontas nos highlights. Sem luz, sem técnica e sem sujeitos interessantes, desculpe, “qualidade de imagem” nenhuma fará suas fotos melhores.

“XING” com a DP3M em f/5 1/1250 ISO100.

“XING” com a DP3M em f/5 1/1250 ISO100.

Mas estas “qualidades” da Sigma farão diferença pra quem? Se você imprime religiosamente todas as fotos em formato grande tipo 1 metro por 66cm com pelo menos 100dpi para visualização de perto, num processo calibrado de cores, sim, as Sigmas DP Merrill farão toda a diferença por uma fração do preço de um back digital. Os azuis são profundos e escuros. Os amarelos tem mais vermelho e marrom. E os vermelhos “sangram”, difícil de imprimir até em labs de fine art.

“Carruagem” com a DP3M em f/8 1/100 ISO400.

“Carruagem” com a DP3M em f/8 1/100 ISO400.

Começando pela resolução de cada pixel do Foveon, ela tem uma enorme vantagem principalmente quando você olha os arquivos lado a lado entre câmeras parecidas, com mesma resolução e distância focal. As Sigmas tem um nível de micro contraste ponto a ponto que você conseguirá enxergar por exemplo TODOS os grãos de areia numa duna distante; cada fio de pêlo em animais; e os contornos gráficos saem com uma aparência “vetorial” na tela, coisa que o sistema Bayer simplesmente não faz. É ver para acreditar e a maior vantagem das DP, fenomenal.

“São Paulo” com a DP3M em f/8 30” ISO100. Raw disponível no Patreon.

“São Paulo” com a DP3M em f/8 30” ISO100.

Crop 100%, esquerda DP3M, direita Nikon D800E em modo DX (15MP) + Sigma 50mm f/1.4 DG HSM.

Crop 100%, esquerda DP3M, direita Nikon D800E em modo DX (15MP) + Sigma 50mm f/1.4 DG HSM.

“Shanghai ifc mall” com a DP1M em f/8 1/250 ISO100. Raw disponível no Patreon.

“Shanghai ifc mall” com a DP1M em f/8 1/250 ISO100.

Crop 100%, esquerda DP1M, direita Canon EOS 60D + EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM.

Crop 100%, esquerda DP1M, direita Canon EOS 60D + EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM.

“Koala” com a DP2M em f/8 1/50 ISO100.

“Koala” com a DP2M em f/8 1/50 ISO100.

Crop 100%, reprodução de cada pêlo…

Crop 100%, reprodução de cada pêlo…

Já as cores saem diferentes do Foveon X3 porque os valores absolutos de R, G e B são medidos em cada pixel, sem a interpolação do computador que acaba dependendo da “ciência de cores” de cada fabricante. Vocês sempre me escutam falar disto quando a Canon calibra o sistema EOS para reproduzir tons de pele mais rosas e alaranjados, e a Nikon puxa tons para o amarelo e o verde. São diferenças nos arquivos direto das câmeras e que equilibram todo o restante do quadro. Mas no Foveon não, as cores são exatas e você pode escolher um “peso” para cada cor:

“Foveon Classic Blue” para céus mais profundos.

“Foveon Classic Blue” para céus mais profundos.

“Lonely tree” com a DP1M em f/8 1/640 ISO100.

“Lonely tree” com a DP1M em f/8 1/640 ISO100.

“Landscape” para amarelos e verdes-bandeira.

“Landscape” para amarelos e verdes-bandeira.

“Paso Sico” com a DP1M em f/8 1/320 ISO100.

“Paso Sico” com a DP1M em f/8 1/320 ISO100.

E “portrait” para tons de pele menos saturados.

E “portrait” para tons de pele menos saturados.

“Gato” com a DP2M em f/2.8 1/1250 ISO100.

“Gato” com a DP2M em f/2.8 1/1250 ISO100.

E a Sigma também tratou de colocar as melhores primes nesta câmeras, entregando próximo da perfeição na DP1M grande angular; que sofre um pouco de CA lateral nas bordas e astigmatismo. A perfeição na DP2M “standard”; os arquivos mais limpos e precisos de todos os tempos do vlog do zack. E eu ainda estou me acostumando com a distância acentuada da DP3M e o curto telephoto, com CA axial no desfoque e aberturas diferentes para aumentar a profundidade de campo. Fora isso a distorção geométrica é baixa, o bokeh é suave, e da abertura máxima f/2.8 em diante a resolução é intocada, nada parecido por menos de US$1000 (só lente) no EF ou no F-mount.

DP1M

“Volcán Láscar” com a DP1M em f/8 1/320 ISO100.

“Volcán Láscar” com a DP1M em f/8 1/320 ISO100.

DP2M

“Muralha da China II” com a DP2M em f/8 1/80 ISO100.

“Muralha da China II” com a DP2M em f/8 1/80 ISO100.

DP3M

“Empire State Building” com a DP3M em f/8 1/200 ISO100.

“Empire State Building” com a DP3M em f/8 1/200 ISO100.

“Padlocks IV” com a DP3M em f/2.8 1/640 ISO100.

“Padlocks IV” com a DP3M em f/2.8 1/640 ISO100.

Crop 100%, performance na função macro, resolução e bokeh em abertura máxima.

Crop 100%, performance na função macro, resolução e bokeh em abertura máxima.

Por outro lado a ideia de usar um sensor com “camadas” não é muito “feliz” para capturar pouca luz, e o Foveon sofre no escuro e com ISOs altos. Há perda significativa de performance fora do ISO100 com ruídos coloridos nas sombras logo em ISO200, cores sem graça em ISO400, erros fatais das cores em ISO800, e eu não sei nem pra quê a Sigma colocou ISO maiores. E até tentaram forçar a barra além de ISO1600 com um modo preto e branco que resolve os problemas nas cores, mas mesmo assim os detalhes vão embora. A verdade é que elas funcionam de ISO100 até 400.

“Calatrava II” com a DP3M em f/8 1/100 ISO200.

“Calatrava II” com a DP3M em f/8 1/100 ISO200.

Crop 100%, em ISO200 as sombras já estão com manchas coloridas de ruídos.

Crop 100%, em ISO200 as sombras já estão com manchas coloridas de ruídos.

Além disso o banding em ISO100 aparece no sensor dependendo do contraste da cena, com uma visível padronagem das linhas do sensor em áreas de sombra. Suspeito ser um vazamento de eletricidade entre o pixels já que acontece só em fotos com zonas distintas de luz ou quando um obturador rápido é usado. Há uma função “noise banding” específica no SPP mas como toda redução de ruídos você perderá também os detalhes. De novo, não dá para evitá-lo e se for um problema nas suas fotos, prepare-se para perder tempo eliminando o via software.

“Tocopilla” com a DP1M em f/8 1/640 ISO100.

“Tocopilla” com a DP1M em f/8 1/640 ISO100.

Crop 100%, banding nas sombras…

Crop 100%, banding nas sombras…

Crop 100%, e banding em boa luz, mesmo em ISO100.

Crop 100%, e banding em boa luz, mesmo em ISO100.

Por último outra característica bizarra acontece no flaring. Quando você tem uma fonte de luz direta no quadro, um padrão de círculos coloridos toma conta da imagem. Ninguém sabe explicar e todas as DP# Merrill tem o mesmo problema; ou seja, não é culpa das objetivas, é do sensor. Não dá pra saber como evitá-lo porque de vez em quando aparece, de vem em quando não. Pelo menos dá pra vê-lo na tela LCD antes de fazer a foto e tentar consertar: mudando de posição, tapando a fonte de luz com as mãos, ou simplesmente desistindo de fotografar.

“Duna II” com a DP1M em f/8 1/200 ISO200.

“Duna II” com a DP1M em f/8 1/200 ISO200.

“Ellis Island” com a DP3M em f/16 1/800 ISO100.

“Ellis Island” com a DP3M em f/16 1/800 ISO100.

VEREDICTO

A nitidez e os detalhes são o maior triunfo da Sigma e infelizmente isto não fará diferença para 99% dos fotógrafos. Lado a lado, o poder de resolução da geração atual das DP# Merrill é equivalente a 30MP de uma câmera Bayer de mesmo formato (no caso o APS-C), já que os sensores RGGB não registram 50% dos detalhes. Ou seja, ninguém fez nada parecido por enquanto exceto a Samsung NX1 APS-C de 28MP. Pixel a pixel nada chega perto do Foveon X3. E as cores também estão um passo além do restante apesar do mercado estar acostumado com Canon e Nikon. Qualquer pessoa que sair “marrom” na foto achará estranho, então as Sigmas valem para paisagens e só.

“oh_chile” com a DP1M em f/8 1/320 ISO100.

“oh_chile” com a DP1M em f/8 1/320 ISO100.

E tudo isso tem um preço alto. A tecnologia é “novidade” e o processamento ainda não está lá, nem com dois chips. O desempenho em ISO além de 400 é inaceitável, limitando o uso para exposições cuidadosas. E cada DP# Merrill custa US$700 (no lançamento eram US$1000), desembolsando quase US$2100 + impostos para ter um kit limitado de três objetivas, que ocupará mais espaço na mochila. Ou você pode comprar a DSLR Sigma SD1 Merrill com o mesmo sensor das DPs por US$1999 (era US$10.000 no lançamento), apesar de nenhuma objetiva zoom tirar proveito dele. Qualidade por qualidade, fique com as Merrill.

“Luna” com a DP1M em f8 1/500 ISO100.

“Luna” com a DP1M em f8 1/500 ISO100.

No final das contas eu estou convertido. Simplesmente não dá para olhar nenhuma “foto Bayer” com os mesmos olhos depois de experimentar o Foveon; e por isso eu comprei todas. Se as DPs substituirão minhas DSLR com sensor de arranjo Bayer e infinita troca de lentes? Não. Se eu acho legal a bateria para 70 fotos, software lento e nenhuma esperança em ISOs altos? Também não. Mas se tiver a chance de encontrar sujeitos interessantes no caminho e a certeza que imprimirei as fotos, levarei as Sigmas DP Merrill comigo. Nada chega perto em força bruta pixel a pixel e isto faz diferença no papel. Para todas as outras situações, não comprem. E boas fotos!