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Dezembro/2016 – Falar de Sigma é sempre uma “experiência” no mínimo curiosa no blog do zack. Se não é pelas primes de alta performance, que misteriosamente custam uma fração do preço das marcas tradicionais; ou por zooms de abertura, resolução e praticidade incompatíveis com o preço, é por ideias inovadoras, não vistas em mais nenhuma fabricante, que a Sigma nos causa um estranhamento, pela forma diferente de pensar. O Sigma USB DOCK UD-01 é mais uma destas ideias, e trás uma função única para o mercado, jamais oferecida ao usuário final: conectar a objetiva de fotografia a um computador, para reconfigurá-la sozinho em casa, de acordo com as necessidade de cada um. Conectar a objetiva no computador? Esta é uma boa ideia? E, mais importante, pra quê? Vamos descobrir em mais um review do blog do zack. Boa leitura. (english)
Em 6.8 x 3.1 cm com tampa, de apenas 65g de plástico e metais, o USB DOCK não poderia ser mais simples, afinal sua razão de ser não é das mais complexas. Do mesmo formato que um adaptador de objetiva, o cilindro plástico, “levinho”, praticamente oco, abriga apenas uma saída para o mount de metal, aqui testada com a baioneta de montagem Canon EF; uma porta USB lateral, com plugue UC-E6 (nem micro, nem mini USB); um botão deslizador para liberar a objetiva, totalmente de plástico embora bem feito; e um LED de informação, que acende em verde quando o computador está conectado; ou pisca indicando o acesso. Ao redor do tubo há sulcos gravados no plástico, para aderência das mãos, e é fácil de montar. Tudo tem um acabamento preto acetinado, de alta qualidade, sem rebarbas no policarbonato e nas portas, típico da linha Sigma Global Vision.
Apesar de simples, a operação do USB DOCK é confiável, melhor que adaptadores até mais caros que já usei. Enquanto baionetas de baixa qualidade não garantem uma comunicação estável entre a objetiva e a câmera, com erros “ERR01” comuns, a conexão do UD-01 com o mount é sólida, primordial para evitar falhas de comunicação com o computador, que poderiam destruir a objetiva. Com contatos internos banhados a ouro, não oxidáveis, e uma “placa” firme que segura os pinos no lugar, o USB DOCK é genuinamente “MADE IN JAPAN”, como poucos acessórios hoje em dia. O plugue USB UC-E6 também é bem feito, justo, porém pouco popular no mercado; eu preferiria um dos mini/micro plugs USB, dos tipos que eu já tenho em cima da mesa, do que usar o cabo só da Sigma. Por outro lado o fio que vem na caixa é de alta qualidade, macio, flexível e longo, para usar com objetivas grandes, sem o risco de puxá-las acidentalmente. Então o kit é simples e fácil de usar: plugue o dock na objetiva, o cabo no dock, ligue no computador, e pronto.
Por US$59 o USB DOCK é uma ideia bem feita, sem passar a sensação de um produto “beta”. O acabamento é típico “Sigma Global Vision”, bem acertado apesar do preço, e o kit é completo, considerando o valor. A operação é fácil, como não poderia deixar de ser. É interessante ver a designação “UD-01”, que abre espaço para outros docks no futuro, caso a ideia “pegue”. Eu já imagino um dock bluetooth, para usar com o smartphone, outro dock com sensor de alinhamento embutido, outro dock com… Me surpreende que nenhuma outra marca tenha pensado nisso antes e, como veremos a seguir, talvez a resposta esteja na real utilidade de uma ideia destas.
Se o dock é bem feito e a operação é fácil, nada disto adiantaria se a Sigma não desenvolvesse um software a altura. E eu que não sou um grande fã dos programas da Sigma, quem leu o review das DP#M ou usa uma câmera com Foveon Merrill/Quattro, sabe o fiasco que é o Photo Pro 6, me surpreendi com a proposta simplificada (até demais) do Sigma Optimization Pro (SOP). Ele é auto-explicativo, desde que você saiba ler em inglês; a documentação é completa, com passo-a-passo de como ajustar cada função; e o pacote é gratuito no site da Sigma, para Windows ou Mac.
Antes de falar como funciona o SOP, vale a pena comentar para quê serve o SOP, e o por quê dele existir. Primeiro, a Sigma é uma marca não autorizada a usar os mounts que fabrica, e eles não sabem de fato como cada câmera funciona. Não há qualquer troca de informações entre Sigma e Canon, por exemplo, como acontece num programa “Made for iPhone”, da Apple e outros fabricantes. Então vira e mexe, as objetivas da Sigma não funcionam em câmeras mais novas, quando as marcas mudam os protocolos de comunicação. Faz-se necessária a atualização de software da objetiva (firmware), para ela “voltar a funcionar”, e o dock vira uma ideia importante para a Sigma. Um grande porém, é que o USB DOCK é compatível somente com as “novas” Global Vision (Art, Sports e Contemporary). Com outras objetivas mais antigas, como a 17-50mm f/2.8 EX que veremos em breve, aparece um aviso de incompatibilidade, impedindo qualquer atualização.
Segundo, dada a precisão do conjunto “câmera + objetiva” para focar automaticamente, não raro nós temos os chamados “problemas de front/back focus”, quando a máquina foca um pouco mais atrás/frente de onde deveria. É aquela situação em que você foca no olho da modelo, usando o viewfinder da câmera, mas ao ver a foto na tela do computador, percebe que o nariz (ou a orelha) saiu mais nítido. Neste caso, as fabricantes recomendam levar todo o kit, câmera + objetiva, à assistência técnica, para serem calibradas por profissionais autorizados, que tem as ferramentas para detectar a fonte de tais erros. A Sigma oferece no Optimization Pro uma interface para fazer estas calibragens, embora peque em esclarecer como devemos corrigir de fato front/back focus.
Com a objetiva plugada no computador, o SOP reconhece automática e rapidamente a conexão, indicando no LED do dock a luz verde. Mas logo de cara vem uma das partes mais irritantes: a cada inicialização, o SOP busca uma atualização de firmware para a objetiva, processo que pode levar de 10 a 20 segundos, dependendo da sua conexão com a internet. Sim, vamos descrever de novo: a cada inicialização o software busca por alguma atualização de firmware, mesmo que você já tenha feito a atualização antes, ou inclusive tenha feito durante a sessão do SOP aberto. Isso pode deixar bem tedioso o processo, por exemplo, de verificar os ajustes de foco, com o liga/desliga do dock e o tempo que demora para liberar os menus de ajustes, por causa do firmware.
Depois de feito o contato e o SOP buscar automaticamente pelo firmware, a objetiva conectada aparecerá na tela do computador. Modelo, ano de fabricação, número de série e até foto são mostrados na tela, para você ter certeza que está configurando a peça certa. Para o SOP, esta informação é importante pois indicará quais ajustes poderão ser feitos, que variam de objetiva para objetiva. Nas primes, o ajuste de posição de foco (back/front focus) pode ser feito em 4 distâncias pré-selecionadas, entre o foco mínimo e o infinito. Para zooms, 4 distâncias focais podem ser programadas sob 4 distâncias de foco (16 no total), afinal não adianta compensar todo o range se o problema está numa posição só. E para objetivas com a chave Custom, o SOP libera funções de velocidade, limitador de distância, “Full-time MF” e estabilizador, que não aparecem nos outros modelos. Ou seja, nada de aumentar a velocidade das primes Art, que não tem a chave.
A partir disto, a configuração é relativamente fácil, porém pouco clara e o meu motivo de ser contra a ideia dos “micro ajustes”. Por exemplo, com a zoom 50-100mm f/1.8 DC HSM, o SOP mostra uma tabela fácil de entender com “distância focal” e “distância de foco”, que vem “zerados” (0) de fábrica. Mas nada é indicado sobre 1) como testar a objetiva para descobrir problemas de front/back focus, 2) qual o valor correto para sua objetiva, ou mesmo 3) o que estes “+5” ou “-10” dos ajustes significam na vida real. E este é o principal problema: na minha opinião, o usuário final não está apto a fazer a calibragem em casa. Medir uma função tão precisa quanto a distância de foco automático usando uma régua ou target sobre a mesa; ou comparando clicks, que não levam em consideração, por exemplo, a temperatura da câmera, é uma piada. A própria Sigma falha em recomendar um passo-a-passo confiável, por mais bem feitos que sejam os vídeos no site da fabricante. Então é difícil recomendar o dock para isso, pois fica a sensação de “estamos fuçando”.
Com a 150-600mm f/5-6.3 DG OS HSM Contemporary, além dos ajustes de foco automático, outros ajustes mais interessantes estão disponíveis. Os de estabilização vocês viram no vlog do zack mas, francamente, não fizeram tanta diferença assim. Os modos “dynamic” e “standard”, na minha opinião, funcionam da mesma forma: o viewfinder não é estabilizado e continua difícil de compor o quadro lá nos 600mm. Talvez com muuuita boa vontade eu perceba alguma diferença no “moderate”, que estabiliza mais o viewfinder. Mas no final das contas, na hora do click, são todos iguais. O mesmo pode ser dito sobre as opções de “velocidade de foco”, uma que dá prioridade a velocidade do motor (speedpriority), e outra que dá prioridade a suavidade (smoothpriority). E o “speed” infelizmente também não fez diferença, já que não tirou o lag entre o botão AF-ON e a 150-600 começar a focar; e nem aumentou a velocidade do motor. Portanto, não funciona.
Por fim os ajustes dos limitadores de distância e do “Full-time MF” são os mais simples do SOP, mas potencialmente os mais úteis. O limitador de distância de foco, por exemplo, pode ser muito mais sensato para “aumentar” de fato a velocidade do AF, do que sonhar com um motor mais rápido. Por exemplo fotógrafos de natureza, que já tem um estilo de composição firmado, podem limitar o percurso do AF a um espaço mais próximo do infinito, digamos 50m-∞, do que os 10m-∞ que geralmente vem programado de fábrica. A configuração do Full-time MF, por sua vez, é a mais sofisticada delas, e programa um giro no anel de foco para desativar totalmente o foco automático, mesmo que o botão na câmera esteja apertado. É uma função interessante para quem não está acostumado com o botão “AF-ON” traseiro, ou mesmo com câmeras que não tenham este botão. Neste modo, um giro no anel de foco desabilita o AF, sem o fotógrafo tirar o dedo do botão.
O Sigma USB DOCK é uma ideia muito nova para concluirmos de fato se ele é bom ou se é ruim. Dependendo do ponto de vista do usuário, ele é a salvação das third parties, que sempre corriam o risco de ter produtos incompatíveis com câmeras novas. Para atualizar o firmware, e toda vez que você ligá-lo no computador, o dock é bem-vindo para as Global Vision. Mas as outras funções por enquanto parecem firúlas, especialmente quando as Art, Sports e Contemporary tem entregue produtos bem acertados, direto da caixa. Eu particularmente sou contra os ajustes de foco feitos pelo usuário, e nenhuma fabricante de fato apresenta algum esquema válido de calibragem. A Nikon, por exemplo, tem até um software automatizado nas D5 e D500, o que deixa o USB DOCK até ultrapassado. Então o UD-01 é um acessório dispensável, e minha recomendação é comprá-lo somente quando for atualizar algum firmware. Até lá, deixe a objetiva como está, e boas fotos!