Tempo estimado de leitura: 07 minutos.
Julho/2015 – A FE 28mm f/2 é a primeira objetiva prime full frame intermediária da Sony para o E-mount. Fora da linha premium ZA ou do topo G, ela chega com o preço de US$449 e é a única opção prime first party pra quem não pretende gastar uma fortuna no novo formato. Anunciada em fevereiro de 2015 na CP+, ela vem engordar o lineup raquítico do FE, agora com dez objetivas nativas desde o lançamento em 2013. Como funciona? Vamos descobrir! (english)
Em 64x60mm de 200g, a FE 28mm f/2 valida a proposta “mirrorless” de um sistema compacto e fácil de usar. Pequena e curta, ela equilibra bem com a Sony A7II por ser leve e a pegada nas mãos fica justa, diminuta, como uma mini DSLR nas mãos. A ergonomia faz sentido neste caso: se usadas em modo totalmente automático, sem ajustar os dials, o conjunto fica gostoso de segurar, sem nada longe do alcance. Os obros ficam flexionados com as mãos tão próximas, mas é a ideia.
O design minimalista é parecido a linha “ZA”, mas faz de tudo para “empobrecer” o segmento de entrada. Vai embora o emblema azul da Zeiss e magicamente aparece um pedaço de plástico brilhante na frente. A parte traseira do corpo é do mesmo alumínio gelado da FE 55 ZA, mas na frente o acabamento brilhante é “barato”. As marcações de especificação são decalcadas ao invés de gravadas no metal, e o look “cheap” fica evidente. Continua bonita, mas não tão bem acabada.
Do lado de fora o único controle é o anel de foco manual, totalmente eletrônico como a FE 55 ZA. E vou repetir os mesmos problemas: é praticamente impossível usá-lo com precisão sem hard stops ou janela de distância, e no grande angular é ainda mais difícil dizer que alguma coisa está acontecendo. A Sony espera que você se vire com o AF ou com o peaking, incompatível com quem quer “revolucionar” o mercado fotográfico. Menos não é mais quando falamos de uma ferramenta.
Na frente o thread de filtros é estranho porque é mais fundo que o elemento frontal, e a rosca termina abaixo do primeiro vidro. Com filtros grossos, com certeza as duas peças encostarão, então tomem cuidado. Mas este espaço está ali para encaixar os tais “conversores” Wide e Fisheye, que adicionam mais $249 e $299 a conta. São estas decisões que não fazem sentido na Sony: eles comprometem o uso com filtros mas abrem espaço para vender acessórios. Really?
Do lado de dentro o motor linear de foco é tão silencioso e rápido que questiono o esforço da Canon em vender os USM e o STM (ou mesmo a Nikon com o SWM). O AF das Sony FE são rápidos mas silenciosos, completamente quietos em comparação as concorrentes. E com a Sony A7II é veloz e preciso: apertou, focou, sem caçar. Dá pra confiar e se virar tranquilamente com esta Alpha pelo menos em modo single shot, para fotos espontâneas na rua.
Dentro o projeto óptico é complexo com nove elementos em oito grupos, sendo três deles asféricos (um “advanced”, que imagino ser híbrido) e duas peças UD. A abertura de nove lâminas é redonda para um bokeh teoricamente mais suave. E diz a Sony que a construção tem weather sealing, mas, de novo, sem vedação no mount. Ela vale os US$449 e se comporta bem nas mãos, sem firúlas para encantar o fotógrafo. Você fica livra pra pegar e usar, sem grandes expectativas.
Sem intromissão da Zeiss, a FE 28mm f/2 tem uma performance muito mais orgânica e as fotos saem bem mais simpáticas que aquele olhar clínico da ZA 55. Os arquivos continuam escuros e com contraste alto direto da câmera, qualidade que estou atribuindo ao projeto mirrorless full frame como um todo. Mas as cores são vivas e a vinheta junto do bokeh esbanjam personalidade. Esta é daquelas objetivas curinga no lineup: o equipamento é descompromissado, mas os resultados impressionam pela clareza, cores saturadas e resolução alta.
De novo a característica mais marcante das fotos é o look “low key”. Com um quadro escuro independente da exposição, as fotos direto da câmera tem contraste altíssimo. Não sei se a Sony programa as A7 para preservar os highlights e escurecer a foto, mas os JPEG jogam fora qualquer informação nas sombras. É tudo preto e destaca demais contornos e sombras. Eu que fotografo em raw consigo “iluminar” a foto de volta no computador, mas direto da câmera os JPEG não tem salvação. É um look eletrônico, chapadão, que “vaza” tinta nas impressões sem correção.
Com um pós-processamento relativamente pesado, puxando sliders além de +50 no Adobe Camera Raw, o poder dos Exmor aparece nas cores e na aparência mais realista das fotos. Com ajuda do computador eu consegui fotos agradáveis, vibrantes, próximas do real, um mundo de diferença a FE 55 ZA porque tudo é mais saturado, vivo, com amarelos que lembram o dia ensolarado que eu fiz as fotos. Dá pra ver que a FE 28mm f/2 é “neutra” porque registra tons de amarelo que a Zeiss joga fora, e prefiro esta flexibilidade no “post” do que o look cinzento da ZA.
E não falta resolução na FE 28mm f/2, apesar do preço baixo. Mesmo em f/2 o quadro inteiro tem detalhes de sobra para impressões gigantes e é uma tranquilidade na hora de usar. Com o entardecer eu não tive “medo” de fotografar na abertura máxima, já que não há sinal de blooming no centro e o astigmatismo é discreto nas bordas. Se houver algum ponto de luz brilhante em f/2, você verá o formato estranho ao redor do quadro. Mas é menor que qualquer grande angular f/1.4.
A Sony não se preocupou com a distorção geométrica, que obviamente foi deixada na óptica a fim de ser corrigida pelo BIONZ X. Eu que não uso qualquer correção via processador na câmera recebi arquivos raw totalmente distorcidos com a FE 28mm f/2, prova que fazer o grande angular no mirrorless full frame, pelo menos nessa faixa de preço, será complicadíssimo. Talvez por isso anunciaram os adaptadores Wide e Fish, como alternativa a distância focal nativa.
Por outro lado as aberrações cromáticas laterais estão invisíveis, incomum para o projeto de alta resolução. Não vi qualquer linha colorida ao redor do quadro por mais que eu tenha fotografado linhas contra a luz. O mesmo para o CA axial no bokeh, que é suave e isola o sujeito no grande angular, look único do full frame que a A7 + FE 28 faz muito bem. Você não isola completamente o sujeito, mas cria um segundo plano colorido para destacá-lo na foto.
Enfim as cores que eu estava praticamente em depressão no review da 55 ZA voltaram com a 28 F2, e dá pra ter esperanças no formato FE e principalmente nos sensores Exmor. Realmente é um problema daquela objetiva da Zeiss: o look é chapadão e falta o “punch” que estou acostumado nas fotos “publicitárias” das Canon EOS. Mas a 28mm se saiu bem melhor com azuis no mesmo quadro que vermelhos, amarelos em dias ensolarados e tons de pele bem mais neutros. Não dá pra acreditar que os dois reviews foram com a mesma câmera, na mesma cidade, no mesmo dia.
A Sony FE 28mm f/2 sim, tem performance para ganhar o status de “clássica”. As fotos tem personalidade e dá para associar o look vibrante, com vinheta acentuada e cores bacanas (com pós-processamento) diretamente a objetiva. É engraçado como ela fez pela metade do preço as fotos que a ZA 55 não fez: boas para impressão, com destaque para o sujeito, coloridas sem muito esforço. É simples sem encher o saco, and it gets the job done. Boas fotos!