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Maio/2016 – A Fujifilm (english) é uma das empresas mais antigas, enraizadas no campo da fotografia. Fundada em 1937 como a primeira fabricante japonesa de películas fotográficas, ela servia como “alma” das câmeras Canon e Nikon, que outrora usariam os filmes importados da rival americana Eastman Kodak. Por quase todo o século XX, ou você comprava o filme Fuji da rolinho verde, ou comprava um Kodak do rolo amarelo. A câmera e a objetiva, por outro lado, vinham de marcas alemãs ou japonesas, mais conhecidas pela fabricação destas peças.
Pula para a virada do século e o avanço das imagens eletrônicas. Como uma empresa baseada em fabricar películas continuaria relevante num mercado fadado ao digital? Nasce em 1988 a Fujix-DS-1P, a primeira câmera do mundo com captura e armazenamento verdadeiramente digitais. Com um sensor de 400 kilopixels e cartão de memória (!) de 2MB, era o futuro das máquinas fotográficas como usamos até hoje, sacada da Fuji que as coisas iriam mudar. Enquanto a Kodak foi a falência por não se adaptar a uma tendência, a Fuji experimentou com a tecnologia e se deu bem.
Foram sensores CCD, Super CCD, HR, SR, SR II, EXR… Tentativas da Fuji em emular num imager a mesma qualidade de cores e sensibilidade que temos nos filmes. Enquanto virtualmente todas as câmeras digitais usam sensores CMOS de arranjo Bayer, aquele que sofre com moiré e depende de filtros que tiram a nitidez para evitar cores falsas, só uma marca com tradição em película para tentar algo novo. E a mais recente tecnologia é a X-Trans, um sensor com arranjo de cores inovador, que serve como ponte definitiva da Fujifilm do passado para as câmeras digitais do futuro.
Um sensor de imagem tradicional é constituído por três camadas: uma com foto-células sensíveis a luz, que medem o volume dos fótons que caem sobre o material sensível; uma pintada com um arranjo de cores, geralmente o Bayer, que propõe um grupo de quatro pixels (dois verdes, um azul e um vermelho) para representação de tons; e uma camada com filtro de baixa frequência (low pass), que “embaça” a imagem a fim de evitar valores repetidos nos pixels, que geram padrões de cores falsas conhecidos como moiré. Sua câmera tem um sensor destes, mas a Fuji fez diferente.
No sensor X-Trans da Fuji, um novo padrão de cores é proposto. Usando incríveis 36 pixels, 20 verdes, 8 vermelhos e 8 azuis numa repetição muito mais complexa, é possível minimizar a ocorrência do moiré, aumentar a densidade das cores (que são medidas em todas as linhas) e aumentar também a resolução, mantendo o mesmo número de pontos. Com a redução das cores falsas do Bayer, o filtro low pass também é desnecessário, para imagens ainda mais nítidas. É a base da maioria das Fuji X recentes, e a tecnologia que você vai querer na sua próxima digital.
A X-Pro2 é o mais recente lançamento da Fuji pensado ao redor do sensor X-Trans. Uma câmera mirrorless com apelo retrô, ela não somente traz o design hipster cheio de dials manuais e o look vintage, mas uma filosofia diferente de fotografar, emprestadas das rangefinder da Leica. No lugar de um viewfinder alinhado com a objetiva, temos um visor tipo Galileu reverso deslocado para a esquerda, grande e claro, mas com o erro de paralaxe das antigas. Porém diferente das Leicas, a X-Pro2 é um passo largo para o futuro, com focagem automática por 77 pontos phase, vídeo 1080P60, disparo a 8 quadros por segundo, além de um viewfinder híbrido com LCD embutido.
Enfim uma câmera que custou (literalmente) muito a chegar no vlog do zack, eu só tenho uma coisa a declarar: estou apaixonado por este modelo. Nunca dei valor para a Fuji e inclusive duvidei da utilidade do X-Trans, visto que a Sigma faz algo muito mais exótico no sensor Foveon. Mas depois de uma única viagem carregando a X-Pro2 por aí, a sensação é a mesma de conexão com a fotografia que eu tive lá em 2010 com a Canon EOS 5D Mark II, talvez a câmera mais icônica da história. Porém já aviso: a X-Pro está longe de ser uma câmera tradicional, e ela provavelmente não funcionará para a maioria dos fotógrafos. Será que serve para você? Vamos descobrir! Boa leitura.
Em 14 x 8.3 x 4.5 cm de 498g, a primeira impressão que a Fuji X-Pro 2 passa é sobre o tamanho, gigante para o mercado mirrorless do formato APS-C. Alta, longa e grossa, ela é bem diferente das propostas da Sony e do consórcio do Micro Four Thirds, que estão mais preocupados com o apelo compacto das mirrorless contra as SLR maiores. A Fuji tem na verdade variados formatos na linha X, e a X-Pro segue o “rangefinder” com mount central e viewfinder deslocado, com “cara” de máquina fotográfica acima de qualquer coisa. E esta é a única decisão de compra que você terá de fazer: ou você quer uma câmera neste estilo, ou não. Exceto a Leica, nenhuma outra fabricante oferece uma rangefinder digital além da Fuji, e o formato tem vantagens que os outros não tem.
A vantagem do “estilo rangefinder” é mais psicológica do que prática. Para o fotógrafo, como a X-Pro 2 tem “cara” de máquina fotográfica, todas as distrações vão embora, sobrando uma única expectativa sobre o equipamento: usá-lo para tirar fotos. Hoje você dá uma Sony A6300 na mão das pessoas e elas não sabem o que fazer primeiro: gravar um vídeo ou tirar uma foto? Além disso, para o sujeito que está frente das lentes o rangefinder é bacana porque a câmera não fica na frente do rosto do fotógrafo; então a conexão entre os dois é maior. As chances de tirar fotos espontâneas crescem, e por isso o rangefinder continua no mercado como algo diferente no kit.
Na prática a Fuji fica toda equilibrada entre o dedão e o dedo do meio direitos, impossibilitando o uso com uma mão só para a maioria das funções. Como a mão direita apoia a câmera com o dedão e o dedo do meio, eles não servem para controlar qualquer outro botão sem a ajuda da mão esquerda. Então só com as duas mãos na câmera, com esta apoiada entre as palmas, que dá para “liberar” os dedos e apertar os controles. Por exemplo os dials horizontais multifunção, escondidos no corpo, só “giram” se você dobrar o dedão atrás ou o indicador na frente; exigindo o apoio da mão esquerda. Os botões AF-L e Q também estão “atrás” do grip traseiro, impossíveis de alcançar só com a direita. Portanto a X-Pro 2 foi feita para as duas mãos, como toda “pro” deve ser.
Destaques nos controles são os dials mecânicos em cima, o manche multi-direcional traseiro e a alavanca de seleção do viewfinder na frente. Os dials fazem parte do apelo “retrô” da X-Pro 2 e são até úteis: um a direita para compensação da exposição +-3EV, com opção C para controla-lá nos menus, e outro em cima com ajuste híbrido da velocidade do obturador e do valor do ISO na mesma roda. A velocidade do obturador é óbvia: destrave com o botão central e gire de 1/8000 até Bulb com valores cheios (ajustes de 1/3 somente via dial da frente). E o do ISO é a alma hipster da Fuji: você “levanta” o anel externo para engatá-lo no dial interno. É estranho porque o anel externo “levanta” torto, parecendo frágil, e você literalmente tem de parar TUDO para operá-lo. Como não há um ajuste ISO nos menus, preferi deixá-lo em Auto com programação de mínimos e máximos.
O manche direcional para o dedão atrás é o primeiro numa Fuji X. Idêntico ao controle da Canon, ele compartilha inclusive a função: selecionar rapidamente os pontos de foco da X-Pro 2, que agora são muitos. É um controle intuitivo que toda câmera deveria ter (ouviu, Sony?). Olhe pelo visor, aponte a câmera para o sujeito, movimente a zona de foco com o dedão; e dispare com o indicador. É tão fácil de usar que em câmeras com este manche eu perdoo a falta da tela touchscreen. Na frente o último controle intuitivo é uma alavanca que “cicla” entre os modos do viewfinder: puxe para a direita para escolher entre óptico (OVF) e LCD (EVF), e empurre em direção a objetiva para ativar o Electronic Rangefinder (ERF); falaremos deles mais tarde. No centro desta alavanca está o botão de prévia da profundidade de campo, também ausente nas Sony Alpha.
De resto nós temos uma pletora de botões que podem ser um pouco confusos para quem usa uma DSLR anatômica. Da direita para esquerda nós temos “atrás” do grip traseiro os botões AF-L (auto focus lock) e Q (quick menu), que na Canon ficam ao alcance do dedão. Ao lado da tela LCD ficam os botões de playback, lixo e DISP/BACK; infelizmente não há um botão dedicado para o MENU. Este está no meio dos botões direcionais e junto da tecla OK, o que é burro: você ativa o menu com a tecla homônima, mas só consegue sair dele apertando a tecla BACK. Perdidos em cima ficam o AE-L (auto exposure lock), o metering (na X-T1 é um subdial) e o mais idiota de todos, “VIEW MODE”; ele nada mais é que um atalho para ligar/desligar o sensor automático do viewfinder.
Na frente nós temos ainda uma chave de seleção do modo de foco: single, contínuo ou manual. Eu realmente não entendo porque os fabricantes colocam-no ali; vira e mexe eu preciso virar a câmera pra ver em qual modo está. Em cima do lado do disparador há ainda um customizável Fn que vem de fábrica programado para gravar vídeos. A esquerda nós temos o ajuste dióptrico do viewfinder, uma saída sync e as portas HDMI, USB2.0 e entrada para microfone; todas atrás de uma porta bem vagabunda considerando o preço da câmera. E na direita nós temos dois slots de cartão SD, um deles com suporte ao UHS-II, também atrás de uma porta de plástico. A bateria vai embaixo.
Enfim a Fuji X-Pro 2 é um corpo essencialmente diferente de tudo que já vimos no vlog do zack. Ela é grande para uma mirrorless, tem o exclusivo “estilo rangefinder” e os controles funcionam bem, embora exijam as duas mãos para operar. A construção é boa sem grandes partes móveis para quebrar; nada de tela retrátil delicada ou bumps que saem do corpo. Não sei sobre a durabilidade dos botões e dials uma vez que não usei por mais de um mês. Mas diz a Fuji que a X-Pro 2 tem 66 pontos de vedação no corpo, para teoricamente aguentar ambientes difíceis de fotografar. É uma câmera diferente, com apelo mais para fotografia que qualquer outra firúla eletrônica. Vale a pena para quem está interessado em tirar fotos com um equipamento dedicado a fazer só isso.
Na alma da X-Pro 2 está o visor deslocado da objetiva e no canto da câmera, posição semelhante as Leicas M que usam o “sistema rangefinder”. Nas alemãs, o rangefinder é uma série de prismas e espelhos que mostram um overlay da imagem real do visor junto da posição de distância da objetiva, para auxiliar o fotógrafo na focagem da câmera. Quando as imagens estão alinhadas, a “foto” está no plano de imagem (em foco). É um sistema complexo, que custa caro para fabricar, e explica o preço estratosférico das câmeras da Leica. Deste mecanismo nasce o “estilo rangefinder”, sem a câmera na frente do rosto, que a Fuji copia na X-Pro numa implementação diferente.
Apesar do mesmo visor óptico (OVF) tipo Galileu reverso no canto da câmera, a X-Pro 2 não tem uma série de prismas até a objetiva (rangefinder). No lugar destes, há uma minúscula tela LCD que pode ser vista através do visor óptico com um espelho translúcido, em dois modos diferentes: parcial, como um overlay, ligado o tempo todo; ou total, como um visor eletrônico (EVF). É uma engenhoca simples de entender, parecida a um teleprompter de televisão: a tela eletrônica reflete a imagem em ângulo, e você consegue ver as duas coisas ao mesmo tempo. É o maior diferencial da X-Pro 2 que oferece três estilos de fotografar (OVF, EVF, LCD) em apenas um equipamento.
No modo óptico, o viewfinder é claro e “em tempo real”. As cores são reais, os movimentos são reais e o campo de visão é grande, útil para antecipar o sujeito antes dele entrar no quadro. Como este visor é híbrido (você consegue ver o LCD o tempo todo, além da imagem real), é possível incluir informações eletrônicas de enquadramento (já que ele não está alinhado com a objetiva), pontos AF, histograma; impossíveis numa Leica. Há até a função “Electronic Rangefinder” (ERF) que escurece só parte do visor e mostra uma ampliação do ponto de foco na telinha LCD. É tudo feito de forma inteligente e orgânica, justificando a compra da X-Pro 2 só por causa deste visor.
Já no modo totalmente eletrônico, uma cobertura mecânica aparece na frente do viewfinder óptico, e conseguimos ver só a tela LCD (EVF). Com 2.36M de pontos a nitidez é fantástica, a mesma das Sony OLED nas Alphas. A ampliação é um pouco pequena em apenas 0.59X (na A6300 é 0.70X), mas ele continua grande, fácil de ver, com letras de tamanho razoável. Como o preview é o mesmo do sensor que fará as fotos, o enquadramento da objetiva é exato, sem o erro de paralaxe. Então o modo EVF funciona melhor que o OVF para objetivas extremas (ultra grande angular ou telephoto), uma vez que o visor óptico é fixo. Ou seja, a X-Pro 2 oferece o mesmo modo eletrônico de uma mirrorless padrão (tipo a X-T1), mas através de um visor que também pode ser óptico. Genial!
Atrás a tela LCD de 3” é na proporção 3:2 e dos melhores que já usei. Primeiro ela é enorme e super nítida com 1.6M de pontos, o dobro da A6300 que acabamos de ver. Enquanto aquele LCD 16:9 da Sony parecia “porcaria”, o da X-Pro 2 é melhor até que os smartphones topo de linha. As cores são incrivelmente vibrantes e há ajustes para saturação e brilho; coisas que só vemos em câmeras que levam as cores a sério. Segundo, ela é inteligente porque está na proporção exata do sensor, e as informações de exposição aparecem como um overlay durante o Live View, aproveitando toda a área do painel. Apesar de não ser touch nem retrátil, eu perdoo a Fuji porque a implementação dos controles físicos é fácil de usar. Mas fica de sugestão para a X-Pro 3: queremos uma tela touch!
Algumas anedotas sobre a usabilidade do viewfinder. Como o visor híbrido usa um espelho em ângulo para refletir a imagem do LCD, quando usado com óculos polarizados o reflexo da tela pode sumir! A imagem é refletida e os óculos polarizados “apagam” o reflexo, e você não consegue mais ver o overlay no modo OVF. :-D É uma coisa que eu só percebi com a câmera nas mãos e fica a dica para quem usa óculos: se as lentes forem polarizadas, há chances do overlay sumir. Mas só acontece no modo híbrido; no modo totalmente eletrônico (EVF) não acontece. Outro detalhe é que o viewfinder e a objetiva são independentes, e algumas vezes eu esqueci de tirar a tampa da lente; coisa que não vemos no visor. Como não há qualquer aviso sobre a tampa, tome cuidado em snapshots. Você pode ir na pressa e esquecer de tirar a tampa, e as fotos não sairão. ¯\_(ツ)_/¯
Outro destaque na usabilidade da Fuji X-Pro 2 é a velocidade de operação, que está ficando padrão nas mirrorless e não serve mais como argumento a favor das DSLR. Só para ligar, a X-Pro não leva mais de meio segundo; parece mais rápido até que a Sony A6300. É “girou o botão na frente, a tela LCD atrás liga”, quase instantaneamente e a câmera está pronta para fotografar. É muito rápido e próprio para fotografia de rua, sem deixar a máquina ligada o tempo todo. E também na hora de tirar a foto, a Fuji impressiona: praticamente não há lag entre o disparador e o click, talvez uma das câmeras mais rápidas que eu já usei. Você aperta o botão e ele dispara, sem qualquer atraso.
Mas o mais impressionante é o intervalo entre as fotos, quando o display LCD/EVF volta ao preview do Live View: NÃO HÁ INTERVALO. Entre o click da foto e a câmera estar pronta de novo, nada acontece! É tão rápido que não há interrupção do Live View, e a única maneira de saber que a foto foi tirada é com o barulho do obturador, coisa que eu nunca tinha experimentado antes. Enquanto você está usando o OVF, é sensacional e esperado: como não há espelho para blackout, a câmera tem de ser rápida para passar a impressão de fluidez. Porém a Fuji se superou no “entre fotos”, e a X-Pro 2 é incrivelmente veloz para tudo. Clicou e ela está pronta, nem parece uma digital.
Também essa é a primeira câmera do vlog do zack com suporte ao padrão UHS-II no slot SD 1, que chega a incríveis 280MB/s; mais que o dobro dos UHS-I das Sony A6300 ou EOS 7D Mark II. Eles são especialmente importantes para lidar com os arquivos raw sem compressão de 50MB (!), que a X-Pro 2 fotografa até 8 quadros por segundo com buffer para 27 fotos raw (88 em JPEG). Enquanto ela funciona normalmente com cartões normais, recomendo a compra de cartões UHS-II. Quando você desliga a câmera com o buffer cheio, ela não liga mais até esvaziar o buffer, o que pode demorar em modo raw sem compressão. Então na rua onde eu geralmente desligo a câmera após o clique, às vezes eu tive de esperar para ligá-la de novo quando precisei tirar uma foto em seguida. Note que nada disso acontece se você não desligar a câmera. Mas eu que fico no liga/ desliga o tempo todo, percebi que ao tentar ligá-la rapidamente, ela só faz com o buffer vazio.
Por fim o sistema de foco da Fuji X-Pro 2 foi atualizado para resolver o maior problema da X-Pro original: a completa incompetência para focar automaticamente as objetivas Fujinon XF. Além de 77 pontos de foco phase embutidos no sensor, outras 273 áreas de contraste são medidas em tempo real pelo processador X-Processor Pro, para um sistema verdadeiramente denso que cobre quase 80% da área total do quadro (os pontos phase cobrem só 40%). Além disso, o tempo de aquisição do foco é de apenas 0.08 segundos; quase o mesmo da Sony A6300 de 0.05s. No geral ele funciona rápido e precisamente como uma mirrorless moderna, e não há muito mais o que comentar além disso: dá para depender e torna o modelo imprescindível para quem usa o AF.
Tanto no modo OVF quanto nos modos EVF/LCD, a seleção de pontos é instantânea pelo manche traseiro; o primeiro numa Fuji X e que deveria ser padrão em todas as câmeras. No OVF o overlay eletrônico mostra a área de foco com um quadrado verde, e em distâncias curtas com teórico erro de paralaxe as informações são atualizadas em tempo real; quem tem uma Leica pode morrer de inveja. Também as opções de área variam de wide/tracking, zona e ponto, esta última que na verdade agrupa diversos pontos juntos, e não é de fato uma seleção específica como numa DSLR. Ainda, o modo “Eye Tracking” que acabamos de ver na A6300 também está na Fuji X-Pro 2, e como o nome diz, procura e foca no olho do sujeito, com opções para olho esquerdo ou olho direito.
No foco contínuo a X-Pro 2 também se sai bem embora a função pareça um pouco limitada na implementação da Fuji. Enquanto os pontos phase são rápidos e precisos para medir a distância do sujeito, e o algoritmo de focagem pareça preditivo, a seleção de áreas complica o uso da câmera exigindo mais da técnica do fotografo do que das capacidades da câmera para registrar ação. Em modo wide/tracking, a X-Pro 2 parece confusa sobre qual sujeito seguir: o da frente, o detrás, nos rostos, no que tiver maior contraste; o foco pula de um ponto para outro e não dá para usar. E nos modos área ou ponto, o espaço é pequeno demais, exigindo que você acompanhe de perto o sujeito. Então o AF-C funciona e funciona muito bem. Mas por enquanto não dá para recomendar a X-Pro 2 como única câmera para fotografar ação, ficando atrás de uma 7D Mark II e seus 9 tipos diferentes de área selecionáveis, ou da A6300 mirrorless com zonas bem mais amplas.
Um extra da Fuji sobre as mirrorless tem sido o modo vídeo, mal implementado como as Canon EOS (moiré e aliasing), mas com esperanças para o futuro. Embora a gravação seja até 60 quadros por segundo em resolução 1080P, um modo 4K foi anunciado no lançamento, e até aonde a internet sabe, o processador X-Processor Pro consegue lidar com tantas informações. O buffer é grande e o slot 1 de cartão SD também conseguem trabalhar com folga sobre este formato, mas por enquanto tudo é limitado na X-Pro2; só uma atualização de firmware poderá mudar as coisas.
São patéticas três opções de ajustes no vídeo: resolução/fps, intensidade do microfone e controle remoto. Ter uma aba dedicada só para a Movie Settings e incluir 03 linhas mostram que algo for cortado de última hora. Os ajustes de perfil de cor e imagem por hora também são limitados, e só refletem a simulação de película e efeito de grânulo (veremos a seguir), sem controle sobre nitidez e contraste; daí as gravações são extremamente nítidas resultando em moiré e aliasing. Apesar da saída HDMI ser limpa, a gravação interna é limitada a 38Mbit/s. Uma pena essa desatenção ao modo movie, já que a ciência de cores e o chip X-Trans da Fuji são muito bons. Aguardemos…
Com a nova geração X-Trans CMOS III de 24.3MP e processador X-Processor Pro, a Fuji está fazendo declarações de peso sobre a qualidade de imagem da X-Pro 2. Primeiro eles dizem que a resolução do X-Trans APS-C é equivalente aos full frame, uma vez que a área dos pixels usados para medí-la (os verdes) é 20% maior que o arranjo Bayer; afirmação tecnicamente correta, mas veremos se funciona na prática. Segundo, a fiação da geração III é a mesma da Sony A6300, feita em cobre para uma leitura rápida, que reduz a temperatura do imager e os ruídos, além de permitir o obturador eletrônico a 1/32.000. Terceiro, o X-Trans é de fato algo novo para as cores e a ausência de filtro low pass aumenta a nitidez. Funciona ou terá os mesmos problemas da Sigma no Foveon?
Grosso modo, desculpem o palavrão: os arquivos da X-Pro 2 são fodas! De fato as declarações da Fuji procedem: apesar de APS-C, o X-Trans III tem as mesmas características de um full frame, a resolução percebida é imensa, com arquivos extremamente detalhados para prints grandes; a flexibilidade dos arquivos raw é incrível, com informações de sobra para recuperação de luzes e sombras; na mesma classe dos Sony Exmor. As cores são fantásticas, bem mais saturadas e “quentes” que o restante do mercado. Além disso os ruídos em valores altos de ISO são lindos, orgânicos, como película mesmo. Mas o maior destaque está no processamento JPEG direto do câmera, com a simulação de cores e grânulos dos filmes mais populares da Fujifilm.
Resolução e flexibilidade nos raw são as características fundamentais do digital hoje. Não é a toa que as câmeras mais básicas estão nos 6000×4000 pixels dos 24MP, nem é a toa que a Sony ganhou fama com os sensores Exmor. Conseguir ver e manipular os detalhes da foto com qualidade é o mínimo que esperamos das câmeras, e a Fuji entrega na X-Pro 2 praticamente os melhores arquivos que já usei em geral no digital. Com o arranjo diferente e a ausência de filtro low lass, os detalhes saltam na tela quase da mesma forma que os arquivos do Foveon X3 das Sigmas DP Merrill. Não são todas as folhas de uma árvore. São os vincos das folhas e os insetos. Não são todos os tijolinhos num prédio. É a textura das cortinas do lado de dentro das janelas. A resolução do X-Trans é um salto significativo ao que temos nos CMOS Bayer padrão, e motivo sozinho para ter uma Fuji no kit. A resolução é maior e serve para trabalhos específicos que serão impressos.
A quantidade de informações dos 50MB de arquivo raw sem compressão também impressiona. Hoje em dia quando todo mundo manipula facilmente os arquivos pelos sliders do Lightroom, fica fácil ver os sensores que preservam bem as informações de sombras e highlights, e a X-Pro 2 entrega arquivos no mesmo nível da Sony com os Exmor. Puxe um slider de “shadows” para até +5 no Adobe Camera Raw, e praticamente uma nova exposição é revelada, com alta qualidade e sem as bolhas coloridas da Canon. Sim, os ruídos aparecem mesmo em ISO200 “puxado” no software, mas são discretos, cinzas, certamente uma nova faceta desta geração APS-C em comparação aos full frame (exceto a Canon APS-C que continua ruim). As luzes também são mantidas no ajuste “highlights”, com maior fidelidade inclusive que a Sony. Céus estourados ou painéis luminosos sem detalhes não existem na X-Pro 2, com latitude para trabalhar sem planejamento da exposição.
“L Hudson” em f/2 1/60 ISO500; a recuperação das sombras nos arquivos raw da Fuji é perfeita, revelando outra exposição.
“Neon” em f/2 1/75 ISO200; também nas luzes é possível recuperar detalhes, que antes seriam perdidos no JPEG.
“Bandeira” em f/4 1/480 ISO200; exponha para as luzes e recupere as sombras no raw, com ganho ligeiro de ruídos.
“Death Valley” em f/5.6 1/1500 ISO200; a diferença do Classic Chrome e do Velvia, com contraste maior a partir das cores.Mas o mais interessante mesmo é o tratamento que a Fuji dá aos arquivos JPEG direto da câmera. Com uma proposta diferente de sensor, eles também fizeram uma proposta diferente de perfis de imagem: a simulação de películas antigas, agora direto no digital. São nove opções: PROVIA / Standard, para sujeitos variados; Velvia / VIVID, com cores vibrantes e contraste altíssimo; ASTIA/SOFT, com baixo contraste e tons mais puxados para o rosa; CLASSIC CHROME, com cores neutras e contraste mais puxado para as sombras; PRO Neg. Hi, feito para retratos de alto contraste; PRO Neg. Std, também para retratos porém com contraste reduzido; ACROS, preto e branco de alto impacto, com detalhes nítidos; MONOCHROME, para P&B padrão; e SEPIA. Não é o mesmo que o pós-processamento raw: as cores tem a mistura específica de cada filme e o look é suave, sem aquela cara de “aprendi a fuçar no Lightroom ontem”. Arquivos direto da câmera:
Além disso, enquanto outros fabricantes tentam de toda forma eliminar os ruídos dos sensores, a Fuji é a única que os abraça com o grain effect direto na câmera. São dois valores, weak (fraco) e strong (forte), que mantém no JPEG uma textura de película que não temos no digital. O resultado da simulação de filme + o grânulo embutido é espetacular, e dá para questionar a necessidade de fotografar em raw na X-Pro 2. Se os JPEG são tão perfeitos (meu favorito é o Velvia + weak grain effect), pra quê perder tempo fuçando nos raw? Arquivos direto da câmera:
Enfim em ISOs altos a terceira geração do X-Trans CMOS se sai bem mas ainda não se compara ao full frame. Ao lado da Sony RX1R, compacta com um imager de formato 135 de 24MP sem o filtro low pass, fica claro em exposições semelhantes como o sensor maior recebe mais luz e reproduz mais detalhes, que somem no APS-C. “Reproduz mais detalhes” que parece três palavrinhas simples, mas pode fazer toda a diferença para impressões grandes. Na Fuji os “pontos” aparecem maiores quanto mais o valor do ISO, apagando letras pequenas e texturas do raw e do JPEG. Porém ela impressiona na capacidade de manter linhas verticais nítidas, mesmo em valores absurdos acima de ISO10.000. É consequência do padrão diferente dos pixels no X-Trans.
A Fuji X-Pro 2 chega como a segunda geração da câmera que lançou o sensor X-Trans lá em 2012, e o futuro da Fujifilm no mercado digital saturado de opções. Eles mesmos são culpados: trocentas X100, X-T10, X-T1, X-E2, X-A… O diferencial parece ser o mesmo entre elas (as mais novas, todas tem o sensor X-Trans), mas a Pro 2 é única digna do nome “Pro”. A construção é perfeita com um corpo de magnésio e 66 pontos de weather sealing que, embora não tenham sido testados, estão numa câmera robusta, fácil de usar e que reflete o preço de US$1699 (só corpo). Ela é a única X com troca de objetivas e o visor óptico híbrido, peça difundida nas compactas X100 e que tem as vantagens das rangefinder: discrição, agilidade no uso e um visor separado da objetiva, perfeito para resolver um problema que o mirrorless cria: o Live View obrigatório. Chora, X-T1…
Mas a performance do X-Trans CMOS III de 24MP sela o negócio, com “os melhores arquivos que já usei”, frase que parece batida nos reviews mas é natural num blog que testa as câmeras em ordem cronológica. A X-Pro 2 é superior a todas APS-C, que usam ou um sensor de cores sem graça (Sony A6300), ou um sensor datado no dynamic range (Canon T6i); ou um sensor péssimo em pouca luz (Foveon X3). A X-Pro 2 bate também as DSLR full frame: é mais discreta, mais “focada” em fotos e com apelo pessoal, que dá vontade de usar. Para um full frame parecido, só as Leicas M ou a Sony RX1R II de mais de US$3000. Por US$1699 a Fuji parece cara, mas não é: você leva o melhor do X-Trans, a vantagem da troca de objetivas e o visor óptico híbrido com EVF. Ela faz tudo, e faz tudo muito bem. Nada ficou de fora, nem as fotos que você vai querer fazer. Boas fotos!