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Novembro/2016 – A Sigma 150-600mm f/5-6.3 DG HSM é a objetiva mais longa já testada pelo blog do zack. Com 200mm a mais que a Canon EF 100-400mm f/4.5-5.6 L IS USM, esta zoom vai consideravelmente mais longe para fotografar esportes, paisagens e vida selvagem, própria para situações quando não podemos chegar perto do sujeito. Uma distância “hiper-telephoto”, os 600mm antes eram o sonho dos fotógrafos, uma vez que as fabricantes principais só oferecem tal alcance nas caríssimas primes de grande abertura (US$11,499.00 na Canon 600mm f/4 L IS II USM). Mas agora duas fabricantes alternativas, Tamron e Sigma, oferecem-na em zooms com abertura conservadora f/6.3, por um preço muito menor, acessível a todos. É uma ideia tão tentadora que a Sigma oferece duas 150-600mm: uma “Sports”, pensada na performance do foco e na construção; e outra “Contemporary”, que veremos hoje, mais leve e pensada na usabilidade. Será a objetiva definitiva para “fotografar de longe”? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 10.4 x 25.9 cm de 1.830g, eu nem preciso comentar que a Sigma 150-600mm Contemporary é uma objetiva grande, requisito para a distância focal extrema e a abertura razoavelmente grande, apesar do f/6.3 (o primeiro elemento tem ø95mm de diâmetro). Super pesada, por incrível que pareça ela na verdade é a “600mm mais leve do mercado”, na frente da também zoom Tamron 150-600mm f/5-6.3 Di VC USD G2 (2010g), sua concorrente direta; ambas metade do peso das primes f/4 Canon L (3920g) e Nikon AF-S E (3810g). Isso porque a Sigma, como já conhecemos na linha Global Vision, usa o inovador “Thermally Stable Composite”, um material resistente e resiliente, com as mesmas propriedades do alumínio porém mais leve que o policarbonato. Então apesar de relativamente leve, a Sigma é também muito robusta, sem qualquer sinal de balanço entre os tubos (interno e externo), ou folgas nos anéis de zoom e de foco manual.
Nas mãos o design “modernão” da Global Vision Contemporary lembra muito a série “Art”, com acabamento todo preto e emborrachado, com letras brancas; mas sem as partes de metal. Sendo uma objetiva variável, a Sigma não poupou o anel de zoom como “função” principal da ergonomia, com uma peça enorme em 6cm de espessura, emborrachada e ao centro do tubo; exatamente aonde os seus dedos “cairão”, apoiando a parte traseira na palma das mãos. O anel de foco manual e as chaves de comando vão atrás, perto do câmera, pensados mais como ajustes secundários, sem o alcance intuitivo que estamos acostumados em lentes menores; o que, na verdade, facilita o uso desta gigante. Um anel de zoom menor ou um anel de foco na frente perderiam o equilíbrio, que ficaria muito a frente na 150-600mm. Da forma que é, o balanço é perfeito com câmeras grandes, confortáveis apesar do conjunto pesado, o que dispensa o uso do tripé.
O sistema de zoom é do tipo single cam, e expande a objetiva de 25.9cm para compridos 34.4cm. Ele pode ser feito de duas formas: girando o anel, com um longo caminho de cerca de 160º (!); ou com a mão, literalmente puxando para frente o tubo do lado de dentro, para fora da objetiva (tipo o push pull da antiga Canon 100-400mm L). Há uma área emborrachada na frente do tubo, para pegar com as mãos, e a pressão do movimento é pensada na agilidade, apesar de ficar mais pesado entre 450-600mm; sensação que não é notada no anel. Porém preferi usar mais o anel de zoom, que mantém o apoio mais próximo da câmera, do que esticar os braços lá na frente: é um movimento que desequilibra o fotógrafo, e usar o anel de zoom se provou mais eficaz para manter o enquadramento no sujeito, que pode ser bem difícil saindo dos 150mm até os 600mm.
Atrás o anel de foco manual aparentemente foi pensado como uma adição secundária, uma vez que sua ergonomia é bizarra. Fino, baixo e relativamente duro, este anel está lá mais para “não ser usado acidentalmente”, do que para ser usado o tempo todo; diferente da experiência suave e com borracha alta dos modelos Art. Apesar de fininho, ele é até bem feito: preciso, sem jogo entre as peças do lado de dentro/fora, e inclusive com função “override”, o que permite compensar a posição do motor automático a qualquer momento. Mas a posição desta peça é ruim, atrás demais e entre o pé-de-tripé, sem uma pegada realmente confortável. Embora usável, pense seriamente em outro modelo caso esteja acostumado a focar manualmente, como a versão Sports.
Do lado de dentro a Sigma incluiu o motor HSM de última geração, mais rápido e preciso do que conhecemos nas primeiras objetivas Global Vision. Para fotografar paisagens, ele é rápido e preciso com câmeras topo de linha, aqui testado com a Canon EOS 5DS, visto que a abertura máxima f/5-6.3 é um desafio para câmeras não compatíveis com o f/8 (verifique se a sua câmera opera nestas condições). Para ir do infinito ao foco mínimo de 2.8m são 160º, o que acontece em menos de 1 segundo na posição FULL, o que é rápido. Isso pode ser ainda mais veloz com o limitador de 2.8-10m, próprio para retratos, ou ainda o limitador de 10m-infinito, para fotografar ação (esportes). Porém, diferente das Canon com motor ring-type USM, esta Sigma tem um irritante lag (intervalo) entre o apertar do botão na câmera, e a objetiva ir para o lado certo. É ruim por exemplo para mudar de sujeito nas sequências de ação, já que o conjunto “pensa” entre um apertar do botão e outro. O motor é rápido, capaz de seguir sujeitos em movimento. Mas misteriosamente demora para começar a focar, e dependerá da antecipação do fotógrafo para registrar momentos de ação.
Ainda do lado de dentro, a Sigma não poderia deixar de incluir o estabilizador de imagem (OS), indispensável para fotografar no telephoto sem se preocupar com a velocidade do obturador. Apesar de não ter a sua eficácia especificada, este é um módulo moderno, rápido, silencioso e, principalmente, configurável; o que pode gerar confusão para quem nunca usou uma hiper-telephoto antes. O que acontece é que o OS na verdade tem três modos: dynamic view, standard e moderate view, que replicam as mesmas opções das Canon L super-telephoto mais longas (500mm pra cima), nunca usadas pela maioria dos fotógrafos. Para fotografar tão longe, é mais útil deixar o módulo desligado durante a composição, exatamente para seguir o sujeito sem “atrasos”; o que a Canon chama de Modo 3 (exposure only). E este é o modo (standard) que a 150-600mm vem programada de fábrica: na hora de compôr, o viewfinder não é estabilizado; é só na hora do click.
Eu que nunca tinha usado um modo destes antes, pensei que o estabilizador estivesse quebrado. Ele é essencialmente diferente das Canon L tradicionais (de 400mm pra baixo), que “seguram” o viewfinder no lugar, coisa que a Sigma não faz, dando a impressão que o OS está quebrado. Mas ele não está e na verdade funciona muito bem: tenho registros em 1/160 a 600mm sob pouca luz que, embora o viewfinder estivesse “tremendo” na hora de composição, a foto saiu absolutamente nítida. Os outros modos (dynamic e moderate) podem ser configurados com o Sigma USB Dock (não incluído), que prende no mount e permite atualizar o firmware, configurar o algoritmo de focagem, ajustes de micro foco e agora o modo do estabilizador. Mas como ele é um acessório extra e esta informação (sobre os modos) não é claramente especificada pela fabricante, acho um erro por parte da Sigma. O módulo OS é muito bom e um destaque do modelo, mas já vi outros sites reclamando que “não funciona”; fiquem tranquilo que funciona sim, mas só na hora do click.
Enfim na frente a 150-600mm aceita incríveis filtros de ø95mm; imensos e frágeis, mas que permitem o uso de polarizadores circulares e de graduação variável, impensáveis nas telephoto primes que usam filtros drop-in. Eles vão numa rosca de plástico, que por sua vez está dentro do trilho do parasol, incluído na caixa, que é mais uma peça plástica de 8.5cm; sim, já estamos nos 43cm de objetiva em 600mm + parasol! O primeiro elemento gigante de ø95mm é repelente a água e gordura, muito mais fácil de limpar, e bem-vindo para quem fotografa sob situações extremas. Atrás o pé de tripé, também incluído, serve para apoiar a objetiva ao invés da câmera, para não danificar a baioneta da montagem. Este pé é removível (diferente da 50-100mm f/1.8 DC) e diminui consideravelmente as dimensões do equipamento, próprio para levar para viajar; a Sigma inclui até uma borracha para cobrir este espaço sem o pé. E por fim o mount de metal tem uma borracha de vedação, apesar da fabricante não declarar o weather sealing completo nos anéis e botões.
A Sigma 150-600mm f/5-6.3 DG OS HSM é uma especificação repetida na linha Global Vision, mas parte da família distinta “Contemporary”, inteligentemente pensada na praticidade do uso. Apesar de muito mais leve e menor que a irmã “Sports”, todos os recursos avançados estão incluídos, como a construção robusta, o foco automático de alta performance e o estabilizador de última geração; só a ergonomia é diferente, dadas as novas dimensões. Ela é incrivelmente bem feita para o preço e repete a “mágica do TSC”, que nos trouxe a inacreditável 50-100mm f/1.8 e, como veremos, não deixa de lado a qualidade de imagem, que está conquistando muitos fotógrafos.
Com uma fórmula óptica de 20 elementos em 14 grupos, uma peça FLD (composto que a Sigma diz ter as mesmas propriedades do fluorite), três SLD (de “super baixa” dispersão) e um zoom de apenas 4X (valor aceitável para a proporção qualidade vs. alcance), a Sigma 150-600mm f/5-6.3 DG HSM Contemporary é uma surpresa na performance óptica, a par de objetivas muito mais caras. Aqui testada na exigente Canon EOS 5Ds, full frame de 50MP e que “amplia” qualquer defeitinho na imagem, a Sigma é incrivelmente nítida no centro, de alta resolução, mais fácil de mostrar problemas por causa da distância focal extrema (que exige obturadores rápidos, ISOs altos e sofre com a distorção atmosférica), do que qualquer deficiência óptica. As bordas sofrem mais com a vinheta (escurecimento), dado o tamanho justíssimo dos elementos (“600” dividido por “6.3” é exatamente 95mm, a dimensão do elemento frontal), do que com aberrações cromáticas ou falta de resolução. É uma performance de “gente grande”, mas num pacote acessível e fácil de usar.
Em qualquer distância focal, não precisamos nos preocupar em fotografar fora da abertura máxima, para garantir arquivos de alta resolução na 150-600mm. Enquanto o centro mostra sim mais detalhes que as bordas, essa característica será notada apenas em fotos com baixa profundidade de campo; quando o sujeito nem deveria estar nas bordas em primeiro lugar. Para fotografar paisagens, que exigem de f/8 a f/11 para mostrar tudo em foco (longa profundidade de campo), a zoom tem quase a mesma performance das primes, com resolução de ponta e ponta do quadro, própria para impressões. É incrível ver como registros de cidades saem detalhados nos 600mm e em f/8, renderizando uma “malha” de linhas horizontais e verticais, numa composição geométrica. A Sigma se superou nos projetos zoom, e o preço é inexplicável para a performance.
Fechar a abertura tem a principal característica de eliminar a vinheta, que é muito acentuada até valores conservadores, como f/8-f/11. Não é um problema, mas uma característica: como os elementos ópticos são justamente do tamanho da fórmula (lembrem: “600mm f/6.3” é uma equação geométrica, que resulta em abertura ø95mm), sem peças maiores para compensar as laterais da entrada da luz, as bordas saem um pouco escurecidas, que agrada na saturação da foto. Pássaros, animais e também os retratos saem com aquele look característico das câmeras de formato grande, e não precisam ser simulados por filtros. Porém é praticamente invisível em composições mais “chapadas”, bidimensionais, como paisagens a distância. Mas é aquela coisa: você não deveria estar fotografando uma paisagem distante em f/6.3 (por causa da profundidade de campo) e, se o estivesse fazendo, seria para compensar a falta de luz (por exemplo num final de tarde); portanto, o quadro já seria escuro. O efeito é bonito, para prints ou publicação online.
Aberrações cromáticas são na verdade “difíceis” de produzir no telephoto e, apesar da Sigma ter tentado bastante criá-las com o projeto zoom (ironia), elas são muito bem controladas. Visíveis principalmente em contornos contra luz (tipo árvores contra o céu) ou janelas brilhantes (nas cenas urbanas), aquelas linhas coloridas magenta e verde nas bordas são mínimas, aqui ainda ampliadas pela 5Ds (de 50.3MP). Não há nem a necessidade de corrigi-las via software, e elas seriam “naturalmente” cortadas fora (crop) em câmeras de formato menor APS-C (com uma super equivalência de 960mm). As aberrações de eixo também são invisíveis, sem bolhas coloridas nos highlights do primeiro ou segundo plano. É uma facilidade para fotografar deste o “tudo em foco” até o “fundo desfocado”, sem grandes compensações via software ou perda de qualidade.
”Malha II” em f/8 1/1000 ISO1000 @ 600mm; pincushion no final do telephoto. ”O’Clock” em f/7.1 1/100 ISO100 @ 157mm; e também pincushion no começo do range. ”Dusk” em f/5.6 1/160 ISO250 @ 150mm. ”Outono II” em f/8 1/640 ISO1600 @ 600mm.A única reclamação do projeto óptico, porém, vem da distorção geométrica, visível em fotos com linhas retas. Seja em cenários urbanos, com prédios, placas e linhas arquitetônicas retas, ou cenas naturais, com o horizonte ou os limites entre lagos/montanha, planícies/mata etc nas bordas do quadro, vemos a distorção do tipo pincushion em 150mm e em 600mm; as linhas “caem” para o centro da foto. Não é muito grave e esperado de uma zoom, e evidentemente é tão fácil de corrigir como a aberração cromática lateral, com um único click no software. Mas inevitavelmente está lá, afinal são 20 elementos, um deles de ø95mm, numa zoom 4X; só uma prime faria diferente.
Por fim as cores e o bokeh sempre são agradáveis no telephoto, com a Sigma se aproximando muito das Canon EF. Os tons são “puxados” para o amarelo, quentes em laranjas e vermelhos, deixando verdes amarronzados e azuis neutros; todos fáceis de manipular via software. Com o sensor da 5Ds, notório por ter uma curva de saturação associado ao balanço de branco, é fácil conseguir arquivos “vivos” no dia a dia, sem a necessidade de ajustar as cores. A qualidade do desfoque varia dependendo das distâncias entre fotógrafo, sujeito, segundo plano e distância focal, mas geralmente é suave e difuso, para isolar o sujeito no quadro. Os highlights, que dão de fato a qualidade ao termo “bokeh”, são reproduzidos sem contornos duros, apesar de não sumirem completamente no desfoque; só uma objetiva de abertura maior faria isso.
Falar de objetivas da Sigma hoje em dia é sempre um prazer, graças a linha Global Vision. Com uma construção robusta, operação fácil (anel de zoom gigante, foco rápido) embora imperfeita (anel de foco manual bizarro, estabilizador só corrige na hora do click), a 150-600mm f/5-6.3 DG cai como uma luva na família “Contemporary”, realmente pensada na praticidade para fotógrafos atuais, que não precisam carregar uma prime de 4kg para fazer praticamente as mesmas fotos desta zoom. A surpresa, porém, está na performance óptica, que mimetiza as objetivas fixas de alta performance das fabricantes principais, apesar do preço baixíssimo; um mistério quando falamos de Sigma. Os 600mm eram para poucos, mas a 150-600mm colocam-nos nas mãos de todos. Seja para “fotografar de longe” ou soltar a criatividade, esta é “a” objetiva. Boas fotos!