Tempo estimado de leitura: 06 minutos e meio.
Setembro/2014 – A EF 24-70mm f/2.8L USM é sem dúvidas a objetiva mais popular dentre os fotógrafos Canon. Lançada em novembro de 2002, ela se tornou padrão no mercado porque oferecia pela primeira vez o mesmo nível de resolução das objetivas fixas, com o range típico para trabalhos de moda e jornalismo, com abertura máxima constante f/2.8. Foi na mesma época do boom das câmeras digitais de baixo custo (menos de US$10000 nas tops) e uma nova era para a fotografia. Mas com tantos anos nas costas e o lançamento da Mark II em 2014, ainda vale a pena investir no modelo vintage original? Vamos descobrir. Boa leitura! (english)
Em 950g a 24-70mm f/2.8L USM não é necessariamente um prazer de usar. Grande e pesada, ela incomoda bastante depois de várias horas de trabalho, e na minha opinião se restringe a apenas isto: trabalho. Tudo porque o corpo é praticamente inteiro feito de metal e uma filosofia abandonada pela Canon hoje em dia. A maioria dos lançamentos “standard” (sem especificação exótica, como abertura maior que f/2 ou as top telephoto) agora são feitos de plásticos de alta qualidade, e o feeling é totalmente diferente. Elas são mais leves e fáceis de usar, próprias para ficar na câmera o dia inteiro. E as antigas de metal não, tem uma sensação diferente, mais firme.
O projeto de 16 elementos em 13 grupos tem um design curioso, com zoom invertido que fica menor em 70mm e maior em 24mm. Isto faz com que o corpo pesadão equilibre melhor na distância máxima (geralmente a mais usada) e o hood seja otimizado também para o telephoto. Isto mudou nas 24-105mm f/4L IS USM e 24-70mm f/2.8L II USM que “crescem” quando o zoom aumenta. Não faz diferença no dia a dia exceto pelo hood gigante. É como eu disse: esta lente tem cara de “trabalho” e chega a ser ridículo pensar em leva-lá para passear, por causa do tamanho.
A operação é simples com um anel zoom próximo da câmera (feito de metal) e o de foco manual na frente (com full time manual). É um setup comum nas Canon e funciona bem pra quem tem kit com outras lentes EF. Os dois são macios e a operação é “L”, nada de solavancos pra sair do lugar ou joguinho/movimento em falso. Foram feitos para ultrapassar a vida do fotógrafo e, se bem cuidados, devem durar para sempre. E há somente um botão que liga/desliga o AF; nada de IS.
Do lado de dentro o motor USM é do tipo ring. Veloz e silencioso, casa muito bem com o propósito da lente: trabalho! Montada nas 1D, ele inclusive fica mais rápido porque recebe alguns W extras de energia elétrica. Já vi fotos com a modelo pulando e que estão 100% em foco, uma vez que AF trava instantaneamente. A distância mínima de 38cm ajuda a desfocar o fundo e ampliar a imagem em 0.21x, coisa que a Canon ousa chamar de “macro” na escala da janelinha de distância. De fato dá pra chegar bem perto em detalhes, objetos pequenos, flores, mas nada macro de verdade.
Enfim na frente os filtros de ø77mm são presos numa rosca de metal e dão saudades destes materiais nobres na construção. Ok, não precisamos do tubo inteiro metálico, pesado, difícil de carregar. Mas a rosca de filtros neste composto é muito mais bacana e fácil de usar que as de plástico; os filtros giram bem mais rápido e raramente ficam presos, já que o material não é flexível. E atrás a EF 24-70mm f/2.8L USM entrega o último recurso “sério”: uma borracha ao redor do mount de metal que está lá para completar o weather sealing dos anéis, botões e tubo zoom, todos protegidos contra respingos ou poeira. É uma verdadeira “work horse” da Canon e por isto durou tanto tempo no topo da linha. Usadas, ainda hoje algumas cópias parecem novas.
Eu decidi recolocar a EF 24-70mm f/2.8L USM na listagem do vlog do zack única e exclusivamente por causa da qualidade de imagem. Estava buscando uns arquivos de outra objetiva no meu acervo e cruzei com alguns da 24-70mm f/2.8 versão I. Abri, fucei, e lembrei como é impressionante o desempenho desta zoom: resolução alta do centro as bordas, nitidez excelente, CA baixo e distorção geométrica discreta. Um padrão no mercado profissional há doze anos.
Em f/2.8 eu tenho uma foto em São Francisco que é um total erro na exposição. Em plena luz do dia, totalmente aberta e com um sujeito tridimensional (um paredão de prédios); acho que fiz o clique nesta abertura especificamente para testar o projeto. E ele se saiu muito bem, com detalhes de sobra no que estava no plano focal e contraste perfeito (sem reflexos / vazamento de luz). Ela é muito boa em f/2.8 dos 24mm aos 70mm. É um projeto preparado pra qualquer coisa.
Por outro lado nesta mesma viagem eu lembro de uma foto f/2.8 que não foi tão feliz. É a de um moleque correndo num parque, e o segundo plano no desfoque mostra aberração cromática axial super alta. É quando as lentes não conseguem focar todos os espectros de luz no mesmo ponto e algumas cores “vazam”. De novo, é uma foto mal exposta porque está em f/2.8 sob plena luz do dia; fechando um pouco isto fica mais discreto ou sumiria. Mas aconteceu e é difícil de corrigir. Preste atenção no segundo plano, sem itens de alto contraste, para evitar o problema.
Em um arquivo melhor, numa floresta com a 60D, a abertura f/11 já ultrapassa os limites de difração dos 18MP no sensor APS-C. Mas mesmo assim vemos detalhes de sobra na foto. É daquelas fotos imersivas, que pedem impressões gigantes (pensem em mais de 2 metros de largura), com todas as folhas das árvores, gravetos no chão, nuances nas sombras. O sol estava atrás de tudo isto e mesmo assim não gerou flaring, que é difícil de acontecer na 24-70mm f/2.8. Desempenho muito bacana para rim light em estúdio ou fotos backlit em casamentos.
Cores e bokeh são padrões na Canon e equilibrados com a 50mm f/1.4 de décadas atrás. Ou seja, não vai fazer diferença num kit 100% EF e bacana para tratar vários arquivos em batch. O balanço é mais puxado para os amarelos e vermelhos. Tons de pele ficam suaves, rosados/amarelados, longe da realidade mas excelentes na tela ou no papel. Também funcionam bem em preto e branco. Lembro de ver um making of do legendário estúdio francês Harcourt no qual usavam uma 1Ds Mark III e a 24-70mm f/2.8 L USM para retratos icônicos, PB, impressos em tamanho grande.
Por fim a distorção geométrica aparece em linhas retas no grande angular, e no telephoto são discretas na 24-70mm. Especialmente em 70mm eu não vi o mesmo nível de pincushion das 24-105mm, não sei se por causa do range menor ou por otimizações ópticas mesmo. É bom para retratos e detalhes, que não precisam de correção via software. Vinheta também é mínima nos cantos do full frame, talvez por causa dos elementos enormes e design de zoom invertido.
Enfim uma objetiva queridíssima na linha Canon e que sobrevive até hoje como favorita no meio profissional. Robusta, flexível e com altíssima qualidade de imagem, pavimentou o caminho das SLR digitais e das zoom de alto desempenho. Vale até hoje para quem precisa da especificação e construção, se encontrá-la no mercado de usadas por um preço interessante. Mas na minha opinião a EF 24-105mm f/4L IS USM é muito mais negócio considerando os resultados virtualmente idênticos. Isto até testarmos a nova EF 24-70mm f/2.8L Mark II USM. :-) Boas fotos!