Tempo estimado de leitura: 06 minutos e meio.
Agosto/2014 – A EF 35mm f/2 foi a ultima objetiva da antiga escola de design Canon a ser substituída por um modelo novo. Com mount de metal, janela de distância e micro motor, ela tem a cara do kit inicial EF na década de 80 ao lado das 50mm f/1.8 (versão I) e 15mm f/2.8 Fisheye. Hoje todas elas mudaram de linha como: o downgrade da cinqüentinha f/1.8II (plastic fantastic); o upgrade da Fisheye (agora L e zoom); e a recente 35mm f/2 IS USM (que ganhou estabilizador e motor silencioso). A f/2 sem nada ficou para trás e não faz mais parte da linha da Canon. (english)
Ela chegou no vlog do zack porque eu precisava de uma 35mm prime full frame e a f/1.4L não cabia no orçamento, nem a f/2 IS USM tinha sido lançada. Como a lente ainda está presente em peso no mercado de usadas, vale comentar das qualidades deste projeto vintage. Sinceramente, o design óptico clássico nunca desapontou, e se você encontrá-la em boas condições e preço, vale como opção as alternativas mais caras. O equipamento é um prazer de usar por ser leve e fácil, características que as mais novas não dão tanta atenção. Vamos ver o que eu achei.
Em 210g a 35mm f/2 é levíssima em qualquer corpo full frame. Também colabora para esta impressão o tamanho de apenas 67mm de comprimento por 42mm de largura, afinal, a especificação não é tão exótica assim. Não precisa de tanto vidro e motor para uma 35mm f/2. Mas nada disto torna a objetiva frágil, e a construção apertada junto do mount de metal passam segurança na hora de usá-la. Dá pra ficar na mochila o dia inteiro sem se preocupar.
A operação é simples e diferente do que nos acostumamos pelos últimos anos. O anel de foco manual é emborrachado mas o motor AF exige que a alavanca esteja em MF para desengatá-lo. É ruim porque você tem de sair de trás da câmera para fazer tudo isto, o botão é liso demais e impossível de ser encontrado as cegas. É bem simples e não esconde o feeling de “linha padrão”, não profissional, que é mais difícil de ver hoje nas lentes cheias de borrachas.
O motor de foco é do tipo micro motor e gira uma série de rodas dentadas durante o movimento. Então o barulho é super característico e pode ser um problema em ambientes intimistas, “no escurinho”, que a abertura f/2 possa sugerir. Porém não deixa de ser veloz e preciso, só não na mesma classe das topo de linha. Ela não caça no escuro e não tive fotos fora de foco. A janela de distância é um luxo bem-vindo que vem sendo abandonado nas lentes de entrada mais novas. O que é um erro já que ela ajuda na principal “nova função” das DSLR: vídeo. É muito mais fácil ver a distância do foco em números para planejar as tomadas do que adivinhar pelo visor.
Na frente os filtros de ø52mm não rodam, o que é interessante para polarizadores. O tubo interno se move por completo durante a focagem e o hood fica preso via click numa baioneta finíssima ao redor do barell externo. O meu kit japonês inclui o pára-sol e a sacola para transporte; o kit vendido nos estados unidos, não. Vai entender. Enfim uma grande angular de desenho simples, feita para um tempo simples, com operação simples. Foi a última vintage a ser substituída por um modelo atual e sinceramente o upgrade fez sentido; esta f/2 não compete com nada lançamento nos últimos dez anos em construção nem operação. Mas a qualidade de imagem não é ruim, por isso vale a pena pensar nesta prime como alternativa para kits, er… simples. :-)
Devo assumir que esta lente chegou no vlog do zack numa época quando eu nem sabia o que significava “f/”. Eu só queria saber de “bokeh, bokeh, bokeh”, e a lente tinha de caber no meu orçamento; além de ser EF para funcionar no full frame. E foi isso que 35mm f/2 entregou, com um ângulo de visão mais aberto que os 50mm que eu já tinha na f/1.8 II. Hoje sei que as duas não ganharão nenhum comparativo de nitidez, resolução e contraste totalmente abertas. Mas para o que eu precisava (“bokeh”), e ainda permitir fotos em pouca luz, a 35mm f/2 serve bem.
A característica mais marcante em f/2 é a falta de contraste, comparada a objetivas mais novas. Isto é resultado de coatings modernos nos últimos lançamentos e que eram caros demais para aplicar quando esta 35mm foi concebida. As imagens saem um pouco sem graça direto da câmera, e exigem perfis de cor diferentes para ficarem realmente interessantes. Aumente o contraste e a saturação para as fotos “saltarem” na tela. Não chega a ser um ponto negativo porque pode ser resolvido via software, mas é diferente das lentes novas com um look escuro, de alto contraste. Com um projeto óptico de 7 elementos em 5 grupos, esta é a fórmula básica do grande angular.
A resolução totalmente aberta na minha opinião não é ruim. Dá pra ver todos os detalhes do que estiver dentro da profundidade de campo, que é curta dependendo da distância entre fotógrafo e sujeito. Não cheguei a “testar” a nitidez nas bordas porque raramente tiro fotos 100% planas, de objetos bidimensionais. Então não me importo se não houver resolução ali. Fechando até f/8 aumentamos bastante a profundidade para casos como paisagens/cidades, e mesmo no perímetro do quadro os detalhes estão de sobra. É um passo além das zoom tradicionais, nem precisa de olho treinado para ver mais detalhes nos arquivos da prime, especialmente com as EOS digitais.
CA lateral é uma surpresa porque não está presente nas fotos, assim como o longitudinal. O desfoque não ganha halos coloridos como outras lentes da linha padrão e, quando acontece, é super discreto. Mas a distorção geométrica é forte em foco mínimo e claramente conseguimos ver uma bolha em linhas retas em cima e embaixo. Se for um problema isto pode ser corrigido via software ou por DIGIC5 na câmera. Astigmatismo é forte nas bordas em f/2 se você tiver pontos de luz, tanto no plano focal quanto no desfoque. A 35mm não é a peça ideal para astrofotografia.
Cores e bokeh são tipicamente Canon e nunca passo muito tempo descrevendo porque estão sempre “certos”. É a magia da ciência de cores das EOS que mantém a marca no topo: é tudo saturado, cremoso/suave, como deveria ser. Só lentes topo de linha das outras fabricantes alcançam este desempenho e então recebem comentários positivos. Mas na Canon é “padrão”, “passa batido”, em todas as objetivas EF. É só montar na câmera e usar sem se preocupar.
Enfim uma vintage que nunca teve nada de errado e a Canon substituiu por um produto diferente: a nova EF 35mm IS USM tem estabilizador e motor de foco USM. A único erro na minha opinião foi ter matado a EF 35mm f/2, que entrega resultados opticamente idênticos. As duas poderiam continuar lado a lado na linha dando opções de preço e recursos pra quem precisa. Agora só restam algumas usadas por aí. Se couber no seu orçamento, essa objetiva vale a pena. Boas fotos!