Canon EF 50mm f/1.8 II

“Plastic fantastic”


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 125MB).

Tempo estimado de leitura: 07 minutos e meio.

Dezembro/2014 – A EF 50mm f/1.8 II é com certeza a prime mais popular da linha Canon. Por US$125, você leva uma verdadeira objetiva fixa de grande abertura com seis elementos em cinco grupos, que gera arquivos muito mais nítidos que as zoom de kit, e talvez com resolução maior que outras objetivas topo de linha quando fechada em f/8. Para isso a Canon abriu mão de qualquer fabricação sofisticada e temos um dos produtos mais simples do mercado. Toda de plástico, totalmente fantástica. É o melhor negócio da Canon para as câmeras EOS. Boa leitura! (english)

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO


Canon EF 50mm f/1.8 II

Em 130g a 50mm f/1.8 II é das lentes mais leves da linha EF Canon ao lado da 40mm f/2.8 STM, com design pancake. São na “cinquentinha” apenas seis elementos ópticos em cinco grupos, obviamente todos de vidro, num projeto Gauss virtualmente idêntico a todas outras 50mm populares do mercado (pelo menos nas principais fabricantes). Este é um clássico exemplo que o standard (nem grande angular nem telephoto) é tão fácil de fabricar com qualidade que bastou a Canon economizar nos materiais dos tubos, no mount e no motor AF para o preço cair tanto. Não sei se eles tem nas mãos um “feat of engineering”, com tanta simplicidade, ou um projeto tosco!

Canon EF 50mm f/1.8 II

Tubos que são feitos totalmente de plástico e não da classe “engineering plastic” que eles usam nas novas primes e zoom L do topo da gama. Na 50mm f/1.8 II ele é um material pobre, liso, duro, que faz barulho e pouco lembra um objeto pensado para uma resposta tátil de alta qualidade, mas sim um objeto simplificado, “cru”, com o mínimo de durabilidade. São vários painéis para construir um projeto tão simples, a ver pelas “farpas” que sobram na junção de todos eles. De qualquer maneira ela faz o trabalho e pelo menos a minha cópia nos últimos quatro anos não deu qualquer sinal de defeito, tanto de ficar na mochila quanto de montar em diversas câmeras.

Canon EF 50mm f/1.8 II f/1.2 L USM

A operação é extremamente simples com uma “espécie” de anel de foco manual na frente e a alavanca AF/MF do lado esquerdo; igual as outras EF. Como ela tem um motor de foco automático do tipo “micro motor”, você obrigatoriamente tem de engatar o anel no motor para operação AF (e ele gira com o movimento interno) ou desengatar o conjunto para o modo manual. Ou seja, é um passo a mais que tira a “praticidade” do equipamento, e que deve ser lembrado antes de operar o MF. Se você girar o anel com o motor ligado, corre o risco de forçar todo o conjunto.

Canon EF 50mm f/1.8 II

Eu disse “espécie” no parágrafo acima porque este anel é super fino e sem borracha para melhorar a pegada com as mãos. Também não há qualquer escala de distância para prever os ajustes e tudo fica no olhômetro através da câmera. Nem toda lente nova e simples tem escala de distância de foco hoje em dia, mas como o anel é preso no motor e “trava” no mínimo e no infinito, não custava nada pra Canon imprimir as distâncias no corpo da lente. Pelo menos o AF é preciso e não tive problemas de foco com a minha cópia na EOS 5D Mark II. Na distância mínima de foco (45cm) o tubo interno se movimenta quase 1cm para fora do corpo. Lembre de fechá-lo na hora de guardar.

 

Canon EF 50mm f/1.8 II

Na frente os filtros de ø52mm giram durante a focagem, o que impede o uso de polarizadores e outros vidros especiais. E nesta mesma rosca vai o hood; não há baioneta só para ele. Não que ele seja necessário, já que o elemento frontal é bem fundo no tubo interno e a própria construção serve como “hood”. Evidente que a 50mm f/1.8 II não tem qualquer nível de proteção a respingos e poeira, então tome cuidado em situações extremas. Ou não. Sempre que vejo algumas sessões bizarras de fotografia, quando o equipamento vai entrar em perigo, por exemplo perto do fogo, não é raro vermos este modelo empregado pra tomar porrada.

QUALIDADE DE IMAGEM

“Amy” com a EOS 5D Mark II em f/2.8 1/125 ISO100.

“Amy” com a EOS 5D Mark II em f/2.8 1/125 ISO100.

Com 6 elementos em cinco grupos, 130g e apenas US$125 no preço, pouco é de se esperar dos resultados ópticos de uma objetiva full frame tão simples. Mas como em qualquer ferramenta criativa, raramente o preço tem de fato alguma ligação com os resultados que podemos conseguir. É o caso clássico de uma prime padrão de grande abertura: a resolução é impecável quando fechada dois ou três stops a partir da máxima; o centro sempre é melhor que as bordas; mas o bokeh da f/1.8 não é dos melhores, já que o projeto é pobre. Porém francamente ela entrega trabalhos excelentes! Se aquele look com baixa profundidade de campo + vinheta acentuada fizer parte do seu portfolio, ou a resolução for importante para impressões gigantes, esta é a objetiva mais barata para chegar nestes resultados. Com a 5D Mark II, e 60D quando marcadas com um (*)

“Hiroshima I” em f/8 1/250 ISO100.

“Hiroshima I” em f/8 1/250 ISO100.

Em f/1.8 só o miolo do quadro realmente é nítido num círculo de cerca de 20% da área total do full frame. Fora dele e os detalhes são apagados pela incapacidade da lente em focar a luz no plano focal, perdendo informações de grades, folhas, placas, num look que até funciona para algumas situações, como retratos em abertura máxima escondendo os defeitos da pele do sujeito. Mas nada de usar a cinquentinha como “pau pra toda obra”; se muitos elementos fizerem parte da foto, só os centrais ficarão mesmo em foco, pedindo atenção na hora de compor o quadro.

“Takayama II” em f/1.8 1/40 ISO400; quase um uso errado da abertura máxima, já que são muitos elementos no quadro.

“Takayama II” em f/1.8 1/40 ISO400; quase um uso errado da abertura máxima, já que são muitos elementos no quadro.

Crop 100%, nitidez não está lá nem no centro do quadro.

Crop 100%, nitidez não está lá nem no centro do quadro.

“Takayama III” em f/2 1/50 ISO125.

“Takayama III” em f/2 1/50 ISO125.

Crop 100%, fechando para f/2 a diferença já é grande!

Crop 100%, fechando para f/2 a diferença já é grande!

“Takayama IV” em f/1.8 1/80 ISO1600.

“Takayama IV” em f/1.8 1/80 ISO1600.

Crop 100%, além da profundidade de campo curta, não há detalhes na abertura máxima.

Crop 100%, além da profundidade de campo curta, não há detalhes na abertura máxima.

“Miyajima II” em f/1.8 1/4000 ISO100.

“Miyajima II” em f/1.8 1/4000 ISO100.

Crop 100%, o vazamento de luz em zonas de contraste é acentuado no f/1.8.

Crop 100%, o vazamento de luz em zonas de contraste é acentuado no f/1.8.

Fechando para f/2.8, f/4, f/5.6 até f/8, a resolução aumenta gradualmente do centro para as bordas e só nesta abertura otimizada que os resultados impressionam no quadro todo. São arquivos que rivalizam qualquer objetiva de preço maior, prime ou zoom, e pelo menos na Canon as imagens não ficam muito melhores que isto. Daí o argumento sobre utilizá-la bem. Se você pretende fotografar itens que exijam resolução, basta fechar a abertura e se virar com o obturador e o ISO.

“JEREMIAH” em f/8 1/400 ISO100.

“JEREMIAH” em f/8 1/400 ISO100.

Crop 100%, em f/8 a resolução é impecável do centro…

Crop 100%, em f/8 a resolução é impecável do centro…

“S” em f/10 1/500 ISO100.

“S” em f/10 1/500 ISO100.

Crop 100%, aos cantos do quadro. É realmente um desempenho impressionante.

Crop 100%, aos cantos do quadro. É realmente um desempenho impressionante.

“Bay Bridge” em f/10 1/500 ISO100.

“Bay Bridge” em f/10 1/500 ISO100.

Crop 100%, aberturas otimizadas para ampliações gigantes.

Crop 100%, aberturas otimizadas para ampliações gigantes.

Destaque também vai para a capacidade da 50mm f/1.8 II em controlar o CA lateral nos cantos do quadro, que são muito menores que qualquer outra 50mm da Canon; vantagem da abertura máxima relativamente menor. Virtualmente não há necessidade de correção via software antes de impressões gigantes de prédios, janelas e letras. Por outro lado, com uma correção tão boa sobre o CA lateral, inevitável sobrar o CA lateral secundário, também conhecido como “purple fringing”, em zonas de muito contraste, com bolhas roxas em pontos de luz muito fortes.

“PIER” em f/11 1/640 ISO100.

“PIER” em f/11 1/640 ISO100.

Crop 100%, ZERO CA lateral nos cantos do quadro. O_o

Crop 100%, ZERO CA lateral nos cantos do quadro. O_o

“EARTH” em f/8 1/320 ISO100.

“EARTH” em f/8 1/320 ISO100.

Crop 100%, nenhum sinal de contornos coloridos em itens gráficos.

Crop 100%, nenhum sinal de contornos coloridos em itens gráficos.

“GEARY” em f/9 1/500 ISO100.

“GEARY” em f/9 1/500 ISO100.

Crop 100%, contraste perfeito nas letras das placas.

Crop 100%, contraste perfeito nas letras das placas.

“Sf_wharf” em f/10 1/500 ISO100.

“Sf_wharf” em f/10 1/500 ISO100.

Crop 100%, desempenho superior a outras primes de grande abertura.

Crop 100%, desempenho superior a outras primes de grande abertura.

O mesmo pode ser dito do CA axial, que aparece em peso no segundo plano com contornos verdes horríveis no desfoque. Alias, o bokeh da f/1.8 II é o pior da Canon com linhas que nunca se fundem de fato, repetições de padrão em texturas orgânicas (como areia ou mato), e o formato pentagonal de pontos de luz, já que o diafragma é simples com apenas cinco lâminas. Este é o meu principal argumento para subir na 50mm f/1.4 USM. O modelo intermediário consegue lidar melhor com o segundo plano e as fotos ficam mais agradáveis de ver. Porém é um detalhe pequeno.

“Takayama VI” em f/2 1/40 ISO160.

“Takayama VI” em f/2 1/40 ISO160.

Crop 100%, desfoque ganha bolhas verdes no segundo plano.

Crop 100%, desfoque ganha bolhas verdes no segundo plano.

“Ostras” em f/1.8 1/320 ISO100.

“Ostras” em f/1.8 1/320 ISO100.

Crop 100%, highlights não ficam agradáveis no bokeh.

Crop 100%, highlights não ficam agradáveis no bokeh.

Outro defeito típico é o astigmatismo nas bordas do quadro. É quando a lente não consegue projetar pontos de luz como pontos de verdade, e os formatos unem a distorção geométrica dos elementos da lente um na frente dos outros. Então você perde completamente a nitidez de detalhes iluminados no perímetro do quadro, especialmente em fotos noturnas. Painéis distantes viram linhas bizarras de luz que nunca realmente ficam nítidas mesmo em f/8. Esta é uma característica óptica que poucas objetivas corrigem, principalmente os modelos “Noct” da Leica e atualmente a AF-S 58mm f/1.4G Nikon. Nenhuma Canon EF 50mm corrige.

“Takayama VII” em f/1.8 1/80 ISO1600. Parece até uma foto normal…

“Takayama VII” em f/1.8 1/80 ISO1600. Parece até uma foto normal…

Crop 100%, até você perceber as distorções nas bordas do quadro.

Crop 100%, até você perceber as distorções nas bordas do quadro.

Todas as lentes em abertura máxima sofrem com astigmatismo na linha EF da Canon.

Todas as lentes em abertura máxima sofrem com astigmatismo na linha EF da Canon.

Já as cores da cinquentinha Canon são bem equilibradas com o restante da linha prime e saem relativamente saturadas da câmera, sem perda de contraste como algumas zoom cheias de elementos com vidros ruins. Dá para usá-la tranquilamente com sujeitos coloridos e a correção será leve em tons e saturação no Adobe Camera Raw ou no Lightroom.

“Outono” em f/4 1/160 ISO100. Cores excelentes com pouco ajuste via software.

“Outono” em f/4 1/160 ISO100. Cores excelentes com pouco ajuste via software.

“Takayama VIII” em f/8 1/100 ISO100.

“Takayama VIII” em f/8 1/100 ISO100.

“Hiroshima III” em f/8 1/80 ISO100.

“Hiroshima III” em f/8 1/80 ISO100.

“Orizuru” em f/2.8 1/200 ISO100.

“Orizuru” em f/2.8 1/200 ISO100.

VEREDICTO

Revendo estas fotos depois de quatro anos, eu tinha esquecido como a EF 50mm f/1.8 II era especial. Sério, a resolução impressiona em f/8 e os controles de aberrações também. Nas mãos ela é um pouco tosca de usar, os controles são simples e o foco é barulhento. Mas o peso e facilidade de uso são pontos positivos em qualquer equipamento, e disso a cinquentinha tem de sobra. Com o preço de US$125 numa objetiva full frame, fica difícil arrumar qualquer motivo para reclamar do desempenho. É umas das melhores objetivas da Canon. Boas fotos!