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Dezembro/2014 – A EF-S 17-55mm f/2.8 IS USM é a zoom exclusiva para o formato APS-C mais cara que a Canon produz. Lançada em fevereiro de 2006 por US$1159, ela tem o range equivalente aos 27-88mm do full frame, de 68º a 23º de ângulo horizontal, que chamamos de “zoom padrão”. Estes números cobrem as distâncias normais usadas no dia-a-dia, como: fotografia de rua, retratos, grupos, paisagens, arquitetura. Então é daquelas “lentes para a vida toda”, antes de você desenvolver a necessidade pelo o grande angular ou o telephoto. (english)
Mas o projeto óptico de incríveis 19 elementos em 12 grupos, incomum para uma zoom normal, colocam este modelo na frente as opções de kit. O motivo de tanta complexidade está na abertura máxima “exótica” f/2.8, excelente para pouca luz e menor profundidade de campo, além da implementação do estabilizador óptico de 3 stops. Este é um pacote digno da série L mas que a Canon preferiu manter na linha intermediária “EF-S” (“S” de short). Então ela não serve em outro formato maior além do APS-C, portanto o investimento significa o comprometimento com os sensores menores. Mas se desempenho é o que você procura numa lente que só atende “o crop”, vá fundo: opticamente elas não ficam muito melhores do que isso. Boa leitura!
Em 645g a EF-S 17-55mm f/2.8 IS USM é a antítese do formato APS-C. Pensado em portabilidade e corte de custos, esta lente não consegue nem ser pequena (11cm x 8cm), nem barata (hoje sai por US$879). Poxa, a EF-S 18-55mm f/3.5.5.6 IS STM que faz virtualmente a mesma coisa pesa apenas 205g e custa 1/5 do preço. Qual é o grande importância da 17-55? Esta maldita abertura f/2.8.
Com 19 elementos em 12 grupos, sendo três deles asféricos e dois UD, tudo gira em torno da correção de aberrações que tanto vidro causa na qualidade de imagem. Você paga por um monte de elementos para justificar detalhezinhos nos arquivos que francamente poderiam ser corrigidos via software. Você carrega o triplo de peso para fazer as mesmas fotos. Mas tem louco pra tudo e na minha opinião este é o público da 17-55mm: gente louca preocupada com “qualidade de imagem” e “desempenho”. Com uma 18-55mm f/3.5-5.6 dá para fazer praticamente as mesmas fotos.
Ela é digna de uma série L, opticamente falando, mas a Canon não quis abrir mão da “iLustre” linha com uma EF-S “cropada”. Então o departamento de marketing mandou o de desenvolvimento “economizar”, e nós temos uma das lentes que mais “balançam” no acervo do vlog. Expanda o zoom até 55mm; segure no meio da lente; faça qualquer movimento. Você sente tudo mexer do lado de dentro e eu sinceramente questiono a precisão interna dos elementos ao longo do tempo. Weather sealing? Uso profissional? Pau pra toda obra? Pode esquecer.
E outro problema da construção medíocre da EF-S 17-55mm é a conhecida “bomba de pó”. Sem qualquer vedação no mount, nos anéis, e até no elemento da frente (!), virtualmente todas as cópias que eu conheço tem pontos de pó acumulados do lado de dentro. Durante o movimento do zoom, a pressão interna puxa a poeira, e como não há qualquer barreira para impedir isto, voilà: você é presenteado com um aspirador de pó. Assumo que não vi qualquer problema nas minhas fotos mesmo fechando a abertura. Mas isto não é normal e desde 2006 temos cópias juntando pó.
O grande destaque da EF-S 17-55mm f/2.8 IS USM está pra variar no desempenho do foco automático. Ele se compara as tops L em velocidade e precisão. Quem trabalha com as 7D tem praticamente a obrigação de colocar uma 17-55mm no kit. Até a EOS M, corpo usado nos testes, brilha com o foco automático híbrido. Tudo é instantâneo, confiável e silencioso. O motor do tipo ring suporta o full time manual. A qualquer momento você pode girar ao anel perfeito, traseiro, numa posição incomum as Canon. E ele não tem qualquer “joguinho”/lag no movimento, como dá para notar pela janelinha de distância. É bom de usar e neste aspecto esta EF-S não economizou.
Bacana também é o estabilizador da terceira geração com até três stops de correção. Os testes com a EOS M, que praticamente não tem grip, colocaram ele a prova. Em fotos indoor, sem subir o ISO, desci o obturador para o limite do aceitável e o IS segurou tudo no lugar. É muito útil para vídeos e o meu grande motivo de colocar a 17-55mm f/2.8 IS no kit. Junto da Blackmagic Cinema Camera agora eu tenho numa lente só, estabilizada, o range útil para planos abertos e fechados nas mãos. O IS tem apenas uma chave liga/desliga e é inteligente para panning e detecção de tripé automaticamente. Pode deixar ligado o tempo todo e esquecer dele.
Na frente os filtros de ø77mm são relativamente infelizes se você pensar no formato APS-C “de pobre”. Mas lógico que a Canon não pensou assim. Eles são do mesmo tamanho da EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM e de uma 70-200mm f/2.8. Percebem o que a fabricante quer vender? Um kit “profissa”, grande, pesado, caro… Mas atrás o bump de plástico da linha EF-S impede de montá-la em corpos full frame. Enfim, um investimento exclusivamente APS-C, topo de linha, que abre um rombo no orçamento. Vale a pena ou é melhor migrar para o full frame?
Sim, vale ficar no APS-C. A especificação é razoavelmente útil para quem trabalha nos formatos menores e o desempenho óptico é altíssimo, resultado que não é tão fácil de conseguir. Lembrem-se: estamos falando dos 17mm no grande angular, independente dele ser limitado ao círculo APS-C. E é complicadíssimo de fabricar com grande abertura. A EF 16-35mm f/2.8L II USM, parecida, com 16mm, f/2.8 e sem estabilizador, ultrapassa os US$2000! Mas nesta EF-S a Canon conseguiu manter o preço relativamente baixo, sem abrir mão da qualidade de imagem. Fotos com a EOS M.
Infelizmente em f/2.8 eu senti uma leve perda de nitidez geral no arquivo com o surgimento do blooming e perda de resolução nas bordas, coisa que as primes não fazem, nem as 24-70mm f/2.8 de última geração (Canon L II e Tamron Di). Há um “fantasma” ao redor de áreas de contraste na abertura máxima que não aparece de f/4 para cima; indicando que esta lente exige cuidados para qualidade máxima. Note: não é péssimo e não perdi qualquer foto por causa disso. Mas sempre que ampliei demais o arquivo e vi este problema, confirmei que a foto estava na abertura máxima.
De f/4 pra cima o problema some e começamos a subir em nitidez e resolução nas bordas do quadro, comportamento típico das zoom daquela geração (ela é de 2006). Já é o suficiente para trabalhar com sujeitos detalhados como paisagens, rua, produtos, retratos que serão ampliados, e um desempenho além das zoom 18-algumacoisa, que só melhoram em f/5.6. As diferenças são pequenas: a 17-55mm melhora em f4 enquanto as 18-55mm são boas mesmo em f/5.6. É outra vantagem de ter um stop a mais como ponto de partida. Os arquivos saem visivelmente mais detalhados e nem parece um formato menor, em comparação ao 135 full frame.
O limite de difração dos sensores APS-C de 18mp da Canon está em f/5.6 e portanto não fiz muitas fotos além do f/8. Só uma em f/22 para compensar com um obturador lento, registrando rastros de movimento dos passantes, e nela a resolução foi pro saco. Mas no geral, exceto em f/2.8, os resultados são fantásticos com esta lente, comprovando a qualidade técnica do APS-C “crop”. Acreditem em mim, mas estes sistemas menores entregam a mesma coisa dos maiores para o dia-a-dia. Eu imprimi fotos da EOS M com mais de um metro de largura e os resultados foram fantásticos. Só migra para o full frame quem trabalha com pouca luz, ou precisa da profundidade de campo um pouco menor em objetivas super especiais, como as de grande abertura f/1.2L.
Cores não são mais um problema para o vlog/blog do zack porque comecei uma fase preto e branco, para explorar outros aspectos da fotografia (formas, contraste e textura). Então na conversão P&B se foram quaisquer defeitos cromáticos. Lógico que isso não vale para um review portanto alguns arquivos ficaram direto da câmera, com as cores do arranjo bayer. E a EF-S 17-55mm novamente não fez feio. Além dos CA laterais baixos, os de eixo sequer acontecem! Não que seja fácil conseguir “bokeh” com ela, mas quando rolou eu não vi qualquer bolha verde no segundo plano. É o resultado de 2 elementos UD que focam perfeitamente os espectros de luz.
“Jd. Europa2” em f/2.8 1/2000 ISO100 @ 17mm.Já a vinheta aparece na abertura máxima e não é surpresa considerando o tamanho dos elementos, que são enormes para o círculo do APS-C. Palpito que o maior culpado seja o IS que usa um círculo ainda maior para compensar os movimentos, e causa as bordas escuras em todos os valores f/stop. Mas é uma questão de gosto: tem gente que inclui o “efeito” via software e ele sempre é mais agradável opticamente. E quem não gosta pode eliminá-lo nas câmeras com DIGIC4, ou depois no computador, no processamento raw ou JPEG nos softwares da Adobe.
E por fim a distorção geométrica é alta para uma zoom de range tão curto, com praticamente todas as distâncias “tortas” pelo “bigode” ou bolha. Sempre que fiz a correção no computador a diferença foi bem grande, então não esqueça deste detalhe antes de publicar imagens de cidades, arquitetura, enfim, fotos com linhas retas. Flaring? A 17-55mm não sabe o que é flaring.
A EF-S 17-55mm f/2.8 IS USM é a uma lente “especial” na linha porque a abertura f/2.8 estabilizada nestas distâncias é exclusiva deste modelo. Não temos uma equivalente “full frame” e a Canon não teve outra escolha a não ser desenhar um projeto ousado, complicado e caro. Mas com sucesso. Opticamente ela entrega o que uma zoom moderna tem de fazer: substituir as primes com qualidade maior ou pelo menos semelhante, e ela faz. Infelizmente a construção não é das melhores porém funciona, com o bônus do AF super rápido. E a prova final está nas imagens: são arquivos ricos em detalhes, que não deixam aquele sentimento “puxa, deveria ter feito com outra lente melhor”. As fotos não ficam muito melhores do que isso. Abraços e boas fotos!