Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM

A objetiva que eu adorei detestar


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 135MB).

Tempo estimado de leitura: 07 minutos.

Maio/2015 – A Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM foi a primeira objetiva que eu não recomendei no vlog do zack. Vamos esclarecer uma coisa: não, eu não tenho nada contra este modelo; sim, eu fiz ótimas fotos com ele. Porém eu não consigo superar a performance nas bordas no full frame mesmo em f/8, pelo preço de US$1599. Querem ver um exemplo? (english)

“Koh Phi Phi Don” com a EOS 5D Mark II em f/8 1/750 ISO100 @ 16mm. Raw disponível no Patreon.

“Koh Phi Phi Don” com a EOS 5D Mark II em f/8 1/750 ISO100 @ 16mm.

Crop 100%, R$20 pra quem conseguir ler o nome do barco.

Crop 100%, R$20 pra quem conseguir ler o nome do barco.

Ela é a única opção zoom f/2.8 da Canon para o formato full frame ultra grande angular. A nova EF 11-24mm f/4L USM perde metade da luz. A nova EF 16-35mm f/4L IS USM, com estabilizador, também perde metade da luz. E só a prime EF 14mm f/2.8L II USM, com performance superior, entrega a mesma abertura; mas custa US$2099. Resultado por resultado, fiquem com a EF 17-40mm f/4L USM de US$799 que é muito mais negócio. Ela chegou no vlog do zack em fevereiro de 2011 como a primeira experiência ultra grande angular da EOS 5D Mark II. A construção é impecável; e a operação é facílima, feita pra trabalhar o dia inteiro. Mas pelo preço eu não tenho como recomendar. Vamos ver por quê? Boa leitura!

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM

Em 635g de 88.5x111mm com 16 elementos em 12 grupos, a primeira coisa que você nota na EF 16-35mm f/2.8L II USM é o comprimento super longo. A EF 24-105mm, por exemplo, é mais curta em 10.6cm, apesar do range maior. E a prime EF 135mm f/2L USM, considerada médio telephoto, tem os mesmos 88x113mm da zoom ultra grande angular. Ou seja, não é uma construção normal e talvez explique o problema da performance óptica das bordas. A luz entra num amplo ângulo de visão com 108º e tem de caminhar 11cm até o sensor? Alguma coisa vai dar errado.

Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM

A construção é impecável, com plásticos de alta qualidade do lado de fora e o que parece uma estrutura de alumínio do lado de dentro; da mesma geração da EF 24mm f/1.4L II USM. Do mount de metal até a rosca de filtros, também de metal, são dois anéis, de zoom e de foco, com movimento preciso e suave, sem qualquer balanço, para nenhum lado. A lente vai crescendo consideravelmente até o trilho para hood, incluído na caixa, e o thread de ø82mm na frente; o primeiro numa objetiva Canon EF. Apesar de grandes e caros, estes filtros não causam vinheta, já que os elementos ópticos ficam longe das bordas. Nada expande durante a operação.

Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM

O destaque como sempre vai para o motor USM de foco automático do tipo ring. Este é um dos principais updates da geração II, que saiu junto da 1D Mark III em 2007; fazendo a festa para fotojornalistas. Extremamente rápido e silencioso, foi uma das minhas primeiras experiências de fato com foco instantâneo, mesmo com a EOS 5D Mark II. Apertou, focou; notavelmente mais rápido que até outras série L que eu já tinha na época: 24-105mm, 100mm Macro, 50mm e 85mm f/1.2. A 16-35mm II é super precisa e pode receber inclusive mais alguns watts de potência das 1D, para focagem ainda mais rápida. É o que a Canon tem de melhor no mercado fotográfico.

Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM

Para focagem manual o único switch AF/MF pode ser mantido em “AF”, já que o anel suporta o full time manual. Ele é de metal e emborrachado, grande na frente, para maior firmeza. A distância é automaticamente traduzida na janela superior com marcações em pés e metros, sem atraso/jogo, bacana também para gravação de vídeos. O foco mínimo de 28cm pode até causar o “efeito bokeh” com a baixa profundidade de campo em abertura máxima, interessante para isolar o sujeito mesmo no grande angular. Talvez este seja um dos poucos triunfos do modelo, já que o desfoque é super suave, bem “série L”. Agradeçam a abertura completamente circular.

Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM

No geral a experiência da EF 16-35mm f/2.8L II USM nas mãos é fenomenal. Apesar de grande, ela não é pesada, e equilibra bem até nos corpos APS-C, embora eu não recomende o uso já que você perde o apelo “grande angular”. O parasol na frente é um pouco estranho, grande demais; e questiono a utilidade dele nesta distância. Mas várias vezes vejo este modelo montado numa 1D como a segunda ou terceira câmera de jornalistas, para composições dramáticas, “dentro da ação”. Pode observar: quando tem alguma farofa acontecendo e um fotografo “atirando pra qualquer lado” sem nem olhar pelo viewfinder, grandes chances de ser um corpo 1D com uma 16-35mm f/2.8L na frente. É “pau pra toda obra”, tipicamente Canon série L.

QUALIDADE DE IMAGEM

“Pôr do sol” em f/8 1/45 ISO100 @ 16mm.

“Pôr do sol” em f/8 1/45 ISO100 @ 16mm.

Mas eu nunca engoli a performance óptica da EF 16-35mm f/2.8L II USM e ela foi trocada pela EF 35mm f/1.4L USM, que fazia sentido depois da compra da EF 14mm f/2.8L II USM. O projeto óptico é high end, com três peças asféricas, uma de cada tipo (ground, replica e glass mold); e um elemento UD. Os coatings são modernos, feitos para a era digital com alto contraste e cores equilibradas. Porém a resolução nas bordas simplesmente não está lá, e detalhes viram borrões. Foto a foto a EF 17-40mm f/4L USM fará a mesma coisa, pela metade do preço. * Fotos com a 5D Mark II.

“Wat” em f/11 1/60 ISO400 @ 27mm.

“Wat” em f/11 1/60 ISO400 @ 27mm.

No centro do quadro a resolução é excelente e no geral o contraste e as cores podem justificar o investimento na 16-35mm f/2.8L II USM. Tudo é saturado, vibrante, e com poucos ajustes via software para arquivos “com cara de publicidade”. Direto da câmera dependendo do seu picture style dá pra fazer a mesma coisa, e com certeza é um passo a frente dos kits APS-C. Os amarelos e vermelhos são vibrantes, e parecem calibrados para fotografar cultura asiática ou tons de pele, que misturam as duas cores. E em cenas naturais os azuis e verdes também são fortes, perfeitos para paisagens amplas. Funciona muito bem e são um ponto a favor da série L.

“Dragão” em f/2.8 1/4000 ISO800 @ 16mm.

“Dragão” em f/2.8 1/4000 ISO800 @ 16mm.

Crop 100%, resolução excelente para uma zoom em f/2.8.

Crop 100%, resolução excelente para uma zoom em f/2.8.

“Wat II” em f/5.6 1/125 ISO320 @ 16mm. Raw disponível no Patreon.

“Wat II” em f/5.6 1/125 ISO320 @ 16mm.

Crop 100%, não dá pra reclamar de resolução no miolo. O_o

Crop 100%, não dá pra reclamar de resolução no miolo. O_o

“Wat III” em f/2.8 1/30 ISO1600 @ 16mm.

“Wat III” em f/2.8 1/30 ISO1600 @ 16mm.

Crop 100%, leve perda de nitidez por focagem difícil, baixa profundidade de campo e ISO1600.

Crop 100%, leve perda de nitidez por focagem difícil, baixa profundidade de campo e ISO1600.

Mas indo para as bordas e esta zoom não consegue entregar o mesmo desempenho em resolução da prime EF 14mm f/2.8L II USM; performance que começamos a nos acostumar recentemente (zoom com qualidade de prime). A primeira vez que notei foi num espaço que facilmente poderia simular uma situação profissional: fotografia de arquitetura. Na verdade eu queria fotografar uma sequência para explicar a diferença na vinheta de f/2.8 até f/11, que, aliás, é bem forte. E foi quando eu abri as fotos no computador que vi a desgraça nas bordas. Intolerável.

“Paracas” numa sequência de f/2.8 até f/16. Raw disponível no Patreon.

“Paracas” numa sequência de f/2.8 até f/16.

Crop 100%, performance nas bordas de f/2.8 até f/16.

Crop 100%, performance nas bordas de f/2.8 até f/16.

Aí eu comecei a ser chato e investigar todos os outros arquivos. Era verdade: a objetiva high end, “série L” da Canon, não entregava de fato o que a 5D Mark II pedia nas bordas. Seja em cenas tridimensionais, que eu até concordo na variação de nitidez devido a profundidade de campo acentuada, ou em cenas planas, distantes, há uma notável perda de nitidez nas bordas. Okay, eu não sou a favor de itens importantes no perímetro e de fato só em output 100%, com impressões gigantes, fará diferença. Mas recomendar a compra para quem assiste o canal, eu também não sou.

“Hotel Paracas” em f/8 1/500 ISO400 @ 16mm.

“Hotel Paracas” em f/8 1/500 ISO400 @ 16mm.

Crop 100%, no centro, pra ninguém falar que é problema na distância focal.

Crop 100%, no centro, pra ninguém falar que é problema na distância focal.

”Clara” em f/5.6 1/30 ISO400 @ 16mm.

”Clara” em f/5.6 1/30 ISO400 @ 16mm.

Crop 100%, corte no centro.

Crop 100%, corte no centro.

“Clara 2” em f/5.6 1/180 ISO400 @ 16mm.

“Clara II” em f/5.6 1/180 ISO400 @ 16mm.

Crop 100%, no centro, para estabelecer a distância de foco…

Crop 100%, no centro, para estabelecer a distância de foco…

E num passeio a Islas Ballestas (Peru), por acaso tive um encontro caótico com flaring. Enquanto eu fotografava pelo viewfinder óptico e usando óculos polarizados, eu nem vi. Mas quando abri os arquivos no computador, foi a experiência mais tosca que já tive com uma objetiva: toda a minha sequência de fotos estava destruída com um “clarão” vindo do sol. O contraste foi pro saco e não dá para recuperar via software. Nunca usei filtros e estava com o parasol. Foi a gota d’água.

“Ballestas III” em f/8 1/60 ISO200 @ 29mm.

“Ballestas III” em f/8 1/60 ISO200 @ 29mm.

E não foi numa foto só, foram em todas da sequência!

E não foi numa foto só, foram em todas!

Zack com um óculos polarizado neeem percebeu os reflexos no viewfinder.

Zack com um óculos polarizado neeem percebeu os reflexos no viewfinder.

“Ballestas IV” em f/8 1/3000 ISO400 @ 35mm; e acontece com a luz do outro lado também.

“Ballestas IV” em f/8 1/3000 ISO400 @ 35mm; e acontece com a luz do outro lado também.

“Petronas Towers II” em f/10 1/350 ISO100 @ 16mm; cuidando para não destruir a foto.

“Petronas Towers II” em f/10 1/350 ISO100 @ 16mm; cuidando para não destruir a foto.

VEREDICTO

US$1599 por uma zoom grande angular “rápida” com construção topo de linha, AF perfeito e operação simples? Sim, aceito. Mas as bordas serão tão ruins quanto a EF-S 10-22mm e há o risco de perder fotos por causa do flaring. Thanks, but no thanks. No final das contas eu não tenho mais a EF 16-35mm f/2.8L II USM e ela nunca fez falta. Primeiro a adição dos 14mm f/2.8 prime mataram os 16mm; estes 2mm a mais fazem uma composição muito mais dramática e prime é prime, com qualidade imbatível. Segundo, depois de experimentar outras opções mais baratas, mais caras, melhores e piores, a 16-35mm simplesmente caiu no esquecimento. Eu entendo quem defende: o equipamento não é tão ruim e nunca perdi uma foto por causa das bordas. Mas recomendá-la aos meus seguidores? Por US$1599? Conhecendo a Nikon 14-24mm? Nem pensar. Boas fotos!