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Janeiro/2014 – A Canon MP-E 65mm f/2.8 1-5X é uma objetiva especializada para fotografia macro até 5X. Enquanto as outras macro terminam no 1X, que é a projeção em tamanho real do objeto no sensor ou filme (isto é, um inseto de 1cm terá 1cm no filme), a MP-E 65mm oferece ampliação até 5X (1cm será 5cm no filme), revelando um mundo completamente novo. Ela entrou no meu kit por uma boa oportunidade em 2011, quando um vendedor ofereceu uma usada por cerca de R$500 a menos que uma nova em dólares. Motivo: ele não conseguia usá-la por dificuldades na focagem e esta peça não é para qualquer kit. Mas será que é para o seu? Vamos descobrir!(english)
Em 8 x 10cm fechada para até 24.5 cm aberta, de 730g de puro metal gelado ao toque, a Canon MP-E 65mm f/2.8 1-5X é um gigante que pesa bastante para o tamanho, certamente uma peça feita para trabalhar. Para atingir a ampliação de 5x, o corpo inteirinho é feito de metal nos três estágios do tubo, da baioneta de montagem até o anel de ampliação (que não é de foco, como veremos a seguir), para evitar qualquer desalinhamento óptico que ficaria grotesco na proporção máxima. Esta não é daquelas objetivas que ficam na mochila para serem usadas “por acaso”, então ou você planeja levá-la para fotografar de verdade em macro 1-5x, ou é melhor deixá-la em casa.
A operação é feita por um anel de ampliação, que simplesmente desloca o primeiro grupo óptico para frente e para trás; como um sistema de sanfona das antigas, mas aqui com alta durabilidade mecânica. O princípio é o mesmo daquela brincadeira de fazer sombras com as mãos: quando você está perto da lanterna, a sombra na parede parece grande. Neste caso as suas mãos serão “o sujeito”, a distância será o tubo aberto da objetiva, e a sombra será a imagem projetada no sensor. Assim conseguimos uma ampliação, para enxergar de perto o que normalmente seria invisível.
Então cadê o controle para focagem? Não há! A MP-E é uma objetiva de foco fixo, e o seu sujeito precisa estar na distância certa para parecer em foco. O “foco” na verdade é feito movimentando TODO O CONJUNTO câmera + objetiva, aumentando ainda mais a dificuldade de trabalhar. Fotografar retratos com a 65mm? Impossível. Ela foi feita para ficar montada num trilho milimetrado, com ajustes precisos, para trabalhos especializados. A única parte “fácil” é que a Canon fornece anotações de distância impressas no tubo: a cada valor de ampliação (1x até 5x), basta posicionar o sujeito na distância certa. Em 5x a distância de foco é de apenas 4.1cm.
Na caixa ela vem vem com o pé de tripé, também de metal e também pesado; sozinho ele adiciona 115g no peso (mais que uma EF 50mm f/1.8). Na frente o diminuto elemento frontal aceita filtros bem maiores de ø58mm, úteis para usar com polarizadores. Ao redor do filtro há uma baioneta para fixar o flash especializado ring-type MR-14EX, que consegue iluminar de maneira uniforme o seu sujeito a 4.1cm da lente. Enfim este não é um produto de “qualquer dia”, mas uma peça especializada que nenhuma outra marca tem. Não é fácil de usar mas entrega num produto comercial e relativamente acessível uma ferramenta exclusiva; uma vantagem de ter Canon.
Com um projeto óptico de 10 elementos em 8 grupos, elementos de baixa dispersão e um sistema float, das fotos que fiquei satisfeito da MP-E 65mm f/2.8 1-5X (é uma objetiva difícil de usar), nenhuma ficou devendo em qualidade de imagem, apresentou aberrações ou teve o resultado totalmente comprometido por um defeito óptico. Pelo contrário, os arquivos exigiram pouquíssimo ajuste via software e, tirando um único caso de aberração cromática axial numa foto específica, todas as imagens foram impecáveis. É a performance esperada por profissionais Canon.
Mesmo em abertura máxima f/2.8 do 1X ou 5X as fotos tem resolução de sobra no centro do quadro com a EOS 5D Mark II. Todos os detalhes que estiverem no plano focal serão revelados sem qualquer aberração por falta de nitidez. O contraste é excelente e não encontrei qualquer sinal de blooming, que é aquele “vazamento” de luz em áreas de muito contraste; e contornos são contornos, não borrões. Composições com cores ficarão vivas na tela e impressão e qualquer objeto rico em informações será reproduzido da mesma forma depois da ampliação, em 1X ou 5X.
As aberrações cromáticas são praticamente inexistentes do tipo lateral (aquelas bordas coloridas) mas encontrei aberrações cromáticas de eixo, que é a diferença na cor do que está na frente e atrás do plano focal. Foi numa foto curiosa de bolhas de ar dentro de um cubo de gelo, em ampliação 5X. O contorno ficou verde atrás do plano e roxo na frente dele; e contraste perfeito no plano exato. Mas foi a única foto que apresentou isto, e também não garanto se é um problema óptico DO GELO (!), e não da objetiva. :-D Em objetos coloridos não dá para ver as aberrações cromáticas.
De f/4 em diante aumentamos um pouco a profundidade de campo e até f/11 a difração começa a ser um problema no sensor de 21MP da 5D Mark II. A partir de f/13 ele aumenta e de fato começamos a perder nitidez. Então mais uma dificuldade vem a tona: em f/2.8 a profundidade é minima e cresce pouco até f/11; e a partir de f/13 a nitidez cai por difração. Como conseguir fotos de fato em foco com um equipamento destes?! Técnicas como focus stacking, pós-processamento pesado e paciência. Bem-vindos ao mundo da fotografia macro especializada!
Por fim o bokeh é suave na MP-E, característica importante uma vez que a profundidade de campo sempre será curta. É muito útil para isolar uma característica do sujeito ou garantir composições gráficas impactantes. Pense por exemplo em insetos contra o fundo orgânico do mato, que sumirá num borrão colorido, sem linhas firmes. Como todas as outras objetivas especializadas da Canon, o desfoque é acentuado e bem tratado; longe da impressão de “lupa” de objetivas low cost.
A Canon MP-E 65mm f/2.8 1-5X simplesmente não é uma objetiva para qualquer um. Fora os insetos, flores e produtos, não consigo pensar em qualquer imagem realmente útil para justificar a compra. Pode até funcionar em uma ou outra foto do portfolio no 1X, mas não vale a pena para o restante do mundo. Se a curiosidade e o bolso permitirem, talvez ela vire um brinquedo nas mãos dos fotógrafos de final de semana. Mas como a maioria das objetiva especializadas Canon, a aplicação é restrita e minha recomendação fica de fato para os que precisam destas imagens: profissionais da área científica como biólogos e fotógrafos de produtos especializados. Boas fotos!