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Novembro/2014 – A zoom Tamron 24-70mm f/2.8 Di VC USD é mais uma prova da popularidade desta especificação no full frame. Virtualmente todo fabricante tem uma objetiva variável do grande angular ao começo do telephoto em f/2.8, com a mesma lógica do zoom menor que 3x para alta qualidade de imagem. Mas enquanto a maioria compete em desempenho óptico e às vezes preço, a Tamron é a única que apresenta um recurso no segmento: estabilizador de imagem que outras marcas juram ser impossível de projetar. É a primeira objetiva deste tipo com VC (Vibration Compensation) e não é muito mais cara, nem muito maior. Mas será que funciona? (english)
Em 825g de 17 elementos em 13 grupos a Tamron desafia a lógica que as outras marcas colocam no marketing dos seus mais recentes lançamentos. Especialmente Canon que adora falar como as lentes deles estão mais leves a cada geração, a 24-70mm f/2.8 Di VC USD francamente entrega muito mais recursos que a EF L Mark II com virtualmente o mesmo peso, levantando questionamentos sobre os reais avanços da linha luxury. E Nikon simplesmente não compete na mesma classe de usabilidade, já que em 900g a AF-S 24-70mm f/2.8G ED deles é um porco de metal. Mas não confundam: a Tamron parece tão bem construída quanto as marcas principais e sem dúvidas é um passo a frente de outras lentes de entrada que eles vendem por aí. Afinal esta é a linha “SP” (Super Performance), pensada para competir com as tops first party.
De operação a principal diferença está na posição do anel de zoom que fica na frente de todos os outros controles, longe do corpo e do fotógrafo, tirando a sensação de “domínio” sobre todo o equipamento. As mãos tem de ficar muito na frente para operar uma função simples como o zoom e o equilíbrio fica um pouco estranho; Canon e Nikon com o anel próximo do corpo são bem melhores desenhadas e mais suaves de movimentar. Além disso o anel de foco manual sofre ao ficar na posição contrária, perdendo preciosos milímetros na espessura e ganhando um toque seco, pobre, apesar de bem mais suave e preciso que o zoom. O design é simplesmente inferior as outras lentes do segmento e a banda dourada com a marca “Tamron + todas-as-letras-possíveis-para-descrever-a-especificação-da-lente” completa a aparência um pouco tosca desta lente.
O design zoom é do tipo que o tubo interno expande e a lente cresce para cerca de 14cm sem o hood em 70mm; mas tem 11cm fechada em 24mm. Este elemento tem um estágio só e passa a impressão de uma construção bacana sim, nada balança ou faz barulhos estranhos. E lembre que o movimento é horário, contrário das Canon EF. O hood movimenta junto da peça já que ele é do tipo baioneta ao redor do primeiro elemento, diferente dos filtros tipo rosca de ø82mm que ficam presos dentro do parasol. Nada gira durante o zoom ou o foco o que é perfeito para polarizadores ou graduados. A Tamron não indica o nível de weather sealing da 24-70mm além da borracha no mount, então não sei se eles recomendam um filtro na frente para completar a vedação.
Já do lado de dentro o motor Ultrasonic Drive (USD) é silencioso apesar de notavelmente mais devagar que as rivais. A EF 24-70mm f/2.8L II USM é absolutamente instantânea e até grosseira nos movimentos de tão rápidos, mas a Tamron parece “preguiçosa” tentando obter o foco. Não que seja realmente lento, é mais que adequado para fotografia de rua, retratos e objetos estáticos. Mas se esportes e ação são a sua praia, sem dúvidas a Canon é muito mais rápida para fotos espontâneas. Durante os testes na EOS 6D não tive qualquer problema de precisão com o foco da Tamron mesmo em pouca luz, é uma lente típica para DSLR e o foco é bom.
O destaque mesmo fica para a implementação do VC (“Vibration Compensation”, o nome deles para o estabilizador) que promete até quatro stops de correção do grande angular até o telephoto. E devo assumir que funciona, e muito bem! Ele é tão discreto quanto os Canon sem balançar o viewfinder no começo da operação, nem fazendo barulho na hora de estabilizar. Tudo é suave e rápido, garantindo fotos com o obturador muito mais devagar que o tradicional. Este era um pedido antigo dos fotógrafos: uma 24-70mm f/2.8 com estabilizador unindo as vantagens da abertura maior (para controle de profundidade de campo) e o “IS” (para obturadores lentos).
Enfim os controles são simples com dois botões liga/desliga do AF e VC, um LOCK para evitar o zoom creep ao longo dos anos, e janelinha de distância com informações em pés e metros. Sinceramente não tem muito o que ficar reclamando da Tamron 24-70mm f/2.8 Di VC USD. Não, o design não é tão bonito quanto Canon e Nikon e a posição dos anéis é diferente. Mas mecanicamente esta lente é tão bem construída quanto EF e AF-S mas sem fazer grandes alardes de marketing (nem de preço) para justificar um produto de qualidade. Vamos ver se os resultados nas fotos entregam um dos melhores custos/benefícios no zoom standard para o full frame?
O projeto complexo da Tamron 24-70mm f/2.8 Di VC USD leva o melhor que eles sabem fazer em tecnologia de vidros e fórmulas ópticas. Esta é uma especificação “showcase” dos fabricantes. São vários elementos asféricos e até um “híbrido asférico” (que tem formas diferentes de cada lado) para correção de CA axial; elementos de baixa refração para CA lateral; mas nada de coatings especiais para aumentar o contraste ou dar personalidade as imagens. Então é exatamente isto que vemos nas fotos: aberrações (relativamente) bem controladas, altíssima resolução com a lente fechada, mas contraste um pouco pobre, sem impacto nas cores. Fotos com a Canon EOS 6D.
Em f/2.8 ela não ganhará nenhum prêmio de performance nas bordas do quadro. Enquanto o centro é excelente para reproduzir detalhes e contraste, no perímetro das fotos nós conseguimos ver a perda de resolução com borrões e cores confusas onde deveriam haver informações nítidas. É bem pior que a Canon EF 24-70mm f/2.8L II USM e os US$700 de diferença entre elas fica óbvio. Não que os arquivos sejam inúteis, mas é a velha história do vlog do zack: já vimos coisa melhor.
Esta é daquelas objetivas que exigem dois ou três stops fechados a partir da abertura máxima para aumentar exponencialmente a resolução das imagens. Em f/8 ela entrega virtualmente o mesmo desempenho das primes (ou até melhor) e aqui sim temos uma ferramenta excelente, flexível, para trabalhar. E quem pensa que fechar é necessariamente uma desvantagem, está errado. Com a ajuda do estabilizador (de três a quatro stops), é muito mais fácil conseguir fotos com longa profundidade de campo em f/8 e quadros totalmente em foco, mesmo em ambientes fechados.
Para o tipo de fotografia que eu faço, em exposições e galerias de arte, o estabilizador junto da qualidade de imagem em f/8 da Tamron são espetaculares. Raramente estes ambientes pedem fotos com o desfoque acentuado que as f/2.8 ou primes f/1.4 fazem, e como quase nenhuma tem estabilizador, o tripé vira a geringonça-amiga do fotógrafo de museu. Mas ele atrapalha, ocupa espaço de quem está passeando, exige até acompanhamento do staff dependendo do lugar. Uma f/2.8 estabilizada te livra disto. É bem mais rápido fechar a lente, enquadrar o sujeito e não se preocupar com obturador 1/20 pra baixo, já que o VC cuidará do resto; do que montar um tripé.
E ele funciona muito bem. Eu consegui fotos em f/13 no prédio da Bienal que eu nunca tinha feito antes, já que eles não são muito simpáticos com os tripés. Objetos tridimensionais que exigem longa profundidade de campo são possíveis com ISOs modestos, compensados no obturador + VC. E até efeitos criativos com as pessoas andando e o prédio estático podem ser feitos nas mãos.
Mas se baixa profundidade de campo for a sua escolha, os f/2.8 também fazem. Ele é pronunciado em distâncias curtas de foco e especialmente nos 70mm. Achei o bokeh razoável para uma zoom sem linhas repetitivas ou aquele efeito “bolha”, com contornos destacados em fontes próximas de luz. Já os pontos sofrem com a aparência “ripple” com várias linhas de dentro para fora, parecendo um disco de vinil, e que pode ficar um pouco feio dependendo da ampliação. Aqui as primes geralmente levam vantagens ou mesmo a EF 24-70mm f/2.8L II USM não tinha este problema. Na minha opinião isto acontece na Tamron por causa de tantos elementos asféricos.
“Auto-retratos” em f/8 1/20 ISO640 @ 24mm, distorção altíssima antes da correção via software.Já as cores são excelentes considerando que não estamos falando de uma first party e equilibram bem na ciência de cores da marca testada (mount EF Canon). Mas a distorção geométrica é fortíssima nas duas pontas do range, do tipo bigode no grande angular e pincushion nos 70mm. Graça a Adobe esta objetiva já tem o perfil no Camera Raw do Photoshop CC e ele limpa do arquivo perfeitamente se arquitetura e linhas retas forem os seus sujeitos de interesse.
Considerando o preço de US$1299, cobertura full frame e abertura máxima f/2.8, eu recomendaria a Tamron com os pés nas costas. Se não fosse um detalhe: já li sobre, e testei pessoalmente cópias desta objetiva que estão desalinhadas, com suavidade de um lado e nitidez do outro. Inclusive a versão que usei nos exemplos faz isto de vez em quando, e suspeito que o VC seja o responsável por tirar o elemento do lugar no eixo que não deveria. Às vezes faz, às vezes não faz:
Por isso sinceramente não sei se tenho como recomendar a 24-70mm f/2.8 Di VC USD com a incerteza de um controle de qualidade melhor. A Sigma sofria muito com isto antes da “era Global Vision”, e a Tamron não tem quaisquer planos para lançar uma campanha semelhante. Enfim, na minha conclusão, temos um produto com “potencial” e que não necessariamente entrega resultados. A ideia é boa e funciona bem: os arquivos tem qualidade em f/8. Mas talvez US$1299 seja pouco para um projeto que exige tanta tecnologia. Ainda não penso que a Tamron seja uma ameaça a Canon e Nikon, como a Sigma é. E não sei se recomendo, por enquanto. Boas fotos. :-(