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Junho/2014 – Resumindo em apenas uma frase, a Sony RX1R é a única câmera compacta com sensor full frame, do mundo. Apesar das poucas palavras, este é um feito de proporções monumentais. Nunca antes foi possível carregar um sensor tão grande num corpo tão pequeno, e por isto ela entrega arquivos semelhantes a qualquer DSLR topo de linha com lentes equivalentes. Vamos ver se temos nas mãos a melhor compacta do mercado, ou se todas estas qualidades atendem apenas a um tipo de fotografia e um tipo de fotógrafo. Boa leitura! (english)
Num corpo totalmente de metal em 482g (com bateria e cartão SD), a Sony RX1R é a mais leve full frame digital do mercado. Também é a menor em 11cm x 6.5cm x 6.9cm e cabe facilmente na mochila, no porta-luvas do carro ou pendurada no pescoço sem encher o saco nas ruas. Este é o maior atrativo do modelo e o que o torna único: nenhuma outra câmera tem as mesmas especificações técnicas num volume tão pequeno, pelo menos por enquanto. Ponto final.
Na frente vemos a lente fixa e a tampa mecânica feita de metal; a Sony não poupou nos materiais nobres para deixar o produto com qualidade premium. Por outro lado esta tampa pode encher o saco: primeiro fica o medo de perdê-la, uma substituta custa €69; e segundo temos de ficar tirando toda vez que ligamos a câmera. Porque não desenharam uma cover automática como nas RX100? Eu com certeza poderia viver com o ganho de tamanho do corpo para implementar isto. Já os logos e todas inscrições são grafadas no metal como uma Leica; ao contrário de impressões normais que podem riscar/ apagar. Há ainda um LED para auxílio do sistema AF por contraste que recomendo deixar desligado; ele chama muito a atenção e perde o fator “secreto” do silêncio do obturador.
Em cima começaremos pela lente. Sim, este anel laranja escrito “35mm FULL-FRAME CMOS IMAGE SENSOR” em CAPS LOCK não nos deixa esquecer que estamos com uma Cyber-shot nas mãos. Mas o anel de controle eletrônico da abertura é uma mão na roda (sem trocadilhos) que deveria fazer parte de todas lentes modernas. Eu sou fã do “Aperture Priority” e acho um saco escolher a abertura por dials pequenos, atrás da câmera; ver claramente qual f/stop está ajustado o tempo todo facilita muito a vida. Na frente não parece, mas este 0,2m-035m 0,3m-infinito é um anel mecânico que “liga” o modo macro da lente. Você tem de girá-lo para chegar no foco mínimo de 14cm em relação ao primeiro vidro da lente; e lembrar de colocá-lo no lugar antes de voltar a fotografar. Há ainda um anel para o foco manual que eu até hoje não usei.
No corpo continuamos com outro dial muito útil, o exposure compensation. Até ±3, é outra mão na roda (de novo, sem trocadilhos) para trabalhar com o fotômetro nos modos semi e automáticos. Próximo dele há um botão C configurável que vem de fábrica com ajuste do ISO; muito bacana lembrar que ele está ali. O liga/desliga ao redor do obturador é um pouco difícil de girar e sinto falta de um botão clique, como nas RX100; e o shutter no centro é bem escorregadio; veremos a seguir que não gostei muito deles. Depois temos a roda PASM, muito mais útil que outras câmeras com design vintage com ajuste de obturador no lugar (Fuji X100, estou falando com você), e um hot shot completo porém proprietário. Nele a Sony recomenda ligar o viewfinder eletrônico OLED de US$448, que eu obviamente não comprarei. No canto, descentralizado da lente, há ainda um flash embutido/ retrátil, ativado por uma alavanca atrás. Ele infelizmente não gira para rebater no teto e a guia é fraca, mas está ali e com diversos modos: fill, slow sync, rear sync e até wireless.
Atrás a tela LCD de 3.0” tem duas omissões terríveis: não é sensível ao toque nem gira para fora do corpo. Não seria um problema se estivéssemos em 1998, mas em 2014 haja saco para navegar por botões. Com certeza uma RX2/RX2R terá este grande “atrativo” como novidade. Pelo menos a qualidade é Sony Xtra Fine LCD™ (sim, o nome é esse…), de alta resolução, e WhiteMagic™; ela é mais brilhante sob luz solar e fácil de ver durante o dia. Ao lado temos um jog dial vertical daqueles que vão parar de funcionar em dois anos: os cliques laterais são moles demais e toda interface depende deles. E os outros botões são auto-explicativos. Ah! E temos outro dial horizontal escondido que até agora só funcionou no “Shutter Priority”. Er… outra. Mão. Na. Roda. Rá!
Diferente dos sites que estão babando sobre o feedback tático dos anéis e botões da RX1R, eu não estou tão apaixonado assim por eles. O botão liga/desliga em cima, por exemplo, é duro demais e difícil de operar; tenho deixado ele em “ON” o tempo todo até a câmera desligar sozinha para poupar energia. Para ligá-la basta apertar o obturador. O anel de abertura da lente não é mecânico como numa prime manual, e apesar dos cliques em 2/3, na minha opinião falta precisão; ele sim deveria ser mais duro como a chave “ON/OFF”. O botão do obturador também não vai ganhar elogios da minha parte: o half press é mole demais e às vezes tirei fotos sem querer. Por fim os botões traseiros são tipicamente “Cyber-shot” e desconfio que alguns deles já estão “surtando” em pouco tempo de uso. Nem sempre respondem aos cliques e o jog dial para cima tem travado no lugar. Vamos ver quanto tempo eles duram; aquela NEX C3 que vimos em 2012 está quebrada.
Por fim as portas ficam atrás de tampas bem construídas. São elas HDMI, microfone e USB. A RX1R carrega as baterias da mesma maneira que as RX100: um adaptador USB faz o trabalho de levar força para a câmera, que tem de ficar desligada para carregar. Novamente duas falhas: 1) não colocar um carregador dedicado na caixa de uma câmera de US$2799 e 2) forçar o fotógrafo a ficar sem fotografar enquanto a bateria carrega. Pelo menos funciona em qualquer porta USB de 5V (como no carro), inclusive aqueles packs móveis para iPhone.
Não vou amolá-los sobre a usabilidade porque a câmera é bem padrão. Ligue, aponte, foque e dispare. Aperte os botões, navegue pelos menus, deixe como quiser. Achei o foco por contraste na mesma classe da Sigma DP2M, Canon EOS M, Samsung Galaxy Camera, iPhone 5 ou RX100: lento mas muito preciso. Nunca será tão rápido quanto uma DSLR e já vi outras compactas mais espertas (oi de novo, Fuji X100S). Sabendo usar dá para aproveitar. Mas nenhuma outra câmera entregará os mesmos arquivos em termos de resolução e qualidade de imagem, e uma full frame com tamanha simplicidade talvez não faça o nome “Cyber-shot” soar tão ruim afinal.
Não consigo decidir se há ou se não há o que comentar da qualidade dos arquivos da RX1R. A qualidade já era esperada numa compacta com lentes fixas e sensor full frame. E os defeitos são tão pequenos que fazem parte daquela “personalidade” que eu sempre busco nas minhas imagens. A vinheta é acentuada em abertura máxima e só. Eu estava com saudade de uma frase que não falava há tempos no vlog do zack: absolutamente impecável. A Sony RX1R é um clássico na era digital que só a Sony poderia fazer. Excelência em sua menor forma.
Alguns probleminhas ópticos aparecem de vez em quando. Por exemplo a distorção geométrica do tipo bulge quando fotografamos linhas retas de itens arquitetônicos. Ela pode ser corrigida dentre uma série de correções pelo processador BIONZ da Sony, mas que eu prefiro deixar desligado. É a tal história: não só de detalhes técnicos são feitas as melhores fotografias, e eu gosto desta “personalidade” nos defeitinhos. Será o único comentário a respeito da qualidade da RX1R.
Depois da compra dos cartões SD Eye-Fi mobi comecei a usar muito mais a saída JPEG nas minhas câmeras. Coloquem RAW + JPEG para um arquivo de pós-processamento e outro de uso instantâneo no celular, sincronizado pelo mobi. Assim tenho experimentado a verdadeira “capacidade” dos processadores integrados nas máquinas no dia a dia. Mesmo aqui a RX1R não deixa de impressionar. O processador BIONZ faz um trabalho fantástico em manter as cores e detalhes nas fotos reduzindo os arquivos para cerca de 8MB por foto; com contraste excepcional e algumas correções in camera. É possível aumentar o Dynamic Range (DRO) em três níveis; reduzir ruídos (que eu acho desnecessário); eliminar a vinheta; CA lateral; e distorção geométrica. Em qualquer situação os arquivos serão dignos de um sensor full frame e lentes fixas.
A Sony RX1R é uma ferramenta perfeita para quem sabe usá-la, e infelizmente isto não significa qualquer um. A lente fixa 35mm f/2 não é a sua zoom de todos os dias e exige criatividade na hora da composição. A distância é clássica para a fotografia de rua e implora que o fotógrafo participe da cena, pare as pessoas, converse com elas. Portanto uma DSLR será muito mais flexível com qualquer lente de kit. Mas ela é a câmera que esperávamos na era digital. Leve, compacta, full frame. Esbanja personalidade no conjunto óptico e cabe nos bolsos. Traz só um tipo de fotografia no currículo? Talvez. Mas é daqueles CVs de especialista: melhor fazer apenas uma coisa do que prometer várias sem excelência. E a RX1R é toda sobre isto: excelência. Boas fotos.