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Março/2015 – A EF 15mm f/2.8 Fisheye é uma das “objetivas modernas” mais antigas da Canon, lançada junto do sistema EF em 1987 e substituída em 2011 pela EF 8-15mm f/4L USM Fisheye. É uma prime com 180º de visão diagonal desenhada para as câmeras do formato 135, mostrando aquela distorção geométrica acentuada que transforma qualquer sujeito numa imagem interessante. Mas isto não quer dizer que ela seja fácil de usar: mostre fotos demais no portfolio e a única reação que você conseguirá será um “puxa, ele usou uma objetiva fisheye nesse click”. Os melhores resultados pedem criatividade compondo luz, motivo, cores e contraste num quadro super amplo. Isso tudo sem que os seus pés apareçam na foto! (english)
Por outro lado, com os softwares atuais você consegue um uso novo para o fisheye: a correção da projeção circular para retilínea efetivamente transforma esta objetiva numa ultra grande angular mais ampla até que as 14mm. Funciona tão bem que eu raramente recomendo uma specialty lens wide angle para quem quer um kit verdadeiramente low cost no full frame; comprem logo uma fish e usem a correção para dois resultados em um. Sim, as bordas sofrerão com a interpolação do computador e você não conseguirá fazer um preview exato de como sairá a foto direto da câmera, portanto não dá pra trabalhar de fato com arquitetura de interiores ou exterior.
Ela chegou no vlog do zack por acaso. Foi na mesma compra da EF 70-300mm f/4.5-5.6 IS DO USM, quando eu tinha de perguntar para a vendedora da loja “qual objetiva comprar”. Se na 70-300mm eu pedi uma lente “para chegar mais perto”, na 15mm fisheye eu pedi uma lente “para colocar mais coisas no mesmo quadro”. E esta EF fez o trabalho. Por US$699 ela ainda é uma das peças mais interessantes que tenho no kit porque a abertura f/2.8 permite o dobro de luz que os f/4 da EF 8-15mm L USM, apesar de eu flertar com este modelo novo há quatro anos. Se usasse mais a distorção, com certeza já teria mudado para a zoom USM. Mas por causa do look forçado, ela fica guardada só para situações especiais. Servirá para você? Vamos descobrir! Boa leitura.
Em 330g de oito elementos em sete grupos, a EF 15mm f/2.8 Fisheye é construída em metal e mais especial do que parece. Ela não é L, portanto a precisão das peças passa uma boa impressão para a linha básica original, da mesma escola de design da 50mm f/1.8 e 35mm f/2. E a abertura f/2.8 permite o dobro de luz que a substituta EF 8-15mm f/4L Fisheye, garantindo uma vantagem para a clássica 15mm até hoje. Ou seja, a Canon não necessariamente apresentou um produto na mesma classe, e ficamos órfãos dos f/2.8 fish. Por isso ainda não vendi a minha cópia.
O conjunto é bem sólido e pesado na câmera, já que não há muito espaço entre o tubo externo e as peças de vidro. Na frente a tampa de metal fica presa por uma leve fricção, então cuide para não deixá-la cair no chão porque amassará e não prenderá mais. Mas nada de chamar muita atenção por aí. O elemento da frente era um dos maiores já usados numa fisheye quando ela foi apresentada, e o design com hood embutido é classicão para o super grande angular. Porém os 6.1cm de comprimento por 7.3cm de largura não são muito diferentes de uma 50mm f/1.4. A EF 15mm f/2.8 poderia ficar o tempo todo na câmera sem atrapalhar o fotógrafo, se não fosse o look.
A operação é simples com um anel MF “das antigas” (leia-se curto e raso) e o micro motor AF que faz aquele barulho característico, lembrando uma mosca. Ele exige a posição certa na chave de seleção que desengata as engrenagens do anel para girar livremente. Da distância mínima de foco 0.2m até o infinito são pouco mais de 50º, e o movimento é péssimo. O atrito parece que você está esfregando “areia com areia” quando gira. Até dá para fazer ajustes precisos mas passa longe do “prazer de usar” de outras lentes mais novas. E pra ajudar, o meu motor AF quebrou. Deixei a caixa cair no chão com a objetiva dentro, e agora faz um click quando eu mando o sinal elétrico para a lente, sem focar. Eu tentei consertar na Namba em São Paulo mas pediram 60 dias + R$600.
O conjunto inteiro se movimenta no tubo interno e você consegue ver o elemento da frente saindo do lugar para frente e para trás. Por causa do ângulo de visão e do elemento convexo, ela não aceita filtros na frente mas tem um espaço atrás para colocar até três géis recortados, no meio do mount de metal. Há ainda uma janela de distância em cima com marcações de profundidade de campo em f/8 e f/16, o que ajuda quem trabalha com a gravação de vídeos.
Enfim é um projeto bem “cru” mas faz o que promete. Talvez eu ainda amaria a minha cópia se o AF funcionasse. Do jeito que está, eu ando na verdade é namorando a EF 8-15mm f/4L Fisheye, que já usei algumas vezes mas não tenho no kit. O problema é justificar o look “GoPro” das fotos com 180º de visão e a distorção “olho de peixe”, que infelizmente não é para todos os dias. Mas se você precisa da performance do full frame com a distorção fisheye, estas objetivas são as poucas que farão isso com foco e abertura automatizados, as únicas no lineup da Canon.
O fisheye “não é para todos os dias” mas também não pode faltar no kit dos fotógrafos que se prezem. A qualidade de imagem através destas objetivas especiais é bem superior aos filtros digitais ou mesmo “screw in” (aqueles na frente de qualquer lente), e dependendo da sua área de trabalho (como esportes radicais), ele é quase obrigatório. É bacana para incluir muito além do cenário com o sujeito, como no grande angular padrão. Em 180º de visão diagonal você inclui “o mundo todo” e fica difícil não se apaixonar se o ambiente for interessante. Você não mostrará só um prédio, mostrará o quarteirão todo. Não mostrará só o palco do show, mostrará a platéia toda!
E o look Canon não ficou de fora. De novo temos um show de cores, contraste e resolução de ponta a ponta independente da abertura e posição de foco. Alias alguns fotógrafos consideram esta como a grande angular de maior performance da linha EF, e eu tenho de concordar. Nem as novas EF 16-35mm f/4L IS USM e EF 11-24mm f/4L USM mostram os mesmos detalhes nas bordas desta objetiva de 1987, mas a comparação não é justa afinal os dois modelos corrigem a distorção geométrica; a fisheye não. E por outro lado a EF 15mm f/2.8 é rainha das aberrações cromáticas laterais. Os contornos roxos e verdes aparecem até na saída para web, e a correção via software é obrigatória. Em película ficava menos acentuado, por isso ela durou tanto na linha.
Os f/2.8 na verdade são curiosos porque a profundidade de campo é curta mesmo no ultra grande angular. Com o foco mínimo de 20cm não fica difícil isolar o sujeito no centro do quadro com o restante fora de foco, que por sinal tem uma aparência suave quando acontece. E em cenas distantes com foco no infinito, como paisagens, as bordas não sofrem com perda de resolução. Funciona para fotos amplas da natureza com pouca luz sem subir o ISO nem depender do tripé. O astigmatismo que nasce quando tentamos distorcer as linhas de volta para a projeção retilínea não acontece no fish, então pontos de luz nas bordas continuarão pontos, bacana para estrelas no céu.
Fechando a diferença fica para o controle da exposição, a aparência dos pontos de desfoque por causa da abertura pentagonal, e das consequentes estrelas com dez pontas nos highlights. Estes aspectos são interessantes porque raramente a fonte de luz ficará fora do seu quadro. Você realmente tem de “dar as costas” para o sol se não o quiser na sua foto, coisa que eu deliberadamente não fiz. O contraste continua perfeito e o flaring não detona o quadro como na EF 16-35mm f/2.8L II USM. Então os resultados são tão únicos quanto a distorção. Não é qualquer equipamento que “segura” um sol contra o sujeito tão bem quanto esta fisheye.
O problema está mesmo na aberração cromática lateral fortíssima em gráficos, linhas de contraste como janelas, galhos contra o céu, e objetos cromados. Como o meu background é na fotografia publicitária, exagerar um pouco as cores no pós-processamento é normal para vender uma imagem melhor do que ela é na realidade. E estes contornos coloridos ficam caóticos com qualquer movimento do slider “vibrance” no Adobe Camera Raw ou Lightroom. Pelo menos a correção é perfeita a partir de um click no “remove CA” e +4 no defringe roxo. Deus abençoe o pós-processamento e francamente o “problema” só acontece porque a resolução é alta nas bordas.
A última vez que eu usei a EF 15mm f/2.8 Fisheye foi na gravação de um video para uma galeria de arte que especificamente pediu pelo “look GoPro”; maquininha que eu não tenho mas entendi o que eles queriam; isso há dois anos atrás! Ou seja, eu não tenho uso mas também não me arrependo de tê-la no kit. Quem tem ou quem encontrar a 15mm no mercado de usadas pode considerar este modelo tranquilamente no full frame. No APS-C, só as 8mm farão a mesma coisa e diversas fabricantes oferecem resultados semelhantes. Ou pague pelos US$1349 da top Canon EF 8-15mm f/4L USM para matar dois pássaros (crop e full frame), quatro (fisheye nativos ou retilíneos via software em ambos) ou cinco (foto circular em 8mm no full frame) com uma pedra só.