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Julho/2015 – O nome Zeiss é praticamente uma commodity no mercado óptico. Sinônimo de performance e preços altos, as objetivas com o emblema azul plano-côncavo são referência em performance e status premium. Baseado na Alemanha, o grupo “Carl Zeiss AG” é mais conhecido no mercado doméstico pela colaboração com outras empresas, licenciando design e parâmetros de qualidade às marcas como Nokia, Hasselblad e Sony. (english)
A FE 55mm f/1.8 ZA (“Zeiss Alpha”) é um showcase do que a Sony pode fazer com o E-mount. Pequena e leve, ela não somente é simples de usar e tem foco automático, como entrega performance a par dos sensores Exmor. Com um preço de US$999, ela está em outra classe em comparação as Canon e Nikon “low cost f/1.8”, e se aproxima mais das topo de linha f/1.2 L, Leica Summilux f/1.4 e Zeiss Otus. Mas, de novo, a vantagem: a ZA é muito mais simples de usar.
Em 64x70mm de 300g o que chama a atenção na FE 55 ZA é o comprimento, mais longo que outras f/1.8. Ninguém explica o porquê, mas aposto que é o papo do telecentrismo: fisicamente a luz precisa de espaço para se alinhar antes de chegar ao sensor, e não tem como fazê-lo na distância flange curta do E-mount. Solução: a objetiva é padrão mas longa para atender a distância focal. É o caso das Voigtländer Nokton, que são protuberantes no mount MFT.
O acabamento externo é todinho de metal e o design é uma proposta nova das “Zeiss Alpha”. Preta e sem botões, nas mãos a FE 55 ZA é um tubo sólido e gelado, com um generoso anel de foco manual suave, fly-by-wire, e marcações gravadas no corpo. É o mesmo design das FE 35mm f/2.8 ZA, FE 24-70mm f/4 ZA e FE 16-35mm f/4 ZA, e está claro que a Sony usará a parceria da Zeiss na linha “premium” das objetivas full frame E-mount. Outra objetiva que eu testei, a FE 28mm f/2, não é tão bem construída. Mas “ZA” não é “G”, outra linha top, então preparem-se para a confusão.
Na frente o thread de filtros de ø49mm é profundo em relação ao tubo externo, e não gira durante a operação do foco. Sobra espaço para o trilho do lens hood, incluído na caixa, que é emborrachado e pode ser preso inversamente para facilitar o transporte. O elemento frontal é curioso: é uma lente bicôncava de um sistema com sete elementos em cinco grupos, sendo três asféricos. As especificações também são gravadas e pintadas na frente, tudo bem acabado.
Dentro os destaques vão para o motor linear de foco automático e o diafragma de nove lâminas. O AF é uma surpresa: completamente silencioso, rápido e preciso. Com os pontos phase embutidos no Exmor da A7II, o sistema Alpha mirrorless brilha com esta objetiva. Bastante luz, bastante contraste, e o foco trava em menos de 0,2s. Apertou, focou. Valida a proposta high speed das A7 normais e facilita o trabalho, como as DSLR que a Sony tanto quer substituir.
Mas infelizmente o anel de foco manual é 100% eletrônico e difícil ter qualquer precisão com ele. Há um lag entre o giro do lado de fora e o movimento do lado de dentro, e não temos indicação que está funcionando: nem janela de distância nem escala na câmera. É um erro grave de ergonomia sem feedback entre câmera e fotógrafo, além de ser impossível julgar a distância durante a gravação de vídeos. A Sony quer que você se vire com o AF ou o com o peaking, mas se o sujeito não tiver contraste… F*deu! Por que não colocam pelo menos uma escala eletrônica?
É um dos motivos para ela não ficar no meu kit. Prefiro a Canon EF 50mm f/1.2L USM totalmente mecânica para trabalhar no dia a dia. Tem janela de distância, botões, e uma pegada maior, mais gostosa de usar. Você só sentirá falta de um botão quando ele não está lá, e faz toda a diferença na L. A Zeiss ousa em ideias como a tela OLED na linha Batis para indicar distância e f/stop. E faz as melhores objetivas manuais como as Otus. Na parceria com a Sony, esqueceram de tudo isso.
Atrás o mount de metal completa a construção robusta e o elemento traseiro não mexe durante a focagem. Diz a Zeiss que o projeto tem weather sealing, e eles divulgam até uma foto com a objetiva molhada no press release. Mas sem qualquer vedação no mount eu não recomendo testar este argumento. No geral é uma lente bem feita, excelente cartão de visita da Sony para o E-mount full frame. Quem tem grana pra gastar neste sistema, já sabe qual objetiva ostentar por aí.
A FE 55mm f/1.8 ZA é declaradamente uma objetiva de alta performance. O nominho “Sonnar” deriva da palavra “sonne”, que traduz “sol” do alemão para o português, e indica os projetos Zeiss que levam menos elementos na fórmula para reduzir as transições da luz entre vidro/ar. A notação T*, de transmission layer, indica um processo de vaporização de camadas ópticas com até 100 nanômetros sobre as lentes, para maior claridade. E na caixa você recebe até um diagrama que mostra as três peças asféricas na fórmula, assinado pelo controle de qualidade.
Em outras palavras, Sony e Zeiss estabeleceram parâmetros altíssimos de performance e conseguiram praticamente igualar os projetos Otus em resolução e controle de aberrações. São as fotos mais nítidas no “full frame standard “que já vi mas não necessariamente as melhores. Na maioria das vezes o look é “clínico” com tanta resolução, pedindo pós processamento suave em sharpness e contraste. Não é a mesma “personalidade” da Nikon AF-S 50mm f/1.4G ou da Canon EF 50mm f/1.2L USM com cores mais vibrantes nas ruas, e senti falta disto nas fotos.
Não me levem a mal: a qualidade de imagem é altíssima e não tem do que reclamar tecnicamente. Nunca vi nada tão nítido em f/1.8 e numa área tão grande, com apenas uma moldura fininha ao redor do quadro com menos resolução, a resolução assusta mesmo. O desfoque é suave como deveria ser e a vinheta é acentuada em até -1.5EV na abertura máxima. Mas o contraste é tão alto que as fotos saem sempre escuras, com um look “low key” não importa a exposição. Alguns sujeitos que se destacam pelas cores saem mortos, sem graça, e isso é um problema.
Fechando até f/8 fica evidente a aparência “clínica” da FE 55 ZA. Dias ensolarados em Manhattan, quando eu tive as melhores memórias de cores com as objetivas EF, inclusive na A7II (veja o review da EF 50mm f/1.8 STM), saíram cinzas com a Zeiss. Os azuis matam os amarelos e vermelhos que a Canon equilibra melhor. Tons de pele ficam cinzas e apáticos. Parques verdes puxam para o neón. Falta aquela imersão colorida que estamos acostumados no pós-processamento do vlog do zack, e simplesmente não consegui com esta objetiva. Ou fica neón ou fica cinza. Triste.
Isso explica tantos reviews com fotos preto e branco. Na conversão P&B fica fácil esconder o elefante da sala: falta na Sony a ciência de cores da Canon e da Nikon. Sem elas está claro como o Exmor é acima de tudo produto de uma nova geração de semicondutores, e não de anos de relacionamento com o mercado fotográfico. Neste caso a FE 55 ZA brilha com tanto contraste. Na rua explorando linhas e texturas, a A7II mata qualquer Leica M montada na Monochrom.
Clínica também é a ausência total de aberrações ao redor do quadro. “Total” não porque eu consegui ~uma única vez~ encontrar contornos amarelos e azuis no canto de uma foto, mas só. É um mundo de diferença até as topo de linha Canon e Nikon porque de fato a luz está passando por um caminho mais preciso, fino, bem acertado até chegar no sensor. O que me faz pensar em outra aplicação para a objetiva. Como o look nas ruas é duro, os 50mm podem ser usados como um “short telephoto” para paisagens, com resolução para prints gigantes. Se for em P&B.
Distorção geométrica também é praticamente nula, afinal estamos falando do standard e não do grande angular. Linhas arquitetônicas ficam retas e não redondas como outras f/1.8 low cost. E talvez fosse isso mesmo que a Sony queria: um look clean e minimalista no design da objetiva, que refletisse num look clean e minimalista nas fotos. Todas, claro, sem cores.
Canon e Nikon parecem “ultrapassadas” em performance pelos modelos 50mm recentes da Sigma e da Sony. Mas a verdade é que o “pacote artístico” nas fotos é feito de imperfeições, é feito do inusitado, dos erros de exposição e e enquadramento independente do caminho da luz. Estas objetivas novas estão “precisas” demais em resolução e contraste, deixando de lado a suavidade que as “antigas” fazem tão bem. E cores, esqueçam: Sony e Sigma não sabem o que são cores.
A Sony fez em parceria com a Zeiss mais um “produto de consumo” tecnicamente perfeito. O design é discreto e sem firúlas complicadas como janela de distância e botões. A operação é simples, totalmente eletrônica e com foco automático preciso e rápido. Porém o look nas imagens é quadradão, com contraste alto e cores fracas, apesar da ausência de aberrações. E isso limita o range criativo. Pode funcionar se resolução, contraste e nitidez forem os sujeitos principais do seu trabalho. Mas esqueça para cores. Por US$999 é um showcase técnico, não artístico. Boas fotos!