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Dezembro/2014 – A EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM é a opção zoom telephoto “compacta” da Canon para o full frame. Começando em 100mm, que é excelente para retratos, e chegando até os 400mm, que é considerado “super telephoto”, com apenas 6º de visão, bacana para elementos distantes como animais, paisagens ou esportes de campo, ela é usada principalmente por quem está trabalhando. Então é de se esperar que a especificação esteja no topo da linha, com construção de ponta, foco rápido e preço que acompanha tudo isto. (english)
Ela chegou no vlog do zack meramente por curiosidade em testar se os 400mm “nativos” da zoom eram opticamente superiores aos 400mm do combo EF 70-200mm f/2.8L IS II USM + Extender EF 2X III. O super telephoto não é uma distância que eu uso muito e o porte destes equipamentos enche o saco para usar no dia-a-dia. E como a compra da EF 400mm f/5.6L USM telephoto prime deu errado, eu decidi dar uma chance a zoom, já que ela é uma das lentes mais populares da Canon. Enfim, não me arrependo: por mais que o projeto seja antigo, esta série L tem performance líder na classe e tem bons recursos, por um preço relativamente interessante. Agora vocês leem um relato mais detalhado da minha experiência com a EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM no blog do zack.
Antes de falar da minha versão “Mark I” da EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM, vale comentar que a Canon atualizou este projeto agora em 2014, e as duas continuam na linha: uma por US$1699, e outra por US$2199. A especificação “Mark II” é a mesma, dos 100-400mm com abertura variável f/4.5-5.6 e estabilizador, mas inclui todos os 16 anos de tecnologia e desenvolvimento entre os dois modelos para melhor qualidade de imagem, construção e operação. Do lado de dentro ela ganhou QUATRO (!) elementos novos (21 no total), continuando com 01 Fluorite e um Super UD, mas pela primeira numa objetiva Canon, estas peças ganharam o tal de Air Sphere Coating (ASC).
Ele consiste em nano partículas de ar presas numa película aplicada sobre os vidros, que faz com que a luz perca velocidade antes de atravessar os elementos da lente. Desta forma, os fantasmas e o flare típicos de objetivas longas é eliminado, aumentando o contraste e a saturação das cores. Assim as imagens saem mais “vivas” direto do equipamento, complementando outras lentes modernas como EF 24-70mm f/2.8L II USM e EF 70-200mm f/2.8L II IS USM. Também a “Mark II” ganhou coatings de fluorine no primeiro e no último elemento, do lado de fora, para ajudar na limpeza dos vidros; estabilizador de última geração, com quatro stops e o Modo 3; novo design zoom via ring (abandonando o push-pull), e proteções contra poeira e respingos.
Em 1.380g, a EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM é uma objetiva gigante da série L. Totalmente de metal, este projeto foi pensado para quem trabalha e depende da construção maciça, aguentando anos de operação. Nada mexe fora do lugar e tudo é preciso, “duro”, passando a impressão de qualidade. Afinal são 17 elementos em 14 grupos que não podem perder o alinhamento. Ela foi feita para ficar o tempo todo no kit “trabalhando”, é uma verdadeira “workhorse” da Canon.
A marca mais característica do design é o funcionamento do zoom via “push and pull”. No lugar de anéis que “giram” os tubos para movimentar o mecanismo da lente, no “push e pull” você literalmente empurra/puxa o tubo com as mãos. Fechada ela é o que a Canon chama de “telephoto compacta”, em 100mm e 18.9cm de comprimento. Mas totalmente aberta em 400mm e o comprimento salta para quase 27cm! Monte o hood de 9.5cm e você tem uma zoom de 36.5cm. Quer mais? Ela é compatível com o teleconversor EF 2X que, no modelo III, tem 5.2cm. Pronto, uma lente de mais de 40cm em 800mm; ou equivalente aos 1280mm f/11 no formato APS-C.
Alguns gostam deste design, outros não. A maioria dos que reclamam argumentam que, com tanto abre e fecha, a 100-400mm corre o risco de “sugar” poeira para dentro da lente. E os que gostam relatam que o push e pull é bem mais rápido que um anel normal. Na minha experiência os primeiros estão errados, já que a minha 100-400mm usada na praia nunca puxou areia pro lado de dentro; e os segundos estão certos, com a técnica correta você vai até o super telephoto quase que instantaneamente, perfeito para acompanhar e enquadrar sujeitos em movimento.
Para quem está começando, há ainda um anel de ajuste “smooth/tight” que controla a fricção que o tubo de zoom faz no corpo da lente. Gire para o lado “tight” e ele aperta o movimento, podendo até travar uma distância no lugar. Ou coloque no lado “smooth” para soltar tudo, aumentando a velocidade. É um mecanismo diferente da maioria das outras lentes (só a 28-300mm L compartilha disto) e a 100-400mm “Mark II” abandonou o push-pull. Mas não leva nem cinco minutos para se acostumar e vai de gosto de cada um se isto é um dealbreaker ou não. Eu gostei.
De qualquer maneira o restante da operação é bem tradicional com um anel de foco manual neste tubo que você movimenta, colocando os dois ajustes (zoom e foco) na mesma mão. Interessante é que a janela de distância fica atrás, pertinho do mount, e o grupo que faz a focagem também é traseiro. Ou seja, dá para imaginar o movimento telescópico que as engrenagens do lado de dentro da lente tem de fazer para ela crescer tanto e manter o anel de foco na frente. E ele é muito bem construído, sem joguinho entre o giro e o movimento interno, além de suportar o full time manual.
Dentro o motor USM do tipo ring é genuinamente Canon. Extremamente veloz e silencioso, virtualmente nenhuma foto minha mesmo em AI Servo na 5D Mark II saiu fora de foco. A distância mínima é um pouco pobre em 1.8m mas típica destas telephoto. É o suficiente para focar em animais pequenos como pássaros, preenchendo o quadro com detalhes. Mas a ampliação máxima fica em torno dos 1:5, então esta não é uma lente que substitui as objetivas macro. Você pode limitar a distância de 6.5m-infinito para acelerar quase em 50% a velocidade do AF.
NOTA: Lembre que a abertura máxima f/5.6 é o limite para a maioria das EOS focarem em modo phase; e só a linha 1D e o modelo 5D Mark III focam até f/8, somente com o ponto central, caso você use o Extender EF 1.4X. Com o teleconversor Extender EF 2X, nenhuma EOS focará automaticamente com o sensor phase, mas o sistema via contraste durante o Live View funcionará!
Outra característica das tops Canon é o estabilizador embutido, aqui na segunda geração de 1998. São apenas dois stops de correção que mal servem para ajudar em alguma coisa no final do telephoto, nos 400mm. Eu sinceramente não recomendo baixar a velocidade do obturador para além da regra de f/distância focal (tipo 1/400 em 400mm), mesmo com o IS ligado. Ele até ajuda antes dos 200mm mas depois disso fica óbvio que estamos falando de uma lente com 16 anos. Os dois modos estão lá (por isso “segunda geração”), 1 para os dois eixos e 2 para panning. Mas eles são um pouco mal implementados, fazem o viewfinder pular bastante, o IS chega a ser barulhento. Este era um dos principais pedidos para um upgrade a versão Mark II, e a Canon atendeu com a geração mais recente de quatro stops. Se vale os US$500 de diferença? Provavelmente.
Enfim na frente os filtros de ø77mm são excelentes e compartilhados com outras zoom deste nível, como a 70-200mm f/2.8L. O hood incluído na caixa é antigo, liso, e risca fácil, além de não montar suavemente, mas protege o elemento da frente mais do que evita flaring/aumenta o contraste. O pé de tripé também acompanha o equipamento e a Canon sempre recomenda montá-lo como apoio, nunca segurando o conjunto pelo mount da câmera. E diz a lenda que o push-pull e os anéis tem weather sealing, mas o mount não tem. Na dúvida, proteja sua lente contra chuva e poeira. É uma lente de excelente construção e que durou todos estes anos antes do upgrade. Não esqueçam que ela ainda faz parte da linha porque a Canon não deve nada em qualidade nesta “Mark I”.
Apesar do projeto antigo, a EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM sempre foi reconhecida como uma zoom de alta qualidade da Canon. Com um elemento fluorite e um elemento Super UD, a resolução é excelente em todo o range zoom, com nitidez de impecável a excelente do centro para as bordas que melhora com dois stops fechados na abertura. Distorções geométricas são praticamente invisíveis nas linhas retas do quadro, e o bokeh na minha opinião é suave, apesar de alguns fotógrafos considerarem ele duro (nos meus exemplo eu provo o contrário). De negativo fica apenas o CA lateral que é acentuado no perímetro do quadro, mas é daqueles problemas fáceis de corrigir via software. Enfim, uma lente que sempre entregou o que promete: alto desempenho na operação, e excelentes resultados nas imagens. Todas as fotos com a Canon EOS 5D Mark II.
A partir da abertura máxima, que não é tão exótica assim em f/4.5 nos 100mm e f/5.6 nos 400mm, a resolução no centro do quadro é absolutamente impecável. Esta é uma daquelas lentes que explora bem até os sensores digitais modernos, relevando níveis fantásticos de detalhes no miolo da foto, bacana para fazer o sujeito “saltar” com contraste e nitidez em relação a um fundo difuso, colorido, graças a profundidade de campo curta. Numa análise mais próxima, as bordas ficam um pouco atrás na capacidade de reproduzir detalhes finos em f/4.5-5.6, mas não se enganem: ela nunca chega a ser “inaceitável” e para qualquer situação os arquivos são de altíssima qualidade.
Fechando até f/8 o quadro fica todo mais claro porque a vinheta é corrigida perfeitamente dando outro look as imagens. A resolução aumenta nas bordas e é possível fazer imagens detalhadas para grandes impressões de temas chapados, como paisagens, cidades, retratos em 90º em que a roupa preencha metade do quadro etc. Mesmo nesta abertura a profundidade de campo é curta dependendo das distâncias entre fotógrafo, sujeito e fundo, e como o diafragma tem 8 blades redondos, o bokeh fica agradável mesmo em pontos de luz forte.
Esta qualidade do desfoque que alguns dizem não ser o ponto alto da 100-400mm L, mas que eu considerei razoável nas minhas fotos. Dá sim para “dissolver” o fundo e brincar com composições de cores opostas ou complementares, a partir dos 200mm em dois metros de distância do tema da imagem, eliminando itens que tirem a atenção do quadro como linhas repetitivas, folhas, grades ou texturas. Aqui vive uma possibilidade de trabalho que eu não esperava: os retratos. Enquanto os 400mm são apropriados para manter distância do sujeito, até os 200mm esta lente tem qualidade de sobra para fazer fotos de pessoas, sendo útil até em eventos sociais dependendo da luz.
De negativo apenas o CA lateral aparece em situações de muita luz e contraste em linhas retas, nas bordas do quadro. Principalmente nas minhas fotos de paisagens urbanas, vi em contornos de prédios aquelas bolhas roxas e verdes no perímetro do quadro que exigem correção antes de ampliações gigantes. Na minha opinião é a única correção que a nova Mark II deve fazer diretamente na lente, já que contraste, cores e resolução nunca foram um problema nesta versão “I”. E mesmo assim não acontece em nenhum dos sujeitos orgânicos, como pessoas, plantas etc.
Enfim cores e contraste são impecáveis, o que não é tão fácil em objetivas de longo alcance. A luz pode refletir demais dentro do equipamento e distorcer a imagem com tanto ar entre os elementos. Mas isto não acontece na EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM Mark I. E a Canon ainda sim inventou o “ASC” na Mark II. Esta nova versão deve ser incrível para reprodução de cores! O_o
* Todos os arquivos deste comparativo feitos com a Canon EOS 6D.
Uma das principais razões de eu incluir a zoom 100-400mm no kit era testar se o desempenho óptico era maior que a EF 70-200mm f/2.8L IS II USM com o teleconversor 2X; a minha opção anterior no “super telephoto”. E obviamente a zoom com 400mm “nativos” ganha da “200mm x2”, em resolução e contraste; mas não em CA lateral, que é invisível na 70-200mm sem teleconversor.
Em abertura máxima do combo zoom + teleconversor, a diferença de resolução é nítida (sem trocadilho) no quadro todo. Realmente a zoom 100-400mm se prova como uma objetiva high quality quando vemos que um modelo muito mais novo como a 70-200mm f/2.8L II IS USM fica para trás na conversão. Mas se faz tanta diferença assim dependendo da saída pro arquivo? Duvido! O contraste pode ser corrigido via software, e as cores também. Os detalhes dependendo dos ajustes do “smart sharpen” do Photoshop também pode ser “inventados”. E na 70-200mm f/2.8L II IS USM + EF 2XIII você ganha um estabilizador muito mais novo e weather sealing total.
Afinal, o que vale mais a pena? Na minha opinião vai do orçamento de cada um. Obviamente as duas zoom no kit fazem mais sentido se você trabalha todos os dias com o range 70-200mm f/2.8 e 100-400mm f/4.5-5.6. Mas juntas elas ultrapassam os US$4000 com impostos nos Estados Unidos, enquanto a 70-200mm + teleconversor não passa dos US$3000, também com impostos. Enfim, cada fotógrafo sabe o que usará mais. Eu ficarei com a 70-200mm + EF Extender 2XIII, já que uso os 400mm esporadicamente. As fotos desta página com certeza poderiam ter sido feitas por ela.
E ainda dá para comparar as duas zoom em 200mm! A EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM em 200mm ainda está na abertura máxima de 4.5 mas a resolução não é das melhores; é notavelmente inferior a top EF 70-200mm f/2.8L IS II USM, que já está mais de 1.5 stops fechada em f/4.5. Mas fechando para f/8 e as duas ficam praticamente iguais. Ou seja, feche a sua 100-400mm para f/8 se pretende fotografar retratos e objetos no médio telephoto, que funciona muito bem.
Apesar da abertura máxima f/5.6, que é o limite da maioria do sensores phase da Canon para foco automático, a EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM é totalmente compatível com os teleconversores EF 1.4X (para uma 140-560mm f/6.3-8, que foca só nas 1D, 5D Mark III e 7D Mark II) e EF 2X (para uma 200-800mm f/9-11, que foca somente via Live View em modo de contraste). Montada num sistema APS-C, a equivalência do conjunto pode chegar aos 1280mm f/11! :-D
Evidente que o impacto na resolução é alto e as exigências de luz são absurdas em 800mm, para não tremer a foto, e f/11, já que entra pouca luz na câmera. Mas dependendo do trabalho, é possível sim usar este conjuntão para elementos super distantes como a lua, os vizinhos em detalhes, alguns prédios… Basta aumentar o contraste da imagem depois via software, subir o seu ISO para além dos 1600; e até fechar a lente para f/22 para ter uma nitidez aceitável.
Trabalhar tão longe do sujeito em 400mm (ou 800mm) adiciona muito ar entre o fotógrafo e o motivo da foto, e dependendo das condições meteorológicas, um problema chamado “distorção atmosférica” pode atrapalhar as fotos. Principalmente em dias abafados, a agitação do ar quente “balança” os raios de luz para todos os lados e a nitidez de imagens telephoto é muito prejudicada. São aquelas linhas coloridas e tortas onde antes eram retas, que exigem cuidados no dia e horário das imagens, não sendo um problema de manhã (quando ainda está frio), ou no começo da noite (quando começa a esfriar). Se você ver algum destes borrões nas suas imagens em 400mm, não se assuste: não é defeito da lente e sim o ar agitado entre você e a foto. :-)
Por US$1699 numa série L “exótica” por causa da longa distância, qual poucos equipamentos chegam com esta qualidade, a EF 100-400mm f/4.5-5.6L IS USM é um dos “hits” da Canon no mercado de objetivas de grande alcance. O design não é tradicional mas tem a vantagem de acelerar o movimento dos 100mm aos 400mm. A construção é impecável, tipicamente L, todinha de metal, robusta, para durar a vida toda. E o projeto óptico sobreviveu 16 anos sem atualização, o que não é um ponto negativo; é um indício da qualidade desta lente.
Tenho de assumir que ela chegou no canal por um motivo bobo: testar opticamente a diferença do teleconversor e da distância nativa na lente. Mas nas oportunidades que precisei desta lente, ela não me desapontou: as composições são diferentes de tão longe, os arquivos são ótimos nas cores e contraste, e a operação é fantástica. Que venha 2015 e a Mark II, que deve ser apenas um “capricho” da Canon sobre um equipamento que já era topo de linha. :-) Abraços e boas fotos!