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Abril/2014 – As câmeras com sensor APS-C parecem ser abominadas pelos dois maiores fabricantes do mundo: Canon e Nikon. Sempre vistas como equipamentos de segunda linha nos lançamentos, com qualidade de imagem relativamente inferior e lentes dignas de kits de Lego (com raras exceções), as máquinas crop simplesmente não recebem o mesmo amor que as câmeras de sensor full frame. O que é um equívoco considerando a popularidade dos modelos. As câmeras menores vendem em volume muito maior que as de sensor grande, e nos primórdios da era digital foram as responsáveis pelo sucesso das DSLR no mercado de entrada. (english)
E é exatamente o que a Sigma fez com a 18-35mm f/1.8 DC HSM. Exclusiva para o APS-C, ela é a primeira lente zoom do mundo com abertura constante f/1.8, design inviável comercialmente no full frame (seria mais cara que todas as primes equivalentes). Anunciada em abril de 2013 depois de uma série de rumores improváveis, ela chegou em quantidade aos revendedores só no final do ano e ainda é difícil encontrá-la em estoque por aí. Mas finalmente achei na B&H Photo (US$799) e é hora de vermos o review completo do vlog do zack. Boa leitura, amiguinhos.
A 18-35mm f/1.8 DC HSM é a terceira objetiva da linha “Art” de uma nova estratégia chamada “Global Vision” Sigma. Com uma filosofia que privilegia “materiais de alto desempenho, precisão na construção e expressão artística” (palavras do press release), a 18-35mm f/1.8 DC é com certeza a melhor zoom APS-C que já peguei nas mãos. Com uma mistura de compostos de plásticos e metal, tudo passa a impressão de excelência e qualidade. São as 811g mais sólidas de uma lente de “baixo custo” disponíveis no mercado hoje, muito melhor que qualquer oferta da Canon EF-S ou Nikon DX. E em 121mm (comprimento) por 78mm (diâmetro total), ela também não se comporta como uma lente “crop”, parece pesada na maioria das câmeras de plástico e uma diferença significativa sobre qualquer lente de kit, mesmo as com range maior como 18-135mm.
Por outro lado é uma zoom de operação extremamente simples e com mecanismo totalmente interno. De 18mm a 35mm nada expande do corpo (diferente de outras lentes APS-C) e o motor AF é traseiro, sem rotação do elemento frontal (que aceita filtros de 72mm). O movimento dos anéis é extremamente suave e podem ser movimentados com apenas um dedo, tanto no zoom (que tem o caminho bem curto) quanto no foco. Uma característica negativa no modelo testado (mount EF) é que a direção do zoom é contrária as lentes Canon: o grande angular fica a direita, confundindo quem está acostumado com as lentes originais que vão da esquerda para direita.
Também questiono a usabilidade de um range de zoom tão curto. “18-35mm” não chega a “aproximar” (fechar o quadro) para substituir até a zoom mais básica (18-55mm), e funciona para poucas situações de rua. No lugar de carregar três primes você levará só uma zoom, mas está longe de ser um kit ideal e não dá para recomendá-la sozinha; não desfaça das suas EF-S.
Outro detalhe curioso é que esta “crop” não tem o anel de borracha traseiro que impede as Canon EF-S de montar nos corpos full frame. Então é possível rosqueá-la numa câmera tipo 5D apesar da projeção não atender o sensor maior. Em 18mm vemos um círculo no meio do quadro e em 35mm a vinheta é muito forte, não sendo recomendada para os formatos maiores.
Atrás o único botão é do sistema AF HSM que controla um motor semelhante aos USM/SWM Canon/Nikon. É totalmente silencioso e rápido, mas novamente não tão esperto quanto as lentes “oficiais” (o mesmo acontecia com a 35mm f/1.4 DG HSM). Não sei o que estava acontecendo no dia dos testes com a 60D que o ponto central insistia em dirigir todo o percurso do foco (mínimo até o infinito) para depois travar no lugar certo. Não cheguei a perder qualquer foto, afinal meu estilo de fotografar é bem tranquilo, mas sem dúvidas estava se comportando de maneira estranha. No dia dos testes com a EOS M (que usa um sistema híbrido phase + contraste) isto não aconteceu. De qualquer maneira o sistema suporta do full time manual e mesmo em “AF” você pode movimentar o anel MF para contornar os ajustes, conhecido como full time manual.
Enfim o melhor projeto APS-C disponível no mercado hoje. A Sigma 18-35mm f/1.8 DC HSM consegue ser melhor construída que algumas zoom “L” novas (que usam “plásticos de alta qualidade”) e no geral o design é “sexy”: totalmente preto, emborrachado, com anéis de metal, mount de metal, borrachas suaves ao toque e um prazer de usar junto das DSLR ou outras câmeras com mount Canon. Ela já está na mesma mochila da Blackmagic Cinema Camera e substituiu outras três primes por causa da abertura semelhante: 24mm, 28mm e 35mm, agora em f/1.8. Mas questiono “uma saidinha” ou o dia-a-dia só com os 18-35mm; pelo peso, tamanho e alcance, prefiro viver com outra zoom mais longa e mais flexível para diversos sujeitos.
A Sigma 35mm f/1.4 DG HSM recebeu o título de “objetiva do ano 2013” porque entregou de longe o melhor desempenho óptico em objetivas “full frame”, naquela especificação: praticamente zero CA em abertura máxima, resolução no quadro todo, e um preço assustadoramente menor que as first party. A linha “Art” então se consagrou instantaneamente como um promessa de qualidade e excelência, levantando pestanas sobre a credibilidade das top Canon e Nikon. E a Sigma 18-35mm f/1.8 DC HSM entrega novamente o desempenho da “Global Vision” com qualidade de imagem espetacular para a especificação zoom f/1.8, e supera até as primes top de mesmo alcance.
Mesmo em f/1.8 a nitidez no quadro todo nos leva a crer que as outras lentes comparáveis estão com defeito. A resolução é tão alta de ponta a ponta que revela um lado diferente do APS-C, com fotos de excelente qualidade, contraste, cores, que podem substituir as câmeras full frame quando o assunto são detalhes para impressões gigantes. Fechar até f/2.8 é ideal para qualidade máxima até f/5.6, quando a difração aparece em corpos APS-C de alta densidade com mais de 18MP.
Críticas são típicas de projetos zoom, com destaque para CA lateral em áreas de contraste e vinheta em abertura máxima. Este CA aparece nas bordas do quadro em qualquer abertura e não deve ser confundido com o astigmatismo em lentes de grande abertura, que aparece por exemplo na Canon EF 35mm f/1.4L USM em pontos de luz a noite. Já o vignetting é acentuado em pouca luz e não vi como um problema durante o dia. O bokeh também não é dos melhores quando saímos do foco mínimo, com linhas repetitivas e menos suavidade que as primes.
Enfim um projeto zoom a par das novas tecnologias de fabricação, desenho de projeto e qualidade de imagem. O tempo que as as primes eram superiores as zoom ficou para trás e hoje temos projetos ousados de grande abertura, complexidade óptica e excelente resolução no quadro todo. A Sigma 18-35mm f/1.8 DC HSM é a primeira desta nova geração de objetivas e lança um momento interessante para a fotografia: o preços dos equipamentos está ao alcance de todos, a qualidade aumentou, e cabe somente ao fotógrafo expressar nas imagens as suas impressões artísticas.