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Janeiro/2014 – A Sigma 35mm f/1.4 DG HSM foi a maior surpresa de 2012 porque apresentou desempenho óptico de ponta num preço relativamente acessível (US$899) para uma objetiva com esta especificação de luminosidade. Enquanto a consagrada pelo AF Canon EF 35mm f/1.4L USM (1998) custa US$1479 e a duvidosa pela resolução nas bordas Nikon AF-S Nikkor 35mm f/1.4G (2010) custa US$1619, a Sigma é a primeira da restruturação “Global Vision” do fabricante com nova proposta de marketing tanto em comunicação quanto em produtos. (english)
Eu já tenho a EF 35mm f/1.4L USM sem planos para substituí-la. A qualidade das imagens é excelente, a construção a par com a série “Luxury” e ela compartilha filtros de 72mm com várias outras objetivas enquanto a Sigma é de 67mm); sem falar da velocidade no foco automático, que só lembramos o quanto é rápido até usarmos uma objetiva third-party. Mas tenho de confessar que a Sigma 35mm f/1.4G DG HSM encontrou um lugar no kit. Ela realmente oferece fotos com menos distorções e bokeh superior, e quando precisar disto, é a objetiva que levarei para o trabalho.
Em 7.70 x 9.40cm de 665g de plásticos, metais e borrachas, o que mais chama atenção na primeira objetiva Sigma Global Vision é a qualidade da construção. Enquanto este fabricante passou alguns anos pisando na bola no controle de qualidade, com objetivas que descascavam, elementos ópticos que saiam do corpo e motores AF que simplesmente paravam de funcionar, as séries “Art”, “Contemporary” e “Sports” deixaram isto para trás. As novas objetivas sem dúvidas são robustas e de funcionamento simples, sem grandes sinais de problemas de construção ou projeto.
Começamos com um um mount de metal e uma peça que parece ser também de metal, antes de chegarmos no anel de foco e a janelinha de distância. A resposta tátil é muito boa e o produto parece premium, dando firmeza na palma da mão sem escorregar. Aqui encontramos o único botão que liga e desliga o sistema AF, que é do tipo HSM. O Hyper Sonic Motor tem o mesmo princípio do USM (Canon Ultrasonic Motor) e SWM (Nikon Silent Wave Motor) e trabalha com pulsos hiper-sônicos no lugar de um sistema tradicional de bobina. A vantagem fica na velocidade, que sempre é alta, e na baixa dispersão da energia, que aqui se traduz em silêncio.
Este anel de foco manual representa o maior avanço no design das objetivas Sigma. Enquanto no passado ele era duro e com bastante atrito, aqui ele é emborrachado e extremamente macio. Alias tem uma pegada melhor que algumas objetivas top da Nikon, fabricante que ainda não se “achou” no desenho ideal e feeling dos anéis de foco manual na maioria das objetivas “G”. Na 35mm f/1.4 DG HSM tudo é macio e sem “jogo”; você mexe para qualquer um dos lados e ele movimenta os elementos internos manualmente, sem atrasos ou falta de precisão.
Na frente encontramos o trilho para montar o parasol, que é bem duro e difícil de prender. Antes do primeiro elemento ótico a rosca de ø67mm para filtros, que não gira durante a operação de foco. Infelizmente ela é menor que a maioria das outras objetivas f/1.4 que temos por aí. Na Canon L as únicas objetivas que lembro dos 67mm são a EF 100mm f/2.8L IS USM e a EF 70-200mm f/4L USM; grande parte do lineup é 72mm, 77mm e as novas (e caras) com filtros de ø82mm.
Ao lado da Canon EF 35mm f/1.4L USM, a 35mm f/1.4 DG HSM é cerca de 1cm maior e aparentemente mais fina; o que contribui para uma experiência totalmente diferente entre elas. Enquanto a EF L lembra uma objetiva 35mm “gorda” por causa da luminosidade, a DG parece uma objetiva mais longa por exemplo as 105mm Nikkor. Evidente que é uma questão subjetiva e nada interfere na usabilidade (ou sim?), mas causa estranhamento para quem já estava acostumado na Canon. Eu já deixei a Sigma em casa por este motivo, ela não queria entrar na mesma mochila que a 35mm f/1.4L USM por causa deste 1cm. Sim, eu saio para trabalhar com espaço limitadíssimo.
O grande triunfo da Canon é no foco automático que a Sigma não consegue igualar. Embora não seja lento ou impreciso, eu perdi algumas fotos de ação com pouca luz (skatistas descendo a rua) e mesmo em objetos estáticos ela me pareceu inadequada sem alguma assistência. Durante a usabilidade da EF 35mm f/1.4L USM eu nem me preocupei com isto dentro de igrejas, ruas a noite ou restaurantes; o AF foi rápido como de praxe. Porém é só usar a Sigma em situações parecidas para lembrar que não estamos mais com uma L; fiquem atentos fotógrafos de casamento.
A qualidade de imagem da Sigma 35mm f/1.4 DG HSM é incrível. Supera as outras concorrentes por uma boa margem em resolução, contraste, nitidez; e o bokeh está calibrado para suavidade e cores. O destaque fica na quase ausência de CA lateral e axial, e arquivos notavelmente mais detalhados já a partir da abertura máxima. Parece uma nova maneira de trabalhar uma vez que não precisamos “ficar lembrando” de fechar um pouco a objetiva para conseguir bons resultados.
Trabalhar em f/1.4 é uma tranquilidade porque a resolução está no quadro todo e defeitos típicos de objetivas de grande abertura são menos pronunciados que o comum. Mesmo nas bordas os detalhes estão lá permitindo operar com obturadores muito mais rápidos sem se preocupar com borrões ou falta de informação, e o CA axial que mata qualquer arquivo f/1.4 da Canon e Nikon é mais difícil de aparecer na Sigma DG HSM, na maioria das situações.
É literalmente uma nova filosofia para primes de grande abertura. Enquanto nas outras objetivas o pensamento já leva a atenção para o centro em f/1.4, ou fechar instintivamente a objetiva para conseguir níveis aceitáveis no perímetro, a Sigma deixa isto para trás em qualquer abertura e os arquivos causam estranhamento. Tudo o que estiver no plano focal será revelado nos mínimos detalhes depois da ampliação e faz parecer que outras objetivas estão com defeito. Só lembro deste nível de desempenho óptico “bruto” em objetivas prime Canon telephoto brancas.
Fechar para f/2 e f/2.8 aumenta ainda mais a nitidez nas bordas levando o quadro todo para resolução máxima, bem antes das concorrentes que exigem f/5.6 (Canon L) ou mesmo f/8 (Nikon f/1.4G), proporcionando uma segunda quebra de paradigma. Enquanto nós trabalhamos com aberturas máximas para profundidade de campo curta e destacar o sujeito do fundo com o segundo plano desfocado, a nitidez da Sigma é tão alta que os sujeitos separam pela resolução.
Vignetting é acentuado em f/1.4 e um pouco pior que a 35mm f/1.4L (o filtro apertado pode justificar); mas com comportamento típico, feche até f/4 para ele desaparecer. E linhas retas geralmente ficam retas no quadro todo, apesar de nem valer a pena comentar sobre isto afinal é simples de corrigir via software. Enfim uma objetiva com desempenho totalmente diferente do que estamos acostumados e uma filosofia nova de trabalho para grandes aberturas.
A Sigma 35mm f/1.4 DG HSM é um prazer de usar e garante os melhores arquivos entre as objetivas de grande abertura nos 35mm, que eu já usei bastante. Na minha opinião é a distância ideal para trabalhar na rua porque inclui o cenário junto do sujeito, e permite a participação da luz na história da foto. Se por um lado ela não se comporta como outras objetivas um pouco menores, é um equipamento de excelente construção e que não parece ficar devendo em operação na maioria das situações. Tanto faz se você precisa da profundidade de campo curta ou resolução para destacar o sujeito; a 35mm f/1.4 DG HSM ficará no kit para atender os dois cenários. Boas fotos!