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Setembro/2016 – A X-A2 é a mirrorless APS-C “de entrada” da Fujifilm. Um completo oposto a X-Pro 2 grandona, de metal e com tecnologia de ponta, a X-A2 é diminuta, all-plastic e pensada no preço baixo, servindo como uma porta de entrada ao X-mount. Com design retrô e acabamento que lembra couro, por fora ela chama a atenção de hipsters e blogueiros que desejam uma câmera com estilo rangefinder. Mas o destaque está atrás: com uma tela LCD ajustável até 175º para frente, a X-A2 foi pensada nas selfies, para agradar o público mais jovem. Do lado de dentro o sensor CMOS 16MP “comum” sem X-Trans, o único das X-cameras atuais, também deixa clara a intenção da Fuji em evitar os profissionais, apesar do processador EXR II manter a simulação “Classic Chrome” que faz a fama da marca. Mas vendida por apenas US$549 no kit de objetiva XC 16-50mm f/3.5-5.6 OIS II, a X-A2 está pronta para levar para passear, sem ocupar o mesmo espaço de uma DSLR. Será que ela faz um bom trabalho apesar das especificações básicas? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 116.9 x 66.5 x 40.4 mm de 350g (sem objetiva), a X-A2 chama atenção pela proporção longa e pela leveza nas mãos, própria para levar pra passear. Feita todinha de plástico do lado de fora, e com botões e portas que parecem emprestados de uma câmera bem mais barata, infelizmente ela passa a impressão de “produto porcaria” apesar de nada ter quebrado em dois meses nas minhas mãos. Na frente o mount de metal é robusto, ideal para usar com objetivas grandes da linha X-mount, mas de resto o acabamento é bem simples, jus ao preço de US$549 o kit. Não estamos falando de uma DSLR feita para trabalhar ou de uma mirrorless premium, mas será um belo upgrade para quem estava acostumado a fotografar com o smartphone ou compacta simples.
Nas mãos a pegada da X-A2 é rasa do lado direito, o que exige o apoio da mão esquerda para equilibrá-la com objetivas maiores. Como o corpo é pequeno e dominado por discos e botões, não sobra muito espaço para segurá-lo, o que repete os “problemas mirrorless” de sempre. Com a levíssima XC 16-50mm do kit, por exemplo, é até razoável de usar: basta apertar a X-A2 com os dedos que ela não ameaça cair, flertando com a operação de mão única. Porém com objetivas mais sérias, por exemplo a XF 18-135mm, fica impossível manter a ergonomia na hora de usar. Pelo menos todos os controles estão orientados para o dedão direito, confortáveis e sem o estica/dobra das mirrorless maiores. Só falta mesmo um grip, que poderia ser gordo como na Sony A6300.
Atrás a câmera é dominada pela tela LCD de 3” e 920K pontos, com destaque para a inclinação de até 175º para cima; isto é, virando totalmente para a frente da câmera (e até 45º para baixo). Embora ela não ganhe nenhum elogio sobre nitidez e fidelidade de cores (está longe de uma tela “retina”, mas também não é tosca), além da ausência de funções sensíveis ao toque (perdoável para um lançamento de 2015), eu virei fã do “modo selfie” em torno de um sensor APS-C; formato que antes eu considerava “para profissionais”. A estrutura traseira do painel não é das melhores: ela balança um pouco mesmo quando “fechada”, e na posição “aberta” o mix de plásticos (na tela) e metais (na estrutura) é frágil; bateu, quebrou. Mas a ideia de tirar fotos próprias com objetivas de alta qualidade é interessante, com funções AF de detecção de rosto e olhos para selfies perfeitas.
Basta girar a tela para frente que a câmera ativa as funções de foco “face + eye detection”, que procuram em tempo real os rostos e olhos dos sujeitos. Funciona bem se a objetiva permitir o foco tão próximo, uma vez que você estará limitado ao tamanho do seu braço; na XC 16-50mm II o foco mínimo é de 15cm, o suficiente para selfies; mas o foco mínimo de 45cm da XF 18-135mm já está no limite dos braços. Além disso, como a profundidade de campo será curta dada a distância entre o plano focal e o sujeito, há boas chances do fundo sair “desfocado”, na contramão das “selfies-turistão” com o segundo plano em foco. Então lembre de forçar uma abertura menor, caso contrário aparecerá só você em destaque, sem um fundo nítido. É uma ideia cativante que eu não esperava usar tanto, e dá um salto significativo a qualidade das selfies antes feitas no celular.
Do lado direito o painel traseiro é dominado por botões e um dial vertical embutido, que seguem para dois dials até o disparador do obturador em cima, junto da chave ON/OFF e um botão Fn. A resposta tátil destes botões não nos deixa esquecer o preço de US$549 do kit, e são todos do tipo click, bem duros. Os botões atrás são bem organizados para navegar pelos menus (botão central + direcionais) ou ir direto a funções-chave como playback, gravação imediata de vídeos, DISP (muda as informações do LCD) e Q (quick, para ajustes rápidos); nada de um botão ISO dedicado, apesar do Fn frontal ser configurável para virtualmente qualquer função da câmera. O dial vertical traseiro controla a abertura ou a velocidade do obturador na hora de fotografar, e achei ele confortável, mais intuitivo que ajustar a abertura no anel da objetiva se ela for R (“ring”). E na hora do playback ele serve como zoom no arquivo, com um click para baixo que ativa o crop 100% imediatamente.
Em cima o dial de seleção oferece excessivos 12 modos. São os tradicionais PASM e C, o “SR+” automático com detecção de 57 cenas (não podia chamar simplesmente AUTO?); o “Adv” que não tem nada de “advanced”, apenas simula efeitos toscos tipo “toy” e mono cor, somente JPEG; o SP smoothportrait, que “melhora” a aparência da pele em retratos JPEG, e outros específicos como noite e paisagem. Ao lado do dial principal e no canto da câmera, não marcado por nenhuma letra, esta outro dial usada para a compensação da exposição em 2EV, útil nos modos semiautomáticos. E na frente o botão do disparador é hiper sensível e pintado com tinta “cromada” escorregadia, pedindo para descascar. A chave ON/OFF também tem este problema, além de ser dura demais.
Por fim, do lado esquerdo, em cima, há um flash embutido; sempre uma adição interessante em qualquer câmera (viu, Nikon D500?). Ele não fará muito mais que uma guia 7 em ISO200, ideal somente para retratos próximos. Mas é totalmente configurável com compensação de exposição, modo de 2ª cortina e slow synchro, e até função commander de outros flashs. Ele não elimina a sapata completa hot-shoe em cima da câmera (descentralizada cerca de 1mm da objetiva), bacana para cabeças maiores ou unidades de rádio integradas. Do lado esquerdo estão as portas HDMI e USB2.0, atrás de uma cobertura tosca mas que não abre sozinha (aprende, Sony A7II), e embaixo vão a bateria para 410 fotos e o cartão SD UHS-I, atrás de uma porta bem feita com mola e trava.
Enfim a Fuji X-A2 é um mix de materiais, funções e preço interessante. Aparentemente não falta nada no modelo, o que é muito, muito positivo. Eu realmente não esperava nada sobre um kit de US$549 (e olha que eu levei um kit com bateria extra, SD e filtro na B&H), mas a X-A2 funcionou bem. O botão de ligar e desligar é o maior problema mecânico do modelo, e meu único motivo para duvidar sobre a durabilidade; quando esse botão decidir quebrar, f•deu. A tela traseira eu não esperava muita coisa (retina…), mas ela gira pra frente para selfies “tunadas”. Montada com a objetiva XC 16-50mm do kit, a X-A2 fica simpática para passear, e considerando o que eu vi nas funções e nas fotos, dá pra ver que a a Fuji faz as X-cam com carinho, mesmo no limite do preço.
Apesar de mirrorless e baratinha, a X-A2 se comporta como uma câmera “séria”, o mínimo de se esperar dos eletrônicos em 2015. Os números são justos: boot de menos de 0.5 segundo (contra o eterno boot da Sony A7II), disparo de até 5.6fps (“novidade” em algumas DSLR de entrada, por exemplo Canon T6i), buffer para até 30 arquivos JPEG e 10 raw (maior que a T6i), e shutter lag de apenas 0.05 segundos; infinitamente mais rápido que um smartphone. É ligar, mirar a câmera e fotografar, sem se preocupar com uma câmera que te atrasa, pelo menos com sujeitos estáticos.
Porém o que fará falta para quem está acostumado nas DSLR é a focagem automática, que beira o razoável na X-A2. Razoável é até um elogio: são 49 “pontos” que medem exclusivamente contraste, um passo largo atrás dos phasedetection embutidos no sensor. Então é aquela situação de sorte: com bastante luz o AF funciona até bem (diz a Fuji que a velocidade mínima é de 0.1s), mas com pouca luz e sob pressão, ele falha bastante. Com a XC 16-50mm do kit, é legal na rua: apertou, focou, já que estará tudo sempre em foco dada a abertura f/3.5-5.6. Mas com a XF 18-135mm mais longa, a X-A2 demora para focar até nos retratos calmos. E pra ajudar, esqueçam qualquer modo preditivo para seguir objetos. Enquanto os modos “continous” e “tracking” aparecem no menu, eles são apenas para mudar a posição ANTES da foto (e gastar bateria à toa). Ou seja, esta não é uma câmera para fotografar as crianças correndo ou os amigos no skate, o que pode limitar o uso.
A X-A2 ainda inclui Wi-Fi embutido e gravação de vídeos 1080P30, ambos também com funções limitadas. O recurso sem fio depende do app Fuji Camera Remote (iOS e Android gratuitos), e serve só para descarregar as fotos e vídeos da câmera para o telefone; nada de controlá-la a distância para fotos em grupo, por exemplo. E o vídeo 1080P30 é feito por leitura line skipping no sensor, com arquivos cheios de aliasing e moiré, difíceis de substituir os vídeos do smartphone. O foco automático é feito por contraste e nunca se decide onde focar, com aquele vai-e-volta frenético até nas cenas mais simples. Então não é uma câmera completa, com funções que estão ali só para constar. Parece que o engenheiro do software saiu para tomar um café e nunca mais voltou.
Com um sensor CMOS de 16.3MP e formato APS-C, o destaque na X-A2 na linha Fujifilm é a ausência da tecnologia X-Trans; aquela com arranjo de cores inovador para combater o moiré do Bayer tradicional e que serve de ponte entre a Fuji antiga de película e a era digital. Porém, apesar da tecnologia padrão, o imager na X-A2 não faz feio: a qualidade de imagem é altíssima de ISO200-6400, os valores nativos em modo raw, na frente em termos de cores e nitidez até de câmeras mais caras. É uma surpresa inclusive com a objetiva XC 16-50mm do kit, que veremos em outro review. Juntas as duas peças brilharam nas ruas de Nova Iorque, com arquivos coloridos e cheios de detalhes, virtualmente idênticos a qualquer DSLR. Realmente eu não esperava nada de uma máquina de US$549 o kit, mas ela serve para qualquer tipo de trabalho, e não só para passear.
”Times Square” em f/5 1/75 ISO400 @ 25.6mm. ”8 av” em f/5.6 1/60 ISO2000 @ 24.4mm. ”Pure Style” em f/5 1/60 ISO2000 @ 26.9mm. ”Peixaria” em f/7.1 1/125 ISO1250 @ 22.2mm.O range nativo de valores ISO em modo raw é apenas 200-6400, contra os 100-25600 do modo JPEG. Provavelmente a Fuji não quis competir com outras câmeras dentro da linha deles, então o software limita o ISO na saída raw; ridículo. Mas estes valores são o suficiente para extrair o melhor da X-A2, com dynamic range de sombra para recuperar luzes e especialmente sombras no valor base 200, e não vermos tantos ruídos no valor máximo. É realmente a performance de uma câmera de sensor grande: resolução e nitidez impecáveis para situações do dia a dia, graças ao conjunto óptico maior em comparação as compactas, além da flexibilidade de sobra para “puxar” os sliders para lá e para cá no pós-processamento. A recuperação de sombras impressiona pela qualidade sem cores falsas, superiores aos Canon inclusive lançados em 2016 (como a EOS T6i).
Subindo o ISO para número generosos, a alma APS-C da X-A2 começa a brilhar. Infinitamente melhor que um smartphone ou compacta “avançada” de 1”, e rivalizando as full frames da mesma geração, é incrível como as cores se mantém intactas até ISO6400. Os detalhes finos continuam visíveis ao lado de ruídos orgânicos, que ou somem na saída print até ampliações razoáveis, ou totalmente desaparecem nas saídas reduzidas para social media. Até ISO2000 a X-A2 vai virtualmente idêntica a recém-testada Nikon D500; prova do quanto o APS-C é “confiável” hoje em dia (pelo menos fora das Canon EOS). É inegável o valor do formato APS-C antes associado a câmeras de baixa qualidade na era das DSLR de entrada, em comparação as full frame maiores.
Crop 100%, antes e depois do processamento raw +5 na exposição. ”LED” em f/5 1/60 ISO500 @ 16mm; dynamic range é o suficiente para extrair imagens mais próximas da realidade. ”Times Square II” em f/5 1/60 ISO500 @ 25.6mm. ”Oculus” em f/6.4 1/480 ISO400 @ 16mm; antes da correção raw, o arquivo parece debaixo d’água no modo Film Simulation Velvia.Ajustes automáticos de exposição e white balance são confiáveis na X-A2, embora com ressalvas. Vindo do review da Nikon D500, com fotômetro fotofóbico a favor dos highlights, é bem mais fácil conviver com a Fuji e os JPEG não tão escuros, mesmo em situações mistas de luz. Em modo raw então, os ajustes de exposição são mínimos no pós-processamento; a câmera raramente erra feio na fotometria. Mas o balanço do branco é um pouco inconsistente, e os perfis de cor dos modos “Film Simulation” mais atrapalham do que ajudam no look final da imagem. Na opção Velvia, por exemplo, nuances de verde dominam luzes e sombras, tirando o realismo das fotos; evidente em ambientes internos sob iluminação artificial, onde tudo parece verde como dentro de um hospital.
Crop 100%, processamento JPEG direto da câmera mata detalhes finos do ISO alto. Crop 100%, processador EXR-II é agressivo demais com detalhes e áreas de cor. Crop 100%, ruídos que antes eram bonitos, viram borrões estranhos no JPEG direto da câmera. Crop 100%, detalhes finos também são apagados no JPEG; sempre prefira fotografar em raw.Por fim o engine JPEG do processador EXR-II da X-A2 é, como sempre, agressivo demais sobre as capacidades do sensor CMOS. Independente do Film Simulation, as fotos saem chapadas, com luzes facilmente estouradas e sombras totalmente pretas; impossíveis de recuperar via software e com dynamic range limitadíssimo. É impressionante como no modo raw este sensor preserva informações de sobra nas sombras, mas em JPEG a câmera prefere jogar tudo fora; difícil de recomendar os arquivos direto da câmera. E em ISOs altos o redutor de ruídos é muito agressivo: detalhes finos viram borrões de cor sem texturas, bem diferente do “Grain Effect” agradável de outras Fujifilm X. No geral, prefira fotografar em raw e divirta-se com os arquivos no Lightroom.
A X-A2 entrou no meu kit meramente como uma opção low cost para testar a zoom XF 18-135mm; comprada na época da X-Pro 2 mas sem review naquele corpo. Então decidi investigar o outro lado da linha Fujifilm, sem o glamour das câmeras X-Trans e me surpreendi: o produto é razoavelmente bem feito para o preço, as funções são adequadas para quem está começando, e a qualidade de imagem impressiona dependendo das técnicas do fotógrafo. Não, ela não ganha nenhum prêmio sobre construção, portabilidade ou usabilidade; conheço APS-Cs mirrorless menores e feitas de metal (embora mais caras). Na Fuji só o design chama a atenção, e a decisão de compra poderá vir daqui. Mas o resultado nas fotos é realmente uma surpresa: considerando a geração e o preço do modelo, ela não deve em nada as outras APS-C em cores, dynamic range, ou ruídos no ISO, até mais novas. Então a recomendação é fácil: quem procura um bom imager para experimentar as Fujinon X-mount, sem abrir um rombo no orçamento, já sabem qual câmera comprar. Boas fotos!