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Outubro/2016 – A XF 18mm f/2 R é uma de três objetivas apresentadas no lançamento do Fujifilm X-Mount, em 2012. Ao lado das XF 35mm f/1.4 R e XF 60mm f/2.4 R Macro, ela era a opção da Fujinon para o grande angular no X-Trans, com equivalência aos 28mm do formato APS-C. Feita toda em metal e com design pancake, ela também é uma das menores objetivas da família XF, própria para estar sempre com você, sem ocupar espaço. Uma objetiva que poderia ganhar o status de “obrigatória” no kit, infelizmente ela vai além do que é possível projetar no “mirrorless”, dados os limites da física óptica; e a qualidade de imagem nunca agradou. Mas será que a 18mm f/2 R é tão ruim assim? Ou dá para viver com ela? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 64.5 x 40.6mm de 116g de alumínio, a XF 18mm f/2R é uma diminuta objetiva para o X-Mount, própria para levar para passear. Pensada como um “design pancake” (menos comprida do que grossa), ela desaparece na frente das X-cam grandes, sendo também robusta e resistente aos impactos do dia-a-dia. Montada na X-A2, a menor das câmeras APS-C Fujifilm, o conjunto nem lembra uma máquina fotográfica séria, digna do sensor grande, e cabe facilmente em qualquer lugar: na bolsa, na mochila, no porta-luvas do carro; sem qualquer indício de fragilidade. Mesmo a tira-colo ela não estende muito a frente da câmera, dado o design, o que colabora para a rigidez. Então é uma genuína peça para “estar sempre com você”, e o grande motivo para tê-la no kit.
Nas mãos praticamente não há “experiência” com a XF 18mm f/2R, visto que ela desaparece no X-Mount, de tão pequena que é. Por isso os controles ficam limitados a dois anéis físicos, um de abertura (R) e outro de foco manual, e todo o restante (como desligar/ligar o foco) deve ser feito nos menus da câmera. O anel de foco na frente é fino mas confortável, com grip tendendo para o escorregadio apesar da cobertura emborrachada, e infelizmente do tipo fly-by-wire, mandando um sinal eletrônico para o motor interno, que por sua vez movimenta os grupos de foco. Então o movimento suave do anel é desconexo da posição real da objetiva, o que gera imprecisão. É uma decisão questionável da Fuji, que optou por todas as objetivas do X-Mount focarem desta maneira, e pode ser a escolha decisiva na compra de uma X-cam: ou você gosta de anéis eletrônicos, ou não.
Atrás, o anel de abertura é um feature das objetivas XF R (“ring”), peça praticamente inexistente nas lentes de DSLR hoje. Ele tem marcações gravadas a laser e com pintura branca (nos números) e vermelha (na letra A, auto), além de grooves no metal para melhorar a tração. Na hora de girá-lo, o movimento novamente é ruim, mas não pelo mesmo motivo do anel de foco. Esta peça feita em metal parece em atrito constante com o metal do lado de dentro, passando a impressão de um tubo “arranhando”, sem a suavidade que experimentei na XF 35mm f/2 R WR (provavelmente porque a “WR” tem borrachas de vedação que contribuem para a suavidade). Além disto, o peso dos clicks é constante, sem diferença na resposta tátil entre os valores cheios (f/2, f/2.8, f/4…) e os 1/3, também diferente da 35mm nova. Já a posição A (auto) está do lado oposto ao f/2, o que impede de “ciclar” entre o automático e a abertura máxima num movimento rápido, o que é ruim.
Do lado de dentro o motor de foco aparentemente é por micro motor DC, com engrenagens, dado o barulho da 18mm f/2 na hora de focar e a expansão no foco mínimo. De novo, é bem diferente das 35mm f/2 R WR e 18-135mm LM (Linear Motor), ambas silenciosas e com foco interno. A 18mm f/2 faz um barulho que impede de usá-la durante a gravação de vídeos, obrigando o foco fixo nos takes. Por exemplo com a X-T2, o barulhinho de ir/voltar do motor da indícios da natureza híbrida do sistema phase + contraste da câmera, que vai e volta até travar no ponto certo, e nem sempre isso acontece rápido, ainda mais quando a câmera não encontra contraste. Pelo menos a precisão é alta, sem erros de front/back focus, uma vez que são dois sistemas trabalhando juntos. Para uma Fuji, a XF 18mm f/2 R até foca rápido. Mas não espere a velocidade de uma objetiva para DSLR.
Na frente os filtros de ø52mm são incompatíveis com as outras “XF f/2 R” novas, ambas com rosca de ø43mm. Pelo menos a rosca não gira durante a focagem, ótimo para usar com polarizadores. Ao redor, um trilho para o parasol permite o uso dos dois ao mesmo tempo (junto do filtro), e um modelo curioso vem incluído na caixa. Ele tem bordas achatadas na frente, em uma peça que parece ser de metal, mas que é aparafusada num suporte de plástico; ainda com uma tampa de borracha só para o hood. É uma engenhoca talvez desenhada em excesso, mas pelo menos cumpre o papel de evitar reflexos laterais, comuns no grande angular. Por fim, atrás, o mount de metal completa a construção robusta da XF 18mm f/2 R. Não há borracha de vedação entre a objetiva e a câmera, e a Fuji não declara nada sobre “weather resistance”; ou seja, não use-a sob chuva.
Enfim a 18mm f/2 R lançada em 2012 dava indícios do que o X-mount poderia ser (e virou) com primes compactas, bem construídas e de apelo premium, coisa que vemos hoje nas fantásticas XF 35mm f/2 R WR e na nova XF 23mm f/2 R WR. Mas infelizmente, embora jovem, a família XF tem inconsistências no design e operação, e a “linha f/2 R” não tem as mesmas qualidades entre os modelos. A 18mm f/2 é bem feita, sem dúvidas, mas não oferece a mesma experiência que tive na 35mm f/2 R WR, com anéis suaves e foco automático silencioso. Então apesar dos apenas 4 anos de mercado, a Fuji já deveria pensar em atualizar a 18mm para uma “f/2 R WR”, a fim de seguir o padrão de qualidade também das câmeras Fujifilm X novas, que tem o weather resistance.
Com um projeto óptico de oito elementos em sete grupos, dois asféricos e de baixa dispersão, além da cobertura EBC para evitar reflexos, a Fujinon XF 18mm f/2 R é mais uma tentativa ousada de projetar no mirrorless uma grande angular, dada a distância flange (entre mount e sensor) curta demais. Com uma peça tão próxima da outra, fica difícil “espremer” o ângulo de visão amplo num espaço tão pequeno, e vemos sempre problemas de resolução abaixo dos 20mm nas mirrorless, ainda mais com design pancake. E a Fuji também não conseguiu um resultado satisfatório: enquanto a 18mm é capaz de gerar imagens bacanas, mais pela composição dramática do sujeito com o ambiente e a luz, ela nunca atinge de fato a mesma nitidez pixel a pixel que estamos acostumados nas primes, principalmente não sendo adequada para aplicações de alta resolução.
O problema principal é a resolução em cerca de 60% (!) do quadro, que nunca renderiza os detalhes das cenas. Enquanto outras objetivas tem problemas em áreas pequenas, bem nos limites das bordas mesmo, a XF 18mm f/2 R não mostra detalhes em áreas grandes do quadro, assim que saímos do miolo central. Mesmo em f/5.6, o limite da difração da terceira geração do X-Trans, os arquivos saem “borrados”, como se fossem erros de exposição (obturador lento), quando na verdade o problema está no plano de imagem da objetiva, que não é realmente plano. Isso pode até não ser um problema para quem trabalha com fotografia de rua, que permite composições tridimensionais em que o quadro não mostre tudo num plano só. Mas para trabalhos de precisão como paisagens, arquitetura e produtos, em que tudo deveria estar nítido, infelizmente o formato APS-C mirrorless não é o ideal para trabalhar no grande angular, dados os limites da física óptica.
Se a resolução já não fosse um problema, a Fujifilm ainda inclui um perfil de correções eletrônicas obrigatórias em câmeras mais novas (praticamente todas da segunda geração, X-Pro 2, X-T2, X-A2), a fim de eliminar digitalmente problemas com aberrações cromáticas e vazamentos de luz. Durante a correção, que lida principalmente com contornos coloridos nas bordas do quadro, ainda mais pixels são interpolados, eliminando detalhes. Mesmo depois da conversão para o preto e branco, em que as aberrações não seriam visíveis, os arquivos sofrem com a falta de nitidez da interpolação obrigatória, tirando qualquer apelo do X-Trans da Fuji sem o filtro low pass. Então ela não é muito diferente do caos da Sony E PZ 16-50mm OSS, uma zoom pancake que está dentre as piores objetivas que já usei, e elimina a XF 18mm f/2 R da lista de fotógrafos de paisagens.
As qualidades do projeto, porém, estão na renderização do desfoque, incomum para o grande angular, e nas cores vibrantes, típicas do coating EBC. Com uma ampliação máxima de 0.14x e foco mínimo curtíssimo de 18cm, alguns efeitos criativos podem ser feitos na união da profundidade de campo curta com o grande angular, gerando um bokeh suave no mix das cores e dos highlights distantes, que não ganham contornos firmes. Mesmo contra a luz, o quadro não sai lavado como objetivas mais baratas, dado o tratamento nos vidros, o que pode dar a 18mm f/2 R um significado especial no kit: uma ferramenta para fotos únicas (grande angular + grande abertura), com o registro da luz, do sujeito e do ambiente, todos em harmonia na mesma composição.
Enfim uma objetiva que já não é fácil de trabalhar, incluindo sujeitos demais no quadro, e ainda sem meios técnicos para gerar arquivos de alta qualidade. Os limites da física óptica não perdoam as câmeras sem espelho, ainda mais quando tentam miniaturizar também as objetivas. Afinal, para quem é a XF 18mm f/2 R? Sem dúvidas ela é uma alternativa as 14mm f/2.8, 16mm f/1.4, pelo preço menor; e as 10-24mm f/4 e 16-55mm f/2.8, pela abertura maior. Porém ela não se compara a nenhuma delas em performance óptica; e culpo o maldito design pancake “mais fácil de carregar”. Então a recomendação vem daí: sim, se você precisa de uma diminuta grande angular para fotografar na rua, sem as exigências dos trabalhos de precisão, ela funciona bem. Agora para paisagens e impressões, faça um favor as suas fotos e considere outro modelo. E boas fotos!