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Setembro/2014 – A AF-S 50mm f/1.4G é a mais recente geração da clássica distância Nikkor prime. Extremamente popular nas décadas de 60, 70 e 80, era o kit perfeito com as SLR F2 e F3. Fáceis de construir com excelente qualidade de imagem, os projetos f/1.4 resistiram ao tempo com a mesma fórmula óptica independente de outros avanços como o foco automático. A 50mm f/1.4D (1993), por exemplo, foi a última Nikon com somente 7 elementos, projeto com quase três décadas. Foi só em 2008 com o lançamento desta f/1.4G que vimos um design novo com 8 elementos, próprio para câmeras digitais que exigem resolução no quadro todo. Ela chegou no vlog do zack na troca da 85mm f/1.8G, e aproveitei a oportunidade para começar a explorar o kit f/1.4G da marca. (english)
Em 7.3 x 5.3cm de 281g, a 50mm f/1.4G é o “prazer em fotografar” em sua melhor forma. Tão leve na câmera, é estranho compará-la a alguns lançamentos recentes que beiram o 1kg. Mas ela não deixa de ser uma lente AF-S topo de linha Nikon e agrada tanto quem tem as FX pesadonas de metal, no meu caso a D800E, que fica super fácil de carregar o dia todo; quanto quem tem as APS-C de entrada (como a D3300). Até as alças tira-colo que eu quase nunca uso se tornam apropriadas para passear com a câmera. É um dia feliz quando eu saio com a AF-S 50mm f/1.4G.
Genuinamente um projeto “G”, a AF-S 50mm f/1.4 perdeu o anel mecânico de abertura. O motor de foco interno é compatível com todas as DSLR e não exige o motor na câmera. A abertura é feita por uma alavanca da época Ai-S, o que garante precisão e adaptadores para outros sistemas. Os tubos são feitos de plástico e ela tem a borracha contra poeira e água no mount de metal. A linha G da Nikon tem a atenção no detalhes, com design e operação simples como poucas outras Nikkor.
Os controles se resumem a um anel de foco manual e Ao botão M/A para ligar o foco automático. Infelizmente este anel é um pouco duro para sair do lugar e o movimento é “seco”; falta a suavidade de objetivas mais caras. Por outro lado ele não tem qualquer joguinho na mudança de direção, e ajustes precisos podem ser feitos sem dificuldades. O AF é feito por um motor SWM absolutamente silencioso, e esta é uma das objetivas com maior precisão em f/1.4 que já usei. Junto da D800E, eu não tive qualquer arquivo fora de foco, independente da situação de luz. É mais fácil que outros sistemas, que exigem o Live View para confirmar o foco nestas aberturas.
De resto temos uma janela de distância tímida em cima; filtros de 58mm na frente; hood e sacola incluídos na caixa; e um price tag de US$425. É muito parecido com o preço da Canon EF 50mm f/1.4 USM, que vem pelada e tem quase duas décadas de projeto. Nem preciso dizer que a Nikon tem kits muito mais agressivos no mercado, que entregam mais benefícios pelo mesmo custo, e a Canon vergonhosamente não apresenta nada de novo por décadas. Dá até para sugerir a mudança de sistema por causa das objetivas: a linha Nikkor AF-S f/1.4G é muito mais moderna.
Não foi difícil me apaixonar com a AF-S 50mm f/1.4G depois de três semanas viajando pelo Hawaii, Bali, Taiwan, Japão… E com a D800E nenhum motivo passa despercebido nos arquivos de 36MP e sistema AF topo de linha. Una isto a um corpo ultra leve de carregar e tive mais de 20 dias do puro prazer em fotografar. Esta lente se tornou um xodó insubstituível no kit porque registrou com maestria os principais momentos de um dos meus lugares favoritos no mundo. Me inspirei para as melhores fotos que tenho no acervo. Todas as fotos com a Nikon D800E.
Eu não sei o que a Nikon faz nas suas fórmulas ópticas que o desempenho bruto fica devendo bastante, elas não são as primeiras em resolução, nitidez e reprodução de detalhes totalmente abertas; e saindo da Canon, nenhuma outra fabricante realmente entende de cor como as EOS. Mas os arquivos que a 50mm f/1.4G entregou tem uma personalidade, um carisma, um look incrível, que me faz lembrar porque eu aprendi a fotografar usando uma Nikon F3.
Em f/1.4 as imagens sofrem com blooming, que é aquele vazamento de luz em zonas de contraste. Isto interfere em pontos de detalhes e o arquivo inteiro fica parecendo um sonho. Mas as cores não são influenciados pelo problema e, somando a vinheta característica do full frame em grande abertura, nós temos algumas das fotos mais bonitas que o digital consegue fazer. Não me entendam errado: os arquivos tem ótima resolução nesta abertura. Mas a aparência é diferente, com e sem nitidez ao mesmo tempo, “míope” em relação ao que a Sigma Art faz nos 50mm.
Não precisamos fechar muito além de f/2 para melhorar a performance. Aqui o blooming desaparece e zonas de contraste fortes ficam perfeitamente marcadas no quadro. É excelente para composições de elementos gráficos ou isolar o sujeito com as cores do fundo. Estes arquivos impressos em tamanhos gigantes dão belos pôsteres, e aquele “look” profissional impossível de reproduzir em câmeras compactas. É o motivo de ter uma 50mm f/1.4, que data desde a década de 60: profundidade de campo curta, sujeito isolado, fundo desfocado, e aquele look característico.
F/5.6 pra cima e já chegamos no limite da difração da D800E, e só recomendaria em fotos amplas que exijam grande profundidade de campo. Conseguimos ver todos os detalhes que estes sensores modernos conseguem reproduzir, e as vantagens vão desde arquivos passíveis de crop sem perder qualidade de impressão, ou efeitos de imersão dependendo do monitor que são visualizados. É tanta informação que nem parece ter vindo de uma objetiva tão leve. É ideal para panorâmicas de cidade e natureza, que podem ser impressos em formato gigante sem perda de qualidade.
Outros probleminhas ópticos como distorção geométrica acentuada, CA lateral e axial, e vinheta não estão em peso nas imagens, e só acontecem se você usar a objetiva da maneira errada. Aberrações cromáticas acontecem com o diafragma totalmente aberto durante o dia. A distorção das linhas é notável só em elementos geométricos no foco mínimo. E a vinheta, que eu gosto, só aparece com pouca luz. Enfim, me recuso a considerá-los “defeitos” porque todos juntos dão a tal “personalidade” que eu prezo no modelo. As fotos são marcantes, e não ruins, por causa deles.
As vantagens da abertura grande não estão só na luminosidade 4x maior que uma zoom f/2.8, ou 10x maior que uma zoom f/4.5 de kit. A profundidade de campo é curtíssima dependendo das distâncias trabalhadas e um dos principais atrativos destas lentes f/1.4 + DSLR de sensor grande. No dia a dia encontrei um desfoque excelente no segundo plano e que isola perfeitamente o sujeito no centro do quadro. Já as cores recebem destaque para os vermelhos fortíssimos e amarelos saturados, que são diferentes do equilíbrio azul/verde da Canon. Por isto algumas imagens “sangram” dependendo da impressão, e o resultado é fantástico para fotos de templos asiáticos.
Enfim uma objetiva prime topo de linha da Nikon que não pede um preço absurdo por toda esta personalidade nas imagens. A construção é bacana e gostosa de usar, apesar de não ser perfeita no anel de foco manual precário. E ela não faz arquivos tecnicamente perfeitos, está longe disto. Mas fotografia é uma experiência criativa com composição, sujeitos interessantes e o prazer de operar a ferramenta; e não só “desempenho óptico”. E é esta experiência fenomenal que a Nikon entrega com a AF-S 50mm f/1.4G. Será destaque em qualquer kit, full frame ou APS-C. Boas fotos!