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Dezembro/2014 – A EF 50mm f/1.8 II é com certeza a prime mais popular da linha Canon. Por US$125, você leva uma verdadeira objetiva fixa de grande abertura com seis elementos em cinco grupos, que gera arquivos muito mais nítidos que as zoom de kit, e talvez com resolução maior que outras objetivas topo de linha quando fechada em f/8. Para isso a Canon abriu mão de qualquer fabricação sofisticada e temos um dos produtos mais simples do mercado. Toda de plástico, totalmente fantástica. É o melhor negócio da Canon para as câmeras EOS. Boa leitura! (english)
Em 130g a 50mm f/1.8 II é das lentes mais leves da linha EF Canon ao lado da 40mm f/2.8 STM, com design pancake. São na “cinquentinha” apenas seis elementos ópticos em cinco grupos, obviamente todos de vidro, num projeto Gauss virtualmente idêntico a todas outras 50mm populares do mercado (pelo menos nas principais fabricantes). Este é um clássico exemplo que o standard (nem grande angular nem telephoto) é tão fácil de fabricar com qualidade que bastou a Canon economizar nos materiais dos tubos, no mount e no motor AF para o preço cair tanto. Não sei se eles tem nas mãos um “feat of engineering”, com tanta simplicidade, ou um projeto tosco!
Tubos que são feitos totalmente de plástico e não da classe “engineering plastic” que eles usam nas novas primes e zoom L do topo da gama. Na 50mm f/1.8 II ele é um material pobre, liso, duro, que faz barulho e pouco lembra um objeto pensado para uma resposta tátil de alta qualidade, mas sim um objeto simplificado, “cru”, com o mínimo de durabilidade. São vários painéis para construir um projeto tão simples, a ver pelas “farpas” que sobram na junção de todos eles. De qualquer maneira ela faz o trabalho e pelo menos a minha cópia nos últimos quatro anos não deu qualquer sinal de defeito, tanto de ficar na mochila quanto de montar em diversas câmeras.
A operação é extremamente simples com uma “espécie” de anel de foco manual na frente e a alavanca AF/MF do lado esquerdo; igual as outras EF. Como ela tem um motor de foco automático do tipo “micro motor”, você obrigatoriamente tem de engatar o anel no motor para operação AF (e ele gira com o movimento interno) ou desengatar o conjunto para o modo manual. Ou seja, é um passo a mais que tira a “praticidade” do equipamento, e que deve ser lembrado antes de operar o MF. Se você girar o anel com o motor ligado, corre o risco de forçar todo o conjunto.
Eu disse “espécie” no parágrafo acima porque este anel é super fino e sem borracha para melhorar a pegada com as mãos. Também não há qualquer escala de distância para prever os ajustes e tudo fica no olhômetro através da câmera. Nem toda lente nova e simples tem escala de distância de foco hoje em dia, mas como o anel é preso no motor e “trava” no mínimo e no infinito, não custava nada pra Canon imprimir as distâncias no corpo da lente. Pelo menos o AF é preciso e não tive problemas de foco com a minha cópia na EOS 5D Mark II. Na distância mínima de foco (45cm) o tubo interno se movimenta quase 1cm para fora do corpo. Lembre de fechá-lo na hora de guardar.
Na frente os filtros de ø52mm giram durante a focagem, o que impede o uso de polarizadores e outros vidros especiais. E nesta mesma rosca vai o hood; não há baioneta só para ele. Não que ele seja necessário, já que o elemento frontal é bem fundo no tubo interno e a própria construção serve como “hood”. Evidente que a 50mm f/1.8 II não tem qualquer nível de proteção a respingos e poeira, então tome cuidado em situações extremas. Ou não. Sempre que vejo algumas sessões bizarras de fotografia, quando o equipamento vai entrar em perigo, por exemplo perto do fogo, não é raro vermos este modelo empregado pra tomar porrada.
Com 6 elementos em cinco grupos, 130g e apenas US$125 no preço, pouco é de se esperar dos resultados ópticos de uma objetiva full frame tão simples. Mas como em qualquer ferramenta criativa, raramente o preço tem de fato alguma ligação com os resultados que podemos conseguir. É o caso clássico de uma prime padrão de grande abertura: a resolução é impecável quando fechada dois ou três stops a partir da máxima; o centro sempre é melhor que as bordas; mas o bokeh da f/1.8 não é dos melhores, já que o projeto é pobre. Porém francamente ela entrega trabalhos excelentes! Se aquele look com baixa profundidade de campo + vinheta acentuada fizer parte do seu portfolio, ou a resolução for importante para impressões gigantes, esta é a objetiva mais barata para chegar nestes resultados. Com a 5D Mark II, e 60D quando marcadas com um (*)
Em f/1.8 só o miolo do quadro realmente é nítido num círculo de cerca de 20% da área total do full frame. Fora dele e os detalhes são apagados pela incapacidade da lente em focar a luz no plano focal, perdendo informações de grades, folhas, placas, num look que até funciona para algumas situações, como retratos em abertura máxima escondendo os defeitos da pele do sujeito. Mas nada de usar a cinquentinha como “pau pra toda obra”; se muitos elementos fizerem parte da foto, só os centrais ficarão mesmo em foco, pedindo atenção na hora de compor o quadro.
Fechando para f/2.8, f/4, f/5.6 até f/8, a resolução aumenta gradualmente do centro para as bordas e só nesta abertura otimizada que os resultados impressionam no quadro todo. São arquivos que rivalizam qualquer objetiva de preço maior, prime ou zoom, e pelo menos na Canon as imagens não ficam muito melhores que isto. Daí o argumento sobre utilizá-la bem. Se você pretende fotografar itens que exijam resolução, basta fechar a abertura e se virar com o obturador e o ISO.
Destaque também vai para a capacidade da 50mm f/1.8 II em controlar o CA lateral nos cantos do quadro, que são muito menores que qualquer outra 50mm da Canon; vantagem da abertura máxima relativamente menor. Virtualmente não há necessidade de correção via software antes de impressões gigantes de prédios, janelas e letras. Por outro lado, com uma correção tão boa sobre o CA lateral, inevitável sobrar o CA lateral secundário, também conhecido como “purple fringing”, em zonas de muito contraste, com bolhas roxas em pontos de luz muito fortes.
O mesmo pode ser dito do CA axial, que aparece em peso no segundo plano com contornos verdes horríveis no desfoque. Alias, o bokeh da f/1.8 II é o pior da Canon com linhas que nunca se fundem de fato, repetições de padrão em texturas orgânicas (como areia ou mato), e o formato pentagonal de pontos de luz, já que o diafragma é simples com apenas cinco lâminas. Este é o meu principal argumento para subir na 50mm f/1.4 USM. O modelo intermediário consegue lidar melhor com o segundo plano e as fotos ficam mais agradáveis de ver. Porém é um detalhe pequeno.
Outro defeito típico é o astigmatismo nas bordas do quadro. É quando a lente não consegue projetar pontos de luz como pontos de verdade, e os formatos unem a distorção geométrica dos elementos da lente um na frente dos outros. Então você perde completamente a nitidez de detalhes iluminados no perímetro do quadro, especialmente em fotos noturnas. Painéis distantes viram linhas bizarras de luz que nunca realmente ficam nítidas mesmo em f/8. Esta é uma característica óptica que poucas objetivas corrigem, principalmente os modelos “Noct” da Leica e atualmente a AF-S 58mm f/1.4G Nikon. Nenhuma Canon EF 50mm corrige.
Já as cores da cinquentinha Canon são bem equilibradas com o restante da linha prime e saem relativamente saturadas da câmera, sem perda de contraste como algumas zoom cheias de elementos com vidros ruins. Dá para usá-la tranquilamente com sujeitos coloridos e a correção será leve em tons e saturação no Adobe Camera Raw ou no Lightroom.
Revendo estas fotos depois de quatro anos, eu tinha esquecido como a EF 50mm f/1.8 II era especial. Sério, a resolução impressiona em f/8 e os controles de aberrações também. Nas mãos ela é um pouco tosca de usar, os controles são simples e o foco é barulhento. Mas o peso e facilidade de uso são pontos positivos em qualquer equipamento, e disso a cinquentinha tem de sobra. Com o preço de US$125 numa objetiva full frame, fica difícil arrumar qualquer motivo para reclamar do desempenho. É umas das melhores objetivas da Canon. Boas fotos!