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Junho/2015 – A Sigma 17-70mm f/2.8-4 DC Macro OS HSM é uma das objetivas zoom mais interessantes que já montei na EOS M. Com uma distância híbrida entre os 18-55mm e os upgrades mais próximos do grande angular (17mm) e o telephoto (70mm), ela também vai “mais longe” em termos de abertura: dos tradicionais f/3.5-5.6 para desejáveis f/2.8-4, efetivamente dobrando a quantidade de luz que entra na câmera. Com estabilizador e função macro, é tudo o que pensamos na hora de fazer um upgrade, num pacote acessível. Vale pro kit? Vamos descobrir. (english)
Parte da linha Global Vision, o design da 17-70mm Contemporary lembra uma versão low cost da linha Art. O projeto é elegante: foram embora os enfeites dourados, o acabamento áspero que descascava, e ficou o design preto e branco, com o emblema “C” do lado. Mas nada de metal na base como nas objetivas maiores. É tudo emborrachado, opaco, um prazer nas mãos. Mas pedindo pra ser riscado de tão liso, então tomem cuidado. O destaque é o tamanho: em 79x82mm fechada, ela não é nem muito maior nem muito mais pesada (462g) que as 18-55mm f/3.5-5.6 que Canon e Nikon oferecem por aí. É de fato uma peça para ficar o dia todo com você.
O anel de zoom está na mesma classe da gigante 24-105mm f/4 DG OS HSM. Enquanto aquela lente foi comparada com a Canon EF 24-105mm f/4L IS USM, a Sigma 17-70mm pode ser comparada a EF-S 17-55mm f/2.8 IS USM. E as melhorias são virtualmente as mesmas. O anel de zoom tem uma borracha mais “profunda”, que “segura” melhor nos dedos. O movimento é bem equilibrado e não fica mais rápido de uma distância a outra. O tubo telescópico de dois estágios expande até os 70mm, e notei que ele fica um pouco mais leve/pesado de acordo com a orientação da câmera; pegue ajuda com a gravidade apontando a câmera pra cima e pra baixo. Mas nada balança e a construção é excelente, sem dúvidas superior as Canon intermediárias da linha EF-S.
Na frente o anel de foco manual tem uma operação curiosa. Do lado de dentro o motor é HSM, o mesmo de todas outras Sigmas Global Vision. Como ele é silencioso e suave, parece um fantasma movendo o anel durante a operação AF. Tomem cuidado para manter os dedos longe do anel e não forçar o motor. Nos testes com a EOS M, que praticamente não tem grip, eu senti falta deste espaço “livre” para segurar o conjunto. E infelizmente ele não suporta o full time manual, e precisamos usar a chave AF/MF na hora de focar manualmente. O anel ainda tem os hard stops no infinito e no foco mínimo, além de uma escala de distância impressa no tubo da objetiva.
Outra escala curiosa está impressa no tubo telescópico do zoom, e vale explicar o tal “Macro” que a Sigma colocou na caixa. Como a objetiva “cresce” para ir dos 17mm aos 70mm, ela praticamente tem um “sistema bellow” embutido; aquela “sanfona” que abre e fecha algumas objetivas para macrofotografia. Então os fabricantes aproveitam para colocar o grupo de foco na frente numa “zoom macro”, como a Canon EF 24-70mm f/4L IS USM. O princípio é fácil de entender: distancie a lente da câmera, a projeção aumenta no plano de imagem. Mas com vários poréns: nesta Sigma o “macro” vai só até 0.36x, bem longe do 1:1 de verdade; a proporção é só no telephoto, com a lente em 70mm; e a distância mínima de foco é de apenas 22cm em relação ao plano de imagem.
Considerando a dimensão da objetiva e as distâncias de trabalho, sobra apenas 4cm entre o sujeito e elemento frontal na proporção máxima. É pouco prático para iluminá-lo e posicionar a câmera direito. Nas mãos, com o balanço do corpo, o foco muda de posição por mais parado que você tente ficar. E se fosse pra usar no tripé usar um trilho de macro fotografia mesmo, é melhor optar por uma objetiva fixa macro real, não é verdade? Em outras palavras, esta zoom vai focar bem perto do seu sujeito quando precisar. Mas “macro” de fato ela não é, bem longe da proporção 1:1.
Por outro lado o estabilizador OS está taxado em 4 stops e um recurso que as primeiras 18-55mm não tinham. Ele é ótimo para compensar o obturador em pouca luz, ou na hora de gravar vídeos sem a tremedeira das mãos. Na frente os filtros são gigantes de ø72mm, e o lens hood incluído na caixa prende num trilho a parte, fácil de montar. E atrás o mount de metal completa a construção robusta. Acho que eu nunca falei de tantos recursos num artigo só, mas esta é a ideia da linha “Contemporary”: “as últimas tecnologias combinadas em performance e tamanho compacto, para uma extensa gama de aplicações”. Palavras do fabricante. Promessa cumprida.
Com uma fórmula ousada de 16 elementos em 14 grupos, dignas de uma zoom topo de linha, e com três elementos de alta performance, dois FLD sintéticos que a Sigma diz ter as mesmas propriedades do Fluorite natural; e um SLD “super low dispersion”, novamente a fabricante eleva os patamares de qualidade de imagem bruta em resolução, controle de aberrações e nitidez. Mas o probleminha típico das zoom está lá, com CA lateral em peso nas bordas, fácil de corrigir via software. No geral o quadro é extremamente “limpo”, refletindo de fato os elementos especiais na fórmula, para resultados que rivalizam as primes no dia a dia.* Todas as fotos com a EOS M.
Começando pelo tal do “macro” em 70mm f/4, no dia a dia os resultados não são tão ruins. Se o seu sujeito for plano, como detalhes de tecido, folhas e alguns produtos, o centro do quadro é nítido e funciona. Mas como raramente os sujeitos mais interessantes não são tridimensionais, é só começar a sair um pouco do foco que as aberrações acontecem. Não é um desfoque nem um bokeh, mas de fato um “vazamento” de luz em pontos de contraste que faz o sujeito “brilhar”. E os contornos do quadro, em zonas contraste, ganham um halo azul, já que o projeto está no limite.
Em f/5.6, em posições variadas do zoom nas ruas, e com sujeitos interessantes, aí a Sigma 17-70mm Contemporary “brilha”, mas no bom sentido. São arquivos extremamente nítidos nos 18MP da EOS M que parecem ter saído de outro formato; coisa que eu já tenho falado destas novas zoom “low cost” com performance topo de linha. É de looonge um upgrade as 18-55mm básicas, e nem na 17-55mm f/2.8 da Canon eu vi esta performance no f/5.6; realmente a Sigma está superando todo mundo na qualidade de imagem. Às vezes eu questiono o meu kit extenso com tantas câmeras quando a EOS M mais barata, menor e fácil de usar, entrega tudo o que eu preciso.
Defeitos ópticos tradicionais estão lá como o CA lateral em pontos de contraste. Aparece em grades contra a luz, folhas das árvores contra o céu claro, tudo o que a gente conhece. Mas o principal: a correção é virtualmente perfeita a apenas um click na maioria dos softwares. Então os fabricantes estão melhorando outras coisas mais complicadas na fórmula, como o astigmatismo ou o CA axial, e deixando o lateral de fora. E ele só acontece porque a lente está focando perfeitamente a luz, para mostrar altíssima resolução, exceto um espectro antes do ultra-violeta.
Como os 70mm são longos e esta lente foca de perto, inevitável o “efeito bokeh” da baixa profundidade de campo fazer parte das opções de foto. E até aqui a Sigma fez direito. Ele é suave, colorido, e isola facilmente o sujeito. É outra mão na roda para fazer “retratos com o fundo desfocado” sem uma prime de grande abertura. E diz a lenda (quer dizer, os sites que fotografam testes de resolução) que os 70mm são melhores que os 17mm neste modelo. E é até verdade: a quantidade de detalhes é absurda, com todos os pêlos em animais, penas, folhas, galhos etc.
O que me leva a pergunta: por que diabos existem as classes Art, Sports e Contemporary? Se for por causa de range e abertura constante, que eles deixem mais claro. Como a primeira “contemporary” que usei, estava esperando menos que uma “art”, ainda mais considerando o preço. Só que não! Os resultados da 17-70mm são melhores que a 24-105mm f/4 OS DG HSM e 18-35mm f/1.8 DC, ambas “art”. Evidente, as especificações são mais “ousadas” nas outras lentes, e por isso ela sofrem com mais aberrações (CA lateral forte e bokeh pobre na zoom f/1.8). Mas tem muita gente sonhando com uma objetiva de US$1000 quando esta de US$399 faz mais e melhor. Ela é outra pérola no mercado e recomendadíssima. Se tivesse de ter apenas uma objetiva APS-C, abram alas: seria a Sigma 17-70mm f/2.8-4 DC Macro OS HSM. Boas fotos!