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Agosto/2015 – A Sigma 30mm f/1.4 DC HSM é uma prime de grande abertura com distância focal standard no formato APS-C. Parte do segmento “Art” da linha Global Vision, ela promete alta performance óptica em resolução, cores e bokeh a par da nova geração de sensores e fotógrafos que esperam a melhor relação custo/benefício. Na sombra das irmãs maiores 35mm e 50mm f/1.4 DG, que são revolucionárias no desempenho do full frame, a Art DC carrega nas costas o peso de entregar a mesma qualidade no crop. Mas ela consegue? Vamos descobrir. (english)
Em 74x63mm de 435g a primeira coisa que chama a atenção na 30mm Art é o tamanho. Maior que qualquer outra prime do APS-C que já vimos por aqui, ela parece mais pensada para câmeras high end de magnésio (7D, D7100) do que as entry level de plástico (T#i, D5/3#00). A Nikon AF-S DX 35mm f/1.8G, por exemplo, está em 70x52mm e 200g, praticamente metade do volume. E no full frame a própria Global Vision 35mm f/1.4 DG HSM está em 77x94mm e 665g, 50% maior. Ou seja, a DC é pequena mas não chega a ser compacta. É grande por causa da abertura f/1.4.
Nas mãos ela parece um “tanquinho” de metal e plástico, como uma baby Art. Tem o mesmo design, acabamento e ergonomia das irmãs maiores. Começamos com um mount de cobre cromado, liso e rápido de montar. Seguimos a uma peça de metal brilhante, com resposta fria para segurar perto da câmera. E continuamos no corpo emborrachado das Global Vision, com grooves que aumentam o grip. Na frente o anel de foco manual é generoso para o tamanho da objetiva. E até o emblema “A” (“Art”) está lá para validar o projeto genuinamente high end.
Dentro o TCS, thermally stable composite, dá a base para a construção firme como metal mas sem o peso. Nada balança fora do lugar e o tubo é sólido, numa peça única com foco automático interno, traseiro, sem espaço para entrar água e poeira na frente. É realmente uma lente a parte no mercado APS-C porque custa US$499 e entrega a mesma construção das tops full frame. A Sigma mandou muito bem na concepção da Global Vision e estas objetivas são o destaque de operação e construção em qualquer kit. É praticamente uma série L por uma fração do preço!
A usabilidade é simples com anel de foco manual emborrachado, sem lag e relativamente pesado na minha cópia nova. É duro mas suave, e anos luz a frente de qualquer Canon intermediária. A borracha do lado de fora é alta, mais grudenta que as fininhas das EF, e melhor até que algumas objetivas L. A chave do lado esquerdo controla o motor AF e suporta o full time manual: mesmo em AF você pode usar o anel para compensar o ajuste e acelera o trabalho sem mexer no botão.
O motor AF é o mesmo das outras Sigmas Global com “hypersonic motor” no silêncio e a infeliz baixa confiabilidade com pouco contraste. Em boas condições de luz é realmente rápido: nos testes com a EOS M focou praticamente na mesma velocidade que a EF 35mm f/1.4L USM, que é um destaque com esta câmera. Apertou? Focou! É o suficiente para o dia a dia.
A performance em pouca luz é justa embora não seja perfeita. Numa única foto durante os testes dentro do prédio da Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, a EOS M se recusou a focar numa cena com baixo contraste. As paredes brancas, iluminadas apenas pela “luz no fim do túnel”, não foram suficientes para a EOS M com Hybrid CMOS AF focar. Mas depois nos testes em estúdio, quando tentei reproduzir o problema, não aconteceu. Fica apenas de ressalva sobre o AF.
A janela de distância é clara apesar dos números pequenos. Na frente os filtros de ø62mm são infelizes porque nenhuma objetiva recente usa este tamanho. O elemento frontal certamente permitiria filtros menores mas não rolou. O lens hood vai num trilho a parte e é fácil de montar, apesar de grande na rua. E o elemento traseiro dá as caras de uma prime f/1.4: é enorme, cuidado para não tocá-lo. No geral os US$499 surpreendem pela qualidade que só a Sigma tem feito por um preço justo. E recomendo como uma peça “especial” no kit, que inspira fotos melhores.
Com apenas 9 elementos em 8 grupos, 1 asférico e nada de vidros especiais, a fórmula da Sigma 30mm f/1.4 DC HSM explica o baixo custo de US$499 e os resultados fotográficos low end. Enquanto a premiada irmã maior 35mm f/1.4 DG HSM vem com 13 elementos em 11 grupos, 2 asféricos, 1 FLD (com a mesma performance do fluorite) e 4 (!) SLD (special low dispersion), fica claro porque a DG gerou o burburinho no mercado óptico que a versão DC não fez.
Em f/1.4 a 30mm DC peca em contraste e controle de aberrações que só serão resolvidos no segundo ou terceiro stops do diafragma fechado. As fotos na abertura máxima tem a aparência de um sonho com vazamentos de luz e aberrações cromáticas em peso, evidenciando os problemas do astigmatismo. A resolução está lá, o que indica um projeto moderno. Mas a quantidade de aberrações não se compara as topo de linha com mais elementos, e isso aparece nas fotos.
Sinceramente eu esperava mais em termos de nitidez. Nós fomos mimados com as 35mm e 50mm “Art” que são perfeitas em f/1.4, e qualquer coisa pior é inaceitável. Mas fisicamente é impossível. Os elementos diminutos da 30mm DC não tem espaço para focar a luz e peças especiais (asféricas), ou compostos avançados seriam caros demais. Ou seriam a 35mm f/1.4 DG de US$899! Concluo que o emblema “Art” seja apenas sobre a construção e especificação, como eram as antigas EX.
As aberrações cromáticas primárias são caóticas em áreas de contraste e os arquivos simplesmente não funcionam dependendo do sujeito. Por exemplo retratos com acessórios são destruídos por bolhas roxas que não tem salvação nem via software. É diferente da aberração cromática lateral secundária, que aliás acontece pouco ao redor do quadro e é fácil de corrigir. A primária é grosseira, envolve vários pixels em degrade e consome os detalhes.
De f/2.8 pra cima o problema é resolvido e já estamos no pico da resolução no quadro inteiro. É o mínimo para se trabalhar com paisagens, produtos e arquitetura para arquivos que serão impressos. É o motivo para colocá-la no kit no lugar de uma zoom: a fidelidade nos detalhes de fato é maior que as equivalentes variáveis mesmo nas aberturas otimizadas.
Se a resolução em f/1.4 não funciona no papel, o bokeh que é visível em qualquer saída justificará a compra da prime. E ele faz um bom trabalho em separar o sujeito do fundo apesar de não isolá-lo completamente. Dá pra emular no APS-C o mesmo look do standard 50mm no 135 full frame em retratos de meio corpo, se o fundo complementar a composição. O desfoque é agradável.
E por fim a distorção geométrica é visível porém discreta em temas arquitetônicos. Não devemos esquecer que estamos falando do grande angular em 30mm, apesar da equivalência standard no APS-C. Então você vê uma bolha nos dois eixos e nos limites da composição, não importa a orientação da câmera. É fácil de corrigir via software e não vale como argumento contra.
No geral não há nada de errado com a 30mm f/1.4 DC Art HSM. A construção é impecável, a operação é bacana como não poderia deixar de ser por US$499, e o AF é justo, embora tive problemas numa única foto. Funciona e mecanicamente será um destaque no kit. Mas a performance óptica deixa a desejar não por ser ruim, mas porque a 35mm DG Art está “logo ali” por US$300 a mais. Então eu me reservo a não recomendar a 30DC “Art” considerando essa alternativa. A 30DC é cara para o que faz. Compre a DG que é muito mais negócio. Boas fotos!