Nikon AF-S Nikkor 35mm f/1.8G DX

A Nikkor 35mm prime acessível para o formato APS-C


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 226MB).

Tempo estimado de leitura: 07 minutos.

Outubro/2014 – A AF-S 35mm f/1.8G DX é uma prime de grande abertura que atende os sensores APS-C “DX” da Nikon. Enquanto outras objetivas de mesma especificação cobrem até o full frame, como a nova 35mm f/1.8G FX, com mais vidros, maior peso e preço, esta DX é leve e acessível. Muitos confundem “ah, como ela é “DX”, ela é “equivalente” a uma 50mm no crop”, mas isto não é verdade. Ela é genuinamente uma 35mm e tem o mesmo ângulo de visão de uma FX; somente cobre um círculo menor. Ou seja, na sua câmera DX é melhor usar uma DX para não desperdiçar dinheiro, já que as bordas de uma FX não serão usadas. Aqui testada, na Nikon D800E que tem um modo DX de 15MP, e ainda fiz umas fotos em modo FX para ver se funciona. (english)

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Nikon AF-S Nikkor 35mm f/1.8G DX

Com 200g de 8 elementos em 6 grupos, a AF-S 35mm f/1.8G DX é uma das objetivas mais leves que já vimos por aqui. Ela não chega a ser uma pancake e nem opera de maneira estranha, “sumindo” no corpo. Mas também não pesa e vale a pena para carregar por aí, praticando a composição na distância única dos 35mm. São 44º de visão (comparável aos 55mm no full frame) ideais para fotografia do dia a dia: rua, retratos, espaços amplos, grupos de amigo, detalhes. Ela não exige muita distância de trabalho nem distorce o sujeito como o grande angular.

Nikon Nikkor AF-S 35mm f/1.8G DX

O projeto é feito de plástico com construção virtualmente idêntica a outras “G” da Nikon. O foco é interno, traseiro, e colabora para a sensação de robustez apesar dos materiais simples. Nada balança do lado de fora ou parece que vai quebrar. Até o mount é de metal e com uma borracha para proteção de poeira/água no interior da câmera. Mas a Nikon não declara de fato um weather sealing; não que existam grandes espaços para alguma coisa entrar.

Nikon Nikkor AF-S 35mm f/1.8G DX

Já o foco usa o mesmo sistema SWM de outras objetivas e tem o full time manual. Em M/A você pode usar o anel manual para compensar qualquer problema do foco automático, que é geralmente preciso nesta lente. Só não espere uma ultra velocidade como as Canon ou tops da Nikon. A velocidade é adequada para fotografia de rua e depende também da operação do fotógrafo, dentro dos limites do sistema automático. Mas não tive problemas durante os testes, tudo funcionou bem. Não há janela de distância na lente, típico de projetos de entrada.

Nikon Nikkor AF-S 35mm f/1.8G DX

“Bike” com a D800E em f/1.8 1/6400 ISO100; a ciclista vinha na minha direção em alta velocidade…

Crop 100%, note a direita que a segunda foto, mais próxima, está fora de foco.

Crop 100%, note a direita que a segunda foto, mais próxima, está fora de foco.

Enfim os filtros na frente são de ø52mm apesar do elemento frontal ser muito menor. Eles não giram e são compartilhados com outras lentes da mesma classe, como por exemplo a clássica dos kits zoom AF-S 18-55mm f/3.5-5.6G VR II. Você pode usar filtros ND e aproveitar a profundidade de campo curta em f/1.8 sob qualquer situação de luz, graduados durante o dia, ou polarizadores contra os reflexos. Tudo é simples mas não passa a impressão de “tosco” como a Canon EF 50mm f/1.8 II “plastic fantastic”. A Nikon tem uma linha muito mais nova, com mais opções para o crop.

OBJETIVAS DX NOS CORPOS FX

Nikon D800E AF-S 35mm f/1.8G DX

Antes de falar sobre a qualidade de imagem da AF-S 35mm f/1.8G DX, quero explicar novamente como funciona o mount Nikon F, lentes DX e corpos FX ou DX. A Nikon não impede a montagem de lentes DX, próprias para sensores APS-C, nos corpos full frame, com área maior de detecção. Para isto há um modo “DX” nas câmeras “FX”, que usa somente o centro do sensor; portanto o círculo de projeção das DX. Na D800E, a única digital Nikon do vlog do zack, sobram 15MP para os arquivos em modo DX, que é mais que o suficiente para testar o desempenho das objetivas.

Nikon D800E

Modo 24x16mm da D800; mesma área de um sensor APS-C “DX” e ainda sobram 15MP de resolução, suficientes para as análises.

Mas de qualquer maneira fiz umas exposições em modo FX, full frame, com a objetiva DX, APS-C, para vocês verem o resultado. As bordas do quadro sofrem com uma vinheta acentuadíssima e a resolução cai bastante no perímetro do quadro; longe do ideal para impressões grandes. Por outro lado, dependendo da situação, como no escuro, é possível sim empregar uma “DX” como “grande angular acessível no FX”, se a borda não for importante para você. Resumindo: as fotos a seguir são em formato FX com uma lente DX, para exemplificar. E na próxima parte, sob “qualidade de imagem”, todas as capturas são em modo DX de 15MP, com a Nikon D800E.

“Milano” com a D800E em modo FX em f/5.6 1/400 ISO100; lentes DX mostram vinheta acentuada em modo “FX”.

“Milano” com a D800E em modo FX em f/5.6 1/400 ISO100; lentes DX mostram vinheta acentuada em modo “FX”.

Crop 100%, centro é impecável no quesito resolução…

Crop 100%, centro é impecável no quesito resolução…

Crop 100%, mas bordas simplesmente não foram feitas para o full frame.

Crop 100%, mas bordas simplesmente não foram feitas para o full frame.

QUALIDADE DE IMAGEM

Um projeto de apenas US$199 com oito elementos em seis grupos não faz grandes promessas no departamento “desempenho óptico”. Sim, por ser “prime” ela com certeza tem resolução maior que as zoom variáveis; sim, com um elemento asférico ela até consegue níveis bacanas nas bordas. Mas simplesmente faltam elementos a mais para corrigir aberrações cromáticas, laterais e axiais, que só projetos com dez ou mais elementos conseguem reproduzir com qualidade neste tipo de abertura. O bokeh também não é lá essas coisas. Todas as fotos com a Nikon D800E em modo DX.

“Ornamento” em f/5.6 1/800 ISO200.

“Ornamento” em f/5.6 1/800 ISO200.

Não que os resultados fotográficos sejam ruins; longe disto. No centro do quadro a resolução é excelente mesmo em f/1.8 e vale para retratos, produtos, detalhes, o que estiver no plano focal que é curto dependendo da distância de trabalho (alguns milímetros a 1 metro do sujeito). Mas o CA axial é óbvio no desfoque, que fica verde no segundo plano; roxo no primeiro; e aquelas bolhas roxas no contraste em pontos de luz, típicas de vidros comuns (não ED). Além disto a falta do nano coating colabora para impressão de contraste fraco em abertura máxima, que só melhora no f/8.

“3D” em f/1.8 1/80 ISO100.

“3D” em f/1.8 1/80 ISO100.

Crop 100%, um pouco de blooming em abertura máxima.

Crop 100%, um pouco de blooming em abertura máxima.

“Abarth” em f/1.8 1/40 ISO640.

“Abarth” em f/1.8 1/40 ISO640.

Crop 100%, bolhas roxas em áreas de highlight.

Crop 100%, bolhas roxas em áreas de highlight.

Em valores conservadores as bordas do quadro começam a melhorar um pouco e o centro fica super nítido em sensores sem filtro anti aliasing, como D800E ou D7100. É possível ver detalhes em fotografias de rua, roupas, arquitetura, pele, excelente para para os sensores APS-C de alta resolução que hoje estão na casa dos 24MP. Mas isto não influencia no contraste, CA e cores sem graça. Esta objetiva é para o dia-a-dia e os arquivos não escondem isto: exigem ajustes pesados via software para “saltarem” na tela e pós-processamento pesado antes da impressão.

“Domo” em f/2.8 1/60 ISO1600.

“Domo” em f/2.8 1/60 ISO1600.

Crop 100%, resolução começa a aumentar em f/2.8 e os detalhes aparecem.

Crop 100%, resolução começa a aumentar em f/2.8 e os detalhes aparecem.

“Pisa” em f/5.6 1/1600 ISO100; vinheta inexistente em f/5.6.

“Pisa” em f/5.6 1/1600 ISO100; vinheta inexistente em f/5.6.

Crop 100%, resolução impressiona, típica das primes.

Crop 100%, resolução impressiona, típica das primes.

O desfoque não é dos melhores com contornos mais fortes em áreas iluminadas que lembram “tubos” de luz. A qualidade é típica: funciona com distâncias curtas tipo 50cm de foco, quando ele fica suave e cremoso apesar das aberrações. Mas um pouco mais longe e fica ruim: as linhas ficam repetitivas, como se a imagem estivesse sendo repetida várias vezes uma em cima da outra. É visível em linhas de prédios ou folhas de árvores. Outras objetivas otimizadas para o desfoque, com mais elementos (geralmente os projetos f/1.4), conseguem difundir melhor o segundo plano.

“-“ em f/1.8 1/2000 ISO100.

“-“ em f/1.8 1/2000 ISO100.

Crop 100%, os tais “tubos de luz” em áreas de highlight do bokeh.

Crop 100%, os tais “tubos de luz” em áreas de highlight do bokeh.

“Flor” em f/1.8 1/1250 ISO100, note como o desfoque fica suave em distâncias próximas.

“Flor” em f/1.8 1/1250 ISO100, note como o desfoque fica suave em distâncias próximas.

Crop 100%, suavidade e blend de cores.

Crop 100%, suavidade e blend de cores.

“Velas” em f/1.8 1/13 ISO200.

“Velas” em f/1.8 1/13 ISO200.

Crop 100%, CA axial gera cores que não existiam lá.

Crop 100%, CA axial gera cores que não existiam lá.

Já cores e distorção geométrica também não ganharão nenhum prêmio apesar de não chegarem a ser ruins. As cores são neutras, beirando “mortas”, mas que podem ser “tunadas” via software, assim como o contraste. E a distorção geométrica é “aceitável” por ser uma grande angular de US$199. Você precisa de composições que dependam das linhas para isto ficar visível. Outros sujeitos, como rostos humanos e retratos de meio corpo, não mostram o problema.

“Igreja” em f/5.6 1/2000 ISO400; cores são um pouco mortas nesta lente.

“Igreja” em f/5.6 1/2000 ISO400; cores são um pouco mortas nesta lente.

Crop 100%, mas detalhes estão lá, de sobra.

Crop 100%, mas detalhes estão lá, de sobra.

“Firenze” em f/5.6 1/640 ISO100; outra foto com cores fracas.

“Firenze” em f/5.6 1/640 ISO100; outra foto com cores fracas.

Crop 100%, resolução impecável em ícones arquitetônicos.

Crop 100%, resolução impecável em ícones arquitetônicos.

“Venezia” em f/5.6 1/500 ISO200, cores sem graça. :-/

“Venezia” em f/5.6 1/500 ISO200, cores sem graça. :-/

Crop 100%, fotos dentro de fotos com tantos detalhes.

Crop 100%, fotos dentro de fotos com tantos detalhes.

VEREDICTO

Enfim uma objetiva de US$199. A verdade é esta, nua e crua. A construção funciona e equilibra bem em corpos pequenos, especialmente os DX com sensores APS-C. Mas não foi pensada para aturar trabalhos pesados como jornalismo ou ir pra mochila sem cuidados. E a qualidade de imagem é “justa”. É mais nítida que as zoom, sem dúvidas, mas com problemas cromáticos de todos os tipos, que podem ser corrigidos via software. As cores também são sem graça e exigem boost de saturação, ao lado de um contraste mais acentuado. É uma objetiva fixa de aprendizado, para você praticar o olhar com uma distância só. Os resultados vão depender do fotógrafo uma vez que essa objetiva não tem personalidade para sobressair sozinha. :-| Abraços e boas fotos!