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Dezembro/2015 – “Outro semestre, outro anúncio da Global Vision”… Essa foi a primeira metade de 2015 quando a Sigma apresentou a 24mm f/1.4 DG HSM na feira CP+, a terceira numa linhagem de objetivas fixas de grande abertura, a mais grande angular (na época) da série Art. Dessa vez eles mostraram uma objetiva com 84.1º de visão, ótima para paisagens e arquitetura no full frame, e útil para fotografia de rua no APS-C. Opticamente ela promete a melhor resolução da classe, e a mesma construção excelente das Art. A Sigma fez de novo? Vamos descobrir!(english)
Em 85 x 90.2mm, a Sigma não teve outro jeito mas copiar fisicamente a sua concorrente direta, a Canon EF 24mm f/1.4L II USM. Elas são tão iguais que fica impossível não compará-las lado a lado. A série L é um pouco mais curta em 86.9mm, e alguns milímetros mais fina em 83.5mm. Mas com as duas tampas no lugar ela ocuparão o mesmo espaço na mochila, e se não fosse pelo gigante parasol da Canon, elas pareceriam o mesmo na câmera também. Elas são grandes sem serem grandes demais, e eu gosto das minhas objetivas com certo peso. Então os 665g me agradam.
Quando você segura nas mãos, a primeira coisa que nota é a borracha alta no anel de foco manual. Ele meio que coça o dedo indicador e você perceber instantaneamente que ele está lá, mais fácil de usar sem tirar os olhos do viewfinder. Próximo da palma das mãos você sente a parte gelada do acabamento de metal, dizendo a dedo mindinho que você está para encostar na câmera. É o mesmo feedback tátil de outras objetivas Art e diferente da ergonomia da Canon.
Na frente o anel de foco manual é grande e mais alto que o resto do corpo, idêntico a todas outras Arts que já vimos até aqui. Ele é conectado mecanicamente ao grupo traseiro, interno de foco; e a minha cópia nova de 2015 ainda está “pesada” para girar. Não há atraso entre o movimento das mãos e a mudança de distância na escala da janela, ótimo para ajustes finos. É como a Canon L, mas a minha 24mm II USM de quatro anos está muito mais suave. Do lado de dentro o auto-foco HSM permite operação o tempo todo do anel manual, e você não precisa mudar o botão.
A performance do foco automático segue a tendência da Sigma Global Vision e infelizmente nunca é tão bom com a Canon. Enquanto eu não tive nenhum problema com a minha EOS 6D e o ponto central de foco sob baixo contraste, essa 24mm é simplesmente lenta demais. Isso responde qualquer dúvida sobre a compra: se a sua vida depende de foco automático, fique com a Canon! A EF 24mm L II USM tem uma longa distância de 180º do foco mínimo ao infinito, contra 90º de Sigma, e mesmo assim ela consegue percorrer a distância na metade do tempo.
Isso é decisivo para jornalistas, fotógrafos de esportes e ação, alguns retratos dinâmicos em movimento e fotografia de rua. E acontecendo pela terceira vez, já dá para concluir que a Sigma nunca irá competir com a Canon no mercado topo de linha, profissional de foco automático. A série Art tem entregado pérolas ópticas, algumas especificações nunca antes vistas como a zoom f/1.8 18-35mm DC e a recente ultra grande angular 20mm f/1.4 DG. Mas a verdade é essa: eles não são produtores oficiais do mount EF e não sabem desenvolver foco rápido como a Canon.
Na frente os filtros de ø77mm vão num trilho de plástico, enquanto a Canon L II é de metal. É um bom tamanho para compartilhar com outras objetivas e o filtro vai dentro do parasol, que adiciona as dimensões da 24mm. Esse modelo de parasol é muito mais discreto que o Canon EW-83K, e mais difícil de bater por aí. E atrás o mount de latão cromado não oferece o mesmo nível de proteção a respingos e poeira como a borracha da Canon L. É mais uma diferença entre as duas: se você fotografa em condições extremas, de novo, fique com a Canon.
A terceira numa linha de quatro excelentes primes (contando a nova 20mm) deixa claro porque a Sigma Art custa menos que a Canon L, mas não tão barata quanto as alternativas f/1.8. Ela é moderna, fácil de usar e robusta, definitivamente a melhor na classe por este preço. Em US$849 a 24mm simplesmente funciona e pode ser um bom kit para videomakers, estúdios e qualquer trabalho de precisão. Mas a Canon L de US$1549 não somente tem uma vantagem sobre as funções: ela está na frente em credibilidade e performance do foco automático. E isso é mais importante que aparência e preço para a maioria dos fotógrafos profissionais.
Com uma complexa fórmula de 15 elementos em 11 grupos, 3 FLD (a versão sintética da Sigma para o fluorite), 4 de baixa dispersão “especial” e um par de peças asféricas, essa Art 24mm f/1.4 DG HSM é o auge da performance no grande angular de grande abertura. Sim, eles fizeram de novo: esta série Art está anos na frente da Canon L e nós só podemos torcer por uma EF 24 f/1.4 “Mark III” para batê-la. A resolução é mais alta na abertura máxima, os arquivos são mais claros em geral, as aberrações são mais discretas e a vinheta é melhor controlada.
Em f/1.4 é simplesmente inacreditável o que a nova objetiva Art pode fazer. Eu sinceramente tive de verificar duas vezes se os arquivos estavam realmente na abertura máxima, porque eles simplesmente não parece “grande abertura”. A Canon EF 24mm f/1.4L II USM nunca foi nítida totalmente aberta mostrando reflexos internos e perda de contraste nos detalhes, exigindo a abertura fechada. Não era ruim: um pouco de suavidade funcionava para degrades suaves em pouca luz e retratos discretos com as imperfeições da pele. Mas a série Art está em outro nível: ela é super nítida em f/1.4 e o contraste é muito, muito alto mesmo na abertura máxima.
Eu até poderia dizer que as imagens se parecem tão clínicas quanto a Sony Zeiss 55mm f/1.8 Sonnar FE, uma objetiva que me deu problemas na Sony A7II. Esta lente deveria estar num laboratório com aa fotos nítidas demais, com contraste demais e nada de cores. Ela era um sonho para fotos P&B, mas péssima para cores. Esta Sigma não. Ela está na frente com tons tão saturados quanto as Canons L, que é algo difícil de conseguir.
Fechar a abertura resolve a vinheta nas bordas, um problema crônico na objetiva da Canon. A L II perde quase 5EV (!) nas bordas, mas esta Sigma mostra -3EV em f/1.4 e fica perfeita logo em f/2. A resolução quase não melhora e o ajuste deve ser usado meramente para controlar a exposição e a profundidade de campo. É essencialmente diferente de trabalhar com a Canon que se beneficia das correções nas aberturas maiores que f/2.8. A Sigma permite o uso totalmente aberta a gosto do fotógrafo, mais flexível. Fotos com ISO baixo depois que o sol se põe? Deixe em f/1.4 e seja feliz.
Aberrações cromáticas e o saggital coma flare ainda são visíveis mas bem mais discretos. Aberrações de eixo em zonas fora de foco são invisíveis em itens orgânicos, com menos contraste que peças industriais; estas mostram algumas aberrações mas, repito, é muito mais discreta que a Canon L. Aberrações laterais nos contornos de prédios e janelas, ou folhas contra o céu claro, também são bem corrigidas apesar de visíveis se você puxar demais a saturação das cores.
Distorções geométricas são quase invisíveis e outro benefício das primes grande angulares. A maioria das zoom “24-alguma_coisa” mostram aquela bolha nas distâncias grande angulares, mas tanto Canon quanto Sigma não mostram nada; com uma pequena vantagem para a DG também. Aqueles que fotografam arquitetura e produtos com linhas retas no quadro ficarão gratos que elas continuarão retas. Alguns softwares de correção mostram uma diferença grande, mas na prática a distorção é discreta. É particularmente útil para vídeos, mais difíceis de corrigir.
Enfim o bokeh é sempre excelente nas objetivas Art com uma renderização suave e colorida, bonita de ver no segundo plano. Vindo do review da Tamron SP 45mm f/1.8 Di VC USD que tinha formas estranhas no segundo plano, fica ainda mais evidente como a Sigma presta atenção nessa característica. A Canon tem alguns momentos de brilhantismo no bokeh, mas a Sigma acerta todas as vezes. É um look único ao formato 135 porque usuários do APS-C e 645 não tem nada parecido em especificação e look, pelo menos não nessa faixa de preço.
A série Art tem entregado perfomances incríveis no papel e na prática. É uma linha bem feita com fórmulas recentes, novas tecnologias ópticas e muito carinho na construção e design. Sério, desenvolver um set f/1.4 tão bom em apenas três anos não é tarefa fácil, e estamos apenas duas distâncias focais de um kit completo com 85mm e 135mm. O que mais poderíamos pedir? Uma 200mm f/2 por menos de US$3000? (Sim, Sigma, por favor!)
Mas a verdade é que a Sigma não compete no mercado de foco automático profissional e este é um grande porém na hora da compra. É difícil mostrar a performance do foco num artigo, mas você sentirá falta dele quando mais precisar. A linha Global Vision Art funciona pelo o que é: linda, opticamente perfeita e barata, mas necessariamente um produto alternativo. E os 24mm entregam isso muito bem. Se a sua vida depende do foco automático, nada bate a Canon e as objetivas da série L. Mas para todo o restante, a Sigma fará um ótimo trabalho. Boas fotos!