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Julho/2014 – A EF 200mm f/2L IS USM é a prime telephoto branca de maior abertura da Canon. Se em objetivas normais o f/2 já é motivo de comemoração entre os fotógrafos de pouca luz e o povo do “efeito bokeh”, digamos uma desejável 35mm f/2 ou uma sexy 135mm f/2, numa 200mm ele é simplesmente pornográfico! São ø10cm de abertura máxima em dois quilos e meio de vidro, com dezessete elementos em doze grupos, números dignos de um projeto zoom. Mas aqui estão numa fixa da mais alta classe, com desempenho óptico e resultados absolutamente impecáveis, que me fazem pensar em vender todo o restante do kit para subir em outras lentes deste nível, como: 300mm f/2.8, 400mm f/2.8, 500mm f/4, 600mm f/4… (english)
Esta belezinha chegou no vlog do zack em 2011 depois de muuuita discussão entre eu e eu mesmo sobre qual lente telephoto prime comprar. A 300mm f/2.8 L II IS USM é longa demais para o que eu faço (paisagens e alguns retratos) e a 200mm f/2 com teleconversor Extender EF 1.4X vira uma 280mm f/2.8 semelhante (apesar de perder qualidade de imagem). A EF 200mm f/1.8L USM na época estava disponível no mercado de usadas mas não tem estabilizador, e a Canon não oferece mais serviço nas assistências. E os 200mm f/2.8 da EF 70-200mm f/2.8L IS II USM nunca realmente me agradaram; a vinheta é alta e eu preciso de um quadro perfeito para paisagens.
Então tomei coragem, fiz umas contas bizarras considerando o tempo que o investimento voltaria pro meu bolso (ainda faltam alguns trabalhos para ela se pagar mesmo depois de três anos) e corri atrás. Encomendei pela internet na falecida Calumet Photographic de Los Angeles, comprei a passagem e fui buscar pessoalmente. Fotograficamente foi um dos dias mais felizes da vida, e acho que todos os dias seguintes que usei esta lente também foram. E agora vocês acompanham os resultados e minhas impressões da melhor short-telephoto branca que a Canon produz.
Em 2540g a EF 200mm f/2L IS USM é a lente mais pesada que tenho no kit. Pode até soar como muito, mas na verdade ela é a segunda lente de uma “nova geração” (a partir de 2008) com tecnologias a favor da leveza, como vidros sem grafite e peças de magnésio. Por isto ela é quase meio quilo mais leve que a anterior EF 200mm f/1.8L USM apesar de ter ganhado o estabilizador. De qualquer maneira é possível segurá-la nas mãos ao longo de todo o dia ou carregá-la nos ombros com a alça própria. Ela é pesada demais para ser carregada pela câmera e a Canon recomenda sempre carregar pela lente, para não danificar o mount.
Já os 20.8cm de comprimento não são muito diferentes da zoom EF 70-200mm f/2.8L II IS USM (19.8cm). Mas com 12.7cm de espessura ela é bem mais gordinha. A especificação f/2 nos 200mm exige no mínimo 10cm de abertura máxima, por isto os primeiros elementos são enormes. Ela vai afunilando até o mount EF e tudo é feito de metal: os anéis, o colar de tripé (não removível) e o tubo externo. Eu gostaria de dizer que ela é “melhor construída” que outras lentes L, mas não é. São todas idênticas e perfeitas, aqui apenas numa escala muito, muito maior.
Dentro são 17 elementos em 12 grupos e não lembro de ter visto uma prime com tanto vidro. Dois UD e um fluorite eliminam qualquer sinal de chromatic aberration e garantem resolução impecável de ponta a ponta do quadro. A abertura tem 8 lâminas redondas para um bokeh cremoso mesmo abaixo do f/2. E o estabilizador é o único da linha Canon com 5 stops de correção, indispensável na hora de fotografar sem tripé. Filtros do tipo drop-in (ø52mm) vão atrás e também é a primeira vez que vemos este mecanismo por aqui, compartilhados por outras telephoto prime.
A janela de distância é generosa e tem marcações de profundidade de campo em f/16 e f/32, compensação do infinito (dependendo da temperatura de lente), e distâncias em pés e metros. O foco mínimo 1.9m é novidade (antes era 2.5m na EF 200mm f/1.8L USM) e ajuda a trabalhar em espaços pequenos, como estúdios. O colar para tripé não é removível mas trava em cada 45º; teoricamente o pé não pode ser removido, mas já vi outros fotógrafos tirarem pelos parafusos. O modelo da lente está gravado numa placa de alumínio, que não descola como algumas Nikon AF-S.
Na caixa a Canon inclui a maleta 200, o hood ET-120B e o lens cap E-145B. A maleta é especial para carregar exclusivamente a 200mm f/2L e abraça perfeitamente a lente, com velcro e colchões; tem até uma chave para travar a tampa, bacana para transportar dentro do avião (ela cabe como carry on item). O hood é feito de fibra de carbono e adiciona mais umas 5” pra lente. Cuide muito bem dele: sozinho custa mais de US$500! E infelizmente não há um lens cap tradicional da Canon, eles te dão a peça antiga de couro que prende no hood reverso. Os modelos mais novos, como EF 300mm f/2.8L II IS USM tem um cap menor, de nylon, na minha opinião bem mais prático.
As telephoto prime brancas de grande abertura da Canon tem controles tão simples quanto as outras lentes normais. Anel de foco manual, botões de liga/desliga do estabilizador e foco, limitadores… Mas dois recursos especiais são exclusivos da linha: o focus preset e os stop buttons. Há ainda um terceiro recurso nas novas telephoto “II”, o power focus para vídeos, que permite a programação de 2 pontos focais na memória para transições suaves, que a 200mm f/2L não tem.
No focus preset você consegue gravar uma memória de distância de foco e usá-la imediatamente a qualquer momento. É útil por exemplo em desfiles de moda quando você sabe exatamente a distância que as modelos estarão no final da passarela; ou em esportes quando você sabe onde estará o sujeito em determinado momento. Basta colocar a alavanca do Focus Preset em ON e apertar SET na distância que quiser; e girar o anel dentado para voltar naquela distância. O foco voltará imediatamente para lá, sem interferência da câmera e/ou da posição do sujeito.
Já os stop buttons desligam o sistema de foco automático enquanto estão apertados. É útil em esportes com rede (volley, tênis) quando a câmera travou no jogadores e você não quer que ela trave de volta na rede. Basta segurar o botão e o AF não funcionará. “Ah, mas é a mesma coisa que soltar o botão AF-ON na câmera!” Sim, mas como estas telephoto são longas, as vezes é mais confortável controlar isto com a outra mão lá na frente, quando ela está apoiando a objetiva.
O resto é bem fácil. O foco mínimo de 1.9m é ideal para trabalhar com mínima profundidade de campo e garantir o desfoque no fundo. Há como limitar o AF para 3.5m-infinito quando sabemos que nada estará tão próximo, então ele travará mais rápido assim. Ela ainda aceita os teleconversores Extender EF 1.4X (280mm f/2.8) e Extender EF 2X (400mm f/4), ambos com foco automático phase e estabilizador ativados; com perda na qualidade de imagem. Eu acho a 200mm f/2 a mais flexível neste sentido porque se tornará uma 280mm f/2.8 ou uma 400mm f/4. Qualquer outra telephoto branca prime será mais escura com os Extender.
Um único destaque negativo fica para o estabilizador, que é o mais barulhento que já usei. São dois modos clássicos: 1) para corrigir os dois eixos e 2) para corrigir somente o eixo perpendicular ao movimento (panning). Mas como são cinco stops de correção e o movimento é longo para isto, ele faz um barulho bem alto quando começa a operar. Tanto que a Canon teve de soltar uma artigo explicando que isto é normal. Em 200mm e cinco stops de correção ele teoricamente garantirá imagens nítidas em 1/5s. Ele também detecta automaticamente o tripé e compensa o movimento do espelho em obturadores mais lentos. Funciona e impressiona.
A única lente próxima da EF 200mm f/2L IS USM no lineup da Canon é a zoom EF 70-200mm f/2.8L IS II USM. Por que não a prime EF 200mm f/2.8L II USM? Porque ela não tem o estabilizador e, er… não é branca. A zoom é muito mais flexível e fácil de trabalhar porque, evidente, desce até os 70mm, os 85mm, os 135mm… E em 1.49kg ela é 1 quilo inteiro mais leve! Além de aceitar filtros de ø77mm na frente, ter o hood mais fácil de usar, custar menos da metade do preço (cof, cof, US$3500 a menos)… Mas falei que a prime é f/2? Em algumas situações o dobro de luz significa o dobro de velocidade no obturador, e pode significar conseguir ou não a foto.
Sobre qualidade de imagem, os donos da zoom podem soltar os rojões. Não, não há grande diferença entre os arquivos da prime e da zoom. A EF 70-200mmm f/2.8L IS II USM é de longe um dos projetos com maior performance do mercado e isto fica aparente em comparação a esta prime telephoto grande. Os níveis de CA lateral das duas é virtualmente idêntico (minúsculo) e a resolução é alta nas aberturas máximas (f/2 e f/2.8) A maior diferença porém está no vignetting, que é muito menor na prime e o motivo de eu preferi-la em fotografia de paisagens. A profundidade de campo também é bem diferente, mas raramente vejo como argumento em prol da prime; ou você compra pelo dobro de luz e vinheta menor, ou viva feliz com a zoom.
Acho que eu levantei da cadeira e fui dar uns pulos de “WOW!” enquanto editava as fotos deste review umas cincos vezes. Wow, wow, wow, wow, wow… Parece que as fotos a seguir são mundanas, fáceis de fazer, qualquer lente faria. E são. Mas a parte que mais impressiona é o nível de correção/ajustes que eu tive de fazer para as fotos ficarem com esta aparência. Mínimo! Enquanto em algumas imagens eu passo uns cinco minutos no Adobe Camera Raw tentando 1) reproduzir o que eu vi na realidade e/ou 2) deixar a foto sedutora, convidativa, saturada, nos arquivos da EF 200mm f/2L IS USM eu mal precisei compensar alguns % de contraste e saturação. E só. É impressionante e coloca esta como a melhor lente que já vimos no blog do zack.
Mesmo em f/2 a saturação e contraste das imagens são tão altos que as cores saltam na tela. E a comprovação da ciência de cor da Canon por trás das melhores imagens. Não, elas não são fiéis a realidade: os amarelos são amarelos demais; os vermelhos são fortes demais; as sombras são azuis (!?)… Mas as fotos ficam simplesmente fodas! Vocês conseguem ver em arquivos da EOS 60D uma qualidade que lembra o full frame: cores incríveis e os pretos realmente pretos, sem correção… E em arquivos da 5D Mark II uma qualidade que lembra o médio formato: nitidez impecável nos detalhes, mistura perfeita de cores. É outro nível que nunca vimos numa objetiva.
A ausência de qualquer imperfeição óptica também assusta. Não, não precisamos de correção via software. CA lateral? Não vi. CA longitudinal, cadê? Perda de resolução nas bordas totalmente aberta? Não. É aquele velho papo de “esta lente faz parecer que as outras estão com defeito”, o que sinceramente não é um argumento muito gostoso de ouvir. Afinal, as outras lentes estão com defeito mesmo? Porque elas não podem ser perfeitas assim? Devo vender tudo e só comprar as telephoto prime brancas? Este raciocínio está me parecendo cada vez mais convidativo…
Talvez a única “imperfeição” que você encontrará nas imagens da EF 200mm f/2L IS USM está nos limites do telephoto, por causa da distorção atmosférica. Fotografar de longe coloca muito ar entre você e o sujeito, e em dias quentes o ar fica agitado, tirando a nitidez das fotos. Os detalhes se transformam em borrões impressionistas e exigem horários específicos para os melhores registros (antes do calor, de manhã; ou no final da tarde). Enfim é a única ressalva que eu posso fazer. Dependendo da imagem, cuidado, isto pode destruir a qualidade das impressões.
Infelizmente pensada para o mercado profissional, a Canon EF 200mm f/2L IS USM entrega tudo o que podemos pedir de uma lente perfeita: construção de ponta, operação fácil, resultados absolutamente impecáveis. Mas para isto eles tiveram de jogar o preço lá pra cima (US$5999), o que tira ela das mãos da maioria dos fotógrafos. O que é uma pena: criativamente ela pode ser muito bem explorada e não acho que só o mercado profissional deveria ter acesso a tal qualidade. O fato é: 200mm f/2 exige muito vidro, e vidro é caro e pesado. Projeto muito pesado exige construção de ponta, que também é cara. Aí já viu… Quem sabe um dia a Sigma pense em fazer uma 200mm f/2. Até lá, junte o seu dinheiro e adote uma Canon EF prime telephoto. Boas fotos!