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Junho/2017 – A Canon EF-S 18-135mm f/3.5-5.6 IS USM é terceira versão da zoom-telephoto 7.5x, feita para o formato APS-C. Sim, “versão” que é diferente de “geração”. Com três modelos idênticos em distância focal, abertura e fórmula óptica (16 elementos em 12 grupos, 1 elemento UD e 1 asférico desde o primeiro lançamento em 2009), a única coisa que muda é a tecnologia do motor de foco automático, cada uma com uma vantagem. A primeira com um micro-motor DC, lento, barulhento e com um anel de foco que gira na frente; a segunda “STM” (stepping motor), com um motor de foco silencioso e suave, pensado na gravação de vídeos; e agora a nova NANO USM, com altíssima velocidade de foco para fotografar ação, embora também suave e quieta para a gravação de vídeos. Uma distância focal geralmente vendida como “upgrade” do kit básico 18-55mm, a ideia é “ir mais longe” num pacote razoavelmente portátil, com abertura variável para manter o peso também em baixa, “casando” com as câmeras do formato APS-C. Mas será que ela vale os US$599, só pelo novo motor de foco NANO USM? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 10.3 x 7.6cm fechada em 18mm, ou 15.2 x 7.6cm “aberta” em 135mm, em 515g de plásticos e vidro, a primeira coisa que notamos na EF-S 18-135mm é sobriedade no design, bem pensado e construído; um passo além das “objetivas de kit”. Mais uma versão e mais uma escola de design, e a fabricante aposta agora no plástico acetinado que conhecemos da EF 70-300mm f/3.5-5.6 IS II USM, mais suave ao toque dos dedos, e menos chamativo que o acabamento brilhante das versões anteriores. Foram embora também os “embelezamentos” prateados na frente e no meio do tubo do zoom, e ficou apenas as borrachas pretas, discretas e gostosas de usar, sem excessos nem cafonices. O novo design indica um amadurecimento da fabricante para com o formato APS-C, menos “vagabundo” e com mais qualidade, apesar do preço “de entrada” de sempre.
Nas mãos a ergonomia é perfeita com as EOS APS-C, todas com a mesma cara “sóbria” desde a T6i. Tanto câmera quanto objetiva são “densas”, preenchendo a “pegada” de todos os dedos sem espaço vazios, bacana para passar o dia inteiro trabalhando, sem cansar. Quem vem de uma versão antiga conhece os “degraus” que a Canon usava para separar o anel de zoom do anel de foco, além das chaves de controle “saltadas” num painel a parte, que agora ficam todas embutidas no tubo, lembrando a lata de cerveja que eu percebi na EF 35mm f/1.4 L II USM. O zoom expande num tubo duro e de estágio único, bem construído e resistente, aparentemente sem “economias” estruturais do lado de dentro. É uma objetiva bonita de ver e gostosa de usar, e cai como uma luva nas APS-C 80D, T6i/T7i e até EOS M5, que tem uma pegada “alta” para a mão direita. É uma experiência superior a Fujifilm XF 18-135mm testada na X-T2, e sempre impressiona a ergonomia da Canon.
A operação é simples e direta, sem firulas para atrapalhar o fotógrafo. No meio do tubo o anel de zoom gira dos 18mm aos 135mm em cerca de 90º, num movimento suave e preciso, sem “pesos” diferentes de uma ponta a outra. Quem lembra do review da Fuji 18-135 sabe dos problemas que eu tive com aquele modelo “pesadão”, mas a Canon sabe “ajustar” os tubos de zoom para que não fiquem tão pesados; nem soltos demais. Isto é importante para suportar o primeiro acessório deste tipo no mercado, o Power Zoom PZ-E1. Ele é um motor SERVO para controlar o zoom motorizado, portátil e alimentado por apenas quatro pilhas AAA, com energia suficiente para mover o anel de zoom com suavidade; bacana para gravações de vídeo. Com ele é possível dar acabamento “profissional” a takes feitos nas mãos, superior a operação direta do anel com o os dedos. E na frente o anel de foco manual é tipo “fly-by-wire”, desconectado mecanicamente do grupo de foco interno, e exigido pelo grande destaque deste modelo: o novo motor de foco NANO USM.
O NANO USM nada mais é que um motor de foco linear “dirigido” por um motor ultrassônico. Dois trilhos alinham os elementos de focagem, e uma placa energizada provém eletricidade para dois pinos metálicos, que geram energia através de vibrações. É uma maneira eficiente de gerar movimento, sem fazer barulho, útil durante a gravação de vídeos. E para fotografar, a Canon repete a mesma maravilha da EF 70-300mm II, também NANO USM: foco instantâneo num equipamento “intermediário”. No dia-a-dia a 18-135mm IS USM é assustadora: com qualquer EOS, basta apertar o botão que a câmera foca num piscar de olhos! É extremamente rápido para fotografar sujeitos em movimento, e nunca perder o momento em foco. Testada até com a EOS T3i de 2010, é possível clicar sequências completas em AI SERVO, sem gastar uma fortuna com objetivas topo de linha. É realmente uma tecnologia definitiva na Canon, e vale cada centavo nas objetivas NANO USM.
Do lado de dentro a Canon mantém o mesmo módulo estabilizador da versão STM, com promessa para até 4 stops de compensação. O IS (image stabilizer) é totalmente automatizado, e funciona sem intromissões do fotógrafo. Basta deixar a chave de controle em ON o tempo todo, e ele consegue 1) compensar por obturadores lentos, até 1/13 em 135mm, uma mão na roda para fotografar paisagens sob pouca luz; 2) detectar sozinho os movimentos de panning (modo 2), para registrar “borrões” propositais de movimento, que destacam o sujeito contra o segundo plano, ou 3) perceber quando a câmera está sob um tripé, e desligar o módulo automaticamente. Novamente, unido ao foco NANO USM suave, é possível dar acabamento profissional a gravações de vídeo, tudo de maneira simples, sem gastar uma fortuna em equipamentos dedicados para cinematografia. A Canon realmente quer oferecer um “pacote” completo de tecnologias de vídeo “profissional” de entrada, e a EF-S 18-135mm USM é única alternativa na linha EOS para DSLRs.
Enfim na frente a EF-S 18-135mm usa enormes filtros de ø67mm, compatíveis com outras zoom de abertura variável na linha EF/EF-S. Eles vão num robusto trilho plástico que não gira na frente da objetiva, apesar de movimentar para frente e para trás durante a operação do zoom. Ao redor deste trilho há um segundo trilho para prender o para-sol opcional EW-73D, que evita reflexos nos grupos ópticos. Atrás o mount de metal é bem acabado e “gostoso” de montar na câmera, com baixo coeficiente de fricção, típico do sistema EF. Porém não há uma borracha de vedação entre a câmera e a objetiva, e a Canon não declara nada sobre weather sealing; uma pena. Há apenas a borracha de extensão do sistema EF-S, que impede de montar a 18-135mm em câmeras do formato full frame (5D, 6D, 1D-X). No geral a Canon entrega um produto “justo” pelo preço de US$599 que, além da construção bem feita e da operação suave, tem o novo motor de foco NANO USM, incrível para fotografar ação. Unido a compatibilidade com o Power Zoom PZ-E1, ela também flerta com o mercado de vídeo, e é a única opção motorizada de baixo custo na Canon. E como veremos a seguir, o projeto óptico não desaponta, interessante pela flexibilidade do zoom.
Com um projeto óptico de 16 elementos em 12 grupos, 1 peça UD de baixa dispersão, e uma peça asférica moldada para controle de aberrações e resolução, a EF-S 18-135mm f/3.5-5.6 IS USM não trás nada de novo para a qualidade de imagem do segmento, idêntica desde a primeira versão de 2009. Uma zoom com ampliação até 7.5x, não dá para esconder que a especificação é mais voltada para a flexibilidade, com várias distâncias focais num pacote portátil, e não a performance óptica “bruta” para resolução, nitidez e contraste; embora ela não faça feio em nenhum destes aspectos. Os arquivos são ricos em detalhes, mais fáceis de “perder” por limitações atmosféricas do que por imprecisões nas lentes da objetiva; o contraste é alto, não importa a situação de luz; e as aberrações cromáticas são grandes, esperadas de uma zoom com tantas peças. As distorções geométricas também acontecem nas duas “pontas” do range focal, e não dá para recomendá-la como substituta de uma objetiva macro, com resultados questionáveis na distância de foco mínima de 39cm. Mas também é difícil fazer uma foto impublicável com a EF-S 18-135mm IS USM, e se bem utilizada, com sujeitos interessantes, a flexibilidade triunfa qualquer problema óptico.
Na abertura máxima, a variação de resolução e nitidez é natural dos 18mm aos 135mm. No grande angular a performance é bacana no centro até parte das bordas, que perdem resolução, imprópria para fotografar paisagens “clínicas”, que serão impressas em tamanhos imensos. O problema mais notável nessa especificação é a vinheta acentuada em céus e outras “superfícies” lisas, que ficam mais escuras nas bordas da foto, graças ao elementos diminutos da objetiva. Dos 24mm, 35mm e 70mm a resolução é “afiada” para detalhes do dia-a-dia, reproduzindo claramente texturas de rochas, árvores da mata, e detalhes pequenos. Mas nos 135mm a resolução cai bastante em f/5.6, e só funciona para impressões modestas até o formato A3; ou saídas web do tipo Instagram e Facebook. A 18-135mm é flexível para a maioria das situações, mas se o telephoto for importante para você, recomendo usar uma prime específica dos 135mm; que nem precisa ser muito cara.
Fechar a abertura ajuda um pouco na nitidez dos arquivos, próprio para extrair o melhor dos sensores APS-C da geração atual. Os 24MP das T6i/80D/M5 de fato conseguem reproduzir detalhes incríveis para trabalhos de precisão, e a 18-135mm só entrega parte deles em f/5.6-7.1. A difração se torna um problema tão cedo quanto o f/8, então evitem o formato menor para este tipo de trabalho. O que mais vemos junto dos detalhes, na verdade, são as aberrações cromáticas laterais fortíssimas em linhas de muito contraste, que ficam coloridas nas bordas do quadro. É uma surpresa vê-las na Canon, uma vez que a fabricante não “trapaça” opticamente como a Fujifilm faz na XF 18-135mm R LM WR OIS, que exige um perfil eletrônico obrigatório de correção nos arquivos (inclusive raw). Então devemos corrigi-las manualmente na Canon, nas câmeras a partir do DIGIC4.
”Grand Canyon III” em f/7.1 1/60 ISO160 @ 18mm; distorção do tipo bolha. ”Grand Canyon IV” em f/7.1 1/60 ISO5000 @ 42mm; distorção do tipo bolha. ”Grand Canyon V” em f/7.1 1/100 ISO200 @ 59mm; distorção do tipo pincushion. ”Bryce Canyon II” em f/6.3 1/640 ISO100 @ 135mm; distorção do tipo pincushion.Outra sugestão de correção fica para as distorções geométricas, visíveis também nos dois limites do range. Em 18mm uma enorme bolha domina as linhas retas as bordas horizontais do quadro, visíveis até em paisagens tumultuadas, quase uma fisheye. Para arquitetura então, a compensação eletrônica é obrigatória! Mas no final do telephoto, em 135mm, a distorção vira do avesso e vemos o efeito “pincushion”, que “atrai” as linhas retas para o centro do quadro, como se estivéssemos apertando uma almofada com um alfinete (daí o termo em inglês). A distorção é fácil de ver mesmo em paisagens cotidianas, ainda mais em fotos que usam a regra dos três terços para equilibrar os planos. O horizonte “cai” pra o centro do quadro, e dá outro perfil às linhas das montanhas, o que é inaceitável. Portanto use as compensações eletrônicas na câmera, que corrigem tudo isso inclusive durante a gravação de vídeos, em câmeras a partir do processador DIGIC6.
Por fim cores e bokeh estão “de acordo” com o telephoto “intermediário” da Canon. Os tons exigem tratamento “pesado” para realmente saltar na tela ou no papel (pense pelo menos em +20 na saturação do Lightroom), bem diferente do que eu recebo nas objetivas da série L; que são saturadas direto da câmera. Pelo menos o equilíbrio das cores é fiel com o restante da linha EF, e não vemos grandes distorções com as câmeras digitais da linha EOS, sempre com os álbuns de foto mais coloridos do blog do zack. Mas o desfoque do segundo plano deixa bastante a desejar, e os 135mm f/5.6 são bem “difíceis” de conseguir uma profundidade de campo realmente curta. Só em distâncias curtíssimas de foco, como 1 metro para baixo, que o segundo plano fica difuso, colorido, livre de distrações. Mas como o projeto óptico começa a ser levado ao limite nesta focagem tão próxima, com foco mínimo de 39cm, o contraste e a resolução caem bastante. Portanto recomendo o investimento em equipamentos dedicados, se a ideia for fotografar de perto (com uma macro) ou com o segundo plano desfocado (talvez numa prime de grande abertura).
A EF-S 18-135mm f/3.5-5.6 IS USM é uma objetiva interessante na linha Canon, porque traz novidades exclusivas ao mercado APS-C, apesar de manter a mesma fórmula óptica das versões anteriores. A escola de design mudou para acomodar os dois destaques mecânicos do modelo: o foco automático NANO USM, ultra-rápido e preciso, nunca visto nesta classe de equipamento; e a compatibilidade com o motor SERVO PZ-E1. Estas duas novidades “pediram” pelo novo desenho dos anéis e a operação suave, que são “o melhor” que a Canon faz no mercado fotográfico, sempre com a lendária ergonomia da fabricante. Mas o projeto óptico é curioso por ser “repetido” pela terceira vez, e ainda mostra espaço para melhorias. A Fuji XF 18-135mm tem quatro (!) peças asféricas e duas (!!) de baixo dispersão, e a resolução é próxima das primes; coisa que esta Canon não faz. Então recomendo a EF-S 18-135mm pela flexibilidade, e não pela performance óptica bruta. O que importa é a tecnologia do foco automático rápido no mercado intermediário, que abre novas possibilidades de trabalhar. E para isso, este modelo é único na linha EF. Boas fotos!