Samyang 8mm T3.8 CS II

Ultra low cost cinema fisheye


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 119MB).

Tempo estimado de leitura: 07 minutos.

Março/2015 – A Samyang 8mm T3.8 CS II (nome completo: 8mm T3.8 Asph IF MC Fisheye CSII DH VDSLR) é a segunda prime ultra grande angular com distorção “olho de peixe” que vemos no vlog do zack, para criar aquelas imagens com 180º de ângulo de visão diagonal e linhas distorcidas ao redor do quadro; aka “look GoPro”. Com este monte de letrinhas, ela é uma variante da Samyang 8mm f/3.5 com recursos extras para cinematografia, como abertura sem clicks e engrenagens para follow focus. Opticamente todas as 8mm f/3.5 que você encontrar da Samyang ou da Rokinon terão a mesma fórmula e qualidade de imagem, portanto não se preocupem com isso. (english)

“Grand Central” com a EOS M em 1/15 ISO1600; look fisheye 180º no APS-C.

“Grand Central” com a EOS M em 1/15 ISO1600; look fisheye 180º no APS-C.

Vamos começar pela sigla “CS” de “cropped sensor”. Ela foi desenhada para cobrir até o círculo de projeção APS-C, oferecendo o mesmo resultado distorcido de uma 15mm fisheye para o full frame. Como a Samyang atende dez (!) mounts (Canon EF, Canon-M, Nikon, Pentax K, Sony A, Sony E, Four-Thirds, MFT, Samsung NX e Fujifilm X), dois deles full, esta versão “II” permite retirar o lens hood fixo da versão “I” (“DH” vem de “detachable hood”) e virar uma “fisheye circular” similar a Canon EF 8-15mm f/4L USM. Se você quer duas lentes em uma, esta prime faz.

“Fisheye” com a EOS 6D em 1/60 ISO640; look circular 180º no full frame.

“Fisheye” com a EOS 6D em 1/60 ISO640; look circular 180º no full frame.

Além disso a versão “VDSLR” tem rodas dentadas no lugar dos anéis de foco e de abertura, ambos manuais, compatíveis com follow-focus para produção de vídeos. Vocês sempre me perguntam a diferença das objetivas de cinema e é só isso: no lugar dos clicks no diafragma, as lentes de cinema tem controles contínuos. E a especificação da caixa vem em T/stops, que consideram a perda de luminosidade quando a luz passa pela lente. Enfim ela chegou no vlog do zack atendendo a pedidos por uma “lente de cinema” e minha curiosidade em experimentar uma fisheye no APS-C. E por US$279 é outra ultra low cost simpática nos bolsos, com controles totalmente manuais.

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Samyang 8mm T3.8 CSII

Em 455g de 10 elementos em 7 grupos, a “T3.8/8mm” (especificação da caixa) parece sólida nas mãos com um mix de plásticos externos e metais internos, além do mount de metal. Nada balança fora do lugar e parece aguentar o tranco na mochila, sem parecer oca. O feedback dos anéis é excelente e até o design agrada com um anel vermelho central e especificações discretas, impressas no corpo. Questiono se estes números não apagarão com o tempo tornando a operação “no olhômetro”. Mas de qualquer forma tudo está no lugar certo e faz os US$279 valerem mais.

Samyang 8mm T3.8 CSII

A característica física que mais chama atenção na 8mm fisheye nem é o elemento frontal gigante para cobrir os 180º de visão (na verdade 167º no APS-C da Canon), mas os anéis com engrenagens próprias para sistemas de follow focus. Eles encaixam perfeitamente com pitch de 0.8, e como os dentes fazem parte da injeção do plástico do anel, eles não escorregam como adaptadores plásticos para objetivas de fotografia. O movimento é muito mais suave e preciso, sem os solavancos dos anéis pesados das lentes para fotografia, controladas pelas mão.

Samyang 8mm T3.8 CSII

O anel do diafragma não tem os clicks em cada T/stop; outra característica de cinema. Do T3.8 até o T22 o percurso de cerca de 25º é feito num movimento só, para controle contínuo de exposição em cenas complicadas como sequências interna > externa sem cortes; ou mesmo efeitos especiais de fade-in e fade-out direto na lente. E do foco mínimo de 0.3m até o infinito, ambos com hard stop, são pouco mais de 70º. As duas engrenagens estão a 28mm de distância e provavelmente servem nos motores servo da Canon, Sony, ARRI, que compartilham da mesma distância.

Samyang 8mm T3.8 CSII

Mas e os fotógrafos, conseguem viver com uma objetiva Cine? Sim, até conseguem. Como outras Samyang, tudo é manual, então tanto faz a linha de cinema ou a linha tradicional; você terá de saber focar e ajustar a abertura sozinho. Mas senti falta de uma borracha para os dedos como algumas Canon CN-E tem; há espaço de sobra para colocar um grip no meio dos anéis dentados mas a Samy não colocou nenhum apoio para a as mãos. E lembre de ajustar foco e abertura foto a foto, uma vez que qualquer movimento na mochila ou a tira-colo mudará a posição deles.

Samyang 8mm T3.8 CSII

Por fim o hood plástico por ser removido para revelar a projeção circular de 180º no full frame, parecida com a Canon EF 8-15mm f/4L USM. A tampa incluída na caixa só prende no tal hood, então lembre de carregá-lo com você para proteger a lente. O conjunto todo montado é bem grande, definitivamente não é a sua objetiva para todos os dias. Mas o mount de metal faz bem o trabalho de manter tudo preso no lugar, típico das primes até os 50mm que nunca passam de 7cm de comprimento. A operação é suave e eu não veria problemas em ter um kit Samyang.

QUALIDADE DE IMAGEM

“Financial District” em 1/90 ISO100.

“Financial District” em 1/90 ISO100. Todas as fotos com a Canon EOS M.

A Samyang é conhecida por fabricar primes de baixo custo, operação 100% manual, e a fantástica oferta de dez mounts (!), com “n” modelos diferentes da mesma fórmula óptica: padrão, cine, com ou sem o hood removível etc. E como a segunda lente “made in Korea” que vemos por aqui, o resultado nas imagens surpreende. Não, ela não ganhará nenhum prêmio de performance nas bordas e nitidez totalmente aberta; como nós vimos na Rokinon 85mm f/1.4. Mas o look vale a pena e as fabricantes maiores não entregam nada parecido nesta faixa de preço.

“Grand Central 2” em 1/15 ISO1600.

“Grand Central 2” em 1/15 ISO1600.

Não dá para esperar milagres em T3.8. A nitidez não é das melhores com um notável blooming no centro e perda de resolução nas bordas. Nem dá para culpar a profundidade de campo curta porque isso não acontece nestes valores de uma fisheye; o problema é da formula óptica low cost com apenas um elemento asférico e coatings simples (a Samyang não explica quais). Em sensores de alta resolução você verá um borrão nas bordas, sem nitidez, sem os detalhes, ruim para impressões gigantes. Nota: nos arquivos a seguir eu lembro da abertura máxima.

“Subway” em 1/250 ISO400.

“Subway” em 1/250 ISO400.

Crop 100%, blooming em zonas de contra-luz.

Crop 100%, blooming em zonas de contra-luz.

“Subway 2” em 1/60 ISO1600.

“Subway 2” em 1/60 ISO1600.

Crop 100%, impossível obter detalhes em abertura máxima.

Crop 100%, impossível obter detalhes em abertura máxima.

“Grand Central 2” em 1/45 ISO1600.

“Grand Central 2” em 1/45 ISO1600.

Crop 100%, em abertura máxima T3.8 (esquerda) e T6.7 (direita), notável melhora na nitidez.

Crop 100%, em abertura máxima T3.8 (esquerda) e T6.7 (direita), notável melhora na nitidez.

Fechando “um pouco” – não lembro o valor exato porque ela não informa a abertura para a câmera, que não grava no EXIF – o blooming some e começamos a ver esperança nas bordas. É o mesmíssimo resultado da 85mm f/1.4 que só ia melhorando lá para f/4 e apresentava resultados satisfatórios em f/8. Se você fotografa esportes radicais, arquitetura, paisagens; ou quer se divertir com algum retrato inusitado, tudo com bastante luz, sem dúvidas a performance não ficará muito melhor nesta faixa de preço. O resultado não rivaliza a EF 15mm f/2.8 Fisheye que testei na 5D Mark II, mas impressiona por sair de um pacote menor, no APS-C, por uma fração do preço.

“Subway 2” em 1/60 ISO400.

“Subway 2” em 1/60 ISO400.

Crop 100%, nitidez melhora fora da abertura máxima, mas nunca rivaliza de fato o full frame.

Crop 100%, nitidez melhora fora da abertura máxima, mas nunca rivaliza de fato o full frame.

“Wall Street” em 1/125 ISO100.

“Wall Street” em 1/125 ISO100.

Crop 100%, os detalhes nunca são reproduzidos perfeitamente, falta contraste.

Crop 100%, os detalhes nunca são reproduzidos perfeitamente, falta contraste.

“Broadway” em 1/60 ISO250.

“Broadway” em 1/60 ISO250.

Crop 100%, são raros os arquivos de alta resolução com esta objetiva.

Crop 100%, são raros os arquivos de alta resolução com esta objetiva.

As cores estão equilibradas e não notei qualquer tom “puxado” no geral, ela é bem menos amarela que a Rokinon 85mm f/1.4. E o contraste funciona longe de pontos de luz. No geral ele é bom e você consegue arquivos definidos, bacana para impressões de micro detalhes em T8. Mas próximo de contornos entre luz e sujeito, não dá para negar o vazamento dos reflexos internos da lente. Faltam os tratamentos especiais nos vidros (coatings) que os fabricantes grandes tanto se gabam. Não vai destruir nenhuma foto, mas como sempre já vimos coisa melhor no vlog do zack.

“Isamu Noguchi” em 1/60 ISO640.

“Isamu Noguchi” em 1/60 ISO640.

“Red Cube” em 1/60 ISO400.

“Red Cube” em 1/60 ISO400.

“Arch” em 1/60 ISO500.

“Arch” em 1/60 ISO500.

Por fim o CA lateral é típico das objetivas de baixo custo mas fácil de corrigir via software. Nenhuma câmera suporta o perfil da Samyang, então você terá de fazê-lo in post. Nem mesmo a Adobe tem um perfil específico do modelo, então não consegui converter a projeção estereográfica em imagens retilíneas. Mas um click em “remove chromatic aberration” e +4 no purple defringe é o suficiente para limpar os arquivos das cores estranhas. Fechando a abertura e com tratamento no computador, dá para fingir que estamos usando uma objetiva bem mais cara.

“Times Square 2” em 1/180 ISO100.

“Times Square 2” em 1/180 ISO100.

Crop 100%, cores coloridas e falta de resolução nas bordas.

Crop 100%, contornos coloridos e falta de resolução nas bordas.

“42nd” em 1/180 ISO400.

“42nd” em 1/180 ISO400.

Crop 100%, CA lateral aparece mesmo sem a nitidez de vidros mais puros.

Crop 100%, CA lateral aparece mesmo sem a nitidez de vidros mais puros.

“7 AV” em 1/180 ISO100.

“7 AV” em 1/180 ISO100.

Crop 100%, uma das soluções é apelar para a conversão preto e branco…

Crop 100%, uma das soluções é apelar para a conversão preto e branco…

VEREDICTO

A Samyang 8mm T3.8 CS II entrega exatamente o que eu estava esperando: uma construção bacana, os anéis para follow focus, a distância focal extrema no APS-C e a qualidade de imagem “justa” pelos US$279. E eu não estava esperando a imagem circular no full frame, uma surpresa que vale para composições inusitadas. A compra da Samy é certa logo na primeira pergunta da lógica que eu insisto com vocês: se você (1) precisa da distância focal, nenhum outro produto fará a mesma coisa neste valor. E a (2) abertura é menos importante, dada a longa profundidade de campo e o custo de mais vidro; espere pagar pelo menos o dobro por uma f/2.8. Já os (3) recursos extras, no caso as engrenagens para follow focus e o hood removível, tem de sobra nas opções da Samyang. Para uma fisheye low cost, esta é a objetiva que você estava procurando. Boas fotos!