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Abril/2016 – Já não é novidade dizer que a Sony está se consolidando como uma das marcas mais importantes do mercado fotográfico. Uma empresa com domínio nos campos da música, cinema, vídeo-games, smartphones e eletrônicos, não é de se assustar que um dia eles fossem invadir o mundo da fotografia. Um mercado dominado pela tradição de outras japonesas, Canon e Nikon, a Sony tem diferenciais que as outras não tem: design com a funcionalidade sobre a ergonomia; e o mais importante, a tecnologia de ponta com um preço premium que parece valer a pena. (english)
O sucesso de hoje é uma simples história de “estar no lugar certo na hora certa”. Em tempos de smartphones como produtos mais icônicos no sistema da Moda (Moda = atualização em ciclos), só uma marca genuinamente “cutting edge” com fôlego para criar tantas novidades. É linha NEX, é linha Alpha, é Alpha full frame, são três A7 por ano, incontáveis APS-C, quatro gerações de RX100, RX10, RX1, sensor curvo, sensor plano, back side illuminated, 4K… É uma vasta gama de tecnologias ano após ano, difícil de pensar em mercados tradicionais. Mas a realidade é essa: se a tecnologia está disponível por um preço acessível, por quê não empregá-la imediatamente?
A A6300 parece ser o ápice do que é tecnologicamente possível hoje. Uma câmera minúscula com um sensor grande em formato APS-C, alta resolução com 24MP e arquivos 6000×4000, até 11 fotos por segundo em resolução máxima e arquivos raw, sensacionais 425 pontos de foco phase, vídeo 4K gravado internamente a até 3840×2160 em 30fps e 100Mbit/s, ou 1080P120, tela LCD retrátil e viewfinder embutido OLED com 2.36M de pixels e taxa de atualização a 120fps, Wi-Fi, NFC e flash embutidos, bateria para 60 min. de gravação ou 400 fotos… Uau, querem mais alguma coisa?
Uma das câmeras mais requisitadas no vlog do zack, fica claro porque ela está sendo considerada um dos lançamentos mais importantes da história. Sério, repito a pergunta: falta alguma coisa? Uma tela touch? Rs, é, está faltando! Vídeo raw? Também. Um sensor estabilizado como nas A7 II full frame? Pois é. Mas por US$1149 com o kit de objetiva zoom 16-50mm f/3.5-5.6 PZ OSS, fica difícil pedir muito mais. Acho que chegamos lá. Da mesma forma que os smartphones se tornaram super computadores de bolso, a A6300 é a super máquina fotográfica que você pode levar aonde quiser. Mas será que funcionará para todo mundo? Vamos descobrir! Boa leitura.
Em 11.8 x 4.9 x 6.6cm de 400g com bateria e cartão de memória, aqui mostrada com a objetiva E PZ 16-50mm f/3.5-5.6 OSS de 100g + 3cm, a primeira coisa que me chamou atenção na A6300 foi o tamanho, MAIOR do que eu estava esperando. Pois é, ela é uma câmera pequena, sem dúvidas, muito menor que qualquer DSLR APS-C. Mas conhecendo a antiga NEX C3, uma das menores APS-C já lançadas, ou as RX100 compactas com sensor de 1”, eu achava que a A6300 estava na mesma classe da A5100, que é menor em todos os aspectos. Ela cabe facilmente na mochila, em menos espaço que uma DSLR. Porém não sairá com você carregada discretamente nos bolsos.
Por outro lado o que ela tem de “grande”, ela tem de sólido e ergonômico; duas características que eu custo a ver nas Sony Alpha. No próprio teste da A7II, full frame que ganhou um corpo de magnésio em comparação a A7 original de plástico (mesmo caso da A6000 e a A6300), eu não senti uma câmera particularmente resistente; não para usá-la com objetivas grandes sem apoiá-las com a mão esquerda. Mas a A6300 é outra história. Ela é extremamente rígida e “pesada” nos lugares certos, e não tem qualquer ponto de impacto aparente, como o viewfinder em cima da A7.
Nas mãos a experiência é perfeita. O grip frontal parece muito mais apropriado que o da A7II, que é pequeno para quem vem de uma DSLR full frame. Como a A6300 é pequena, o que você “abraça” com os dedos da frente e a palma da mão é suficiente para ela não cair. O grip é emborrachado e o magnésio do corpo tem uma textura, o que ajuda muito em dias quentes com o suor das mãos. Enquanto a Fuji X-Pro 2 escorregava das minhas mãos na hora de tirá-la da mochila, com a A6300 eu não tive o mesmo problema. No geral é o melhor corpo que usei da linha recente da Sony, e finalmente dá para recomendá-la a fotógrafos que trabalham diariamente com o equipamento.
Em cima a A6300 também é um show de design, que, de novo, não vi em nenhuma outra Sony. Os dials de programação de exposição (PASM) e de controle horizontal (exposição, etc), o flash embutido (ausente nas A7), a sapata inteligente e o viewfinder (que na verdade fica atrás) são TODOS rentes a placa de cima. Isso colabora para a robustez da câmera sem nada saindo do corpo. Pra falar a verdade é infinitamente superior a TUDO que já usei no vlog, como dials que “pulam” da câmera e são os primeiros a receber impacto, ou juntar poeira. Por outro lado não dá para usá-los com dois dedos “girando a roda”; você tem de “alisá-los” e torcer para o atrito funcionar.
Atrás a A6300 é dominada por uma tela LCD de 3” com o aspecto 16:9; o primeiro painel nesta proporção que vejo numa máquina fotográfica. É uma experiência interessante: a peça é “longa” e as fotos em 3:2 ficam bem pequenas no centro, com informações ao redor. Mas indica a natureza híbrida da A6300: com vídeos 16:9, aí sim esse painel parece imenso, bem melhor que as Canon DSLR ou as próprias Sony A7. De novo, é um recurso que eu adorei. Eu não me importo com as fotos pequenas no centro e prefiro fotografar com o viewfinder. E o chassi da tela é super grosso para o tamanho da câmera, contribuindo mais uma vez para a robustez da estrutura.
Como a tela LCD não é sensível ao toque, a minha primeira reclamação sobre a A6300, todos os controles estão ao alcance do dedão direito. São eles um jog dial vertical, com botões embutidos para cada lado; playback e lixo; o Fn dedicado, que ativa um menu overlay customizável; e uma nova chave AF/MF e AEL, com um botão no centro emprestado das A7 (a A6000 não tem). Em cima fica um MENU e ao lado dele, por último, está o que libera o flash, com um caminho fundo até “soltar” mecanicamente a peça por uma mola. Este botão na verdade exige o indicador da mão esquerda, de tão fundo que é. Mas o flash é um “extra”, e até prefiro que seja assim “difícil” de usá-lo para evitar que abra sozinho. No geral são os mesmos controles da Sony, o que é bom e ruim.
O lado bom é que vindo da A7II e da RX1R, usar a A6300 é fácil. Você aperta o MENU para acessar abas infinitas de ajustes e, milagrosamente, eu já sei até aonde algumas coisas estão. Mas o ruim é a qualidade destes botões, relativamente frágeis e por isso que eu não saio da Canon. Por exemplo o jog traseiro vertical, o que você usa com o dedão, já está falhando na minha A6300 de duas semanas. Eu tenho de aplicar mais força para ativar o botão “pra cima” do que eu preciso para os lados e para baixo, e na NEX-C3 testada em 2011 o painel traseiro inteiro não funciona mais. Ou seja, seria a A6300 uma câmera “fofa” que precisará ser trocada daqui a dois anos? Veremos.
Do lado da palma da mão… Não… Tem… Nada! Graças a deus! Foi neste lugar infeliz que a Sony colocou a porcaria de porta do cartão SD na A7II, aquela que abria sozinha. E do lado oposto estão as portas de microfone, USB e micro-HDMI; não tem entrada para fones de ouvido, imperdoável numa câmera que se diz híbrida para vídeos (e não encontrei um adaptador para usar na interface de cima). A A6300 continua carregando a bateria internamente por USB, e inclusive pode ser usada enquanto ligada “na tomada”. Apesar de ainda não funcionar como um smartphone (a bateria não carrega com a câmera ligada), pelo menos dá para gravar sessões de vídeo “na tomada”. Essa bateria entra embaixo, dentro do grip da mão direita, onde vai também o cartão de memória SD.
No geral o design e a construção da Sony A6300 são, com trocadilho, os mais sólidos que já experimentei numa Alpha. No review da A7II eu não conseguia superar os problemas com a ergonomia e decisões ruins da fabricante, como o viewfinder protuberante que literalmente me machucava ao carregar a câmera a tira-colo; ou a porta do cartão SD que abria sozinha. Mas na A6300 eles colocaram bastante coisa de forma lógica e, principalmente, robusta. Sim, há omissões ridículas como a falta de entrada para fones de ouvido. Mas este sim é um corpo que eu gostei de usar, e deixa para trás o estigma ruim que eu tinhas das Alpha. Agora é esperar um update das A7 Mark III com ideias emprestadas da linha A6000, que me parece ser de fato o futuro mirrorless.
O LCD traseiro é onde você passará a maior parte do tempo com a A6300. Ligou a câmera, ele liga junto, como uma Sony “genuinamente eletrônica” e a experiência “point and shoot” diferente das DSLR. Com 3” na proporção 16:9, para fotos eu considero esta tela pequena. São apenas 3.8cm de altura, então as fotos em 3:2 (formato nativo do sensor APS-C) viram “fotinhos”, não dá pra negar. A resolução também não é das melhores com menos de 1 milhão de pontos (921,600 pra ser exato), e você vê claramente os pixels, estranho em tempos de tela “retina” até nos smartwatches. As cores não são vibrantes e não tem sequer o ajuste automático do brilho (só para o viewfinder).
Mas o maior problema está na falta do touchscreen. De novo, em tempos de smartphone, é impensável um produto sem alguma interface fluída para os dedos, ainda mais numa câmera que tem suporte inclusive a apps. Os ajustes são tantos, ainda com os menus extensos da Sony e várias informações na tela, que fica impossível lembrar o tempo todo aonde eles estão. Durante o playback então, fica feio em 2016 ter de passar foto por foto por um dial e dar zoom no arquivo por um botão. E na hora de gravar vídeos, a limitação é a mesma da Canon 7DII: você não consegue fazer touch-to-focus e inutiliza o sistema de foco para takes criativos, com focus pull eletrônico.
Outro problema grave e que só descobri depois de comprar a A6300, é que em modo XAVC S 4K e/ou HFR, a tela LCD tem o brilho reduzido automaticamente, talvez para economizar energia e alimentar o processador, ou para evitar superaquecimento. E não é reduzido um pouquinho. É tudo, pro menor nível possível, praticamente invisível ao ar livre! Ou seja, você vai lá gravar o seu super vídeo com a sua super câmera 4K, mas não consegue ver o que está gravando. E nem é só na hora de apertar o REC, como algumas RED fazem. É o tempo todo em que a A6300 estiver em algum modo especial, 4K ou 120P. O brilho reduz e você não consegue ver direito! Ridículo.
Por isso eu me peguei usando mais o viewfinder OLED de 2.36 milhões de pontos, um destaque na A6300 que oferece os mesmos “estilos” de uso das DSLR, com os olhos presos a câmera. A experiência até que é boa: a ampliação 1.07x (0.7x equivalente as DSLR APS-C) transforma a telinha nativa de 0.39” num telão, e o sensor automático funciona bem. O viewfinder não chega a ser do tamanho de uma DSLR full frame (#sdds EOS 6D), que tem aquela “janelona”. Mas a quantidade de pontos OLED é justa e a fluidez vai até 120fps; é tão rápido que parece um buraco na câmera, perfeito. Em dias de muito sol, basta enfiar o olho no viewfinder e controlar tudo, bacana.
Mas ainda tem problemas de renderização como aliasing e moiré em detalhes muito finos. E as cores também continuam estranhas, longe da realidade e que na verdade representam os ajustes de Creative Style e Picture Profile. Ou seja, você está lá imerso numa paisagem com o céu azul e rochas vermelhas, mas “a vida” dentro do viewfinder é sem graça, com contraste baixo e cores desaturadas; iguaizinhas as que sairão nos seus arquivos! Daí nasce o argumento “as Sony são eletrônicas demais”. Veremos em breve a Fuji X-Pro2, que é tão “tecnológica” quanto uma Alpha, mas com um viewfinder muito mais orgânico. A Sony precisa resolver isso, caso contrário nunca competirá com as DSLR. Para fotografia, a A6300 continua uma Cyber-shot na minha opinião.
Um destaque que aproxima a A6300 da experiência que tenho nas DSLR é a velocidade, especialmente depois de ligada, pronta para fotografar. A A7II tem um lag ruim entre girar o botão ON/OFF, preparar o estabilizador embutido no sensor, e disparar a primeira foto, coisas que se repetem na A6300, talvez até pior. Você gira o botão e a A6300 leva longos dois, três segundos para disparar, o que não compete com as DSLR e nem outras mirrorless mais antigas. Apesar do processo ser mais rápido que abrir o app da câmera do celular, tornando a A6300 própria para snapshots, aquelas fotos rápidas sem antecipação, ela ainda não é uma máquina que dá para confiar no trabalho; pelo menos não desligada, como as DSLR o fazem.
As velocidades de foco automático e disparo do obturador, por outro lado, estão a par das DSLR, pelo menos com as objetivas nativas do E-Mount. É “apertou, focou” sob boa luz, e “apertou, buscou um pouco” no escuro, sem grandes atrasos em sujeitos estáticos. Os dois sistemas de foco são rápidos, o do tipo phase e o do tipo contraste (mais sobre eles depois), e estão sintonizados para fazer uma coisa só: buscar contraste e travar o foco. Se a câmera tiver dificuldade de encontrar micro-contraste nos pontos phase, ela pula para o contraste assistido pelo processador BIONZ, que é rápido. Tudo funciona e não tenho grandes relatos sobre a velocidade, o que é ótimo.
Com um sistema tão rápido, a Sony pode incluir regalias na A6300 que antes eram destinadas ao mercado profissional das SLR. Primeiro é a velocidade de disparo, que consegue chegar a 11 quadros por segundo no modo Hi+, e tem buffer para até 22 arquivos raw, com foco contínuo. A última foto capturada aparece na tela durante o disparo, dando a sensação de movimento para seguir os sujeitos; não há blackout e dá para pensar em fotografar ação. Não é fluído e elegante como o espelho de uma DSLR e o viewfinder óptico, mas dá para acompanhar o sujeito.
O buffer de 22 arquivos raw é esvaziado em 15 segundos com cartões UHS-I de 90MB/S (os UHS-II ainda não são compatíveis pelo BIONZ X da Sony), o que é razoável. Não é tão rápido quanto uma EOS 7D Mark II com BUS USB3.0 e cartões UDMA7, para até 167MB/s, que fica limitada a 30 raw e está “pronta” para mais fotos muito mais rápido que a Sony. E alguns ajustes da A6300 ficam travados enquanto o buffer esvazia, embora não todos; ela continua “esperta” mesmo depois de várias fotos. Então apesar de mirrorless e com um preço baixo (menos de US$1000 só corpo), foto por foto a 11 quadros por segundo a A6300 é a câmera mais rápida já testada no vlog do zack.
O sistema de foco automático também avançou significativamente e agora conta com 425 pontos phase embutidos no sensor de imagem; o maior número de qualquer câmera da história e que a Sony chama de 4D Focus (olha a confusão…). Infelizmente os pontos continuam não selecionáveis e até agora não consegui compreender qual área de fato eles cobrem. A tela mostra até o limite do quadro em modo phase, e a densidade parece ser tão alta que os pontos “fluem” de um lado para o outro, sem um grid; bizarro! Além dos pontos, outras 169 áreas são analisadas por contraste, para fazer um sistema realmente denso. De novo, funciona bem e melhor que um smartphone, sem dúvidas. Porém não é perfeito, e tive mais fotos fora de foco do que gostaria com a A6300.
No dia a a dia, apesar do pouco controle (a câmera escolhe entre pontos phase ou contraste), a A6300 tem uma única missão quando você aperta o botão: buscar contraste, e travar o foco. A experiência é vastamente superior a qualquer smartphone (as “câmeras” mais populares hoje) e idêntica as DSLR de entrada. Apertou, focou. O problema é que a área de foco é tão grande que entramos nos mesmos problemas da oferta gigante de pontos de foco das DSLR recentes. No modo totalmente automático, há boas chances da câmera escolher uma área próxima demais e deixar o horizonte desfocado, o que é difícil de perceber na tela LCD pequena, de baixa resolução.
Uma solução seria usar um dos modos de seleção de área, como: amplo, zona, zona variável flexível, centro e Lock-On. Eles limitam o espaço que a câmera buscará contraste, próprio para fotos específicas. Quer separar um atleta dos demais? Limite a zona de AF. Quer focar exatamente no horizonte? Prefira o foco central. Aí sim as chances de precisão aumentam, apesar de você jogar fora os 425 pontos de foco que a Sony está vendendo. Ou use o modo Lock-On que “segue” o sujeito inicial ao redor do quadro, utilizando qualquer um dos pontos. Ainda há as opções de seguir ou não rostos humanos, novidade nas DSLR mais novas mas praxe nas mirrorless.
Uma das opções de seleção mais interessantes, porém, está misteriosamente escondida como uma função customizável: é a Eye AF. Com ela programada, a A6300 busca exclusivamente os olhos do sujeito, perfeito para retratos. Funciona exatamente como descrito: a câmera encontra o rosto, coisa que qualquer câmera faz; mas dentro do rosto ela dá prioridade aos olhos. Em doze anos de fotografia digital eu nunca vi nada parecido, e começa a fazer sentido abraçar tamanha tecnologia. Se o processador é rápido e o sensor é preciso para focar sozinho num olho, por quê não? Genial!
Já o sistema contínuo também está avançando e impressiona pela velocidade e flexibilidade. A A6300 não hesita em seguir algum sujeito na tela, embora não passe segurança sobre qual este sujeito será. É o problema de tantos pontos de foco: a área é grande e você é obrigado a limitá-la para evitar o pula-pula de sujeito da câmera. Em AF-C os melhores modos são o Zona, para sujeitos grandes como carros; o central, que é minúsculo e desperdiça boa parte dos 425 pontos, mas é preciso; e o Lock-On, que serve como um 3D Tracking da Nikon. O algoritmo “4D” de fato prevê a posição do sujeito, então as sequências saem completas em foco. É impressionante para uma mirrorless e sinceramente rivaliza as Canon EOS pensadas para velocidade. Sensacional!
A Sony tem investido pesado em tecnologia nas máquinas fotográficas, aumentando a velocidade de processamento e leitura dos sensores, consequentemente caindo em imagens em movimento; ou seja, vídeos. Com sede de inovação e sem medo de atacar mercados próprios, ela apagou a distinção entre foto e vídeo nas máquinas fotográficas, diferente de algumas marcas tradicionais (cof, cof, Canon…) que ignoram completamente a geração “híbrida” que elas mesmas inventaram (2008 – 5D Mark II). A A6300 é a primeira APS-C da Sony a oferecer vídeo 4K com a mesmíssima tecnologia que vai até a F55 de US$35.000, mas por US$1000. Encurtando a história: os vídeos 4K da A6300 são, outro marco, os mais detalhados que já vi no vlog do zack. Embora não os melhores.
A resolução tem opções impressionantes como 3840×2160 pixels a 30 quadros por segundo por um crop central no sensor; um segundo modo “4K S35mm” a 24P, que faz uma leitura completa em 6K do APS-C e reduz para 4K eliminando parte dos ruídos; e 1920×1080 pixels a até 120 quadros por segundo; ambos em formato XAVC S a 100Mbits/s (12MB/s). O ISO pode ser usado em 25.600, embora os ruídos só fiquem invisíveis até ISO1600. E o Picture Profile suporta o S-Log 3, para 14 stops de dynamic range em ISO nativo 800. Adicione aí uma função Gamma Display Assist, que joga uma curva LUT709 no LCD para facilitar a composição durante a gravação em S-Log. E você tem nos bolsos uma FS7, aqui com gravação interna e bateria para uma hora, por US$1000. Wow!
Seja em snapshots do dia a dia ou trabalhos profissionais, o 4K da A6300 impressiona. Os detalhes são incríveis e de fato parece uma janela em monitores de alta resolução. São todos os tijolos em prédios e letras em painéis distantes, coisa que às vezes não vemos nas fotos dos smartphones. Mas a A6300 faz em vídeo com o sensorzão APS-C. Dependendo do perfil da imagem (Picture Profile), você jogará fora informações de luz e sombras, como nos exemplos acima com highlights estourados. Por isso os modos S-Log2 e S-Log3 estão disponíveis para manter os 14 pontos de dynamic range do Exmor. Os arquivos continuam caóticos de fazer grading além dos ruídos em excesso (o ISO mínimo sobe para 800). Mas se bem tratados, os vídeos da A6300 impressionam.
Já a qualidade do 1080P varia nas velocidades 24P, 30P, 60P e 120P. As três primeiras são feitas por pixel binning em formato S35mm (o sensor todo é lido em 6K e reduzido para 1080P). E em 120P ele é por crop 4K central, convertido para 1080P com line skipping. E os resultados não são dos melhores. Em 24P, 30P e 60P, o pixel binning mata um pouco dos detalhes apesar de evitar moiré. A imagem não sai “viva”, brilhante e nítida como em 4K, parecendo um arquivo “mudo” como as Canon DSLR. E em 120P por line skipping, o moiré aparece, terrível. Então é curioso como a A6300 está perfeitamente ajustada para o 4K, mas em 1080P ela parece uma Canon EOS DSLR. Evitem.
O foco automático no modo vídeo também é limitado. Você tem duas opções: continuo ou manual, sem uma função “single”. Ou seja, ou a câmera muda o foco o tempo inteiro, correndo o risco de mudar sem você querer, ou você faz manualmente (com assistência de peaking). Com a E PZ 16-50mm f/3.5-5.6 OSS, os resultados satisfazem. O AF não fica procurando o ponto certo e vai direto para o sujeito, indicando que o sistema phase está em ação. Ele não “caça” durante a filmagem, portanto dá para confiar em takes tranquilos como paisagens. Mas não todos. Numa sequência a noite, a A6300 se recusou a travar o foco, o que fica bem visível no 4K quando você assiste em telas de alta resolução. Portanto para melhores resultados, prefira o foco totalmente manual.
Apesar do hype, o vídeo da A6300 é bacana mas longe da perfeição. A resolução aumentou e os detalhes são incríveis, assim como a total ausência de artifícios em 4K (sem moiré nem aliasing) e imagens praticamente limpas até ISO1600. Quem grava com uma DSLR da Canon (exceto 1D-X II, 5D Mark III e 1D-C) notará um salto significativo na qualidade e, pelo preço, é fácil recomendá-la. Mas ainda não é um output raw como a minha Blackmagic Cinema Camera de 2012, que roda a 90MB/s (720Mbits, mais de 7x a A6300) em arquivos raw, com flexibilidade muito maior; nem uma câmera ultra fácil de usar com AF revolucionário (apesar dos 425 pontos phase). Dependendo do seu estilo, fique atento: só o 4K por US$1000 não será suficiente para melhorar o trabalho.
As últimas ressalvas sobre a gravação de vídeos caem sobre a compatibilidade com cartões SD, as chances de super aquecimento, e a notável ausência de uma porta para fones de ouvido. Por causa da limitação USB 2.0 do controlador de memória da A6300, os cartões tem acesso ao no máximo 31MB/s, tornando inútil o uso do protocolo HC-II que chega a até 280MB/s. Então o modo 4K 100M está disponível somente com cartões UHS-3, e estes são cheios de incompatibilidades. Eu não tive problemas com um SanDisk Extreme Pro SDXC HC-I UHS-3 de 95MB/s, mas teste os seus antes de trabalhar. O mesmo sobre o super aquecimento. Enquanto meus exemplos não passaram de 1 minuto, já li relatos de Sony travadas com takes longos de meia hora ou mais. Lembre que esta é uma câmera 4K sem exaustor, então é de se esperar que o calor acumule dentro do equipamento.
Com o par de sensor APS-C de 24MP e processador BIONZ X, a A6300 oferece o mesmo output de 6000×4000 pixels da irmã mais velha A6000, e outras APS-C de 2016 (EOS T6i, Fuji X-Pro2). O chip em si não é reaproveitado da A6000, como aconteceu nas A7 e A7II. É um imager Exmor novo com fiação de cobre, que a Sony diz aumentar a velocidade de leitura e reduzir os ruídos. Ainda não é um avanço BSI (back side illuminated) como na A7R II, então aguardemos a próxima geração. No geral os arquivos raw são os mais flexíveis do mercado APS-C, aceitando ajustes pesados de luz e sombras em ISO base; e ruídos controlados até ISO3200, embora não comparáveis as full frame.
Resolução e nitidez estarão limitados a objetiva, e aqui testada com a E PZ 16-50mm f/3.5-5.6 OSS, fica claro a exigência de lentes premium para extrair o melhor destes sensores de “alta densidade”. Os arquivos de 6000×4000 são flexíveis para tudo: impressões gigantes, output web, ou só dar um upgrade aos fotos que outrora seriam feitas com o smartphone. As cores são muito mais “densas” que as de um sensor minúsculo de telefone, sem buracos de ruídos nas sombras ou bolhas brancas estouradas no céu. É o mesmo resultado de uma DSLR, e não poderia deixar de ser. O corpo da A6300 é pequeno, mas o que tem dentro é melhor que as câmeras maiores que vemos por aí.
“Times Square” em f/3.5 1/60 ISO160 @ 16mm; note a recuperação perfeita, quase imperceptíveis de luzes e sombras no arquivo raw. “Billboard” em f/5 1/60 ISO160 @ 33mm; a recuperação das sombras não vem com bolhas coloridas no Exmor; é quase um HDR num arquivo só. “8th” em f/7.1 1/250 ISO100 @ 50mm; fotos “mudas” direto da câmera ganham vida com o pós-processamento. “Garment District” em f/3.5 1/60 ISO100 @ 16mm; recuperação +5 das sombras no arquivo raw, sem bolhas coloridas.Destaque para quem está afim de fuçar nos arquivos raw é a flexibilidade dos sensores Exmor da Sony; e a qualidade que eles tem para mudar a exposição no computador depois do click. Vindo do review da Canon EOS T6i, que também tem um APS-C de 24MP, é gritante a diferença no volume de informações nos arquivos das duas. Seja para recuperar luzes num céu estourado ou sombras em zonas sub-expostas, a Sony mantém no APS-C a mesma qualidade que eu vejo no full frame, sem bolhas coloridas quando “puxamos” os cinzas. Numa cidade iluminada só por painéis eletrônicos, dá para “subir” as sombras até +5 no Adobe Camera Raw sem perda de qualidade, coisa impossível na Canon sem ruídos; ou transformar céus num show de tons e saturação, com alta qualidade.
O que o APS-C ainda não se compara ao full frame, porém, é na performance dos ruídos em ISOs altos, que são mais visíveis na A6300 em ISO3200 do que numa EOS 6D de 2012. A partir de ISO1600 nas sombras já para notar aquele monte de pixels irregulares e subindo para 2000, 3200, 4000 até 6400 eles tomam conta do arquivo como uma textura eletrônica. Aqui dá até para usar de novo o meu argumento favorito contra a Sony: as fotos são eletrônicas demais. Enquanto no full frame da Canon os ruídos são bonitos, orgânicos, lindos na impressão; e até a Fuji “embute” os ruídos nas simulações de filme dos arquivos X-Trans, os da Sony A6300 são repetitivos, em padrão. Pode ficar feito nas impressões e se você procurar por eles. Mas para a maioria das saídas web de hoje em dia, poucas pessoas notarão. De novo, é um belo upgrade a qualquer smartphone.
“Estrada” em f/7.1 1/800 ISO100 @ 16mm; a vida chata e sem graça do BIONZ, e a vida publicitária do arquivo raw. “Antelope Canyon III” em f/3.5 1/25 ISO1600 @ 16mm; ou mesmo para recuperar luzes em ambientes escuros, o raw são a salvação. “Estrada II” em f/6.3 1/500 ISO100 @ 16mm; arquivos com muito mais impactos depois do pós processamento do raw.Enfim os arquivos JPEG direto da câmera são interessantes de analisar, porque exemplificam de novo como a Sony dá um “sabor” eletrônico as fotos. Comparando lado a lado o contraste, a saturação, o equilíbrio da exposição e look geral das fotos, nota-se que as imagens direto da A6300 não são tão impactantes como as de uma Canon ou Fuji X, que são bem mais saturadas. Tudo parece morto e no Creative Style “standard”, implorando por uma “gourmetização” das fotos no computador, seja em raw ou JPEG. O mesmo acontece com os vídeos em perfis padrão, fora do S-Log2 ou 3. Ou seja, não é aquela câmera que você recomenda a quem quer “foto mais bonitas”. Os arquivos raw são flexíveis sim, mas só ficam bons se você souber como processá-los.
Crop 100%, note como o JPEG da câmera é muito mais nítido comparado a uma conversão padrão da Adobe. Crop 100%, o BIONZ X apaga os ruídos, mas também elimina os detalhes finos como a trama dos tecidos.Segundo, é assustador como a Sony ama “aplicar um sharpening” nos JPG que saem do BIONZ X, que são muito mais detalhados que os raw convertidos nos programas da Adobe. Com os valores padrão de sharpening do Camera Raw (A25+, R1.0, D25, M0), os detalhes em arbustos, pedras, areia e texturas de asfalto praticamente somem do raw, dando a impressão de uma objetiva míope. Mas é só subir o Amount de sharpening para incríveis 70+ que os detalhes do raw aparecem, como os JPEG da câmera. É um valor absurdo porque os ruídos ganham “halos” ao redor dos pontos que, tcharam!, o BIONZ X magicamente esconde em ISOs altos, ao custo dos detalhes.
A Sony está inundando o mercado fotográfico com tecnologia e câmeras perfeitas no papel, com apelo de sobra para criar buzz na internet. Não é de assustar, eles são líderes em fornecer chips de imagem para smartphones (boas chances o seu ter um), então natural que se aventurem a criar suas próprias câmeras dedicadas, cutucando com formas, usos e filosofias diferentes as marcas tradicionais, estas que não entendem e não acompanham a “geração selfie”. É uma brincadeira divertida de assistir, de camarote nesta praça pública que é a internet. Preparem a pipoca!
Mas a realidade é que a A6300 continua próxima demais de um “consumer electronic”, e eu me recuso a aceitá-la como uma máquina fotográfica séria. O design é bacana e gostoso de usar, bem menor que uma SLR e sem firúlas estilísticas (retrô) que amaldiçoam alguns modelos. Porém os botões continuam problemáticos, com feedback frágil, como um produto feito para durar apenas até o próximo ciclo de lançamento. É o mesmo caso da tela pequena e com poucos pixels para esta geração, pensada mais para vídeo e, ao mesmo tempo, sem interface sensível ao toque, ridículo nesta altura do campeonato. O viewfinder é OLED e com 2.36M pontos, o que é impressionante. Porém a experiência continua pobre e genuinamente eletrônica: sem cores, sem vida, sem graça.
Se por um lado eu me recuso a aceitá-la como máquina fotográfica, por outro eu recomendo para produção de vídeos. Vocês pediram e a Sony fez: 2160P30 a 100Mbit/s em S-Log3 por menos de US$1000, com gravação interna estável, controles manuais de exposição e um sensor “S35mm”. A qualidade do 4K é sensacional, e mesmo que o 1080P não funcione, basta gravar na resolução maior e reduzir depois via software. Experimente os perfis de cor e exposição antes de filmar, e veja qual funciona no seu workflow. Para o dia a dia, o padrão serve para aumentar a resolução, mas peca em reter detalhes nas luzes. Então vale usar o S-Log para aproveitar melhor o Exmor.
A qualidade de imagem das fotos selam o argumento “produto eletrônico”. O sensor APS-C de 24MP é novo e muito bom, melhor que qualquer Canon DSLR hoje. E os arquivos direto dele (raw) são flexíveis, com recuperação de luzes e sombras na mesma qualidade das full frame. Os ruídos não são comparáveis aos sensores maiores, o que era esperado. Mas os arquivos JPEG pobres direto da câmera, reflexo da alma eletrônica da Sony, me levam a recomendá-la com parcimônia a fotógrafos menos experientes. Sem um pós-processamento pesado, as fotos tem contraste baixo e cores “mudas”, o que pode tirar o tesão de uma máquina de sensor grande. Então só para quem sabe o que está fazendo, o arquivos de vídeo e foto da A6300 entregam a promessa. Para o restante, continue com os sensores da Sony nos smartphones. And happy instagramming!