Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Perfeitamente imperfeita


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Maio/2016 – A Tokina é mais uma marca third party de objetivas para fotografia. Sem licença oficial, é o mesmo esquema da Sigma com o mount dos outros: fazem engenharia reversa nas câmeras para descobrir como elas funcionam, criam um projeto óptico, e montam as objetivas geralmente com um custo menor que as marcas maiores. Feitas pela Kenko (Tokyo, Japão), conhecida pelos teleconversores, as Tokina na verdade levam os vidros de outra marca famosa, a Hoya (aquela dos filtros), que também fornece para a Tamron. Ou seja, um vai e vem de marcas, empresas e produtos, com uma única vantagem para o consumidor: é mais uma opção na hora da compra, quando as objetivas “de marca” são muito mais caras, com valor agregado. (english)

Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Diferente das Sigma e Tamron, porém, as Tokina ainda não passaram pela gourmetização de uma linha “Global Vision Art” ou “Super Performance”. Então os equipamentos deles parecem antigos, feios e inferiores, apesar da alta performance de construção e óptica, especialmente no mercado zoom. A AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II, por exemplo, é única deste tipo no APS-C, com abertura máxima constante f/2.8. Não há qualquer ultra grande angular zoom de Canon, Nikon ou Sony (os mounts oferecidos para o modelo) com esta especificação. Por US$479, não dá nem para chamá-la de low cost. E não é! Parte da linha AT-X PRO, ela tem construção robusta, foco automático interno, kit com parasol e até vidros asféricos na fórmula. Mas funciona? Vamos descobrir! Boa leitura.

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Em 8.5 x 9 cm de 550g (!), a primeira coisa que você nota na Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II é o tamanho e o peso, bem maiores que as objetivas “APS-C porcaria” que vemos por aí. Grande e pesada, ela está na mesma classe da EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM em dimensões, mas digna de uma f/2.8 constante no peso. Mais pesada que a Canon de 369g e abertura variável, a Tokina está na verdade mais próxima da Nikon AF-S DX 12-24mm f/4G de 465g, inclusive no design com anéis e letras dourados. Todas feitas para trabalhar, são o melhor que cada fabricante oferece no formato menor, e a Tokina não fica atrás em construção, pelo contrário; eu esperava menos mas recebi de fato uma PRO: pronta pra tudo, pronta pra aguenta pancadas, pronta pra ficar sempre na câmera.

Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Nas mãos a ergonomia é uma novidade porque, sendo uma objetiva pesada, ela deve ser apoiada com as mãos. Com o apoio das mãos, sendo uma zoom os seus dedos deveriam cair sobre o anel mais usado, o da troca de distância. Mas na Tokina não: na frente está o anel de foco manual, com o duplo papel de botão liga/desliga do foco automático; e atrás está o anel de zoom, que pede os dedos dobrados para ir dos curtos 16mm até 11mm. É uma burrice da Tokina que insiste no anel de foco “One-touch Focus Clutch”, este que precisa ficar na frente, com o zoom atrás e desconfortável em todos os modelos AT-X. E a minha cópia está super dura, exigindo muita pressão para ir de uma ponta a outra, bem inferior a suavidade da Canon EF-S 10-22mm. É uma decisão ruim do design e que justifica o preço da Canon ergonomicamente perfeita. Testem as Tokina antes de comprar.

Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Na frente o tal sistema “One-touch Focus Clutch” é outra complicação da Tokina para algo simples. Ao invés de um botão para ativar/desativar o motor de foco automático, o anel de foco manual inteiro desliza para frente e para trás, a fim de engatar/desengatar (clutch) o mecanismo do motor, o que já indica que os dois não funcionam ao mesmo tempo (full time manual) como nas objetivas modernas. É ruim porque o óbvio acontece: o anel de quase ø60mm desliza todo torto de um lado para o outro, e parece que vai quebrar do lado de dentro. E pior, para sair do modo automático, não há indicação das posições que você pode entrar/sair; são “dentes” internos que ditam o ajuste. Como há uma força mecânica enorme entre as peças, COM CERTEZA a vida útil do equipamento será reduzida a longo prazo. Pense na durabilidade das Tokina antes de comprá-las.

Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Do lado de dentro o motor de foco automático não tem nada de especial e a Tokina não faz declarações a respeito da tecnologia. Enquanto todas as outras marcas usam o motor ultrassônico, o da Tokina parece ser por micro motor DC e engrenagens que fazem barulho. Apesar de interno (nada mexe do lado de fora), ele não aceita o full time manual; precisa engatar/desengatar o motor manualmente, outro revés na usabilidade. E no modo automático ela não é das mais rápidas. Não é um problema com sistemas de foco phase, como na EOS 7D Mark II: a objetiva vai direto ao ponto, sem rapidez mas também sem pensar. Mas é bem ruim em câmeras híbridas com foco por contraste e phase, como a EOS M: o motor vai e volta, faz barulho, e demora muito para travar. De novo, está longe das Canon EF-S USM ou STM mais rápidas, que justificam o preço do AF.

Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II

Na frente os filtros de ø77mm são bem-vindos no ultra grande angular, coisa que a maioria das full frame abaixo dos 16mm não tem com a abertura f/2.8. A rosca é de plástico e o tubo interno mexe, portanto cuidado com filtros muito grossos para não baterem no primeiro elemento. Ao redor da rosca está a baioneta para o parasol, que é enorme para quem está acostumado com objetivas pequenas. E atrás o mount de metal até tem uma borracha de vedação, embora não seja declarada a resistência aos elementos. No geral a Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II deixa uma impressão positiva pela construção robusta e recursos inclusos no low cost. Mas o sistema de “Clutch Focus” é terrível e questiono a durabilidade da peça para recomendá-la. É genuinamente uma firúla, funciona mal e resolve um problema que nunca existiu. Qual o problema de ter um botão?

QUALIDADE DE IMAGEM

“Parking Lot” em f/6.3 1/400 ISO100 @ 11mm.

“Parking Lot” em f/6.3 1/400 ISO100 @ 11mm. Todas as fotos com a EOS M.

Com uma fórmula óptica de incríveis 13 elementos em 11 grupos, dois vidros SD de baixa dispersão, dois vidros asféricos e coatings multi-camadas, a Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II não é uma objetiva pensada em custo, mas sim em performance. Também com uma proporção tão curta de zoom (1.45x), fica fácil projetá-la com alta performance mesmo no formato menor: os arquivos são nítidos na abertura máxima, com plano de imagem uniforme e distorção geométrica praticamente nula; as aberrações cromáticas laterais são enormes, embora fáceis de corrigir; e o único problema está nos reflexos internos que geram flaring, que pedem cuidado na composição. Fora isso, a Tokina 11-16mm f/2.8 está entre as melhores grande angulares do formato APS-C.

“Escada” em f/2.8 1/30 ISO2000 @ 11mm.

“Escada” em f/2.8 1/30 ISO2000 @ 11mm.

Logo em f/2.8 é impressionante a resolução da Tokina no quadro todo, desde que você 1) consiga encaixar todo o seu sujeito na profundidade de campo curta, e 2) redobre a atenção na focagem, que sob qualquer deslize pode tirar a nitidez do quadro. Foi fácil perceber nos meus testes certa negligência na hora de fotografar: na pressa, não verifiquei o foco e alguns arquivos estão pouco nítidos; e outros são impecáveis na abertura máxima, indicando o que a Tokina é capaz. Portanto tomem cuidado: não é por causa do “grande angular tudo em foco” que você pode sair disparando a câmera a rodo, e para os melhores resultados tenham paciência para compor e focar a AT-X 11-16mm. Se bem utilizada, mesmo no f/2.8, os arquivos são incríveis sob pouca luz e ISOs baixos.

“Rotunda” em f/2.8 1/30 ISO400 @ 11mm; a dramaticidade do ultra grande angular.

“Rotunda” em f/2.8 1/30 ISO400 @ 11mm; a dramaticidade do ultra grande angular.

Crop 100%, o nível de detalhes da EOS M (US$349), segurada nas mãos.

Crop 100%, o nível de detalhes da EOS M (US$349), segurada nas mãos.

“Sala de leitura” em f/2.8 1/30 ISO250 @ 11mm; o silêncio do mirrorless.

“Sala de leitura” em f/2.8 1/30 ISO250 @ 11mm; o silêncio do mirrorless.

Crop 100%, detalhe na trama do tricot e no acabamento do computador.

Crop 100%, detalhe na trama do tricot e no acabamento do computador.

“Túnel” em f/2.8 1/30 ISO3200 @ 11mm.

“Túnel” em f/2.8 1/30 ISO3200 @ 11mm.

Crop 100%, contraste perfeito na abertura máxima.

Crop 100%, contraste perfeito na abertura máxima.

Fechar para f/5.6-f/8 marginalmente aumenta a resolução mas ajuda a “espremer” a profundidade de campo, que fica mais longa para paisagens e arquitetura. Nestes casos a 11-16mm brilha para trabalhar nos mesmos moldes das objetivas mais caras, com performance de ponta a ponta. Então no lugar de usar uma Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM ou Nikon AF-S 14-24mm f/2.8G de centenas de dólares no full frame, por quê não adicionar no kit uma câmera + objetiva APS-C por uma fração do preço? Se o trabalho não exige a performance do sensor maior, dá para viver tranquilamente com uma APS-C de entrada e a mesma resolução das câmeras mais caras.

“Pista” em f/6.3 1/400 ISO100 @ 11mm.

“Pista” em f/6.3 1/400 ISO100 @ 11mm.

Crop 100%, no limite do sensor de 18MP da EOS M.

Crop 100%, no limite do sensor de 18MP da EOS M.

“Bryce Point” em f/6.3 1/250 ISO100 @ 11mm.

“Bryce Point” em f/6.3 1/250 ISO100 @ 11mm.

Crop 100%, cada pedrinha na base do quadro, cheio de resolução.

Crop 100%, cada pedrinha na base do quadro, cheio de resolução.

“Wave” em f/5.6 1/1000 ISO100 @ 11mm.

“Wave” em f/5.6 1/1000 ISO100 @ 11mm.

Crop 100%, texturas de pedras, vincos e tons com boa nitidez.

Crop 100%, texturas de pedras, vincos e tons com boa nitidez.

Também impressionantes são a correção de distorção geométrica, praticamente inexistente; e as aberrações cromáticas laterais, enormes como na maioria das grande angulares zoom. Como ambas são fáceis de corrigir via software, não valem como argumento contra a performance óptica. Talvez elas apareçam em vídeos uma vez que nenhuma marca embute os perfis das objetivas third party na correção do processador in-camera. Se a gravação for em raw, por outro lado, dá para corrigir no pós-processamento. Mas não são problemas graves e com certeza já vimos peças bem piores em 16mm como a Sony E PZ 16-50mm e até a Canon EF 16-35 f/2.8L II.

“Passagem” em f/2.8 1/25 ISO100 @ 11mm; note como a distorção é muito pequena no ultra grande angular.

“CLTRV” em f/5.6 1/80 ISO100 @ 11mm; dependendo da composição, nem dá para perceber a correção.

“Hoover” em f/6.3 1/400 ISO100 @ 11mm.

“Hoover” em f/6.3 1/400 ISO100 @ 11mm.

Crop 100%, antes e depois da correção de aberração cromática lateral perfeita via software.

“Nevada Time” em f/6.3 1/640 ISO100 @ 11mm.

“Nevada Time” em f/6.3 1/640 ISO100 @ 11mm.

Crop 100%, mesmo em linhas pouco contrastantes a aberração está presente, exigindo correção.

Por fim a única “característica marcante” (pra não chamar de defeito) da Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II é a total incompetência para lidar com flaring. Típico do grande angular e o campo de visão amplo, é quase impossível tirar todas as fontes de luz do quadro: o sol, lâmpadas na rua, faróis de carros… E estas fontes fortes, brilhantes, causam reflexos nos vidros da objetiva, que não são bem tratados para evitá-los. Já era uma reclamação na versão I, e continua ruim na II. Mas é uma característica dúbia: tem gente que usa o flaring exatamente para destacar a fonte de luz, e estes ficarão felizes com os resultados da Tokina. São de todos os tipos: fantasmas coloridos em lâmpadas; bolhas roxas do sol; arco-íris nas bordas… Se flaring for do seu gosto, divirta-se!

“WTC One” em f/5.6 1/640 ISO100 @ 11mm; (d)efeitos especiais direto da objetiva. :-D

“WTC One” em f/5.6 1/640 ISO100 @ 11mm; (d)efeitos especiais direto da objetiva. :-D

“Bryce Point II” em f/6.3 1/160 ISO100 @ 11mm; o formato da abertura e arco-íris na borda.

“Bryce Point II” em f/6.3 1/160 ISO100 @ 11mm; o formato da abertura e arco-íris na borda.

“Death Valley” em f/6.3 1/1000 ISO100 @ 11mm; flaring bem em cima do meu sujeito. ¬¬

“Death Valley” em f/6.3 1/1000 ISO100 @ 11mm; flaring bem em cima do meu sujeito. ¬¬

“Topo” em f/6.3 1/640 ISO100 @ 11mm; flaring discreto mas presente a esquerda.

“Topo” em f/6.3 1/640 ISO100 @ 11mm; flaring discreto mas presente a esquerda.

 “Túnel II” em f/2.8 1/30 ISO2000 @ 11mm; estrelas na abertura máxima, nunca tinha visto antes.

“Túnel II” em f/2.8 1/30 ISO2000 @ 11mm; estrelas na abertura máxima, nunca tinha visto antes.

Porém dependendo do ângulo de incidência, o contraste geral do quadro vai embora. Em algumas fotos com a luz vindo de cima e fora do quadro, é bizarro como o reflexo do lado de dentro da objetiva vem não dos vidros em si, mas dos tubos internos. As cores vão pro saco, sem saturação, apesar dos detalhes ficarem intactos. Hoje em dia é até fácil de corrigir com o slider “dehaze” do Photoshop CC, que seletivamente ajusta o contraste em áreas cinzas. Mas na prática, fiquem avisados: essa objetiva “reflete” pra caramba, e manchas coloridas aparecem bastante nas fotos. 

“I heart NY” em f/5.6 1/400 ISO200 @ 16mm; antes e depois do dehaze do Adobe Camera Raw.

VEREDICTO

A Tokina AT-X PRO 11-16mm f/2.8 DX II causa uma boa impressão sobre a marca. Ela é muito bem construída, vem completa com recursos automatizados (AF, abertura, contato eletrônicos) e as fotos valem totalmente o preço de US$479. Sem nenhuma oferta parecida no mercado, fica fácil recomendá-la como melhor opção no f/2.8, que não é tão simples de projetar quanto parece. Mas este anel de foco manual “One-Touch Clutch” é ridículo e a implementação é ruim, complicando o que era pra ser simples e me faz questionar se vale a pena recomendá-la a longo prazo. A Tokina entrega opticamente, o que é mais importante, e quero experimentar outros projetos deles. Apenas lembrem de pensar na durabilidade do equipamento antes de comprá-las. E boas fotos!