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Maio/2018 – A EF 100mm f/2.8 Macro USM é uma objetiva prime curto-telephoto de relativa grande abertura, com capacidades “macro” 1:1; feita para preencher o quadro com objetos pequenos. Apresentada pela Canon na linha EF (formato 135 full-frame) em março do ano 2000, com mais de 18 anos de mercado ela continua uma das mais importantes objetivas da linha: a macro mais flexível, dada a distância focal nem tão longa, nem tão curta, bacana para trabalhar com produtos, insetos, retratos, paisagens, e até esportes; e também uma das mais acessíveis, perfeita para atender os kit de profissionais e fotógrafos entusiastas. Não sem concorrentes na linha – a Canon tem a mais extensa coleção de objetivas macro do mercado, como a prime especial MP-E 65mm f/2.8 1-5X; a grande angular para o APS-C EF-S 35mm f/2.8 IS STM; a 100mm f/2.8 de especificação idêntica na série L; e três novos modelos tilt/shift macro, exclusivos no formato – afinal como se comporta a 100mm f/2.8 USM com duas décadas de vida? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 7.9 x 11.9 cm de 600 gramas de principalmente plásticos, borrachas, vidros e acrílicos, a primeira coisa que notamos na EF 100mm f/2.8 Macro USM é o design “das antigas”; não dá pra negar os 18 anos de vida na linha Canon EF. Um “problema” que acomete diversas objetivas da fabricante, este desenho inclui diversos degraus táteis de operação, suporte, controles e funções, distintos de peças recentes feitas num tubo só (“streamlined”), apesar da usabilidade continuar o ponto forte da Canon; certamente já vimos objetivas mais simples, e que são mais difíceis de usar (dada a ausência de botões). O importante é a robustez e a leveza do projeto em policarbonato texturizado e operação do foco totalmente interna, claramente feitos para o mercado profissional como a série L de mesmíssima especificação; ambas atenderão quem trabalha com fotografia, e quem a tem como hobby, no mercado macro. Portanto a recomendação de qualquer uma das 100mm f/2.8 é fácil: opte pelo modelo mais caro “série L” se você precisa do estabilizador de imagem (bacana também para a gravação de vídeos) e da proteção contra água e poeira (“weather sealing”); ou escolha pela versão mais barata tradicional, tão bem construída quanto.
Nas mãos a ergonomia agrada quem tem dedos longos, uma vez que tudo parece “gordo” na 100mm f/2.8 Macro USM. Ela não precisa ser tão grossa: o primeiro e último elementos ópticos certamente são menores que o tubo central, e fica clara a intensão da Canon em aumentar a “pegada” das mãos, melhorando a ergonomia. Perto da câmera uma área estática com cerca de 5,5cm serve de apoio fixo, abrigando a janela de distância em cima e os controles do foco ao lado; ainda com espaço para o colar de pé de tripé opcional, modelo B(B) atrás. Ao centro, o anel de foco manual é generoso com cerca de 3.6cm de comprimento e uma borracha quase total, suave de usar, e oferece a excelente operação do “full-time manual”: a qualquer momento, mesmo com o foco automático ligado, é possível compensarmos a posição da focagem pelo anel, fácil de usar. Esta era uma novidade sobre a EF 100mm f/2.8 Macro de 1991 (não USM), e um destaque até hoje: diversas objetivas “macro” não levam o anel de foco a sério, mas a Canon é perfeita inclusive no mercado intermediário. Ainda, este anel é preciso com cerca de 150º de giro, com 120º dos 31cm do foco mínimo, até o 1m; e com 30º restantes até o infinito; rápido de usar. É a operação sempre perfeita de uma Canon EF, de ergonomia bem acertada, e pensada no fotógrafo.
Do lado de dentro a Canon usa um motor de foco automático USM topo de linha “ring-type”, de alta velocidade, absolutamente silencioso; e ainda incrivelmente preciso, com grupos do tipo “float”. Novamente, surpreende a tecnologia da Canon de quase duas décadas: o foco totalmente interno justifica as dimensões avantajadas desta 100mm (a 100mm f/2, por exemplo, é muito mais curta), e o design interno é exigido para mover os grupos em direção opostas, a fim de garantir qualidade de imagem do foco mínimo ao infinito. Um anel magnético gera força sobre o grupo central para trás, num movimento oposto ao grupo traseiro; ampliando a imagem no plano (daí a focagem de perto). Desta forma as aberrações são minimizadas do centro às bordas do quadro, e a velocidade continua boa; passível até de usar esta 100mm como uma curto-telephoto para esportes. Aqui demonstrada com a EOS 5DS de 2015 (15 anos de diferença entre a câmera e a objetiva), o foco automático foi quase perfeito; somente com alguns probleminhas típicos da fotografia macro.
Em modo single a precisão agrada tanto no sistema pelo espelho (phase detection) quanto pelo Live View (por contraste na 5DS); e praticamente todas as fotos saíram em foco neste review. O motor automático tem torque de sobra para “empurrar” o grupo de foco em alta velocidade, e é fácil fotografar insetos, pássaros e outros sujeitos vivos. Há um pequeno porém na operação: como a focagem macro pode completamente mudar o ponto de foco da distância mínima ao infinito, não raro a câmera não busca o foco, caso a imagem esteja muito desfocada. Daí a operação do anel “full-time manual” é importante, para darmos o ponta pé inicial a posição de foco desejada. Por outro lado, durante a focagem SERVO contínua e a fotografia dos ciclistas da Avenida Paulista, os resultados são mistos: cerca de 50% das fotos estão em foco, uma taxa de acerto baixa (a série L também mostra este comportamento). Apesar do motor ser rápido e do uso de um limitador para o foco automático dos 0.31m ao infinito (foco completo), ou 0.48m ao infinito, quando não iremos usar as capacidades macro, a focagem SERVO é pouco confiável nestas objetivas. Portanto use as 100mm f/2.8 Macro para o que elas foram feita: fotos de sujeitos estáticos, e bem de perto.
Enfim sem estabilizador de imagem; LEDs embutidos; ou ajustes de ampliação ou zoom; na frente a EF 100mm f/2.8 Macro USM aceita modestos filtros de ø58mm, não tão caros nem difíceis de encontrar. Eles vão presos numa rosca de plástico que está sobre o elemento frontal, dentro do trilho de parasol ET-67 (não incluído na caixa); e o trilho de flash especial “ring” (como o MT-24EX). Atrás a baioneta de montagem é de metal e presa por quatro parafusos, robusta para anos de operação; apesar de claramente o tubo da objetiva ser de policarbonato, resistente a impactos. O último elemento faz parte do grupo de focagem e é móvel, e impede o uso dos teleconversores 1.4X/2X, além de não “selar” a entrada de poeira na objetiva; cuide na hora de montar/desmontar da câmera. A EF 100mm f/2.8 Macro USM é uma peça antiga na linha Canon, mas a operação e a construção continuam boas. Embora ela não seja uma “Mark II” ou uma “série L”, o projeto passou por revisões mínimas para se manter atual (os botões são chapados como nas objetivas novas, por exemplo), eu nunca vi um fotógrafo reclamar de problemas mecânicos no modelo. Mas será que as imagens ainda valem para o mercado digital, exigente por resolução e nitidez? Vamos montá-la na top EOS 5DS de 50MP, e avaliar se dá para viver com uma objetiva de 18 anos na linha EF Canon.
Com um projeto óptico simplificado de 12 elementos em 8 grupos, nenhuma peça de vidro especial, como de baixa dispersão; tratamentos químicos tecnológicos, como o “SWC” ou “Air Sphere”; ou ainda formas geométricas sofisticadas, como as lentes asféricas; o que a Canon EF 100mm f/2.8 Macro USM de duas décadas entrega em performance óptica é exemplar; uma das melhores objetivas que já vimos no vlog do zack, apesar da idade, preço e posição no mercado. A qualidade de imagem beira o bizarro: ao lado da série L praticamente não há vantagens no projeto óptico da objetiva mais cara. A resolução é espetacular logo na abertura máxima f/2.8, mesmo na Canon EOS de 50MP. O controle das aberrações cromáticas é virtualmente o mesmo da objetiva mais nova; não repetido sequer pela Nikon Micro-Nikkor 105mm f/2.8G mais cara. E é uma tranquilidade para os fotógrafos que dependam da especificação para trabalhar, e que dispensem o estabilizador da série L. Suas fotos serão as mesmas que dos outros kits mais caros, mesmo usando as câmeras mais novas.
Logo na abertura máxima a performance da EF 100mm f/2.8 Macro USM assusta. Enquanto eu estava esperando no mínimo alguma perda de contraste em razão da falta de coberturas nos vidros; perda de resolução nas bordas, dada a falta de formas asféricas; ou aberrações cromáticas em peso (mais sobre elas à seguir) no f/2.8; NADA DISTO ACONTECE. Aqui fotografando o cenário urbano a noite, meramente para levar a óptica da objetiva ao limite, na absurda abertura máxima (ninguém fotografaria uma paisagem assim, dada a baixa profundidade de campo), é difícil vermos defeitos ópticos das lentes; performance típica das objetivas prime nesta faixa de abertura (ela não é extrema como uma f/1.8 ou maior). Embora o arquivo não seja perfeito, com ocorrência de sagittal coma flare e vinheta acentuada na abertura máxima, esta é a mesma performance de uma objetiva topo de linha. E na focagem próxima, aproveitando as capacidades macro, a qualidade também impressiona. Demonstrada com flores, a resolução percebida na mínima profundidade de campo do f/2.8 quase ultrapassa as capacidades do sensor da 5DS. Portanto estes arquivos podem ser ampliados como nunca vimos antes nesta faixa de preço, e nem neste formato de câmera.
Fechar a abertura resolve os mínimos defeitos ópticos da abertura máxima, comportamento típico de uma prime e pronto até para o futuro da fotografia digital. Logo entre f/4 e f/5.6 notamos um pico de resolução na 5DS – câmera que tem o limite de difração no f/6.3 – perfeito para registros de alta precisão como acervos de arte; trabalhos científicos; ou os mais simples retratos. São nestes valores que as aberrações cromáticas são opticamente redefinidas e eliminadas no plano focal ainda curto, com baixa profundidade de campo, e também são recomendados para fotografia de produtos. Nestes valores, na verdade, encontramos outros desafios do trabalho macro. As técnicas avançadas de empilhamento de foco (“focus stacking”) são obrigatórias para qualidade de imagem máxima nas câmeras da altíssima densidade, e talvez somente as novas objetivas TS-E Macro resolvam maiores detalhes; todas por mais que o dobro do preço. Portanto o lugar da EF 100mm f/2.8 Macro USM, é limitado a macrofotografia descompromissada: clicou, publicou!
As aberrações cromáticas do projeto são uma surpresa pela idade, preço, formato e fórmula óptica; virtualmente idênticas à serie L, portanto sem vantagens sobre a objetiva mais cara. Na abertura máxima a aberração cromática de eixo aparece em zonas de alto contraste e fora do plano focal, notada principalmente na fotografia com produtos industriais. Sejam em letras impressas, peças de metal cromado ou linhas repetitivas firmes, todas geram “bolhas” verdes no segundo plano e roxas no primeiro plano fora de foco, quase impossíveis de resolver opticamente dadas as limitações da física (só a recente EF 35mm f/1.4L II USM resolve isso, mas quimicamente com o incrível “blue refractive optics”). Portanto o trabalho do f/5.6 em diante é obrigatório para maior precisão. Por outro lado as aberrações cromáticas laterais são quase invisíveis, graças a fórmula óptica baseada num projeto duplo-Gauss. Então o registro de cenas “planas” e cheias de detalhes é tranquilo dada a perfeição dos arquivos, típicos da fotografia macro topo de linha. Reforçamos as propriedades da física óptica no modelo, e o porquê de poucas atualizações no mercado.
Outras distorções bem controladas são a geometria e o controle de reflexos internos; ambos virtualmente perfeitos nas duas 100mm f/2.8. A geometria é difícil errar num prime curto-telephoto. Já vimos projetos bem mais baratos e perfeitos, e somente as objetivas zoom mostram alguma limitação neste sentido. Mas o controle dos reflexos internos é uma surpresa na EF Macro USM: considerando que ela não tem coberturas tecnológicas recentes e de alta performance, como o SWC (“subwavelength” coating inventado na EF 24mm f/1.4 L II USM de 2008) ou o Air Sphere (apresentado na EF 100-400mm f/4.5-5.6 L II USM de 2014), e que talvez ela tenha somente o coating SSC (“super spectra coating”, usado desde a década de 70), evidenciado pela coloração amarelada dos vidros e perfil mais azulado dos tons (como demonstrado na batalha com a 100L), a tranquilidade para trabalhar com diversas fontes de luz presentes no quadro é muito bem-vinda. Novamente as fotos com as flores são um bom exemplo: os fundos coloridos foram feitos com um monitor LCD atrás do vaso, permitindo uma variedade de tons. Porém com o vidro do monitor é tratado, e a objetiva não reflete a luz, não notamos perda de contraste nas fotos.
Por fim as cores e a qualidade do desfoque (bokeh) da EF 100mm f/2.8 Macro USM também são virtualmente perfeitos; inferiores somente quando comparamos as duas objetivas lado-a-lado. Direto da câmera e no dia-a-dia, a 100mm “padrão” (não L) é perfeita: os tons das imagens são neutros e fáceis de manipular, com a facilidade de sempre da ciência de cores das Canon digitais. Os vermelhos são intensos e bem delineados no quadro. Os verdes são mais escuros e “reais”, misturados com azul para leitura de intensidade (portanto evitando a tonalidade “neon” que sofre a Sony) e vermelhos para matiz. E os amarelos são vívidos com a leitura avançada do balanço de branco da fotometria. É um prazer para fotografar, novamente, as flores e ambientes naturais, e também retratos. Combinadas com um flash, tanto a 5DS quanto a EF 100mm f/2.8 Macro USM sequer precisam de ajustes de cor no pós-processamento das imagens; perfeitas. O desfoque também é muito bom. Embora o diafragma com apenas 8 lâminas seja arredondado, elas aparecem no quadro mesmo na abertura máxima; especialmente sob distâncias mais próximas de foco. Então no comparativo com a EF 100mm L o desfoque parece mais suave na objetiva mais cara, apesar de não ser um problema grave na objetiva tradicional.
A EF 100mm f/2.8 Macro USM é uma peça, c-o-m-o s-e-m-p-re, curiosa da linha da Canon. São quase duas décadas de mercado até este review. São várias objetivas “macro” com alcance de 100mm na linha (uma inclusive de especificação idêntica). E às vezes as duas custam quase a mesma coisa nas lojas; resultando numa avalanche de dúvidas de vocês, leitores, sobre qual é de fato a vantagem sobre a série L. E a resposta é simples: construção com weather sealing; funções como o estabilizador avançado; e uma leve vantagem óptica, comentada na batalha. Mas a objetiva tradicional é “ruim”? Não, de jeito nenhum. Na verdade ela impressiona pela qualidade.
A construção é típica da escola “intermediária” da Canon: um corpo de policarbonato resistente garante a leveza e a robustez necessárias para o mercado profissional e amador, e funciona para todos os kits. A operação também agrada pela facilidade no uso com o anel de foco perfeito, focagem totalmente interna e motor silencioso, além de rápido; coisas que nem a Nikon Micro-Nikkor mais recente acertou (o anel de foco dela é ruim). E a qualidade de imagem, bom, estamos falando de uma objetiva 1) médio-telephoto, 2) f/2.8 prime e 3) macro; é virtualmente impossível errar na performance óptica, e nós vemos isto nas imagens. Portanto a recomendação segue uma máxima tradicional: em time que está ganhando, não se mexe. Adicione-a ao seu kit, e boas fotos!