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Agosto/2015 – A EF 24-70mm f/4L IS USM apresentada em 2013 é uma objetiva inusitada na linha da Canon. Não substitui nenhum modelo, nem completa uma família de abertura, mas apresenta uma proposta pequena e leve para a rua, além de uma função híbrida de zoom com macro. Ao chegar nos 70mm você pode mecanicamente levar o tubo alguns centímetros a frente, e reduzir a distância mínima de foco de 38cm para 20cm, como um extension tube embutido. Vários fabricantes usam a mesma ideia mas esta é a primeira opção first party EF, e já chegou com roupagem e preço “Luxury”. Será que funciona bem? Vamos descobrir! (english)
Em 93x83mm e 600g o que chama a atenção na 24-70mm f/4L IS USM é o tamanho, mais curto que qualquer outra Canon 24-XXX. Fechada ela é 13mm menor que a EF 24-105mm f/4L IS USM, graças ao alcance menor; e 30mm mais curta que a gigante EF 24-70mm f/2.8L II USM, apesar do estabilizador e do macro. Este é o principal atrativo para tê-la no kit e economizar espaço na mochila. Quem nunca forçou uma câmera na mala porque não cabia, que atire a primeira pedra.
Nas mãos o tamanho se traduz em prazer de usar com corpos leves como a EOS 6D, pensada para street e viajantes. Mas a lente menor também tem desvantagens: a espessura do anel traseiro do zoom está no limite do confortável e fica tão atrás no corpo que as mãos batem uma na outra. A mão direita que segura a câmera está no caminho da mão esquerda que gira o anel, e falta espaço. A Canon deveria tem colocado os botões e a janela de distância próximas da câmera e os anéis na frente como na EF 24-105mm f/3.5.-5.6 IS STM. Equilibraria melhor e tem espaço, poderia ser feito.
Pelo menos a operação é digna da série L com suavidade e peso certos entre sair do lugar e não ficar “caindo” com a gravidade (“zoom creep”). O anel de zoom segue esta tendência: é mais leve se você apontar a câmera para baixo, já que a posição dos grupos é menor em 24mm e maior em 70mm. E o de foco manual é leve sem ser solto, preciso e sem jogo, pensado para o macro.
Do lado de dentro os dois destaques são o sistema AF USM da Canon e o estabilizador híbrido pela primeira vez numa zoom. Sem comentários sobre o AF: sempre que eu falar “AF USM Canon” vocês já podem ler “rápido, silencioso e preciso”. Nenhuma foto saiu fora de foco com bastante luz e travou num piscar de olhos. Até a noite quando eu levei o sistema phase da 6D ao extremo com um retrato iluminado por uma única vela, a câmera demorou dois segundos mas travou perfeitamente com o ponto central. É Canon, é motor USM, é rápido, apertou, travou. Totalmente confiável!
Já o sistema híbrido de estabilização, introduzido em 2009 na EF 100mm f/2.8L IS USM, promete a correção não só dos movimentos angulares mas também lineares das mãos. Não, o módulo não “gira” num eixo para compensar o movimento. A “novidade” é o sensor de deslocamento que passa mais informações ao algoritmo que calcula a compensação do grupo óptico até 4 stops. Não chega aos “5-axis” da Sony e da Olympus que medem também o rolamento no eixo Z. Mas embutido na própria objetiva o “Hybrid IS” da Canon é o mais avançado do mercado.
Na prática o que se vê é uma estabilização extremamente eficaz independente da distância de trabalho e de foco, e deveria vir em todas as objetivas, já que a única diferença é o sensor, não o módulo. É bem implementado, não faz barulho e nem faz o viewfinder “pular” quando entra em ação. É uma vantagem sobre a EF 24-105mm f/4L IS USM de 2005, datada e taxada em apenas três stops, sem sensor de shift. É um atrativo para o kit de quem faz vídeo: a objetiva é menor, equilibra melhor, e o IS é mais eficaz. Espertinha a Canon conquistando o mercado cine!
Já a função macro é ativada numa chave do lado esquerdo que faz o trabalho de LOCK em 24mm (para evitar zoom creep), ou MACRO para liberar a objetiva além dos 70mm. A posição é perfeita: com a mão direita você consegue facilmente mover a chave pra frente (MACRO) com o dedo do meio, sem usar a mão esquerda que apoia a objetiva. Assim o tubo de zoom “rola” além dos 70mm e você entra numa função macro “variável”, já que a distância focal também muda. Algumas câmeras inclusive “leem” 80mm no EXIF, embora não seja o caso.
Mas pra variar é um “zoom macro” mal implementado. Com a objetiva totalmente estendida em 12.4cm a partir do mount, o foco mínimo cai de 38cm para 20cm. Considerando a distância flange (mount > plano de imagem) de 4.4cm da Canon, sobram apenas 3cm a partir do elemento frontal para posicionar o sujeito e iluminá-lo. É perto demais! A EF 100mm f/2.8L IS USM Macro que é prime específica para macro, tem uma distância mínima de foco de 30cm e sobram 14.6cm de “distância de trabalho” entre a lente e o sujeito, o que é bem mais adequado.
A proporção máxima não é 1:1 mas 0.7x, o que é mais que o dobro de qualquer zoom mas não substitui a prime. A luminosidade cai alguns stops, típico de trabalhar nestas distâncias, e a efetividade do estabilizador também. E o foco no infinito não funciona nesta posição, limitando ainda mais o uso. No fim o macro-zoom quebra um galho no lugar de carregar uma prime dedicada, e até a Canon considera uma “função secundária” sequer colocando o nome “macro” na especificação. É bem-vinda mas não deve ser usada como argumento de compra.
De resto nós temos a janela de distância com marcações em pés e em metros, mas sem escala macro. Na frente o filtro de ø77mm é compatível com as EF 70-200mm f/2.8L ou com a EF 24-105mm f/4, bacana se for substituí-la no seu kit. O primeiro e último elementos tem uma camada de fluorine (não confundir com fluorite) para facilitar a limpeza. O para-sol incluído na caixa é do modelo novo com botão, mais firme e fácil de prender, e sem a textura brilhante que risca. Atrás o projeto não aceita os EF Extender porque o elemento traseiro fica rente ao mount em 24mm.
No geral o projeto é moderno, combina com a “nova” série L desde a 24-70mm f/2.8L II USM com peças de plástico do lado de fora e metais bem ajustados do lado de dentro. Nada balança fora do lugar e foi construído para durar a vida toda. É uma peça “sem graça” no mercado mas com operação perfeita. Vale no kit principalmente pelo tamanho, facilidade de uso, funções macro + IS topo de linha, e garantia de operação não importa o lugar. Tipicamente Canon.
A 24-70mm f/4L IS USM não substitui a EF 24-105mm f/4L IS USM porque o range é totalmente diferente e a decisão de compra deverá sair daqui. Se você precisa dos 105mm para “fechar” o quadro, ou usar a profundidade de campo curta do telephoto para isolar o sujeito, nenhum outro argumento fará sentido numa objetiva 70mm. Mas são oito anos de diferença entre elas e é evidente que o modelo novo trás mudanças mecânicas e técnicas, apesar de não melhores.
A 24-105mm f/4L IS USM é maior e mais pesada em 106x83mm e 670g, o que a primeira vista parece ruim. Mas a 105mm tem um espaço de 7mm atrás onde está o logo “IMAGE STABILIZER”, que empurra todo o layout para longe da câmera e ela parece bem menos “tumultuada” que a 24-70mm f/4. Parece ridícula a diferença de só 7mm, porém fica muito mais fácil de operar a 24-105mm para quem tem mãos grandes, já que os anéis não ficam tão próximos do rosto.
O acabamento da 24-105mm é diferente com um plástico texturizado brilhante enquanto as objetivas novas são foscas. Todas são de plástico do lado de fora, portanto resilientes, não vão amassar se caírem no chão. A janela de distância é mais discreta na 24-70mm, além da família tipográfica que mudou na especificação impressa. Perto do anel vermelho da frente o acabamento também é fosco enquanto na 24-105mm é brilhante.
Do lado de dentro fica difícil saber as diferenças. Mas diz a lenda que desde a chegada da EF 70-200mm f/2.8L II IS USM (2010), toda a engenharia da Canon mudou com rolamentos maiores, buchas de nylon que desgastam menos e brushes elétricos no lugar dos flatcables. Eu nunca tive problemas com sequer uma objetiva EF desde 2004, então não posso comentar sobre durabilidade. A minha EF 24-105mm com projeto de 2005 e comprada em 2010 parece nova até hoje. Portanto se cuidadas, limpas e armazenadas corretamente, são objetivas para a vida toda.
Enfim na minha opinião a maior vantagem da 24-70mm é o estabilizador com módulo de 4 stops além dos sensores para correção híbrida. Ela de fato “segura” a composição por mais tempo no lugar que a 24-105mm, embora aquela objetiva já não seja ruim neste aspecto. Mas há claramente 1 stop de vantagem e fará diferença por aí. Se eu tivesse de escolher entre uma 24-105mm e uma 24-70mm, ambas f/4, para ligar numa EOS C300 e gravar sem tripé, sem dúvidas ficaria com o modelo novo. O enquadramento diferente dos 105mm eu me viro pra compensar.
Com um projeto de 15 elementos em 12 grupos, 02 UD e 02 Super UD, além de mais 02 asféricos, a Canon fez a lição de casa na EF 24-70mm f/4L IS USM para entregar arquivos próximos da perfeição. Range menor que a EF 24-105mm e abertura menor que a 24-70mm f/2.8? O resultado é óbvio: a menor distorção geométrica em 24mm das três, mas não perfeita; a resolução no quadro todo de sempre; e correção de aberrações cromáticas como as outras duas.
Nem vale a pena falar sobre “qualidade de imagem” já que o look é idêntico as outras 24-XXX. O resultado é até boring! As fotos são o que estamos acostumados desde a Canon FD 50mm f/1.4, com as mesmas cores saturadas, o mesmo contraste alto sem matar os detalhes nas sombras, resolução de sobra etc. Não há motivo para fechá-la a fim de melhorar qualquer coisa já que tudo é nítido logo em f/4. E as aberrações cromáticas são idênticas nas três: se tiver de acontecer, acontecerá, e pode ser corrigido via software num único click.
A função macro agrada em performance nas posições normais de trabalho. Ela até “passa” como uma macro de verdade já que a nitidez é excelente e os arquivos são afiados, certamente na frente da EF 24-105mm f/4L IS USM. Mas no limite em 0.7x não se compara a EF 100mm f/2.8L IS USM, que parece bem mais “pura” para renderizar os detalhes. O importante são as cores e o bokeh suave que transformam qualquer objeto mundano numa foto interessante.
Enfim a EF 24-70mm f/4L IS USM é uma peça curiosa não na linha Canon, mas na série L. Quem procura uma standard zoom full frame topo de linha, ou vai para o range maior das 24-105mm e abertura f/4; ou vai para as 24-70mm f/2.8, com as vantagens do stop a mais de luz, pagando o preço e o peso. E a 24-70mm f/4 não faz nenhum dos dois e custa caro. O preço de lançamento era US$1499 em 2013 e caiu para US$999 em 2015. E neste momento está com US$200 de rebate oficial na B&H, para um total de US$799. Ou seja, em dois anos o preço caiu pela metade, e obviamente a Canon assume que errou no projeto. Por mais divertidas que sejam as fotos “macro”. A EF 24-70mm f/4L IS USM só compensa pelo tamanho diminuto, mas cobra muito caro por isso. Boas fotos!