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Julho/2015 – Se você chegou até aqui, parabéns! Sua alma iluminada superou os problemas crônicos das Sony A7: corpos pequenos, bateria para apenas trezentas fotos e foco automático questionável. E agora você está procurando por novos desafios, contornando qualquer razão para justificar os fantásticos sensores Exmor. Pra quem trabalha com objetivas Canon, entra a metabones, empresa baseada em Hong Kong que é referência nos adaptadores mais improváveis: Smart, com conexões eletrônicas entre marcas diferentes, e SpeedBooster, com elementos ópticos extras que mudam a distância focal e f/stop máximo. (english)
O metabones Smart Adapter IV é a quarta geração dos adaptadores EF para E-mount, que promete funcionalidade total das objetivas eletrônicas da Canon com estabilizador, controle do diafragma e até AF nos corpinhos mirrorless da Sony. E cobrindo todo o círculo full frame desde a geração III, tornou-se acessório obrigatório pra quem está encantado com as A7, tapando o buraco da falta de objetivas nativas no sistema. Mas como é a construção, o tal foco automático lento e a adaptação das suas valiosas objetivas num acessório de US$399? Vamos descobrir!
Devo tirar o chapéu para a metabones: os US$399 do Smart Adapter IV compram o melhor adaptador que já usei na vida, com uma estrutura sólida de alumínio, mounts de bronze cromados e acabamento perfeito. Os logotipos são gravados no corpo, cada mount tem seis parafusos segurando-os no lugar e até o apoio de tripé (removível) é de metal. Inclusive o case do Smart IV impressiona: é translucido e de plástico duro, e inclui chaves para desmontar a base do adaptador ou apertar os mounts no lugar. A Canon cobra US$499 no EF Extender 2XIII e dá uma sacolinha vagabunda para protegê-lo, tosco. Mas o Smart adapter vem completo e caro, feito pra vida toda.
Do lado esquerdo para o fotógrafo está o release da objetiva, infelizmente de plástico e pequeno, frágil, apesar da fabricante garantir que a mola do lado de dentro é resistente. Eu usei só por um mês e não posso opinar sobre durabilidade. Mas o adaptador Canon EF to EF-M, da EOS M, tem um release muito maior e melhor, e queria que a “meta” fizesse algo parecido. Do mesmo lado fica uma porta USB usada para atualizar o firmware. De fábrica a operação é garantida apenas a objetivas Canon EF fabricadas desde 2006, então fiquem atentos quanto as Sigma, Tamron etc.
Deste mesmo lado, mais abaixo, fica um botão físico que inicia os modos green e advanced, ou funções extras de acordo com a programação. Os modos são selecionados antes de montar a objetiva: com a câmera ligada, segure o botão enquanto gira a lente no mount e o adaptador entra em modo “advanced”; na montagem normal, com a câmera desligada, e Smart IV fica no modo “green” padrão. Ele impede que o motor do diafragma fique em funcionamento durante o Live View, como as objetivas nativas da Sony fazem, e teoricamente economiza bateria.
E em “advanced” o metabones emula nas objetivas da Canon o comportamento das Sony FE, com a abertura mexendo o tempo inteiro (DOF preview) e o zoom automático em foco manual. Qual usar entre os dois? Sinceramente deixem em modo “green” e sejam felizes. Eu sequer sabia deste modo “advanced” até escrever este review e nos meus testes foi só montar a lente e usar a câmera, sem frescuras. Tudo funcionou como deveria e nem percebi a operação diferente.
Do lado de dentro o tunel da luz é preto para evitar reflexos internos, e outra frescura dos users de Sony A7 na internet. Diz o mimimi que algumas objetivas refletem luz no metabones e causam padrões estranhos de flaring. De novo, durante meus testes com as Canon EF 50mm f/1.8 STM e Yongnuo 50mm f/1.8 eu não vi acontecer, então não opinarei a respeito. Mas tem até uma versão “nova” do Smart IV MB_EF-E-BT4, enquanto a testada aqui é a MB_EF-E-BM4. E se tiver problemas, tem esquemas prontos na web para recortar fita adesiva matte e colar dentro. Jóia!
No geral o Smart IV deixa uma sensação positiva sobre a metabones. São US$399 e todas minhas expectativas foram atingidas. Ele é sólido do lado de fora, bem feito do lado de dentro, sem rebarbas ou circuitos eletrônicos a mostra. A caixa é uma lição pra Canon: deixe de ser vagabunda e entregue um case melhor com as objetivas L. De fato é um acessório bacana pra quem tem Sony A7 e quer abrir o leque de opções para as objetivas Canon EF.
A minha primeira preocupação com adaptadores é sobre a montagem entre câmera e objetiva. Lembro da primeira vez que montei uma Nikon Ai-S numa Canon EOS, e a filipeta do adaptador entortou, pedindo mais força do que eu gostaria para separá-lo da objetiva. Ou recentemente com as objetivas Nikon G que tem uma borracha no mount. São poucas às vezes que o processo não parece danificar o equipamento, e só recomendo a adaptação para quem tem sangue frio.
Mas estes problemas de fricção não acontecm com o Smart Adapter IV na Sony A7II. Diferente de um “adaptador de lente” sem contatos eletrônicos, o metabones é um “adaptador de mount”, feito para ficar na câmera o tempo todo como o EF para EF-M da EOS M. O Adapter IV monta sem problemas no E-mount e o ajuste é firme, rente, sem balanço entre as peças. É como montar uma objetiva FE nativa: alinhe as bolinhas brancas, faça pressão contra a câmera e gire. A fricção é a mesma para montar e desmontar, sem danificar nenhum dos lados.
E do lado da objetiva a sensação é a mesma. Lentes com mount de metal sem weather sealing como a EF 85mm f/1.2L II USM passam a mesma pressão: aperte as peças no lugar e gire até travar. É um pouquinho mais duro que o mount original das EOS, e na minha 6D o movimento é bem mais suave entre objetiva e câmera. Porém a Canon é reconhecida pela montagem rápida, então não estava esperando o mesmo do adaptador. Funciona bem para o que é.
Com objetivas com weather sealing, aquelas com uma borracha no mount, também não tive dificuldades: alinhou, apertou, girou, travou. Evidente, não faz vinte anos que estou usando este combo para opinar sobre durabilidade. Mas tudo é sólido entre a sua Canon, o Smart IV e o corpinho de magnésio da A7II. Com objetivas EF grandes sim, a Sony parece uma DSLR.
Por fim as lentes com mount de plástico como a EF 50mm f/1.8 II são mais rápidas. De novo: alinhou, girou e travou, sem precisar apertar a objetiva contra a câmera. Vale lembrar que o Smart IV é compatível com as EF-S APS-C. Tem espaço de sobra para o bump de borracha destes modelos e a câmera pode ser programada para usar somente o miolo do quadro full frame. Porém observe que o APS-C da Canon é menor, com corte 1.6x, enquanto a Sony (e a Nikon) são 1.5x. Dependendo da objetiva você notará as bordas mais escuras. Só cortar o arquivo depois.
A segunda preocupação do Smart IV além da montagem é promessa de controle eletrônico das objetivas EF, com recursos extras como estabilizador, controle da abertura e o foco automático. E os dois primeiros funcionam perfeitamente. Se a objetiva tiver IS (image stabilizer), o módulo da lente é ativado com na chave “ON”, e o SteadyShot da Sony A7II liga sozinho se a lente estiver em “OFF”. Para desligar os dois, quando por exemplo sobre um tripé, só através do MENU na câmera; chatinho e demorado. Mas a abertura registra a exposição sem problemas, e é o mais importante.
Porém o AF é uma infeliz opção que a metabones não deveria ter incluído no smart adapter e responsável por mais controversia e mimimi sobre as Alpha. O AF já não funciona bem com objetivas da própria Sony: a A7 com pontos phase se perde sozinha, e as R e S somente por contraste sofrem em pouca luz. E com o metabones ele é *extremamente* devagar, colaborando com a má impressão da câmera. A fabricante avisa no site que o foco não funciona direito, mas de qualquer forma optou por deixar a função ativa. Se não funciona, melhor desligar, não acham?
Sempre que você liga a A7 e usa o foco pela primeira vez com o Smart IV, ela faz duas “varreduras” para calibrar a objetiva. O foco vai e volta lentamente e não trava. Ou seja, nada de usar na rua com liga/desliga: as primeiras tentativas demoram e não há chance de travar o foco nelas. Só depois de calibrado que você pode tentar focar. Dependendo da objetiva e do percurso do foco, pode demorar entre três segundos, como na EF 24mm f/1.4L II USM, até sete como na EF 70-200mm f/2.8L II IS USM. E trava aonde bem entender: no objeto mais próximo, no mais claro, no objeto atrás, no bokeh… Não serve porque demora e tem chances de focar no que você não quer.
Comparado a uma DSLR, mesmo em modo Live View por contraste, também não tem comparação. Com a EOS 6D, os mesmos testes mostram como a Canon parece rápida em zona de contraste sobre a A7II adaptada. E nem preciso comentar sobre o sistema phase ativo, mesmo em LV: o tempo que a DSLR leva pra descer o espelho, focar com o módulo phase e levantar de novo o espelho, é uma fração do que a Sony com metabones consegue fazer só por contraste.
Não tem explicação. Na A7 normal (não R nem S), os pontos de foco phase embutidos no sensor deveriam ajudar, mas eles ficam completamente desligados com o adaptador. A metabones ainda não hackeou totalmente o AF da Sony e deveriam deixar a função de fora. Vocês estão avisados e os exemplos são bem claros: o Smart IV é para controlar a abertura e o IS, esqueçam do AF.
Por fim a minha última dúvida sobre a A7 com metabones é na performance óptica a fim de substituir as DSLR no vlog do zack. Performance óptica num adaptador? Pois é. A distância flange (entre objetiva e sensor) pode até ser compensada pelo adaptador, que coloca a lente na distância certa e garante o foco no infinito; uma vantagem das mirrorless e o espaço curto entre imager e mount. Mas opticamente outras considerações como telecentrismo não serão compensadas, e podemos perder nitidez nas bordas de 35mm para baixo. Não funciona no grande angular.
“Telecentrismo”, grosso modo, é quando um conjunto de lentes (objetiva) gera uma projeção ortográfica do sujeito. Isso significa que os raios oblíquos (que entram em ângulo) ficam paralelos ao eixo óptico depois de passar pelas lentes, perfeito para projetar a imagem numa superfície 100% plana evitando vinheta e aberrações. Geralmente isto é feito colocando o diafragma na distância focal da objetiva, fazendo que os raios fiquem paralelos ao eixo óptico e, por consequência, cheguem perpendiculares de ponta a ponta do sensor. Vejam no diagrama:
Alguns formatos digitais nativos tem objetivas parcialmente telecentricas por definição. É o caso das Four Thirds que nasceram no digital. Canon e Nikon, por outro lado, tem de compensar as objetivas não-telecentricas antigas com um arranjo mediano de microlentes, garantindo no hardware a resolução das bordas nas DSLR. A A7 mirrorless, 100% digital, não corrige isso. E automaticamente os testes do vlog do zack poderiam ser descartados uma vez que não posso falar “a lente X é ruim nas bordas”, sendo que ela foi feita para a câmera Y. [fotos da A7II .ARW a direita, reduzidas para igualar os 20MP da EOS 6D .CR2 a esquerda]
Ninguém precisa de olhos treinados pra ver no ultra grande angular da EF 14mm f/2.8L II USM (2007) que a A7II + metabones simplesmente não funciona. ~AS BORDAS FICAM PÉSSIMAS~. E nem são só “as bordas”, é quase 30% do quadro que não está realmente nítido como no corpo da Canon. Não é problema de foco: o centro está virtualmente idêntico. Mas de lado a lado, cima, baixo, esquerda, direita, o sensor da A7II nem sabe o que é uma objetiva não-telecentrica.
Com a EF 24mm f/1.4L II USM (2008), a história melhora um pouco. Continua atrás, mas não tão ruim. No centro é interessante ver como a A7II gera muito mais moiré nas janelas que a EOS 6D, que eu já havia notado no review deste corpo. E no canto superior direito tem diferença do telecentrismo corrigido na Canon: note nas cortinas como a 6D é mais nítida.
E com a EF 35mm f/1.4L USM (1998), o telecentrismo não faz mais diferença. A Sony A7II é mais nítida por definição, e por isso gera muito mais moiré; o que é pior, na minha opinião. Mas opticamente a adaptação não tem problemas. Nada de suavidade como no ultra grande angular.
No tilt-shift a boa notícia é que o metabones IV de fato tem um círculo de projeção idêntico a Canon, e não vemos bordas mais escuras com os movimentos. Porém o papo do telecentrismo volta e não temos na A7II a mesma performance que a EOS 6D nas bordas do quadro deslocado. Não tem saída: qualquer distância mais ampla que os 35mm e a Sony terá de fazer a lição de casa oferecendo novas objetivas nativas ao E-mount. Que tal uma Otus tilt/shift? :-D
E por fim no telephoto a partir dos 70mm o telecentrismo não importa. Os dois arquivos são virtualmente idênticos apesar da A7II parecer bem mais nítida e sofrer com moiré:
Os US$399 do Smart IV pagam por uma peça sólida, feita com carinho e atenção aos detalhes. A montagem é firme e transforma as Alpha em verdadeiras EOS. Mas o AF não deveria estar lá e nem tem perspectiva de melhorar. As fabricantes não conversam entre si, já que esta tecnologia é valiosa demais para a Canon, e não temos previsão das coisas melhorarem na Sony.
Porém a performance óptica questionável é o que mais me preocupa, já que a adaptação não leva em conta o papo das objetivas não-telecentricas no grande angular. Na minha opinião é melhor deixar as coisas no lugar: se você fotografa com objetivas EF, compre uma Canon EOS. E se quiser tanto uma A7II, se contente com as opções limitadas da Sony. Simples assim. Boas fotos!