Mitakon CREATOR 35mm f/2

Primetiva


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Fevereiro/2017 – A Mitakon 35mm f/2 é a terceira e mais recente objetiva fixa ultra-low-cost da linha CREATOR, da chinesa Zhong Yi Optics. Acompanhando as 85mm f/2 e 135mm f/2.8 que já vimos por aqui, a ideia é oferecer primes de relativa grande abertura pelo menor preço possível, com construção, operação e óptica simplificadas, sem deixar de lado a criatividade – dada a operação mecânica – nem as fotos – dada a qualidade de imagem. Com projetos de metal e fórmulas ópticas baseadas num legítimo duplo-Gauss, elas são alternativas a quem quer se aproximar mais do processo de fazer as fotos. Enquanto eu não tenha tido ainda uma experiência 100% positiva com uma CREATOR, com a 85mm desalinhada e a 135mm que partiu em dois, uma coisa eu não posso negar: as fotos saíram muito boas nos testes das duas, e de fato o nome “CREATOR”  faz jus a sensação que estas ferramentas incitam. Será que a 35mm f/2 será mais mais uma dor de cabeça mecânica? E as fotos, valem a pena? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Mitakon CREATOR 35mm f/2

Em apenas 6.8 x 6.5cm de 310gr de somente metais e vidro, a construção da 35mm f/2 é bem feita, embora relativamente delicada. Ela impressiona pela qualidade do acabamento nas marcações gravadas no alumínio, pintadas à mão na fábrica, com o mesmo carinho que vemos na Nikkor Ai-s e na Voigtländer, mas aqui por uma fração do preço. Por outro lado, estas objetivas também são bastante delicadas, uma vez que o metal obviamente não é resiliente como o plástico, e não há qualquer espaço para os impactos dissiparem na estrutura do projeto; com certeza você não vai querer deixá-la cair nem bater, porque o resultado será desastroso. Um detalhe curioso é que até a Mitakon se tocou disso, e a caixa da 35mm f/2 está melhor que as da 85 e 135: várias espumas e um invólucro duro envolvem a objetiva de metal, e finalmente uma CREATOR completou um review sem problemas, sem desmontar e nem mostrar desalinhamentos; yay!

Mitakon CREATOR 35mm f/2

Nas mãos a ergonomia é um pouco apertada, uma vez que a 35mm CREATOR é bem curtinha. Como ela também é leve, o apoio será dado principalmente a câmera à mão direita, já que a objetiva não “puxa” o conjunto para a frente; uma vantagem nas ruas pela discrição e portabilidade. Com uma operação 100% manual, a abertura e o foco são feitos por anéis de metal “cru”, sem cobertura de borracha, e o que infelizmente não garantem tração no dedos; eles podem “deslizar” em falso, ainda mais com as mãos suadas. Mas na frente o anel de foco manual é até confortável, onde os dedos “caem” com leveza dada a distância em relação a câmera, e ele gira do infinito ao mínimo em longos 180º, o que tira qualquer chance de agilidade. É uma simplificação no design, que usa a mesma rosca estrutural de montagem para movimentar o tubo de foco para frente e para trás, bem diferente das objetivas tradicionais com trilhos para “dirigir” o foco. Está explicado os US$160 do projeto low cost, sem motores e sem agilidade na focagem manual.

Mitakon CREATOR 35mm f/2

Atrás o controle do diafragma é feito por um finíssimo anel de 0.7cm, padrão para quem está acostumando com objetivas mecânicas e sabe que este não é um ajuste usado o tempo todo. Tanto na Voigtländer NOKTON 25mm f/0.95 MFT quanto na Nikkor AI-S 50mm f/1.2, os anéis de abertura são discretos para não girarmos por acidente, e nesta CREATOR a ideia é a mesma. O giro é suave, com leves (bem leves) clicks apenas nos valores cheios (f/2, f/2.8, f/4…), e é possível de usá-la durante a gravação de vídeos, colocando um uso o diafragma de 9 lâminas praticamente 100% circular, para efeitos criativos. Um detalhe muito importante da usabilidade é o chip de informações no mount, que comunica à câmera somente a abertura máxima da objetiva (não a selecionada), o que pode causar confusão no fotômetro. Com câmeras Canon EOS, por exemplo, você deve deixar sempre a câmera na abertura máxima informada (f/2), e operar somente a abertura na objetiva. Desta forma é possível usar o metering para ajustar automaticamente o ISO ou a velocidade do obturador (Av), facilitando a exposição de foto em foto.

Mitakon CREATOR 35mm f/2

Enfim na frente a 35mm f/2 CREATOR aceita filtros de ø55mm, os mesmos das 85mm f/2 e 135mm f/2.8, hooray! É difícil ver uma linha completa que compartilha de um único filtro, mas a Mitakon se dispôs a fazê-la. Eles vão numa rosca de metal extremamente robusta, da mesma espessura que o tubo externo (cerca de 1.5mm de alumínio), e usam teoricamente o mesmo lugar para prender um parasol, já que não há trilhos para isso e nem vem um incluído na caixa (#chateado). Atrás o mount de metal é oferecido nas versões para Nikon, Pentax, Sony A e FE, além da Canon EF (testada), e é bem acabado, melhor que a 135mm f/2.8 que tinha um contato cheio de cola espalhada. A Mitakon 35mm parece um “projeto da escola” bem feito dada a simplicidade, mas felizmente é uma pecinha muito mais confiável que as testadas antes 85mm f/2 (desalinhada, que veio numa caixa de papelão fino) e 135mm f/2.8 (que desmontou sozinha). Dá para ver que os chineses estão levando a sério a linha CREATOR, com a grande abertura e sem pedir muito pela especificação.

QUALIDADE DE IMAGEM

“Néon” em f/2 1/160 ISO100; todas as fotos com a Canon EOS 5D Mark IV.

“Néon” em f/2 1/160 ISO100; todas as fotos com a Canon EOS 5D Mark IV.

Com um projeto óptico simplificado de 7 elementos em 5 grupos, sem nenhuma peça especial de curvatura asférica ou vidros de baixa dispersão, nenhum tratamento sofisticado seja multi-camada ou anti-reflexos; enfim nenhuma firúla óptica que as fabricantes principais tanto se gabam, a Mitakon CREATOR 35mm f/2 tem de “se virar” apenas com uma clássica fórmula duplo-Gauss grande angular, uma “invenção” datada de 1817 que tem como prioridade reduzir as aberrações cromáticas. Sem se preocupar tanto com a geometria do plano de imagem, aquela que garante resolução também no quadro todo, os resultados ópticos da Mitakon são esperados: ótima resolução em todo o quadro, com perda de detalhes somente nas bordas extremas; aberrações cromáticas laterais mínimas, invisíveis na prática; e problemas severos com reflexos (flaring) e contraste, dado o tratamento primitivo nos vidros. As fotos funcionam para o que são, ainda mais pela profundidade de campo curta da grande abertura, mas os arquivos pedem tratamento extensivo no computador, para aumentar o contraste e a saturação das cores.

“Néon II” em f/2 1/160 ISO100.

“Néon II” em f/2 1/160 ISO100.

Na abertura máxima a performance da 35mm f/2 é a esperada para um projeto tão simples. Os vidros de qualidade duvidosa e com tratamentos precários não garantem transmissividade perfeita da luz, e as fotos saem com a aparência de um sonho, “nubladas” em cenas de alto contraste, sem zonas realmente delineadas de luz e sombra. É interessante ver como a óptica “bruta” funciona nos elementos crus, e passamos a entender porque as fabricantes principais investem tanto em coatings diferenciados (como Canon Super Spectra e Air Sphere, ou Nikon Nano Crystal Coating e SIC), vidros de alta performance (Canon UD, Nikon ED, Sigma FLD), e o que acontece nas objetivas sem tratamento. Embora os detalhes sejam renderizados sem problemas no que couber na curtíssima profundidade de campo do f/2, eles de fato exigem compensações eletrônicas no computador para aumentar o contraste, a nitidez e a saturação das cores.

“Energy” em f/2.8 1/60 ISO400.

“Energy” em f/2.8 1/60 ISO400.

Crop 100%, resolução no centro é aceitável, afinal estamos falando de uma prime.

Crop 100%, resolução no centro é aceitável, afinal estamos falando de uma prime.

“Cata-vento” em f/2 1/200 ISO100.

“Cata-vento” em f/2 1/200 ISO100.

Crop 100%, detalhes perder a nitidez por causa do contraste pobre, que deve ser melhorado no computador.

Crop 100%, detalhes perdem a nitidez por causa do contraste pobre, que deve ser melhorado no computador.

“Rua” em f/2 1/80 ISO200.

“Rua” em f/2 1/80 ISO200.

Crop 100%, detalhes no centro servem pela luminosidade da abertura máxima, com ISOs baixos.

Crop 100%, detalhes no centro servem pela luminosidade da abertura máxima, com ISOs baixos.

“Comida” em f/2 1/80 ISO100.

“Comida” em f/2 1/80 ISO100.

Crop 100%, detalhes justos pela profundidade de campo curta.

Crop 100%, detalhes justos pela profundidade de campo curta.

Fechar a abertura melhora um pouco as coisas, mas nem no f/8 a performance geral melhora muito; ela já é boa nas outras aberturas. A profundidade de campo aumenta e conseguimos ver ainda mais elementos em foco, além da planificação do plano de imagem que começa a mostrar detalhes até nas bordas. Porém ainda é possível “estudar” os defeitos da CREATOR 35mm e da fórmula duplo-Gauss, quando nem em f/8 as bordas máximas tem resolução; já que faltam peças asféricas no caminho da luz. O contraste e a saturação continuam pobres, já que fechar a abertura não ajuda se os vidros forem impuros. O quer dizer que a objetiva seja inútil, uma vez que pelo menos as fotos serão reproduzidas no imager da câmera com menos interferência que, por exemplo, uma zoom de kit. Então é possível ver a 35mm f/2 como uma prime de maior resolução, e um upgrade para quem está começando na fotografia; é uma aula de física óptica.

“Telhado” em f/8 1/160 ISO100.

“Telhado” em f/8 1/160 ISO100.

Crop 100%, resolução é alta no f/8.

Crop 100%, resolução é alta no f/8.

“Telhado II” em f/8 1/80 ISO200.

“Telhado II” em f/8 1/80 ISO200.

Crop 100%, resolução mostra detalhes no quadro todo, em várias distâncias.

Crop 100%, resolução mostra detalhes no quadro todo, em várias distâncias.

“Telhado III” em f/8 1/80 ISO200.

“Telhado III” em f/8 1/80 ISO200.

Crop 100%, resolução permite prints bem detalhados depois da ampliação.

Crop 100%, resolução permite prints bem detalhados depois da ampliação.

“Telhado IV” em f/8 1/320 ISO100.

“Telhado IV” em f/8 1/320 ISO100.

Crop 100%, tente isso numa zoom de kit; a resolução é digna de uma prime high end.

Crop 100%, tente isso numa zoom de kit; a resolução é digna de uma prime high end.

As aberrações cromáticas laterais são o destaque do projeto, já que a fórmula duplo-Gauss foi feita para eliminá-las. É engraçado ver como esta 35mm de US$160 sofre com bem menos CA lateral que uma Canon EF 35mm f/1.4L II USM de US$1700, afinal a fórmula da Canon tem outras prioridades como contraste, transmissão de luz, cores, resolução no quadro todo e desfoque suave; pedindo 14 elementos (!) para fazer tudo isso, além de novas tecnologias (o Blue Refractive Optics) para lidar com as aberrações. Linhas azuis e vermelhas à direita, e verdes e roxas à esquerda acontecem principalmente em áreas de extremo contraste (pense prédios contra a luz, pessoas sob a luz forte do sol), junto de bolhas roxas nos highlights no desfoque, causados pela aberração secundária. Mas no geral é uma performance muito boa dada a simplicidade da fórmula, com poucos elementos e também elementos não muito grandes, que focam com perfeição o espectro da luz.

“Árvore” em f/8 1/320 ISO160.

“Árvore” em f/8 1/320 ISO160.

Crop 100%, praticamente nada de CA lateral, graças a fórmula duplo-Gauss.

Crop 100%, praticamente nada de CA lateral, graças a fórmula duplo-Gauss.

“DOJO” em f/8 1/250 ISO100.

“DOJO” em f/8 1/250 ISO100.

Crop 100%, bordas do grande angular sem linhas coloridas contra a luz, fantástico.

Crop 100%, bordas do grande angular sem linhas coloridas contra a luz, fantástico.

“McLaren” em f/2 1/80 ISO100.

“McLaren” em f/2 1/80 ISO100.

Crop 100%, aberrações secundárias com bolhas roxas nos highlights.

Crop 100%, aberrações secundárias com bolhas roxas nos highlights.

“Lâmpadas” em f/2 1/2000 ISO100.

“Lâmpadas” em f/2 1/2000 ISO100.

Crop 100%, evidente limite do projeto.

Crop 100%, evidente limite do projeto.

Por fim, cores, bokeh e flaring são os que mais sofrem na fórmula duplo-Gauss e os tratamentos precários da CREATOR 35mm. As cores beiram o caos no sistema Canon EOS: com uma coloração muito amarelada das lentes, fica difícil equilibrar os arquivos com verdes e azuis dos sensores de arranjo Bayer da Canon, uma vez que justamente estes canais de leitura são usados para criar o tom amarelo. Por exemplo, ao fazer a compensação para reduzir um branco-azulado da iluminação eletrônica de um estúdio, os tons de pele saem marrons na correção; péssimo. O bokeh também é relativamente ruim na fórmula, já que o duplo-Gauss “pelado” gera “olhos de gato” nas bordas do quadro, que “giram” em torno do centro; efeito desejados por alguns como “swirling bokeh”, mas confuso para de fato esconder o segundo plano. E o flaring é de longe o pior que já vimos por aqui, uma vez que a luz reflete nos tubos estruturais de metal (!), criando arco-íris “nervosos” na imagem. A falta de um parasol piora ainda mais a situação, e recomendo cobrir a objetiva com as mãos quando a iluminação do quadro incluir luzes oblíquas à câmera.

“Flaring” em f/2 1/3200 f/2 ISO100; reflexos medonhos com iluminação oblíqua.

“Flaring” em f/2 1/3200 f/2 ISO100; reflexos medonhos com iluminação oblíqua.

“Incenso” em f/2.8 1/200 ISO100; desfoque é suave em distâncias curtas de foco.

“Incenso” em f/2.8 1/200 ISO100; desfoque é suave em distâncias curtas de foco.

“Dragão” em f/2 1/640 ISO100; bokeh circular no segundo plano mantém o desfoque “nervoso”.

“Dragão” em f/2 1/640 ISO100; bokeh circular no segundo plano mantém o desfoque “nervoso”.

“Cores” em f/4 1/60 ISO4000; cores saturadas depois de boa compensação via software.

“Cores” em f/4 1/60 ISO4000; cores saturadas depois de boa compensação via software.

VEREDICTO

A Mitakon CREATOR 35mm f/2 é uma prova do que os US$160 podem comprar de uma marca chinesa, quando ela fabrica produtos com boa vontade. Comparada por exemplo a Yongnuo 35mm f/2 de US$90, que parece ser uma mera cópia da Canon EF 35mm f/2 clássica, fica claro como pelo menos a Mitakon propôs um projeto honesto, simples e sem grandes promessas. Mecanicamente a 35mm não poderia ser mais interessante, com tubos de metal robustos e operação direta, sem motores, que agradarão os interessados em se aproximar mais do processo de criar a imagem; não somente “apertando o botão” da câmera sem pensar no que está na frente dela. Quem gosta do processo de focar, ajustar a abertura e então fotografar, se divertirá pagando pouco. E opticamente ela pode impressionar, graças ao projeto duplo-Gauss que é um no-brainer para projetos low-cost, com resolução e controle de aberrações justas, apesar do contraste, cores, bokeh e flaring bem pobres. Enfim ela vale pela experiência de uma peça mecânica, que nenhuma fabricante oficial entrega nesta faixa de preço. Para quem está interessado em fotografar, é um ótimo presente.