Voigtländer Nokton 25mm f/0.95

A maior abertura do kit do vlog do zack


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 70MB).

Tempo estimado de leitura: 08 minutos.

Maio/2015 – A Voigtländer Nokton 25mm f/0.95 para Micro Four Thirds é uma das objetivas mais interessantes que tenho no kit. Com uma enorme abertura f/0.95, ela permite mais de um stop completo de luz para dentro da câmera em relação ao f/1.4; especificação limite da maioria das “primes de grande abertura” convencionais no mercado. Se f/1.2 já é destinado as linhas high end e f/1 exótico quando acontece, o f/0.95 é pornográfico, obsceno, indecente. Dá pra contar nos dedos quantas lentes oferecem hoje, comercialmente, este valor: a alemã Leica Noctilux-M 50mm de US$10.000, as chinesas SLR Magic 50mm f/0.95 “Hyperprime” e Mitakon Zhongyi, e o quarteto japonês Nokton 10.5mm, 17.5mm, 25mm e 45mm da Voigtländer/Cosina. (english)

Voigtländer Nokton 25mm f/0.95 Canon EF 50mm f/1.2L USM

Com a Canon EF 50mm f/1.2L USM atrás: note como os elementos são do mesmo tamanho. O_O

Pense em uma cena noturna. Suba o ISO da câmera para modestos “800”. E abra uma objetiva f/0.95. O obturador salta para 1/200 apenas com a luz da rua, e 1/500 em áreas comerciais com neons e vitrine das lojas. Você consegue congelar a ação em lugares onde mal dá pra se ver por onde anda, sem aumentar o ISO e o ruído que vem com ele. Além disso a abertura maior que a distância focal gera uma profundidade de campo mínima para ajustes precisos de foco, facilmente isolando o sujeito do restante do quadro. São apenas os olhos em foco nos retratos, ou apenas uma pessoa na multidão. Um look distinto, difícil de reproduzir até nos sistemas maiores.

“Carrera” com a DMC-GF3 em f/0.95 1/800 ISO800: quase 1/1000 a noite, na rua.

“Carrera” com a DMC-GF3 em f/0.95 1/800 ISO800: quase 1/1000 a noite, na rua.

Apresentada pela Cosina em 2010, ela é a primeira de uma família de quatro “Nokton” que vieram resolver um problema antigo do Micro Four Thirds: a ausência de opções equivalentes ao look das DSLR. As 10.5mm, 17.5mm, 25mm e 45mm “f/0.95” conseguem gerar no mirrorless fotos semelhantes uma câmera APS-S ou full frame. Com o mesmo enquadramento de uma 50mm no formato 135, a 25mm MFT é o que chamamos de “standard”, feita para incluir o mínimo do cenário na foto, para não tirar completamente o sujeito do contexto. É a principal sugestão para fotografia de rua e retratos de meio corpo com luz natural, no Micro Four Thirds.

“Shopping” com a DMC-GF3 em f/0.95 1/250 ISO160: baixíssima profundidade de campo fora do full frame.

“Shopping” com a DMC-GF3 em f/0.95 1/250 ISO160: baixíssima profundidade de campo fora do full frame.

Ela chegou no vlog do zack em 2011 como a minha primeira experiência mirrorless e o formato Micro Four Thirds. Comprei a Panasonic GF3 para fazer cia a 5D Mark II, e a prime Lumix 14mm f/2.5 ASPH do kit não explorava de fato as vantagens do “sensor grande” (em termos) do MFT. Eu já tinha interesse nesta f/0.95 e depois de bater muita perna em Hong Kong, encontrei numa loja “nada a ver” (daquelas que vendem liqüidificadores no mesmo balcão das câmeras). Comprei sem pensar duas vezes e agora vocês leem como é usar a objetiva de maior abertura do vlog do zack. 

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Voigtländer Nokton 25mm f/0.95

Com 435g de 11 elementos em 8 grupos, a Nokton 25mm f/0.95 é a antítese do formato Micro Four Thirds. Pesada e longa (60x70mm), ela puxa para frente até os corpos maiores GH (Panasonic) e OM-D (Olympus), pensados na portabilidade que as DSLR não tem. A operação totalmente manual também é diferente e depende de um fotógrafo que saiba usar o controle de apertura e tenha paciência para focar uma foto de cada vez. É a volta ao passado em termos de operação, mas num corpo miniaturizado, gostoso de usar, moderno. Montada na DMC-GF3, uma das menores MFT do mercado, ela fará fotos em baixíssima luz com a discrição que nenhuma DSLR faz.

Voigtländer Nokton 25mm f/0.95

O design tem a mesma cara de outras objetivas fabricadas pela Cosina: as Zeiss para o mount da Leica M. O corpo totalmente de metal tem o característico anel de foco manual “dentado”, com grooves entre os espaços para os dedos, a fim de não escorregar durante a operação, já que não é coberto por borrachas. Na frente o anel de abertura vai do f/0.95 até o f/16 com meios clicks entre cada valor. As gravações “embossed” no metal não apagarão ao longo dos anos. E a versão II (não mostrada) tem a opção da abertura “stepless”, suave para gravação de vídeos. Atrás o mount de metal é “pelado”, sem contatos eletrônicos passar informações de distância e abertura a câmera.

Voigtländer Nokton 25mm f/0.95

A operação do foco manual é um dos grandes destaques. Com marcações em metros e pés, o giro do infinito até o mínimo de 17cm tem 270º de rotação; maior ainda que a EF 85mm f/1.2L II USM de 210º. Extremamente preciso, é uma exigência da abertura extrema com profundidade de campo mínima. Em alguma destas posições com certeza estará a distância que você precisa. Mas o movimento é um pouco lento, pesado embora suave, impossível de mexer com agilidade. Considerando os 7cm da lente, o objeto será focado na verdade a 10cm do elemento frontal. É praticamente um sistema bellow/macro embutido que cresce 1cm, bacana para isolar detalhes.

Voigtländer Nokton 25mm f/0.95

Na frente os filtros de ø52mm vão numa rosca de metal e não giram durante a operação. O lens hood, também de metal, incluído na caixa, vai na rosca dos filtros e quando instalado acrescenta outro thread maior de ø67mm; ou seja, dá pra usar os dois tamanhos. No geral a operação lembra uma “mini Leica” com tudo manual, tudo preciso,  gelado de metal, um prazer de usar. Ela exige atenção antes de cada click que o mercado dominado por smartphones e DSLR esqueceu. E o preço de US$999 também indica que ela não é para qualquer um: com formato diferente e operação diferente, não é surpresa que as fotos saiam diferentes.

QUALIDADE DE IMAGEM

“tokidoki” com a DMC-GF3 em f/0.95 1/200 ISO800.

“tokidoki” com a DMC-GF3 em f/0.95 1/200 ISO800.

Com um complexo projeto de 11 elementos em 8 grupos (01 de alta refração) e diafragma de 10 lâminas, a Nokton 25mm f/0.95 entrega no Micro Four Thirds a melhor performance em 25mm (50mm equiv. no formato 135 “full frame) que já vi no MFT. É a magia das primes de grande abertura que vão melhorando a cada stop fechado. Como aqui começamos em f/0.95, é logo em f/1.4 (que as outras começam) que ela já está perfeita do centro as bordas, com resolução de sobra para gerar moiré até nos simplórios 12MP da antigassa GF3. O desfoque suave, colorido, com muita personalidade no bokeh, deixa evidente os problemas da grande abertura: blooming e aberrações cromáticas de todos os tipos em f/0.95. Todas as fotos com a Panasonic Lumix DMC-GF3.

“Samara” em f/0.95 1/80 ISO800.

“Samara” em f/0.95 1/80 ISO800.

Como a lente não passa informações para o EXIF da câmera, vocês terão de confiar em mim sobre as fotos que lembro da abertura máxima. A principal característica aqui é a profundidade de campo mínima que muitos de vocês buscam nas DSLR, mas entregues num conjunto “pocketable”, de sensor menor, relativamente mais fácil de usar. O desfoque acentuado isola o sujeito do quadro e os arquivos na proporção 4:3 (“Four Thrids”) rivalizam sinceramente com o médio formato. O_o Parece absurdo escrever isso mas as únicas fotos “parecidas” que eu tenho no acervo saíram da Mamiya 645 Pro + Sekkor 80mm f/2.8: quase nada em foco, enquadramento 4:3, e sujeito isolado.

“Passante” em f/0.95 em f/1800 ISO1600.

“Passante” em f/0.95 em f/1800 ISO1600.

Crop 100%, só uma parte do cabelo saiu em foco, o rosto não.

Crop 100%, só uma parte do cabelo saiu em foco, o rosto não.

“I S2 KOBE” em f/0.95 1/320 ISO1600.

“I S2 KOBE” em f/0.95 1/320 ISO1600.

Crop 100%, nailed focus, centro tem alta resolução.

Crop 100%, nailed focus, centro tem alta resolução.

“Tsim Sha Tsui” em f/0.95 1/640 ISO800; cena ampla com a 25mm, 50mm equiv.

“Tsim Sha Tsui” em f/0.95 1/640 ISO800; cena ampla com a 25mm, 50mm equiv.

Crop 100%, astigmatismo nas bordas, mas resolução até está lá.

Crop 100%, astigmatismo nas bordas, mas resolução até está lá.

“On the Phone” em f/0.95 1/4000 ISO160.

“On the Phone” em f/0.95 1/4000 ISO160.

Crop 100%, resolução perfeita no centro, totalmente aberta, longe do MFD.

Crop 100%, resolução perfeita no centro, totalmente aberta, longe do MFD.

O bokeh às vezes é bonito e às vezes confuso, mas invariavelmente acentuado. O astigmatismo é notado pela ausência de elementos asféricos, e vemos a forma de “gotas d’água” apontando pro centro, com discos de miolo mais claro que as bordas. Junto da aberração cromática axial, que deixa verde os contornos do segundo plano, e da aberração cromática lateral secundária, que mostra uma bolha roxa no que estiver em foco, e nós temos a tal personalidade que eu falo nas imagens. É diferente da EF 50mm f/1.2L USM, com desfoque mais suave. É diferente da EF 50mm f/1.4 USM que não consegue desfocar tanto. Por isso que eu lembro quais fotos estavam na abertura máxima: dá pra ver o look forte nas imagens, com profundidade de campo curta.

“Infant” em f/0.95 1/1000 ISO1600.

“Infant” em f/0.95 1/1000 ISO1600.

Crop 100%, bokeh drops.

Crop 100%, bokeh drops.

“Hi!” em f/0.95 1/500 ISO1600.

“Hi!” em f/0.95 1/500 ISO1600.

Crop 100%, smooth enough?

Crop 100%, smooth enough?

“Pure OOF” em f/0.95 1/500 ISO1600.

“Pure OOF” em f/0.95 1/500 ISO1600.

Crop 100%, pure astigmatism.

Crop 100%, pure astigmatism.

Fechando a abertura e nós conseguimos rapidamente “matar” a profundidade de campo curta dependendo das distâncias de trabalho; mais uma versatilidade do que argumento contra. Os arquivos ficam tão nítidos que é impossível não compará-los as DSLR. Morre de uma vez o argumento “preciso de uma full frame por causa da qualidade de imagem”. São detalhes de sobra para impressões gigantes que matam inclusive os smartphones. Ok, o seu iPhone 5/6 tem uma câmera muito legal, concordo. Mas ele é JPEG only e tem um sensor minúsculo, não dá pra comparar. As Micro Four Thirds estão mais próximas das APS-C/full frame, rivalizando tranquilamente com qualquer Nikon ou EOS depois das impressões.* Não sei a abertura, mas não são fotos em f/0.95.

“GT-R” em 1/160 ISO800.

“GT-R” em 1/160 ISO800.

Crop 100%, contraste, resolução e nitidez aumentam drasticamente.

Crop 100%, contraste, resolução e nitidez aumentam drasticamente.

“Golden Flowers” em 1/200 ISO160.

“Golden Flowers” em 1/200 ISO160.

Crop 100%, high-res of awesomeness. \o/

Crop 100%, high-res of awesomeness. \o/

“Regular Flowers” em 1/320 ISO160.

“Regular Flowers” em 1/320 ISO160.

Crop 100%, GF3 rivalizando qualquer EOS. :-D

Crop 100%, GF3 rivalizando qualquer EOS. :-D

Por outro lado o que não dá pra comparar são as cores, e eu tenho de assumir que é o meu maior problema com a GF3; e a razão de não ter outra Nokton para ela até hoje. Ou tudo sai “meio laranja”, ou tudo sai “meio rosa”. Eu sinto falta de azuis e vermelhos de verdade que eu me acostumei na Canon. A Panasonic é uma “empresa de vídeo” e eles não equilibram os tons para reproduzir resultados “melhores que a realidade”. No meu review da Lumix 14mm f/2.5 ASPH eu inclusive converti TUDO para o preto e branco, porque o MFT não me agrada nas cores. Então fica minha última opinião sobre a Nokton: sim, ela é legal e faz no escuro as fotos que eu precisaria do dia na 5DII/6D. Mas não as substitui, e continua como “segunda câmera” no meu kit, infelizmente.

“Super pussy” em f/0.95 1/2000 ISO200.

“Super pussy” em f/0.95 1/2000 ISO200.

“e-Spec” em f/0.95 1/100 ISO800.

“e-Spec” em f/0.95 1/100 ISO800.

“The Best Food” em 1/800 ISO160.

“The Best Food” em 1/800 ISO160.

VEREDICTO

Por US$999 o preço das Voitgländer Nokton é alto demais para justificar o projeto miniaturizado, de foco e abertura manual e, pelo menos na 25mm f/0.95, justificar também a qualidade de imagem. O look é bacana, a resolução é perfeita depois do f/1.4, e ela faz a mesma coisa que uma DSLR. Mas sinceramente parece mais um brinquedo para matar a curiosidade do que uma ferramenta a se levar a sério. E pensando nos quatro modelos (10.5, 17.5, 25 e 45), o kit sairia mais caro que o combo “profissa” 24-70mm e 70-200mm f/2.8, em qualquer fabricante. Se valeu com experimento? Sem dúvidas. Se vale como investimento e eu recomendo para todos? Não.