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Outubro/2015 – O mercado de objetivas prime 35mm para o formato 135 “full frame” é dos mais concorridos. Popular desde a década de 70, esta distância focal era a escolha das fabricantes para oferecer um pacote flexível de fotografar nos kits, enquanto as zoom de alta performance não chegavam a preços aceitáveis para o público. A equivalência aos 35mm é o padrão de praticamente todos os smartphone e o que os fotógrafos consideram a “distância natural” da visão humana. Então natural também a oferta praticamente infinita da distância, não importa o formato. (english)
A Nikkor FX AF-S 35mm f/1.8G é a peça que estava faltando na linha “f/1.8G” full frame ligando a grande angular 20mm f/1.8G, que acabamos de ver, à 50mm f/1.8G, que foi a primeira objetiva ever Nikon no vlog do zack. Os 35mm são o “wide-standard” que funcionam para incluir o sujeito na cena, sem isolá-lo completamente do ambiente, deixando o “contar a história” da foto no espaço. Por US$599 esta 35mm segue o resto da família com projeto óptico moderno, foco automático AF-S e a usabilidade simples. Vale colocá-la no kit? Vamos descobrir! Boa leitura.
Em 305 gramas de 72x71mm, a Nikon AF-S FX Nikkor 35mm f/1.8G segue a mesma fórmula de ergonomia e usabilidade de todas as AF-S f/1.8G. A dimensão na verdade é a maiorzinha delas considerando a distância focal, porque ela é bem maior que as 50mm AF-S recentes (tanto f/1.8G quanto f/1.4G), e até mais pesada do que o tamanho sugere. Montada na câmera ela fica melhor equilibrada que outras AF-S porque o peso está centralizado no mount, diferente de um leve puxão pra frente (tipo as f/1.4G) ou o peso no apoio da câmera, na mão direita (tipo a 20mm).
A construção e o design não chamam a atenção com uma estrutura totalmente de plástico do lado de fora e um único tubo externo. Ela lembra a zoom DX 18-55mm porque o elemento frontal diminui de tamanho em relação ao tubo, deixando um degrau acentuado entre o final do anel de foco e o trilho do lens hood. Não há nenhum “embelezamento” tipo anel dourado na frente ou logotipo gigante “N” em cima. É tudo discreto e sinceramente mais bonito que outras AF-S.
A operação é simples com um anel generoso de foco manual na frente, switch MA/M com suporte ao full time manual ao alcance do dedão do lado esquerdo, filtros de ø58mm que não giram na frente, janela de distância em cima e tag de especificação ao redor. O foco interno, traseiro, AF-S, é o de sempre: adequado pra rua e rápido, silencioso, preciso na D750. E o anel externo tem um lag entre o movimento do lado de fora e o grupo traseiro, embora seja mais “emborrachado” que a AF-S 20mm que acabamos de ver. Naquela objetiva o “jogo” do anel era seco, impreciso, ruim mesmo. Aqui na 35mm ele ainda existe mas o grip parece melhor entre as peças.
E de novo o projeto é só isso. Parte simples, com operação suave e design sóbrio. Parte complexo, com AF rápido, silencioso, interno e filtros que não giram; que parecem “qualquer coisa” até um fabricante fazê-los errado. os US$599 teoricamente são os mais caros considerando o restante da linha f/1.8G. Dá pra entender os projetos de +US$700 das 20mm, 24mm e 28mm; grande angular com essa abertura não é fácil de fabricar. E os 50mm de US$215 e 85mm de US$496 são baratos demais para acreditar, obrigatórios no kit. Uma 35mm de grande abertura sem estabilizador e com uma operação tão simplificada tem de entregar algo muito especial nas imagens.
Com um projeto óptico de 11 elementos em 8 grupos, 1 peça ED e 1 peça asférica, a Nikon não estava brincando quando desenvolveu a AF-S 35mm f/1.8G FX para a linha “ affordable prime”. São mais elementos até que a top f/1.4G e a performance assusta. Em qualquer abertura, qualquer distância de foco e qualquer situação de luz, as imagens são perfeitas. Contraste alto, cores saturadíssimas (a maior que tive na Nikon até agora), distorções relativamente bem controladas e bokeh suave. O que mais dá pra pedir por uma fixa de US$600?
Fazia tempo que eu não via um album tão “gordo” nos reviews do vlog do zack. Em uma única tarde de testes em Manhattan, eu voltei com 78 “keepers” de uma pasta de 500 clicks; rate que eu não conseguia desde a EF 50mm f/1.8 STM. As fotos são ótimas: resolução de sobra na abertura máxima, contraste perfeito exceto em contra-luz; praticamente nenhuma distorção cromática exceto em exposições que eu deliberadamente causei isso. Se você fotografa na rua e quer a melhor companheira a sua full frame FX, esta é a objetiva que faltava.
Em f/1.8 o único impacto negativo nas imagens é o tal “saggital coma flare”, que aproveitarei a sequência da 58mm f/1.4G pra falar dele nos próximos reviews. Em abertura máxima e paisagens noturnas, você consegue ver nas bordas que os pontos de luz ganham formas “abertas” de reflexos, que atrapalham em impressões grandes e na reprodução de detalhes de letreiros em cenas urbanas a distância. É só fechar para f/2.8-f/4 para resolvê-lo, com impacto negativo na exposição seja na velocidade do obturador ou no ISO.
A sequência de aberturas de f/2.8 pra cima revelam a vantagem de uma prime asférica com fotos extremamente “imersivas” com texturas e detalhes finos perfeitamente renderizados em qualquer área do quadro. É um enorme upgrade para fotografias “mundanas” que hoje são feitas nos smartphones, para um retrato muito mais fiel da realidade. A AF-S 35mm f/1.8G num corpo FX da Nikon é melhor para registrar o que for importante pra você. Qualquer “compacta avançada” com sensor menor, ou os malditos telefoninhos, não fazem jus as nossas experiências.
Aberrações cromáticas de eixo em abertura máxima (spherochromatism) transformam o contraste nos planos próximos do focal em bolhas roxas na frente e verdes atrás. Isso pode atrapalhar alguns elementos gráficos fotografados de perto, como stickers de rua ou objetos de decoração. As laterais, ao redor do quadro em contornos fortes, são discretas. O projeto a partir do f/1.8 é muito mais fácil de fabricar que as f/1.4 e/ou zoom, portanto a performance é excelente.
O bokeh merece destaque em distâncias próximas de foco, bacana para isolar o sujeito em fotos com baixa profundidade de campo. É suficiente para imagens diferentes ao aproveitar a área maior do formato FX (135 full frame), a vinheta em abertura máxima para dissolver o segundo plano num mix de cores e tons. A distorção geométrica também é baixa exigindo o mínimo de correção via software, bom para gravações de vídeo que são mais difíceis de consertar.
A Nikon pegou o desafio de atualizar todo o lineup intermediário desde a AF-S 50mm f/1.8G de 2011, e introduziu algumas pérolas ao mercado full frame como as 85mm f/1.8G e 20mm f/1.8G. E agora a 35mm f/1.8G, com performance óptica altíssima considerando o preço e usabilidade. O que chama a atenção é como ela chega sem medo a um mercado “pós Sigma Global Vision”. A Nikon entrega um produto superior em usabilidade e mais barato que a concorrente “Art f/1.4”, que de vantagem tem só os 2/3 stop a mais na abertura. Pra quem está na Canon e não tem qualquer ideia do que eles farão a seguir, a Sigma parece uma alternativa viável. Mas os fotógrafos de Nikon não tem esse problema. Do ultra grande angular ao curto telephoto, eles estão bem servidos por uma linha acessível, de alta performance e fácil de usar. É a vantagem de “ser” Nikon. Boas fotos!