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Julho/2015 - Dizer que a Sony é uma empresa inovadora é chover no molhado. A “Apple asiática”, ela nunca teve medo de trazer a vida as “disruptive technologies”: ideias que criam um mercado novo e acabam desestruturando outros. O primeiro Walkman, os gráficos 3D do Playstation, o design dos laptops Vaio… Sempre que um produto chama a atenção por causa da inovação e do design, tem boas chances dele vir com um logo “Sony” estampado na frente. (english)
Foram eles que iniciaram também uma revolução silenciosa no mercado fotográfico doméstico. Dona da marca Cyber-shot, começaram com a Mavica em 1987, uma “still frame camera” que empregava o CCD para registrar quadros estáticos de vídeo. Quem lembra das Mavica floppy disk, sensação tecnologica antes da virada do milênio? Em 2006 a inovação saiu do mercado prosumer e foi para o profissional com a aquisição da Konica-Minolta, herdando algumas décadas de tecnologia óptica e objetivas, além do A-mount usado até hoje nas full frame SLT.
A linha Sony Alpha 7 é reflexo desta história. Sem semelhantes no mercado, é quase tão a frente do seu tempo que dificilmente será aproveitada pelos fotógrafos. Desembarcando num tempo sedento por novidades, é simplesmente tudo o que pode ser enfiado numa camera digital, quase um protótipo de conceito. Mas comercializado, plenamente funcionando e, melhor, com um preço relativamente baixo. A primeira mirrorless full frame EVF (“electronic view finder”, diferente das Leica “range finder”), é uma nova categoria de equipamentos, sozinha no mercado.
A A7II é a segunda geração de uma linha com três modelos: A7 para alta velocidade, com sensor de 24MP e AF híbrido phase+contraste; A7R para fotografia de precisão (estúdio, produtos e paisagens), com sensor de alta resolução; e A7S com sensor de pixels grandes ultra sensíveis a luz, com vídeo 4K. Com A7II e A7RII já anunciadas, a principal novidade é o “SteadyShot Inside”, um módulo que promete até 4.5 stops de compensação. Como será que funciona? Boa leitura!
Logo de cara a primeira coisa que você nota na A7II é o tamanho. Compacta para as propriedades ópticas sensor 135 full frame + troca de objetivas, mas enorme para o mercado mirrorless (dominado pelo Micro Four Thirds), ela é exatamente o meio termo. Em 12x9x6cm e 556g é quase 30% menor que uma EOS 6D de 14x11x7cm em 770g; mas o dobro de uma Panasonic GF3 de 10x6x3cm e 342g. Ou seja, a Sony de fato está mirando para uma nova classe de equipamentos, o mais compacto possível com o maior sensor + troca de objetivas, sem os shortcomings do APS-C.
Isso porque a A7II já cresceu 1cm em relação a A7 original, e tem novo design no grip. Nas mãos a ergonomia é ruim porque o apoio vai para o dedão da mão direita, e não para os quatro dedos adjacentes como numa SLR. Você “equilibra” a A7 no dedão, e não “abraça” como uma Canon 6D. Se segurá-la errado não conseguirá usar os dials traseiro e frontal, que são horizontais como nas Nikon. A pegada é ruim com tantos cantos retos e a câmera é pequena demais para quem tem mãos grandes. Não é “bem resolvida” ergonomicamente. Deveriam ter feito uma A99 mirrorless!
Na frente a diferença com as SLR é mais aparente: o E-Mount full frame é gigante no centro e praticamente não há grip. Em cima do mount temos o bump que acomoda o viewfinder eletrônico, e ao lado esquerdo está o release da objetiva, perto do dedo anelar. Para montar/desmontar basta equilibrar a câmera com o dedão atrás e aperta o release com o anelar na frente. Mas este botão é menor do que eu gostaria e questiono a durabilidade do mount. Parece que tudo é de plástico e o ajuste é relativamente justo. Não é tão liso quanto a troca rápida da Canon e do MFT.
Dentro do mount está a alma do projeto: um sensor full frame e nada de espelhos. Para os novatos, SLR significa “single lens reflex” e a câmera tem um espelho que reflete a imagem da objetiva para o viewfinder, até os olhos. Ele também é chamado de OVF, “optical view finder”, já que você vê a mesma coisa que as lentes veem. No “mirrorless” não. A câmera funciona como uma filmadora que um video para o EVF (“electronic view finder”), que mostra informações como previsão da exposição e cores reais do arquivo. Será o futuro das digitais? Sei não…
Aí dentro também fica a maior novidade da geração II: o SteadyShot Inside. O sensor de imagem é montado sobre um módulo motorizado que compensa os movimentos das mãos. É tão grande e potente que a câmera parece um rumble pack, destes de vídeo game, quando ativa/desativa o módulo. A vantagem do estabilizador na câmera é que todas as objetivas serão compensadas, desde as adaptadas (você entra no menu de 8mm a 1000mm) quanto as próprias “OSS” da Sony.
E o resultado é fenomenal! Por exemplo com a objetiva FE 55mm f/1.8 ZA, dá pra usar tranquilamente três ou quatro stops reduzidos no obturador junto de uma lente que já é “clara” (grande abertura). É uma forma completamente nova de fotografar: baixo ruído + grande abertura + obturador lento (compensado na câmera), para fotos sob muito menos luz ambiente. Ou efeitos criativo sem tripé, já que a correção vai até 4.5 stops com as lentes da Sony. É a primeira disruptive technology da A7II: o SteadyShot abre possibilidade para fotos diferentes com qualquer objetiva.
Em cima o painel é funcional embora não seja perfeito. Estão lá: o hot shoe standard com interface Mi, a roda PASM, um dial exclusivo para compensação da exposição, e dois botões C1 e C2 programáveis. É quase a mesma coisa das RX compactas e na minha opinião uma oportunidade perdida, que busca o apelo “compacto” no lugar da usabilidade. E falta o top LCD! Não saber os valores de exposição, bateria e EV atrapalha. A Sony deveria ter copiado a Canon T6s: colocar o dial PASM para a esquerda e um LCD pequeno a direita, com estes botões C na frente. Tem espaço…
Atrás o destaque vai para as duas telas que fazem a maior diferença na usabilidade: ligou a câmera e elas ficam ativas o tempo inteiro, como numa compacta. Geralmente nas SLR você deixa a câmera “ligada” na chave e nada acontece: o top LCD mostra informações, a câmera está pronta mas consumindo quase zero energia. Pegou nas mãos, apontou e disparou. A A7 não. Virou a chave e ela está lá consumindo toda a bateria possível com as telas ligadas (o OLED consome mais que o LCD), estabilizador pronto, e dependendo da programação, foco e exposição ativos! Ou seja, é uma boa ideia deixá-la desligada a maior parte do tempo para economizar energia.
Mas com o liga/desliga para poupar bateria notamos como o boot da A7II está anos atrás de uma DSLR “always ON”. E eu perdi fotos por causa disso. Girei a chave, ~esperei a câmera ligar~ (cerca de 1.5 segundo) e até encontrar o foco, estabilizar e disparar, já passaram três, quatro segundos do enquadramento perfeito. Impensável para quem está trabalhando na rua! Não espero muito como os 300ms de uma EOS T3. Mas pelo menos os 0.47s de uma Panasonic GF6, que é mirrorless, eu estava esperando. Imagina uma tarde inteira no estúdio quantas baterias você vai precisar?
No painel LCD externo de 3” estão 1.23k pixels com WhiteMagic, 3 RGB e 1 branco para brilho intenso sob luz solar (funciona!), retrátil para cima/baixo e fora do corpo; mas não para os lados. É igual a Nikon D750: frágil, provavelmente vai quebrar no primeiro impacto, e com certeza não é resistente a um pouco de chuva. Definitivamente não é contra poeira, considerando quanto ela junta atrás. E ainda não é touch screen, para facilitar a escolha do ponto de foco. A Canon T4i fez e eu achei graça, agora sinto falta. E pensando o caos da interface da Sony, faz MUITA FALTA.
Dentro do viewfider fica uma telinha OLED de 2.3k com cobertura 100% e ampliação 0.71x, com as mesmas informações do LCD. Infelizmente o EVF não sai do corpo para cima/ longe da câmera como numa filmadora, outra oportunidade perdida. A experiência é até boa: praticamente não há lag e os movimentos ficam “reais”, e vale a pena pelas informações extras, apesar de ficarem um pouco “tumultuadas” de vez em quando. Mas não substitui um OVF: o render do vídeo tem aliasing, as cores são pobres e dá pra ver claramente os pixels do OLED. Não é perfeito.
Já o sensor do EVF é sensível demais. Toda vez que fui usar a tela LCD virada pra cima e a câmera na minha cintura, o EVF detectou a minha barriga (que nem é tão grande) e desligou o LCD. Isso a uns 15cm do meu corpo! Ou quando fui fotografar produtos usando o LCD para baixo, com a câmera próxima de um softbox sobre a mesa, de novo o sensor desligou a tela. É sensível demais e não tem ajuste de proximidade. Só entre LCD/OLED “fixos” (sem sensor automático), que você tem de navegar por uns 20 menus até encontrar. Eu preferia uma chave “FINDER/LCD” como na F717.
Apesar do consumo de bateria telas + live view, ter os dois sistemas o tempo todo ligado é interessante. Algumas fotos são mais fáceis com o Live View, com a câmera estável para arquitetura, profundidade de campo curta ou enquadramentos diferentes. E o liga/desliga do LV de todas as DSLR também é lento. Então fica uma sugestão pra Canon e Nikon: que tal colocar um sensor no viewfinder e um modo “Auto” para o Live View, que liga o LCD sempre que a câmera estiver longe do corpo? É paradoxal já que reclamei do consumo da bateria. Mas teve momentos que achei ótimo tudo funcionar automaticamente, como nesta foto espontânea na rua:
Atrás estão os botões padrão da Sony, tanto nas Cyber-shot RX quanto nas Alpha. Um mini dial com quatro direcionais e botão central, com feedback horroroso, super mole. Um Fn e um central entre a chave AF/MF (liga/desliga o foco) ou AEL (ativa o auto exposure lock). Em cima um C3 programável do lado direito, e o MENU sozinho, perdido, coitado, do outro lado. O playback (>) e lixo (C4) embaixo. Há ainda o segundo jog horizontal, que controla a abertura. E fora do alcance de qualquer dedo, o botão REC lateral como nas NEX e nas RX. Afinal, como usa esse botão?
Não explicarei a função de cada um já que a A7II é “customizável”. Há um menu Custom Key Settings só para programar as funções, embora tenha abstenções notáveis. Por exemplo este jog horizontal traseiro (o de cima) é oficialmente uma merda. Vocês sabem que eu não falo muito palavrão, mas eu tenho de parabenizar a Sony: eles fizeram outro jog de merda. Na A7 original era liso e girava sozinho a tira colo. Agora ele é de plástico e coberto por uma filipeta (?), super duro de girar! Sem problemas já que serve para um ajuste pouco usado: apenas o controle da exposição!
Como jog é ruim, eu tentei jogar a abertura no dial vertical traseiro para trabalhar como as Canon. Mas não faz! O “Control Wheel” faz ISO, White Balance, Creative Style, Picture Effect… Mas não faz abertura! Nos Custom Buttons você consegue até programar “Download Application” como atalho, mas não pode tirar a exposição shutter/aperture dos jogs de merda. E não que você tenha uma top LCD pra saber a abertura da objetiva o tempo todo. É um potencial deal breaker: é difícil controlar a abertura e o obturador nos jogs horizontais duros e ásperos. #sddsDSLR
Outro problema crônico na Sony são as zilhões de abas desorganizadas no MENU. Não tem qualquer lógica! São seis abas principais, mas só na aba 1 (ícone “câmera”), são NOVE submenus horizontais! Alguns até fazem sentido: qualidade do arquivo, formato do vídeo, drive, area do foco, ISO… Não, espera, ISO? Sim, ISO está lá no quarto submenu, sob “câmera”. Aí no submenu 6 tem o “Center Lock-on AF” (tipo um 3D tracking), que está entre “Soft Skin Effect” e “Long Exposure NR”. Faz todo o sentido colocar uma função do foco automático junto de um efeito, não acham?
Ainda em “câmera” tem “SteadyShot” junto de ~Color Space~; tudo a ver. Na aba 2, ícone “roda dentada”… Submenu 4: FINDER/MONITOR (ASSIM, EM CAPS), junto de “AF w/ shutter”, que é programação do botão da frente. Submenu 5: Exp.comp.set (em minúsculo), na mesma tela que “AF Micro Adj.”. Submenu 6: Lens Comp., que controla o BIONZ X para corrigir CA lateral, distorção geométrica e vinheta, num menu sobre a disposição dos botões…
É cômico pra não dizer trágico, e não são duas, três funções que você consegue lembrar aonde estão. São seis abas com 9, 7, 2, 1, 2 e 6 submenus respectivamente, de uma câmera com uma curva de aprendizado complexa. Eu já devo ter rodado estes menus umas 50 vezes só para desligar/ligar o sensor do LCD/OLED. Durante os testes nas ruas de Nova Iorque eu literalmente tinha de parar, sair do meio da calçada e ficar rodando os 21 submenus para procurar alguma coisa. Estou convencido que a Sony faz estes menus na maldade. SHAME ON YOU, SONY!
De resto nós temos as portas do lado esquerdo, com USB e HDMI sob uma tampa, e MIC e headphone sob outra. A USB serve para descarregar as fotos no computador e carregar a bateria da câmera, como num smartphone ou as Cyber-shot RX. E é um recurso que eu até gosto: qualquer lugar com uma porta USB como no carro, no avião, ou com um pack externo, você carrega a bateria. Mas a câmera não carrega a bateria se estiver ligada, então você não pode usá-la quando a bateria acaba. Você paga US$1700 (só corpo) e não recebe nem um carregador de verdade!
A bateria vai embaixo e dura pouco para o tempo que você navega nos menus. É uma NP-FW50 (W TYPE) de 1020mAh. A RX1 usa a NP-BX1 (X TYPE) 50% menor fisicamente e tem 1240mAh! Ok, uma tem 7.4V (W TYPE) e a outra tem 3.6V (X TYPE), but what the hell? Gerenciar a bateria vira um iDevice do demo: carregue a noite, use durante o dia, e fique sem usar quando a bateria acabar. É bem diferente das SLR que podem durar uma semana inteira dependendo do estilo de fotografia. Ou carregar enquanto usa. O handgrip opcional resolve parte do problema e aceita duas NP-FW50.
E por último o cartão SDXC vai a direita, na “esquina” do grip principal. E na boa? Esta é a ~PIOR~ porta SD que eu já vi na minha vida. ~“A” PIOR!~ O_o Ela é tão fácil de abrir que eu literalmente voltei a loja e pedi para testar outra Sony A7II pra ter certeza que a minha não estava com defeito. Ela fica bem onde a palma da mão segura no corpo, e do lado de fora é tudo emborrachado. Então o atrito das mãos segura na borracha e abre a porta ~sem querer~ o tempo inteiro. É inacreditável. São detalhezinhos como este que vocês precisam testar antes de fazer o switch de uma Canikon.
No geral a minha impressão é que a A7II tenta ser uma mirroless “séria”, como a linha Panasonic GH no Micro Four Thirds. Eles pensaram num equipamento moderno e funcional, que se comporta como uma máquina fotográfica. Mas é uma “máquina do futuro” quando as mãos serão minúsculas e nós teremos memória para lembrar a disposição de 21 submenus. Me parece um futuro apocalíptico este que a Sony prevê para nós, então corram para as colinas!
Com 117 pontos phase e 25 zonas de detecção por contraste, a A7 “normal” (não R nem S) é a opção da linha voltada para “velocidade”. A especificação tem lógica: 24MP + foco híbrido com disparo de até 5fps é mais que o suficiente para o público e preço do modelo. E devo assumir que é o meu recurso favorito do dia a dia com a A7II: é rápido como nas piores DSLR. Com as objetivas FE 55mm f/1.8 ZA e FE 28mm f/2, que veremos em breve, o foco trava em menos de um segundo, suficiente para trabalhar com boa técnica. A Sony está no caminho certo mas não é uma SLR.
A A7II é um mundo de diferença a RX1R. Enquanto aquela full frame tem suas credenciais na portabilidade e no conjunto óptico, não ficou muito claro no meu review como o foco por contraste é PÉSSIMO. É lento, procura demais ou simplesmente não trava. A noite e na rua, esqueça, deixe em casa. E eu estava morrendo de medo disto acontecer com a A7II, mas não. Os pontos phase estão agrupados no centro, o que é péssimo. Mas pelo menos eles preparam o sistema de contraste para a direção certa, e é realmente rápido com as FE: apertou e focou!
São quatro modos: AF-S, AF-C, DMF e MF. E cinco áreas: Wide, Zone, Center, Flexible Spot (S, M e L) e Lock-on AF (tipo um 3D tracking, disponível no AF-C). O AF-S é padrão: a câmera foca, trava, e não move mais o ponto. O AF-C é contínuo: a câmera foca e não trava, continua buscando o foco no ponto fixo selecionado. E o Lock-on AF a câmera foca, não trava, e acompanha o sujeito pelo quadro. É como o 3D tracking da Nikon, e você vê tanto a área de contraste quanto os pontos phase mudando de lugar. Mas às vezes fica doidão: se perde e pula na tela…
Mas no geral o foco automático é rápido com as objetivas da Sony. Com a câmera ligada eu duvido que perderia alguma foto na rua com as FE 55mm f/1.8 ZA ou FE 28mm f/2. É sacar a câmera, apertar, e pímba, foca e dispara. Mas ainda está atrás de qualquer DSLR. Foi só chegar em casa e pegar a EOS 6D + EF 70-200mm f/2.8L II IS USM para fotografar uma nuvem (fotão!!!), que fui lembrado da velocidade da Canon. Não tem como comparar e fica a dica pra quem depende do AF: não, a A7II não substituirá Canon ou Nikon por enquanto, por mais que o hype diga o contrário.
Por outro lado o foco manual conta com uma das facilidades do EVF: o peaking. É um contorno colorido nas áreas de micro contraste que indica o que está em foco, usado em cinematografia. É mais preciso que o olhômetro das SLR embora esteja atrás do range finder das Leica. No modo DMF (direct manual focus) o combo câmera + objetiva trabalha como um “full time manual”, então a qualquer momento você pode compensar o foco (com zoom!) e peaking. É impossível tirar uma foto com foco manual e errar nesta câmera, apesar de demorar um pouco. Funciona bem.
E esta facilidade é indispensável pra quem planeja usar as A7 com objetivas adaptadas. No caso das Canon, a Metabones fabrica o Smart Adapter que passa informações de abertura e distância, além do foco automático. Mas o AF é tão devagar que nem vale a pena usá-lo. E às vezes nem funciona: com a Yongnuo 50mm f/1.8 EF, a Sony A7II se recusou a travar. Daí a importância de um foco manual bacana e uma das vantagens do EVF. Os dois reviews da Canon EF 50mm f/1.8 STM e Yongnuo 50mm f/1.8 tiveram todas as fotos com foco manual, e não tive nenhuma fora de foco.
Outro destaque das A7 (todas) é a perfeita convergência entre foto e vídeo. A Canon já esqueceu deste mercado que ela mesma criou (HDSLR) e até hoje nós temos a mesma qualidade de imagem com aliasing e moiré da 5D Mark II lá de 2008. Mas na A7II a qualidade do vídeo é excelente: limpo e com cara de 1080p, sem a perda de resolução do line skipping do EOS Movie. E vem com recursos avançadíssimos: codec XAVC S H.264 de 50Mbits; 60fps para slow motion; e perfil S-Log2. Quem trabalha com vídeo + DSLR nem pense duas vezes: a segunda geração da A7 é para vocês!
De cara você já nota o “look” diferente dos arquivos. Mesmo em AVCHD de 28Mbit a imagem é “sólida”, com mais pontos formando os detalhes. O vídeo das A7 (todas) tem mais cara de Sony FS100 do que EOS 5D Mark III. E vocês sabem a diferença de preço entre elas. Os ruídos são sutis com uma aparência cinematográfica. Os gradientes são bem registrados, sem banding.
Mas os movimentos não são tão orgânicos como nos sensores da Blackmagic, e o look “vídeo” é forte. A Cinema Camera registra um rastro bem maior de movimento, que também é mais cinematográfico. Em 1080P60 na A7II fica tudo “liso”, e funciona para slow motion a partir da câmera. São duas câmeras que também não se comparam: tamanho do sensor, resolução máxima, fps, fluxo de trabalho… Não sairei da BMCC e mudar para uma A7II.
O pixel binning da A7II não é perfeito e o eventual moiré + aliasing acontecerá sim, apesar de ser discreto. Para entrevistas com profundidade de campo curta, detalhes de decoração, bokeh balls e aquele “feeling” cinematográfico ela é perfeita. Mas não serve para um wide shot de uma paisagem urbana, por exemplo. É um passo bem largo a frente de todas as Canon EOS (exceto C), mas atrás da Blackmagic e da Nikon D750, que usa um sensor Sony mais novo. O vlog do zack que nasceu na 5D Mark II vê qualquer melhoria como uma grande coisa. :-D
O XAVC S de 50Mbits tem tanta informação que só os cartões SDXC são aceitos para ativar a opção no menu. E faz toda a diferença em algumas gravações. Por exemplo usando o S-Log2, um perfil escondido no Picture Profile 7 e que antes pagávamos US$15.000 na F3, o ISO nativo é 1600 e o ruído fica bonito, parece filme. E o XAVC S não jogará fora as informações que o AVCHD “comprimirá”. Grosso modo o S-Log2 é um perfil flat da Sony que ultrapassa os limites do Rec-709, registrando os 14 stops de dynamic range dos sensores Exmor, e deve ser colorido depois:
E os Picture Profiles são os recursos de vídeo mais sofisticados que já usei numa compacta. E absolutamente tudo pode ser programado entre o Exmor e o BIONZ X. São nove curvas de Gamma que vão do perfil padrão, Cine1 equivalente a curva HG4609G33, Cine2 equivalente a curva HG4600G30, ITU709 (autoexplicativo) até o S-Log2. Correção Black Gamma e Knee, para compressão do sinal de acordo com a cena e pós-produção. Color Mode com opções Pro (para combinar com gravações de outras câmeras profissionais de Sony), ITU709 e S-Gamut.
Isso tudo sem falar no Steady-Shot Inside que faz qualquer objetiva parecer estabilizada, sem a tremedeira que o povo da Canikon faz com as primes handheld. Dá ódio ver aquelas gravações de casamento com prime de grande abertura e a tremedeira xumbrega de amador. Mas isso não acontece na segunda geração da A7 e, sozinho, é outro selling point pra quem trabalha com vídeo. O corpo é menor, mais leve e cansa menos num dia de trabalho. A tela LCD tem tilt que nenhuma Canon full frame faz. E até “nos olhos” ela funciona, usando o EVF para gravações discretas.
Minha única reclamação sobre os vídeos é como a Sony insiste em organizá-los no cartão de memória. Ao invés dos arquivos aparecerem na mesma pasta das fotos ou até numa pasta só de vídeo, eles estão completamente escondidos sob três diretórios: “private” > M4ROOT > CLIP”. É a estrutura que a Sony recomenda para queimá-los num Blu-ray, afinal é assim mesmo que a gente usa vídeo hoje em dia. #sóquenão Eles precisam mudar esta estrutura urgente porque alguns arquivos simplesmente somem. XAVCS e AVCHD, por exemplo, vão para pastas diferentes.
A Sony anda chutando bundas em tecnologia de semicondutores e, consequentemente, em performance nas câmeras digitais. Eles que fabricam todos os full frame da Nikon (com projetos exclusivos), todos os sensores dos iPhones 4, 5 e 6, e até os de 1” da Canon G7X. São chamados de Exmor e as diferenças são estruturais ao restante do mercado: da disposição física das microlentes a espessura do waffle, até o material de construção como veremos nos novos Exmor R de 42MP full frame back-illuminated feitos em cobre da A7RII.
O impacto real no dia a dia está principalmente no “dynamic range”, que grosso modo é a capacidade da câmera em registrar valores de luz e sombras. Enquanto nossos olhos conseguem distinguir facilmente detalhes nas sombras com luzes fortes atrás (por exemplo durante o dia), isto é difícil para um sensor analógico que ou vê toda a luz e “estoura”, ou não vê luz nenhuma e registra o preto total. É aí que a Sony está na frente: com 14 stops de dynamic range, você pode manipular o registro do sensor para fielmente simular os que os olhos veem.
Dá para “puxar” o arquivo a quatro, cinco stops a partir da exposição original praticamente sem perda de qualidade. A Canon até faz algo parecido no raw: você “recupera” luzes em sombras também. Mas dois, três stops no máximo, já que eles estão em 11-12 stops de dynamic range. Qualquer coisa além disso e os problemas aparecem: banding, ruídos, e cores erradas. Com o Sony Exmor não. Algumas cenas complicadas contra luz nem precisam de flash fill-in. Você fotografa a modelo na sombra e ilumina depois no computador. As paisagens ficam muito mais dramáticas: é possível compensar a perda de luz da floresta inteira depois de registrar os tons do pôr do sol.
Mas a performance em alto ISO deste modelo “básico” de Exmor 24MP não é das melhores, e ele mostra ruídos nas sombras a partir de ISO1600. Tanto em comparação a outros Exmor [36MP (A7R), 12MP (A7S), 42MP (A7RII)] quanto os full frame da Canon, os grânulos ficam bem mais aparentes. É exatamente 1 stop de diferença em relação a EOS 6D, que em ISO6400 está parecida a A7II ainda ISO3200. Não chega a ser ruim, já que o ruído é orgânico, discreto e praticamente some depois da impressão ou redução para saída web. Mas não tem como negar a geração do imager.
Por outro lado nós temos um paradoxo e outra disruptive technology. Se até ISO800 este Exmor de 24MP aguenta amplificação do sinal via software com qualidade, e perde performance com amplificação via hardware (ISO1600 na câmera), por que não fotografar até ISO800 e aumentar o sinal depois no computador? É uma ideia nova que começamos só agora a pensar de fato, similar ao filme “puxado” na revelação. Você não expõe pensando “na câmera”, mas sim pensando no software. Se a cena for escura, você pode limitá-la ISO800 e depois “iluminá-la” sem ruídos.
A A7II em ISO800+3 stops no Adobe Camera Raw fica tão limpa quanto uma EOS 6D em ISO6400 nativo, sem a perda nos detalhes ou o tint magenta que a Canon faz. É extremamente útil quando você precisa por exemplo fechar a objetiva para aumentar a profundidade de campo e/ou usar o f/stop otimizado da lente (geralmente f/8), sem diminuir a velocidade do obturador para não borrar o registro dos movimentos. Paisagens noturnas fica muito mais nítidas, bem expostas e com as cores certas, expondo até ISO800 e amplificando o sinal depois no software.
As cores também estão bacanas na A7II com performance similar a Canon em tons de pele, a favor dos vermelhos e laranjas. A Sony até puxa demais os laranjas, enquanto a Canon tem o equilíbrio perfeito com o rosa/amarelo/vermelho/laranja, feito para as mulheres asiáticas. No geral os retratos saem “vivos”, sem a cara amarelada da Nikon ou marrom da Sigma. Já os verdes pesam um pouco para a aparência “neon”, e falta marrom/cinza/azul para equilibrá-los com a realidade. Os azuis são neutros e não tem mixagem com os vermelhos, e um céu limpo fica azul, não roxo.
De negativo é o moiré muito mais aparente na A7II do que qualquer outra full frame que já usei. Este Exmor de 24MP tem o filtro low pass ativo mas as fotos são incrivelmente nítidas, parece uma câmera sem o filtro (como a RX1R ou D800E). Mas na conversão raw via ACR eu tive mais casos de linhas falsas coloridas em uma semana com esta Sony do que em dez anos com as Canon. Pode ser um problema para quem fotografa moda (tecidos) e cidades (grades e tijolos).
E por fim a saída JPEG do BIONZ X é tão “sólida” quanto os vídeos em XAVC S. Quando eu digo “sólida”, é que as “zonas” de cor são extremamente nítidas, sem aliasing ou pixels aparentes, resultado de um processamento eficaz para eliminar ruídos. Os DIGIC da Canon mantém uma “textura” nos arquivos JPEG mesmo em ISO base 100. O Sony BIONZ não. São mais detalhes, sem dúvidas, mas às vezes beira o look “video grab” no lugar de uma foto.
E em ISOs altos o processamento é agressivo para controlar os ruídos, juntando os pixels para fazer um borrão “sólido”. Nestes casos o melhor é fotografar em raw, que salva os detalhes:
A Sony tem “limitado” as Alpha e Cyber-Shot RX a um formato raw de 14bits “comprimido”. Nos softwares tradicionais da Adobe, aparentemente só 11bits de informação estão disponíveis, e os 14bits só “aparecem” no software da própria Sony. A teoria que eu endosso é que a fabricante, por contrato, segura o output das A7 para não competir com as DSLR que ela fornece o sensor. RX1, A7 e A7II usam o mesmo sensor da D600/D610; a A7R usa o mesmo sensor da D800/D800E/D810; e todas tem a limitação. Mas a A7RII com um sensor novo BSI de 42MP virá sem o limite.
Mas se isso faz tanta diferença para o volume de mimimi que tem na internet? Não, não faz. Em praticamente nenhum arquivo meu eu vi as tais “linhas de posterização” quando eu “puxei” o arquivo pra lá e pra cá no Adobe Camera Raw. E aquele site que “comprova” que isso é um problema leva o arquivo a um extremo que ninguém leva: uma completa perda da foto com 2000% de ampliação do sinal, non-sense! Pra falar a verdade eu questiono até se está comprimido. A Canon EOS 6D de 20MP gera arquivos de 20MB, e a A7II de 24MP gera arquivos de 24MB. Ou seja…
Pra terminar, vamos falar sobre a experiência de uma mirrorless full frame no meu kit majoritariamente SLR, e se a A7 II mudará alguma coisa no vlog do zack. O fato é que a Canon está aparentemente parada no tempo com recursos de vídeo e performance no sensor, e o conservadorismo tem causado rebuliço na internet. É muita gente reclamando que a Canon morreu (?) e esquece de ergonomia e função, a favor de “dynamic range”, “4K” e todo o “mimimirrorless”. E este papo não reflete a realidade do mercado profissional.
Na rua a A7II funciona até bem com as objetivas da Sony. É compacta, o foco é rápido, e as fotos são tecnicamente melhores se você souber manipular os arquivos depois. Mas ela é tão disruptive e revolucionária quanto as compactas de filme 135 na década de 80: pequenas e interessantes, mas bem longe do mercado profissional! Com tamanha redução da área para as mãos e tantas funções num corpo só, a A7 é simplesmente o inferno pra quem está trabalhando com uma SLR.
Nas mãos uma EOS 6D é grande porque ela precisa ser, e não por culpa do espelho! É grande para ser confortável nas mãos, enquanto a A7 tem o apelo “compacto” em primeiro lugar, esquecendo do fotógrafo. Uma 6D + EF 50mm f/1.2L USM encaixa perfeitamente nas mãos enquanto a A7II + FE 55mm f/1.8 ZA é desconfortável, cheia de cantos duros e que não cabem nas mãos. Eu que tenho mãos gigantes, é impossível segurar a A7II com segurança, e este é um erro fatal de ergonomia. E nem culpo o “papo mirrorless”: a Panasonic GH4 MFT é muito mais confortável que a Sony.
Uma SLR liga instantaneamente ao giro do botão, e pode fica o dia todo ligada no estúdio sem atrapalhar. A A7II não, e leva uma ~eternidade~ pra ligar. São dois segundos que uma EOS 6D já ligou e tirou cinco fotos. É a mesma diferença de quando eu fui da F717 para a 20D: a EOS “gritava” em campo, disparando foto atrás de foto, enquanto aquela Sony vai lentamente pensando em como começar a fotografar. E eu não pretendo voltar ao passado por mais que tenha Live View, viewfinder eletrônico e um design engraçadinho. Thanks, but no thanks!
E nem preciso falar sobre foco automático. Mesmo que você supere a ergonomia, o sistema AF das mirrorless está muito atrás. Sony (com a6000), Nikon 1 (com V3), Panasonic GH4 e Olympus OM-D tem foco fantástico, como os inúmeros testes do departamento de marketing mostram. Mas aponte uma SLR com objetiva topo de linha para o primeiro beijo dos noivos e veja se ela não trava antes dos lábios se separarem. Aponte uma SLR para o jogador no momento decisivo da partida e ela trava antes dele chutar a bola. Eu garanto pra vocês que as mirrorless não fazem isso.
E por fim chegamos na seleção de objetivas. O E-mount é relativamente novo para atender os sensores full frame, e as opções nativa são escassas. Ainda não temos um kit 14-24mm, 24-70mm e 70-200mm todas f/2.8, simplesmente ~padrão~ no kit de quem trabalha. E se for para adaptar Canon e Nikon, honestamente, compre uma SLR Canon e Nikon! O tamanho do corpo será compatível com o tamanho da objetiva, ela será muito mais amigável as mãos, e o foco e a bateria serão muito mais confiáveis. Veremos outro artigo sobre objetivas adaptadas na A7II em breve.
Enfim, pra quem é a Sony A7II? E eu ficarei com ela? Na minha opinião a Sony A7II apresenta mais uma ameaça as Leica do que as Canonikon, já que o sensor full frame e a troca de objetivas é parecida com o mount M, e não com o sistema F ou EOS. Ela é para o fotógrafo “cutting edge” que precisa de tecnologia para justificar a compra, o tamanho compacto e algumas firúlas a partir do sensor. E ela funciona como câmera acima de tudo, apesar da linha de aprendizado sinceramente mais técnica que as SLR. É função demais, MENU demais, e coisa nova até pra mim.
Para o povo do vídeo a história muda e a A7II é um dos produtos mais completos por um preço ridiculamente baixo. É pequena e leve, a qualidade dos arquivos é excelente, os 60fps são indispensáveis dependendo do trabalho e o S-Log2 junto de um sensor 135 estabilizado faz da A7II um no brainer para quem está esperando um avanço da Canon. Para 1080P é brilhante!
Mas para o mercado fotográfico profissional acostumado com as DSLR, por enquanto não serve. Não funciona para jornalistas, não funciona para casamentos, e é o caos de quem está “na correria” pela melhor foto. “Melhor foto” que parece fácil: em foco, na hora e no lugar certo. Mas não é fácil. A Sony pode até estar no caminho certo, mas há boas chances de não estar em foco e nem ligada, impensável para profissionais. Produtos e paisagens até funcionam, e só.
E por fim aqui no vlog do zack uma “A7II”, por enquanto, não encontrará um lugar, por mais que eu tenha amado a experiência. Ela ainda compromete demais o fluxo dos testes e eu não posso abrir mão da usabilidade e velocidade de uma DSLR só por causa do sensor Exmor. E eu já tive Sony e eu já deixei a Sony para trás. É só pegar a minha EOS 6D nas mãos que eu lembro o salto na ergonomia, como um abraço. E eu já parti pro abraço há 11 anos… Boas fotos!