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Maio/2017 – A Sony E 50mm f/1.8 OSS é uma objetiva prime (fixa) para o formato APS-C, com distância focal própria para retratos. Com um campo de visão de cerca de 32º diagonais, ela é pensada nas composições de meio corpo para cima, a partir de 1 metro de distância, valorizando as facetas humanas com proporções agradáveis, sem distorcer as extremidades (nariz, orelhas) da pessoa. Uma especificação de grande abertura f/1.8, além de criar uma curta profundidade de campo e o segundo plano fora de foco, ela é útil também para a fotografia sob pouca luz, e leva esta flexibilidade além com uma novidade para o segmento “50mm f/1.8”: o estabilizador de imagem OSS (Optical SteadyShot), que promete compensar até 4 stops dos movimentos das mãos, sem a necessidade de um tripé. Por US$299 ela não é uma opção barata se pensarmos no restante do mercado “50mm f/1.8”, como Canon EF STM por apenas US$125, ou Nikon AF-S G por US$215; ambas atendendo ao formato maior “full frame” (135). Mas será que a Sony se justifica pelo estabilizador e o apelo premium da linha E-mount? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 6.2 x 6cm de 202gr de principalmente metais e plásticos, a Sony E 50mm f/1.8 OSS é uma diminuta e levíssima objetiva prime, típico do segmento “50mm f/1.8”. Embora ela não seja tão curta quanto as Canon e Nikon EF/AF-S do full frame, a Sony E 50mm é pequena para uma objetiva a) com foco automático totalmente interno, que não expande ou gira qualquer peça do lado de fora; e b) ainda com o estabilizador de imagem, não oferecido nas outras marcas. A construção também é superior à concorrência dos projetos “plastic fantastic”, adotando um tubo externo de metal oferecido nas cores prata ou preto, gravado com finíssimas linhas circulares, para uma “aparência duradoura e premium, como as câmeras da linha Alpha” (palavras da fabricante). De fato esta E-mount é uma das 50mm f/1.8 mais sólidas do mercado, apesar de incrivelmente leve e prática, pronta para carregar na mochila ou montada na câmera, nas ruas, o tempo todo com você.
A operação é totalmente eletrônica sem botões no tubo da objetiva, com apenas um anel metálico bruto (sem borracha) de foco manual, texturizado com grooves finos, de menos de 1/2 milímetro. Nas mãos a ergonomia é perfeita com as câmeras mirrorless (sem espelho) do E-mount, que já são compactas por natureza, pedindo por objetivas menores para equilibrar com segurança. Montada na A6500 o conjunto é pequeno sem ser apertado, confortável para fotografar usando o viewfinder eletrônico OLED à altura dos olhos, num pacote câmera + objetiva de menos de 600gr ; o sonho de qualquer fotógrafo profissional. Quem está acostumado com uma DSLR full frame + objetiva 85mm f/1.8 (equivalente aos 50mm do APS-C) apreciará a proposta da Sony, e dá para pensá-la como alternativa para retratos descompromissados, quando o cliente não quer ser “seduzido” pela sua “câmera grande”. São as vantagens do APS-C, realizadas na portabilidade das câmeras mirrorless.
O foco pode ser feito de duas maneiras: manualmente, pelo anel externo de 1”, ou por auto-foco, com um motor linear interno. Dada a falta de botões ou chaves seletoras no corpo da objetiva, os ajustes de “manual focus” ou “dynamic manual focus” devem ser feitos nos menus da câmera, este segundo emulando o “full time manual” das objetivas tradicionais; além do foco automático, é possível usar o anel de foco a qualquer momento. Este anel desliza sobre uma escova eletrônica que detecta a direção dos movimentos (fly-by-wire), e diz para o motor levar o grupo de foco para a posição desejada; ele não é “mecanicamente” conectado às peças do lado de dentro. Se por um lado isso prejudica a precisão do foco manual, uma vez que há um “atraso” entre girar o anel e o motor responder, por outro ele permite o uso do motor linear, pouco conhecido no mercado. Uma “função” que a Fujifilm se gaba nas objetivas especiais “LM” (linear motor), a ideia é substituir as engrenagens barulhentas e frágeis, por trilhos imantados, de movimento instantâneo. O resultado é um “motor” totalmente silencioso e sem qualquer vibração, dentro do equipamento compacto.
Testada na atual topo de linha APS-C da Sony, a A6500, o sistema “4D Focus” com 425 pontos de foco phase rápido e as 169 áreas de detecção de contraste entregam resultados mistos no foco da E 50mm f/1.8 OSS. Quando o sujeito está bem iluminado e com bastante contraste, o conjunto não “busca” (vai e volta) pelo foco, indo diretamente na direção certa. Esta focagem até pode ser rápida, desde que o motor não tenha de percorrer um longo caminho. Por exemplo entre o foco mínimo e o infinito, espere quase 1 segundo inteiro; na mesma casa da Canon EF 50mm f/1.8 STM recente, que tem um stepping motor também pensado na suavidade. É notável como estes modelos mais baratos pecam no torque do motor, e o foco nunca é realmente instantâneo; diferente de um ultra-sônico como nas Canon USM. Porém como a Sony A6500 usa também 169 áreas de detecção de contraste, o foco é invariavelmente preciso, sem erros, bem diferente do que estamos acostumados no viewfinder óptico + módulo phase rápido das DSLR, que sofrem com front/back focus. É possível ainda programar funções avançadas na A6500, como a procura pelos olhos do sujeito – não só o rosto, – e o foco automático nos retratos é perfeitos sempre.
O estabilizador embutido na objetiva é outra tecnologia ainda não vista nas 50mm f/1.8 do mercado DSLR, exceto na Tamron 45mm f/1.8 Di VC USD, ligeiramente mais ampla. Uma novidade para 2011, ele continua relevante hoje quando apenas a A6500 inclui o SteadyShot INSIDE (SSI) no APS-C; tornado a E 50mm f/1.8 OSS útil para quem tem da A6300 “para baixo” (A6000, A5100 etc.), e faz fotos sob pouquíssima luz; ou grava vídeos no estilo “run and gun”, sem apoiar a câmera no tripé. A promessa da Sony é uma estabilização de até 4 stops, o que permitiria capturas até 1/4s nos 50mm do APS-C; valor dificilmente entregado pela objetiva, que não passa dos 3 stops com muito custo, segurando com firmeza a câmera. Pensando ainda que testei esta lente com a A6500, que tem o estabilizador embutido e promete um total de 5 stops, a estabilização de apenas 3 stops é broxante. E no modo vídeo os dois também deixam a desejar, mostrando uma “tremidinha” pouco suave, não comparável a um tripé ou steadycam. Nos movimentos de panning a câmera e a objetiva também não se “decidem” qual eixo compensar, “pulando” nos limites do quadro e mudando de velocidade entre um solavanco e outro. Portanto é difícil recomendá-las por causa do estabilizador, tornando o OSS um fator secundário na decisão de compra da E 50mm f/1.8.
Enfim na frente a E 50mm f/1.8 OSS aceita diminutos filtros de ø49mm. Eles vão numa rosca de plástico que fica dentro do trilho para o para-sol, que vem incluído na caixa; é possível usar os dois ao mesmo tempo. Atrás o E-mount é bem feito com uma baioneta de alumínio, presa por quatro parafusos à carcaça externa de metal, mas infelizmente não há qualquer borracha de vedação para impedir água e poeira de entrar na câmera; que encontramos na Nikon AF-S 50mm f/1.8G ou nas Fujifilm “WR” (weather resistance). No geral a 50mm f/1.8 OSS é um produto com a qualidade esperada da Sony, com design chamativo brilhante e operação simplificada, interessante para os fotógrafos em busca de um produto topo de linha, sem tentar “coisas demais”. Na Sony ela só é superada pela FE 55mm f/1.8 ZA, que custa 3X mais para cobrir o formato full frame, mas não entrega o estabilizador de imagem como esta APS-C. E como veremos a seguir, as duas tem performance óptica semelhante, com alta resolução compatível com as câmeras do E-mount.
Com um projeto óptico de 9 elementos em 8 grupos, sem qualquer vidro de formato especial ou composto de baixa dispersão, a E 50mm f/1.8 OSS entrega resultados impressionantes para o preço, muito provavelmente por causa da engenharia por trás do estabilizador. Com a exigência dos vidros maiores para cobrir a compensação dos movimentos e atendendo somente o formato APS-C, a E 50mm usa apenas o “miolo bom” do projeto, o que garante capturas nítidas no quadro todo, uma vantagem sobre o formato maior 135 “full frame”. As fotos são de alta resolução independente da abertura e também das distâncias de trabalho, afinal esta é uma das “50mm” com estrutura das mais longas que já vimos por aqui, apesar do foco mínimo curto de 0.39cm (a Canon EF STM é 0.25cm); o que não leva a óptica ao limite. O diafragma de 7 lâminas arredondadas garante um desfoque suave, um dos mais bonitos no segmento, comparável com as f/1.4 do formato maior, que também usam tantos elementos. É uma performance de gente grande mas num pacote fácil de usar, um exemplo do que o APS-C pode entregar fora do mercado “low-cost”.
Usada na abertura máxima a E 50mm f/1.8 OSS raramente tem problemas de resolução e contraste, que impacta na nitidez das fotos, umas das melhores no segmento. É fácil ver detalhes de texturas apesar da curtíssima profundidade de campo, que mostra mais problemas de aberração cromática axial do que perda de resolução, graças ao projeto maior, pensado no estabilizador. Como o plano de imagem não é 100% plano, uma vez que o eixo dos grupos se movimenta para compensar a tremedeira das mãos, é fácil vermos bolhas coloridas na frente e atrás do plano em foco em f/1.8, típico das objetivas de grande abertura quando usadas na abertura máxima. O contraste pede por compensação via software para fotos mais impactantes, mas não chega a ser pobre como outras “APS-C de grande abertura”. É um resultado próximo da resolução “clínica” da FE 55mm f/1.8 ZA, embora não se comparem em controle de aberrações.
Fechar para f/2.8 aumenta exponencialmente a resolução, perfeita para trabalhos de precisão com paisagens e texturas. Com pico de nitidez entre f/4 e f/8, a E 50mm f/1.8 OSS toma outra faceta como uma curto-telephoto bacana para mostrar a imensidão de cenas amplas, sem a distorção do grande angular. A resolução é tão alta que podemos realmente “ver o poder” dos sensores CMOS EXMOR da linha Alpha A6#00, com detalhes que lembram as câmeras sem o filtro low-pass, apesar dele presente nestas máquinas. São árvores à distancia junto de todos os vincos das rochas, incríveis em impressões gigantes, especialmente quando fotografamos em ISOs baixos, sem interpolação do sinal recebido pelo sensor. Além das fotos, a resolução é bem utilizada na gravação de vídeos, hoje com duas câmeras 4K UHD 3840×2160 na linha Alpha APS-C (A6300 e A6500), que pedem por uma óptica acertada, de alta qualidade, para realmente tirar vantagem da ultra-alta-definição. É uma performance ainda impensável para a concorrência da Canon e da Nikon, que ainda não tem nem objetivas 50mm estabilizadas, nem corpos 4K nesta faixa de preço.
Aberrações cromáticas acontecem mais na abertura máxima e somente do tipo axial, nos planos imediatos em desfoque. Flertando com um projeto duplo-Gauss, as aberrações laterais são invisíveis na E 50mm f/1.8 OSS, perfeita para fotografar contornos de alto contraste nas bordas, sem mostrar linhas coloridas magenta/verde como algumas grande angulares. Mas infelizmente vemos problemas razoavelmente graves no bokeh da abertura máxima, que mostra qualquer detalhe gráfico ou cromado acompanhado de bolhas coloridas, que pedem por correção via software antes da publicação; mesmo nas saída web. É um defeito crônico das objetivas de grande abertura: Canon, Nikon, Sigma, Tamron, Zeiss etc mostram este problema abaixo do f/2; porém em menor grau nos projetos de US$900 para cima, coisa que esta Sony de US$299 não compete.
Outras distorções são mantidas num mínimo, como as geométricas, independente das distâncias de trabalho; os reflexos internos (flaring), que só acontecem quando você quer no quadro; e a vinheta, relativamente discreta na abertura máxima. O horizonte sempre é reto nas fotos da E 50mm f/1.8 OSS, perfeito para paisagens. Retratos urbanos que também usem linhas para “enquadrar” o sujeito se beneficiam da distorção baixa, de novo uma vantagem dos 50mm sobre objetivas de distâncias focais mais amplas. Os reflexos internos podem acontecer sob situações de muita luz, por exemplo com o sol dentro do quadro, contra os galhos das árvores, ou em efeitos criativos do flash. Mais uma vez ele fica bonito em gravações de vídeo, quando queremos destacar a fonte de luz ao mostrar aquelas bolhas coloridas na diagonal do quadro. Mas a vinheta é razoavelmente discreta, de novo uma vantagem do projeto maior, para atender o estabilizador. Embora ela diminua um pouco a exposição nos extremos do quadro, é menos de 1 stop completo; bem superior às outras ofertas baratinhas, que criam um efeito “peep hole” em formatos maiores.
Por fim cores e bokeh são um mix da Sony. As cores tem até melhorado, dependendo mais da tecnologia da câmera. Aqui testada com a A6500, os tons de vermelho, laranja e magenta estão notavelmente mais saturados que os testes da A6300, perfeitos para fotos durante a “golden hour”. Os verdes e azuis, embora ainda duvidosos, devem ser manipulados antes da publicação. Isso tudo contribui para retratos equilibrados mais para tons vívidos do que os pastéis, um passo a frente para as câmeras Alpha que mostravam cores bem diferentes do restante do mercado, no passado. Mas é no bokeh suave que a E 50mm f/1.8 OSS “fecha o negócio” para os interessados em fotografar pessoas, com um desfoque difuso, colorido, sem grandes intromissões, que isolam o sujeito no quadro mesmo nas situações mais difíceis. Embora sob distâncias longas de foco nós ainda consigamos ver contornos fortes em galhos e linhas retas, nas mais curtas, de 1 metro para baixo, o bokeh é muito bonito; perfeito para headshots com esta 50mm do formato APS-C.
A Sony E 50mm f/1.8 OSS é uma surpresa na linha “E”, somente APS-C, do E-mount. Ela tem uma construção razoavelmente topo de linha se pensarmos nos materiais nobres, embora o acabamento seja bem simples, para casar com o design funcional da Sony. A usabilidade não poderia ser mais fácil com operação totalmente eletrônica de foco e estabilização, que funcionam bem, através de motores silenciosos e rápidos, apesar da compensação do OSS deixar um pouco a desejar em só 3 stops de correção. Mas o projeto óptico acertado é um diferencial, pensado na implementação do OSS, e torna este modelo uma alternativa fácil de recomendar para quem tem o E-mount. Seja para retratos com a profundidade de campo curta, exacerbando as vantagens das câmeras de sensor grande, ou para efeitos criativos em objetos mundanos, sob pouca luz, é difícil tirar uma foto ruim com este modelo de US$299. Ainda mais com o estabilizador embutido, ela é um “no-brainer” no APS-C da linha Sony Alpha E-mount. Boas fotos!