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Junho/2015 – A Yongnuo 50mm f/1.8 foi um dos produtos mais cômicos anunciados em 2014. Cópia descarada da EF 50mm f/1.8 II, com mesmo design e especificações, os 15 minutos de fama acabaram quando a Canon anunciou a nova EF 50mm f/1.8 STM, com novo motor de foco silencioso e fórmula óptica revisada. Mas os chineses tem um trunfo nas mãos: a lente deles custa apenas US$62, metade do preço da Canon e sem precedentes em objetivas prime para SLR. Conhecida pelos flashes e unidades de rádio low cost, a marca tem fãs que dependem do kit mais barato para trabalhar, sem necessariamente entender de onde veem os cortes. Tira um High Speed Sync aqui, piora a construção dali… Mas como eles fizeram uma objetiva tão acessível? (english)
Da mesma forma que o artigo sobre a EF 50mm f/1.8 STM comparou a EF 50mm f/1.8 II que substitui, natural repetir a lógica sobre a réplica do modelo. Mas as aparências enganam e de perto a Yongnuo é bem diferente da Canon. Ela é maior, com um tubo externo mais grosso em 73mm (contra 68mm), mas 10g mais leve para um total de 120g. No dia a dia nem dá pra perceber já que o design é idêntico: tudo de plástico do lado de fora, “hood embutido” com o conjunto óptico afundado no centro, chave AF/MF do lado esquerdo, filtros de ø52mm e até as mesmas rebarbas nos painéis. Mas como vocês podem ver aqui e aqui, o projeto é bem diferente.
A operação é simples com um anel de foco manual emborrachado, um upgrade a Canon que é só plástico. Ele é mais suave ao toque e na minha cópia “novinha” está preciso, justo sem ser pesado. Dentro nós temos o mesmo motor “micro DC” que faz um barulhinho e não é especialmente rápido, está na mesma casa da EF f/1.8 II: apertou, focou. Ele move todo o conjunto ótico para a frente e para trás sem girar a rosca de filtros, bacana para polarizadores. O anel de foco gira, então tome cuidado para não tocá-lo durante a operação. Mas não há full time manual e a chave precisar estar em “MF” para usar o foco nas mãos. Como os testes foram feitos com a Sony A7II + Metabones Adapter IV, que, aliás, não focava nem a pau, eu tive de deixar o tempo todo em “MF”.
E como tudo é igual a Canon, francamente a Yongnuo perdeu uma oportunidade para avanços. Por exemplo o anel de foco é preso ao tubo interno, e tem hard stops no infinito e no foco mínimo (que é o mesmo da Canon em 45cm). Ou seja, as posições não mudam e dava para ter uma escala de distância impressa como a Sigma faz, já que não há janela de distância. Não tem. Um stepping motor, que não é a coisa mais complicada de implementar, a Yong também podia ter feito antes da Canon. Não tem. Nem um mount de metal, que não custa nada para os chineses cortarem e colocarem lá… Não tem. Ok, talvez eu esteja sonhando nesta faixa de preço, mas tinha espaço pra melhorar e não fizeram. Até na falta de inovação copiaram a Canon. >:-D
Testada na EOS M com foco híbrido (contraste + phase) o foco automático foi preciso. Mas montada na EOS 6D + módulo phase eu não arriscaria fotografar ação com este equipamento. Ele pensa antes de mexer e a ideia aqui não é performance, e sim oferecer uma opção acessível para quem está começando. Na Sony A7II + Metabones o conjunto se recusou a focar, sem explicação. Definitivamente não é para mim e provavelmente não é para vocês do vlog do zack. Mas para quem tem só US$60 e quer experimentar uma prime, não me sinto tão inseguro em recomendar a Yongnuo. Funciona, monta na câmera e tira fotos. Só resta saber como elas ficam.
NOTA: Caríssimos do blog do zack, eu não vi e não retirei um ~plástico de proteção~ que vai em cima do elemento traseiro da objetiva. :-D Pois é, se vocês verem a última foto do mount (acima) notarão um plástico sobre a lente; que eu nunca tinha visto em 15 anos de fotografia. Então TODAS as fotos estão “embassadas” por causa dele. :-D Mas a argumentação abaixo foi feita sobre testes em estúdio sem o plástico, e mesmo com ele algumas características da imagem ficam intactas, como aberrações cromáticas, distorção geométrica e bokeh. Os “crop 100%” foram tratados com o slider “clarity” do Adobe Camera Raw. Todas as fotos com a Sony A7II + Metabones Smart Adapter IV.
Com um projeto de seis elementos em cinco grupos, a Yongnuo é baseada numa fórmula duplo Gauss idêntica a Canon. O diafragma recebeu um upgrade com sete lâminas redondas e teoricamente o bokeh deverá ser mais suave fora da abertura máxima. Mas por US$62 e sem qualquer credencial no mundo óptico, o resultado da primeira objetiva da Yong é “justo”. Não é melhor que a concorrente direta mas bate qualquer zoom de kit, afinal estamos falando de uma prime. O centro do quadro tem resolução de sobra em qualquer abertura, mas infelizmente as bordas não melhoram nem três stops fechadas. You get what you paid for: imagine os US$62 entre você e o seu sujeito, e as fotos de US$62 que você terá.
Em f/1.8 a característica mais marcante é a vinheta acentuada, além da óbvia falta de nitidez e contraste geral no quadro. As fotos saem com cores fortes por causa do escurecimento das bordas e a atenção vai para o centro. Dá para criar um look “intimista” que foca a atenção no sujeito, isolando-o do fundo. A profundidade de campo é curta mas a qualidade do bokeh é duvidosa: ele está mais para um efeito míope do que um blend de cores. Você consegue ver claramente o caminho da luz: uma linha forte, uma linha fina, uma linha borrada, um reflexo, para um “contorno” no lugar de um gradiente suave, com aparência difusa no segundo plano.
Fechando para f/2.8, f/4, f/5.6, f/8 e a performance melhora. Porém não vai até as bordas, que perdem resolução nos limites do quadro. A diferença fundamental é essa: a Canon EF 50mm f/1.8 II tem uma “área” de resolução maior que a Yongnuo, e a performance é perfeita em todo o quadro em f/8. A chinesa não: nas bordas e num espaço relativamente grande, você vai perdendo os detalhes gradativamente. Não funciona para paisagens, cenas urbanas detalhadas, pôsteres, letras… E não dá para recomendar como “excelente”; faltam vidros para isso.
É o mesmo caso de outras ultra low cost. As Samyang são parecidas: centro legal mesmo na abertura máxima, e o perímetro fica para trás numa área maior em comparação as objetivas mais caras. É o mesmo caso até da Nikon AF-S DX 35mm f/1.8G. Mas no full frame isso fica muito aparente e a Canon fez uma fórmula melhor nas bordas, que não é copiada na Yongnuo. É difícil saber o que eles fizeram de errado, a Canon tem um miolão fantástico que a Yong não tem.
As cores são neutras, uma surpresa. Geralmente estas lentes puxam os tons para o amarelo mas não aconteceu nos testes com a Sony A7II + Metabones Adapter IV. Num espaço “frio”, iluminado por LEDs azuis, as paredes continuaram brancas, sem puxar para o areia. Outra coisa bacana é a aberração cromática lateral virtualmente invisível, uma grande vantagem sobre as zoom de kit. Mesmo nas bordas e mesmo com o meu plástico dos testes não dá pra aqueles contornos coloridos no quadro, que acontecem quando tem muito contraste. É uma coisa a menos para corrigir e facilita por exemplo o trabalho com vídeo, que é mais complicado de tratar via software.
E por fim o bokeh é igual as duas Canon f/1.8: ruim. Não adianta nada colocar um diafragma novo, circular e com mais lâminas se faltam elementos para suavizar o caminho da luz. Contornos ficam com um efeito míope e formas novas aparecem na imagem. Nem a EF f/1.8 STM melhorou porque numa fórmula de 6 elementos em 5 grupos você consegue no máximo focar a imagem, não tratar do desfoque. Então é uma boa ideia prestar atenção no segundo plano para não competir com o sujeito. Se for para desfocar mesmo, “derreter” o fundo, pague por mais peças.
Eu não sei qual voodoo a Yongnuo fez para cobrar apenas U$62 numa objetiva com foco automático. Mas sinceramente não temos muito do que reclamar. Do lado de fora ela não é uma réplica da Canon: é maior, tem anel de foco emborrachado, e o tubo de plástico parece mais sólido. Do lado de dentro os problemas são os mesmos, com motor de foco barulhento e óptica duvidosa na abertura máxima, que a japonesa Canon precisou de 25 anos pra melhorar na nova versão STM. Mas foto por foto, mesmo sem o plástico, a Yong vale sim super a pena em boa parte do quadro, e você levará a sua cinquentinha de grande abertura, por metade do preço da objetiva EF. Tem como não amar? :-) Boa sorte e boas fotos!