Yongnuo 50mm f/1.8

You get what you paid for


Escrito por Marcelo MSolicite nosso mídia kit. Faça o download do pacote de arquivos raw (05 fotos, 120MB).

Tempo estimado de leitura: 07 minutos e meio.

Junho/2015 – A Yongnuo 50mm f/1.8 foi um dos produtos mais cômicos anunciados em 2014. Cópia descarada da EF 50mm f/1.8 II, com mesmo design e especificações, os 15 minutos de fama acabaram quando a Canon anunciou a nova EF 50mm f/1.8 STM, com novo motor de foco silencioso e fórmula óptica revisada. Mas os chineses tem um trunfo nas mãos: a lente deles custa apenas US$62, metade do preço da Canon e sem precedentes em objetivas prime para SLR. Conhecida pelos flashes e unidades de rádio low cost, a marca tem fãs que dependem do kit mais barato para trabalhar, sem necessariamente entender de onde veem os cortes. Tira um High Speed Sync aqui, piora a construção dali… Mas como eles fizeram uma objetiva tão acessível? (english)

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Yongnuo 50mm f/1.8

Da mesma forma que o artigo sobre a EF 50mm f/1.8 STM comparou a EF 50mm f/1.8 II que substitui, natural repetir a lógica sobre a réplica do modelo. Mas as aparências enganam e de perto a Yongnuo é bem diferente da Canon. Ela é maior, com um tubo externo mais grosso em 73mm (contra 68mm), mas 10g mais leve para um total de 120g. No dia a dia nem dá pra perceber já que o design é idêntico: tudo de plástico do lado de fora, “hood embutido” com o conjunto óptico afundado no centro, chave AF/MF do lado esquerdo, filtros de ø52mm e até as mesmas rebarbas nos painéis. Mas como vocês podem ver aqui e aqui, o projeto é bem diferente.

Yongnuo 50mm f/1.8

A operação é simples com um anel de foco manual emborrachado, um upgrade a Canon que é só plástico. Ele é mais suave ao toque e na minha cópia “novinha” está preciso, justo sem ser pesado. Dentro nós temos o mesmo motor “micro DC” que faz um barulhinho e não é especialmente rápido, está na mesma casa da EF f/1.8 II: apertou, focou. Ele move todo o conjunto ótico para a frente e para trás sem girar a rosca de filtros, bacana para polarizadores. O anel de foco gira, então tome cuidado para não tocá-lo durante a operação. Mas não há full time manual e a chave precisar estar em “MF” para usar o foco nas mãos. Como os testes foram feitos com a Sony A7II + Metabones Adapter IV, que, aliás, não focava nem a pau, eu tive de deixar o tempo todo em “MF”.

Yongnuo 50mm f/1.8

E como tudo é igual a Canon, francamente a Yongnuo perdeu uma oportunidade para avanços. Por exemplo o anel de foco é preso ao tubo interno, e tem hard stops no infinito e no foco mínimo (que é o mesmo da Canon em 45cm). Ou seja, as posições não mudam e dava para ter uma escala de distância impressa como a Sigma faz, já que não há janela de distância. Não tem. Um stepping motor, que não é a coisa mais complicada de implementar, a Yong também podia ter feito antes da Canon. Não tem. Nem um mount de metal, que não custa nada para os chineses cortarem e colocarem lá… Não tem. Ok, talvez eu esteja sonhando nesta faixa de preço, mas tinha espaço pra melhorar e não fizeram. Até na falta de inovação copiaram a Canon. >:-D

Yongnuo 50mm f/1.8

Testada na EOS M com foco híbrido (contraste + phase) o foco automático foi preciso. Mas montada na EOS 6D + módulo phase eu não arriscaria fotografar ação com este equipamento. Ele pensa antes de mexer e a ideia aqui não é performance, e sim oferecer uma opção acessível para quem está começando. Na Sony A7II + Metabones o conjunto se recusou a focar, sem explicação. Definitivamente não é para mim e provavelmente não é para vocês do vlog do zack. Mas para quem tem só US$60 e quer experimentar uma prime, não me sinto tão inseguro em recomendar a Yongnuo. Funciona, monta na câmera e tira fotos. Só resta saber como elas ficam.

QUALIDADE DE IMAGEM

NOTA: Caríssimos do blog do zack, eu não vi e não retirei um ~plástico de proteção~ que vai em cima do elemento traseiro da objetiva. :-D Pois é, se vocês verem a última foto do mount (acima) notarão um plástico sobre a lente; que eu nunca tinha visto em 15 anos de fotografia. Então TODAS as fotos estão “embassadas” por causa dele. :-D Mas a argumentação abaixo foi feita sobre testes em estúdio sem o plástico, e mesmo com ele algumas características da imagem ficam intactas, como aberrações cromáticas, distorção geométrica e bokeh. Os “crop 100%” foram tratados com o slider “clarity” do Adobe Camera Raw. Todas as fotos com a Sony A7II + Metabones Smart Adapter IV.

girl in VR goggles

“VR” em f/2.2 1/15 ISO400.

Com um projeto de seis elementos em cinco grupos, a Yongnuo é baseada numa fórmula duplo Gauss idêntica a Canon. O diafragma recebeu um upgrade com sete lâminas redondas e teoricamente o bokeh deverá ser mais suave fora da abertura máxima. Mas por US$62 e sem qualquer credencial no mundo óptico, o resultado da primeira objetiva da Yong é “justo”. Não é melhor que a concorrente direta mas bate qualquer zoom de kit, afinal estamos falando de uma prime. O centro do quadro tem resolução de sobra em qualquer abertura, mas infelizmente as bordas não melhoram nem três stops fechadas. You get what you paid for: imagine os US$62 entre você e o seu sujeito, e as fotos de US$62 que você terá.

guy in vr goggles

“VR II” em f/1.8 1/80 ISO1600.

Em f/1.8 a característica mais marcante é a vinheta acentuada, além da óbvia falta de nitidez e contraste geral no quadro. As fotos saem com cores fortes por causa do escurecimento das bordas e a atenção vai para o centro. Dá para criar um look “intimista” que foca a atenção no sujeito, isolando-o do fundo. A profundidade de campo é curta mas a qualidade do bokeh é duvidosa: ele está mais para um efeito míope do que um blend de cores. Você consegue ver claramente o caminho da luz: uma linha forte, uma linha fina, uma linha borrada, um reflexo, para um “contorno” no lugar de um gradiente suave, com aparência difusa no segundo plano.

museum of moving image

“c_yber” em f/4 1/400 ISO400.

museum of moving image

“Stop Animation” em f/1.8 1/125 ISO320; abertura máxima fenomenal para fotografar em pouca luz.

cinema camera 35mm film

“Cinema” em f/1.8 1/15 ISO320; note como as bordas ficam escuras e as cores, saturadas.

magicorder

“Magicorder” em f/1.8 1/20 ISO320.

Crop 100%, dá pra ver que os detalhes estão lá como na cinquentinha da Canon.

Crop 100%, dá pra ver que os detalhes estão lá como na cinquentinha da Canon.

Fechando para f/2.8, f/4, f/5.6, f/8 e a performance melhora. Porém não vai até as bordas, que perdem resolução nos limites do quadro. A diferença fundamental é essa: a Canon EF 50mm f/1.8 II tem uma “área” de resolução maior que a Yongnuo, e a performance é perfeita em todo o quadro em f/8. A chinesa não: nas bordas e num espaço relativamente grande, você vai perdendo os detalhes gradativamente. Não funciona para paisagens, cenas urbanas detalhadas, pôsteres, letras… E não dá para recomendar como “excelente”; faltam vidros para isso.

“Duplex” em f/4 1/8 ISO800.

“Duplex” em f/4 1/8 ISO800.

Crop 100%, a diferença do f/1.8 (esquerda) e f/4, mesmo com o plástico.

Crop 100%, a diferença do f/1.8 (esquerda) e f/4, mesmo com o plástico.

Crop 100%, o resultado é similar a Canon, que melhora bastante no f/4.

Crop 100%, o resultado é similar a Canon, que melhora bastante no f/4.

BMW 435i

“435i” em f/8 1/60 ISO100.

Crop 100%, mesmo com plástico a Yongnuo manda bem! :-D

Crop 100%, mesmo com plástico a Yongnuo manda bem! :-D

“Van” em f/8 1/60 ISO100.

“Van” em f/8 1/60 ISO100.

Crop 100%, resolução de sobra no centro, em f/8.

Crop 100%, resolução de sobra no centro, em f/8.

É o mesmo caso de outras ultra low cost. As Samyang são parecidas: centro legal mesmo na abertura máxima, e o perímetro fica para trás numa área maior em comparação as objetivas mais caras. É o mesmo caso até da Nikon AF-S DX 35mm f/1.8G. Mas no full frame isso fica muito aparente e a Canon fez uma fórmula melhor nas bordas, que não é copiada na Yongnuo. É difícil saber o que eles fizeram de errado, a Canon tem um miolão fantástico que a Yong não tem.

“Tracks” em f/8 1/60 ISO125.

“Tracks” em f/8 1/60 ISO125.

“Citi Field” em f/8 1/60 ISO125.

“Citi Field” em f/8 1/60 ISO125.

Crop 100%, performance ~com um plástico na frente~. O_o

Crop 100%, performance ~com um plástico na frente~. O_o

“Panorama” em f/8 1/60 ISO5000.

“Panorama” em f/8 1/60 ISO5000.

Crop 100%, funciona até com plástico e ISO5000. :-D

Crop 100%, funciona até com plástico e ISO5000. :-D

As cores são neutras, uma surpresa. Geralmente estas lentes puxam os tons para o amarelo mas não aconteceu nos testes com a Sony A7II + Metabones Adapter IV. Num espaço “frio”, iluminado por LEDs azuis, as paredes continuaram brancas, sem puxar para o areia. Outra coisa bacana é a aberração cromática lateral virtualmente invisível, uma grande vantagem sobre as zoom de kit. Mesmo nas bordas e mesmo com o meu plástico dos testes não dá pra aqueles contornos coloridos no quadro, que acontecem quando tem muito contraste. É uma coisa a menos para corrigir e facilita por exemplo o trabalho com vídeo, que é mais complicado de tratar via software.

“World Fair” em f/8 1/60 ISO160; zero distorção no infinito.

“World Fair” em f/8 1/60 ISO160; zero distorção no infinito.

“Hula Hoop” em f/1.8 1/640 ISO1600; linhas sem distorção podem “enquadrar” o sujeito.

“Hula Hoop” em f/1.8 1/640 ISO1600; linhas sem distorção podem “enquadrar” o sujeito.

“UP” em f/4 1/50 ISO400; ou fotografar arquitetura sem preocupação.

“UP” em f/4 1/50 ISO400; ou fotografar arquitetura sem preocupação.

E por fim o bokeh é igual as duas Canon f/1.8: ruim. Não adianta nada colocar um diafragma novo, circular e com mais lâminas se faltam elementos para suavizar o caminho da luz. Contornos ficam com um efeito míope e formas novas aparecem na imagem. Nem a EF f/1.8 STM melhorou porque numa fórmula de 6 elementos em 5 grupos você consegue no máximo focar a imagem, não tratar do desfoque. Então é uma boa ideia prestar atenção no segundo plano para não competir com o sujeito. Se for para desfocar mesmo, “derreter” o fundo, pague por mais peças.

“Parvo” em f/1.8 1/10 ISO320.

“Parvo” em f/1.8 1/10 ISO320.

Crop 100%, note a repetição das linhas.

Crop 100%, note a repetição das linhas.

“180º shutter II” em f/1.8 1/20 ISO800.

“180º shutter II” em f/1.8 1/20 ISO800.

Crop 100%, mais clara a “repetição de linhas”, impossível.

Crop 100%, mais clara a “repetição de linhas”, impossível.

“Película” em f/1.8 1/40 ISO800; a tampa aberta até fica suave, próxima da distância mínima de foco.

“Película” em f/1.8 1/40 ISO800; a tampa aberta até fica suave, próxima da distância mínima de foco.

“LAMP” em f/1.8 1/100 ISO100; distância mínima de foco + plástico.

“LAMP” em f/1.8 1/100 ISO100; distância mínima de foco + plástico.

“LAMPII” em f/1.8 1/60 ISO100; não é que funcionou? :-)

“LAMPII” em f/1.8 1/60 ISO100; não é que funcionou? :-)

VEREDICTO

Eu não sei qual voodoo a Yongnuo fez para cobrar apenas U$62 numa objetiva com foco automático. Mas sinceramente não temos muito do que reclamar. Do lado de fora ela não é uma réplica da Canon: é maior, tem anel de foco emborrachado, e o tubo de plástico parece mais sólido. Do lado de dentro os problemas são os mesmos, com motor de foco barulhento e óptica duvidosa na abertura máxima, que a japonesa Canon precisou de 25 anos pra melhorar na nova versão STM. Mas foto por foto, mesmo sem o plástico, a Yong vale sim super a pena em boa parte do quadro, e você levará a sua cinquentinha de grande abertura, por metade do preço da objetiva EF. Tem como não amar? :-) Boa sorte e boas fotos!