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Outubro/2016 – A EOS 80D é a mais recente geração de câmera “APS-C intermediária” da linha Canon. Posicionada na frente da T6i (menor e com controles simplificados) e atrás da 7D Mark II (maior e mais rápida), a linha “#0D” foi a primeira oferta “high-end, abaixo dos US$2000” de DSLR da marca. Chegando com uma nova geração de praticamente tudo em relação a 70D (2013), o que está do lado de fora pode ser parecido, mas o que está dentro não: o imager CMOS de 24MP é novo, talvez o melhor APS-C já visto numa Canon; o CPU DIGIC 6, o mesmo das 5Ds/5D-IV/7DII, é mais rápido no processamento das fotos; o novo módulo de foco automático phase tem 45 pontos, todos cross-type; e a mais nova implementação do exclusivo Canon Dual Pixel, agora faz focagem contínua durante o Live View, além de transições suaves de foco durante a gravação de vídeos.
Tela traseira sensível ao toque? Sim, ela tem. Essa tela “sai” do corpo? É claro! Conexão sem fio para transferência instantânea das fotos, além do controle a distância da câmera? Também está lá. A 80D herda da 70D os mesmos recursos e funções que a tornaram referência no mercado amador, como uma câmera completa para levar para passear, tirar selfies ou gravar vídeos em casa. Mas como será que ela se posiciona hoje em 2016? Sem vídeo 4K, sem disparo rápido além dos 7fps e sem estabilizador interno, será a Canon EOS 80D “datada” logo após o lançamento? Vamos descobrir em mais um review completo do blog do zack. Boa leitura! (english)
Em 13.9 x 10.5 x 7.8 cm, e 730g de principalmente plásticos e borrachas do lado de fora, a EOS 80D é uma genuína máquina fotográfica “séria”, não tão pequena para estar o tempo todo com você, mas grande para ser confortável de usar. Com chassi de alumínio e carcaça em policarbonato, ela é um dos corpos mais duráveis da Canon e também dos mais leves, bem mais prazeroso de carregar do que as 1D/5D/7D pesadonas, de metal. Com ângulos agudos desenhados pelo corpo, fica clara a atenção para com a ergonomia no design, com cada área de controle notavelmente separada por espaços negativos; como se ela tivesse sido esculpida para receber um abraço das mãos. E está é a primeira decisão de compra do modelo: se você procura conforto, a EOS 80D é a câmera perfeita.
Nas mãos a experiência é realmente única, um lembrete do porquê as DSLR sempre terão espaço no mercado fotográfico. Do lado direito a “pegada” é enorme, com quase 2cm de profundidade para os dedos dobrarem na frente, e cerca de 1cm de altura (!) para o engate do dedão atrás, o suficiente para apoiar a câmera com segurança em apenas uma mão, com objetivas grandes. A “pegada” consegue ser superior inclusive as EOS 6D e 5Ds (que é baseada na 5D Mark III), já que elas tem um painel “liso” do lado direito, mais ovalado. Na 80D não: cada dedo tem um suporte específico na curvatura do plástico, e até os botões de cotovelo (AF-ON, AE-lock, AF-point) são inclinados para acompanhar o ângulo; coisa que eu nunca tinha visto antes. A Canon realmente se superou no design da 80D, e impressiona ela ser da linha “intermediária”; quero uma 5D assim!
Os controles são praticamente todos orientados para a mão direita, visto que a esquerda deve apoiar a objetiva. Começando pela frente, o dedo indicador cai suavemente sobre um disparador de dois estágios, até metade para ativar a exposição automática (programável), e até o fim para disparar. A resposta tátil é do tipo click e acompanhada por outro click sonoro, comuns na série #0D e distintos da suavidade do disparadores das 5D/6D/7D, que são silenciosos. Ao lado, há um botão para escolher o modo de seleção de ponto do foco automático, também do tipo click e diferente do “M-Fn” programável das 5D/7D. Mas ele atende bem a função, já que é mais fácil você “programar” o seu cérebro como “indicador = disparo + mudança de modo AF”, do que programar “indicador = disparo / dedão + botão + gatilho traseiro = modo AF”, como nas 7DII e 5D Mark IV.
Ainda sobre o indicador, ele está perto de um disco vertical e mais cinco botões, todos com resposta tátil do tipo click. Os botões tem a mesma sequência AF > DRIVE > ISO (com ponto tátil) e metering das EOS “compactas” (tipo a 6D), enquanto as maiores 5D/7D tem função dupla em apenas quatro botões. O último deles liga a retro-iluminação do LCD de cima, que tem um tom laranja discreto, e é praticamente um luxo das SLR, visto que nenhuma mirrorless popular oferece a telinha. É nele que você vê instantaneamente as informações de ajuste da câmera, sem ter de ligar o LCD traseiro, o que economiza bateria e agiliza a entrada dos controles. É possível ver informações sobre espaço no cartão SD, bateria, ISO e metering, entre outras funções.
Atrás o dedão escorrega para um “sulco” entre o canto direito e o disco vertical esquerdo, com espaço para movimentar-se sobre os botões “de cotovelo” tradicionais da Canon. São todos auto-explicativos com AF-ON, estrela (AE-lock) e seleção de ponto AF, com resposta tátil silenciosa e suave, não “click” como dos botões em cima. Como a 80D não tem o mini-joystick de seleção de ponto AF das 5D/7D, implementado até em algumas mirrorless (Fuji X-Pro 2 e X-T2), você precisa programar o direcional traseiro para esta função, já que não vem programado de fábrica. Uma novidade é que este direcional é mais alto que o dial horizontal, mais fácil de apertar, mas que exige um tempo para acostumarmos, já que nas outras câmeras o dedão não levanta tanto.
Quando o fotógrafo está com a câmera apoiada pelas duas mãos, o dedão fica livre para as “funções fora do olho”. Perto do viewfinder, a 80D tem a chave de seleção Live View foto/vídeo, com um START/STOP central; controle já padrão nas DSLR EOS híbridas de foto + vídeo. Ao lado do LCD há um Q (quick) para ativar um menu com ajustes rápidos, também quase padrão nas digitais hoje. Os botões de playback e lixo estão ao alcance do dedão direito, uma dádiva para ver e deletar as fotos rapidamente, sem tirar as mãos da objetiva. Embaixo do dial principal, uma chave LOCK pode travar qualquer função do disco, e evita ajustes acidentais quando a câmera for carregada nos ombros. E do outro lado os botões de MENU e INFO estão no mesmo lugar de toda EOS, assim como a chave liga/desliga sob a roda PASM (com trava em cima). É um layout padrão da Canon, otimizado para velocidade, compartilhado por outras EOS e bacana para quem usa a 80D como backup de uma câmera maior; ou para quem irá da 80D para uma 1D/5D/6D/7D no futuro.
Do lado esquerdo o painel traseiro é dominado pela tela LCD de 3.0” e 1.04M de pontos, também comum entre as EOS recentes. Com uma dobradiça esquerda, a tela pode ser girada para “fora” da câmera e então para cima e para baixo, coisa que infelizmente só os modelos “de entrada” fazem na Canon. Enquanto Nikon e Sony colocam telas escamoteáveis nas câmeras “profissionais” (leia-se D500, D750, A99II), a Canon reserva a função para no máximo a família #0D, limitando o uso criativo de vídeo e Live View dos outros modelos. Também sensível ao toque, este LCD aceita gestos sofisticados como “pinça” (para zoom) e “deslize” para passar de uma foto a outra, além do sistema de menus aceitar comandos com os dedos (Sony e Nikon ainda não fazem isso). Inputs mais simples como o “aperte para disparar e focar” e a mudança de foco durante a gravação de vídeo também estão programados no software, e dão outra dimensão a utilidade do Dual Pixel.
Ao centro o viewfinder óptico é a alma das DSLR, com uma experiência verdadeiramente óptica de fotografar com diversas objetivas. Com um penta-prisma de cristal claro e nítido, ele finalmente tem a cobertura 100% do quadro, antes reservado apenas as linhas 1D/5D/7D. A ampliação é razoável em 0.95x a 22mm dos olhos, mostrando um quadro completo, próprio para ver “a foto toda” numa olhada rápida, sem mexer os olhos para fazer a composição. A sensação de “imersão” não é a mesma das DSLR full frame ou de algumas mirrorless APS-C, mas não dá para ter tudo: ou temos o viewfinder enorme e imersivo, ou temos o pequeno e fácil de compor. Pelo menos esta peça é “inteligente”, com um LCD overlay que liga/desliga as informações visíveis (pontos de foco, grid, avisos de flicker). Há até iluminação em vermelho, para vermos no escuro.
Em cima o flash integrado tem guia 12 e funções de disparo sem fio a outros Canon EX. A sapata hotshoe aceita outra cabeça mais potente, como a EX600, ou o disparador de rádio EX novo. A esquerda as portas HDMI e USB 2.0; entrada de microfone e saída para fone de ouvidos (yay!); e entrada para controle remoto estão curiosamente atrás de borrachas separadas, ao redor da área do sensor NFC, para pareamento rápido do smartphone com a câmera. Do outro lado, um único slot de cartão SD suporta apenas a BUS UHS-I, limitando bastante o uso da 80D para fotografar ação. E embaixo ela aceita a bateria LP-E6N, a mesma das 5D/6D/7D, que é taxada em pelo menos 960 fotos (usando o viewfinder). Curiosamente as tampas da 80D revelam a alma mesquinha da Canon. A cobertura do SD tem uma mola para abrir rápido, mas a da bateria não. Pelo menos o corpo é declarado como “weather sealed”, com diversos pontos de vedação; inclusive nas portas…
Enfim a 80D de longe não parece trazer nada de novo a família Canon EOS, com virtualmente os mesmos controles, botões e layout geral da 70D; que por sua vez não é muito diferente da 60D. Mas numa avaliação de perto, usando a câmera por algumas semanas e prestando atenção aos detalhes, na verdade esta é uma máquina totalmente nova, e nem começamos a falar dos recursos do lado de dentro. Parece fácil depois de pronto, mas estes sulcos para os dedos, os cortes profundos no plástico e os botões inclinados são super difíceis de projetar, e colocam a 80D no ápice da engenharia da Canon. As DSLR a primeira vista não tinham mais para onde avançar, mas a Canon provou que é possível mudar TUDO num corpo totalmente familiar. Genial!
Com um novo sistema de espelho motorizado e processador atualizado DIGIC6, o que mais chama atenção na usabilidade da EOS 80D é como ela é uma câmera rápida. Ligar/desligar, acessar os menus e processar grandes quantidades de arquivos são todos feitos sem esforço pelo DIGIC6, que é notavelmente mais veloz no dia-a-dia com a câmera. Também emprestado das EOS recentes (7D Mark II, 5Ds) está a nova tecnologia de espelho da Canon, que usa um motor no lugar das molas, para movimentos mais precisos e sem vibrações; anexado a um obturador de cortina taxado a pelo menos 100.000 fotos, a até 1/8000 de exposição. A velocidade máxima de 7 fotos por segundo é a mesma da 70D anterior, mas a 80D o faz de maneira muito mais discreta, dado o conjunto novo.
Uma limitação, porém, está no buffer para até 18 arquivos raw (ou 38 JPEG), e a compatibilidade apenas a cartões SD UHS-I; um gargalo para fotografar ação com a 80D. Se a velocidade máxima de 7 quadros por segundo já não fosse “ruim” em comparação as mirrorless (Sony A6300 e Fuji X-T2 chegam a 11fps), o fluxo (BUS) dos arquivos da memória (buffer) para a armazenagem (SD) é lenta. Ainda sem compatibilidade com cartões SD UHS-II (ultra high speed), é muito fácil “encher o buffer” da 80D em sequências de esportes, ação e jornalismo; me enchendo de saudades da Nikon D500 ou das duas Fujifilm que usei este ano. É uma vergonha a Canon se recusar a aumentar a BUS de um lançamento em 2016, uma vez que o processador DIGIC6 é compatível com o USB3.0.
De novidade na Canon, a EOS 80D recebeu um novo módulo de foco com 45 pontos phase, todos cross-type. É bom ver um avanço da marca, que não repetiu nem o módulo antigo da 70D (que foi emprestado da 7D clássica), e nem o módulo avançadíssimo da 7D Mark II, que geraria confusão nos fotógrafos menos experientes. Usados quando fotografamos olhando pelo viewfinder, os pontos estão espalhados por uma área central que cobre 70% do eixo horizontal, suficiente para posicioná-los sobre o sujeito na maioria das composições. Como todos os pontos são sensíveis aos dois eixos (“cross-type”), não precisamos fotografar somente com o ponto central. Porém este continua o mais especial deles, com função dual cross-type quando usado com objetivas de abertura f/2.8 ou maior, compatibilidade com abertura f/8 (por exemplo com o teleconversor 2X) e sensível até -3EV. É um módulo atual e eficaz, embora não faça nada de muito novo.
São quatro modos de seleção dos 45 pontos: “single”, “zona”, “zona grande” e automático, que infelizmente não trás os modos “Spot”, “area” e “area:Surround” das câmeras mais sofisticadas (5Ds, 5D Mark III e IV, 1D-X); mas serve para praticamente a mesma coisa. O single é o mais preciso deles e usado quando queremos um ponto específico do quadro em foco: o horizonte, uma árvore, o olho em um retrato ou uma pessoa num grupo etc. O “zona” já permite a câmera buscar o ponto mais próximo num grupo de no máximo 9 pontos, e pode ser usado para aumentar as chances de acerto da câmera durante a focagem contínua, numa área pequena, como no rosto de um ciclista. O “zona grande”, como o nome diz, divide o sistema em três partes iguais e também é melhor empregado na focagem contínua, por exemplo para seguir somente um dos jogadores numa partida de futebol. E o modo automático selecionará 1 ou mais pontos de acordo com a programação da câmera, e dá prioridade ao sujeito que estiver mais próximo do fotógrafo.
O que a 80D pode fazer de sofisticado, porém, é usar o fotômetro de 7560 pixels associado ao módulo de foco, para dar prioridade a cores específicas ou até a pele humana, uma vez que ele também é sensível ao infra-vermelho. Isto é particularmente útil na seleção automática de pontos pela câmera, tanto em ONE SHOT quando em AI SERVO (contínuo), uma vez que ela “saberá” qual área do quadro o sujeito está, selecionando-o sozinho. Pode ser útil também no modo de seleção manual inicial (AUTO AI SERVO) com mudança automática de pontos, para seguir uma só cor, decidida pelo fotógrafo. Embora não seja tão avançado quanto o “iTR” (intelligent tracking) das Canon 7DII/5Ds-IV/1DXII, que usam um fotômetro de pelo menos 100.000 pixels junto da função iSA (intelligent subject analysis), e que dão preferência inclusive ao rosto da pessoa (e não só a pele), a 80D não tem grandes dificuldades para ir (ou manter) o ponto certo de foco.
Já o sistema de menus “AI SERVO AF III”, introduzido na 1D-X e comum nas 5DIII/s/IV e 7DII, com várias abas de ajuste e algoritmos programáveis, não está na EOS 80D; uma pena. Há uma “Custom Function II – Autofocus” extensa com 16 (!) opções mais difíceis de mexer, uma vez que precisamos ir/voltar de tela em tela para ajustar funções até básicas. As cinco primeiras dão opções de algoritmo, como prioridade do disparo e sensibilidade do tracking; as subsequentes são de hardware e assistência do foco; em seguida, as de ergonomia dos botões; depois vamos para os modos automáticos; e finalmente chegamos na iluminação dos pontos e no AF Microadjustment. É uma limitação estúpida de software da Canon, que poderia muito bem ter feito um menu como o AI SERVO AF III. As funções do Custom Function II – Autofocus são idênticas, mas difíceis de mexer.
Se não bastasse o “estilo de fotografar” com o viewfinder óptico e o módulo de foco rápido, a EOS 80D ainda oferece um modo “Live View” bastante sofisticado. Quando ativado, a câmera levanta o espelho e mostra uma visualização em tempo real do sensor de imagem, que pode ser útil para enquadrar com precisão composições de arquitetura, paisagens, produtos e retratos; ou mesmo aproveitar a angulação variável da tela LCD para perspectivas mais dramáticas. É uma “função extra” que as DSLRs tem melhorado muito para competir com as mirrorless, e que a Canon explora com uma tecnologia exclusiva: o sensor de imagem com o inovador Dual Pixel AF.
Apresentado na EOS 70D em 2013, melhorado na EOS 7D Mark II em 2014, e então adotado pelas top profissionais EOS Cinema e inclusive EOS 5D Mark IV, o Dual Pixel é tecnologia definitiva para a Canon se manter relevante no mercado. Como o nome diz, cada ponto do sensor de imagem tem na verdade dois foto-sensores, que podem ou ser combinados para gerar a imagem eletrônica (foto), ou usar as informações separadas para medir a distância de foco; idêntico a um sistema phase. A diferença é que 80% do sensor da EOS 80D é coberto pela tecnologia, para efetivamente 19 milhões de pontos phase embutidos; uma “malha” densa e com possibilidades incríveis. Enquanto outras fabricantes se gabam de “425 pontos de foco phase” (oi, Sony A6300!), a 80D tem literalmente 19 milhões. E o resultado é de se esperar: dentre as câmeras com Live View ou as mirrorless que “vivem” dele, a EOS 80D é de longe a que foca mais rápido, e numa área maior.
Enquanto as implementações das 70D e 7DII “de 1ª geração” exploravam de leve o Dual Pixel, a 80D leva-a um passo adiante. A maior novidade é a opção de SERVO AF durante o Live View, para fotografar fotos em sequência, com a tela LCD, enquanto o foco automático “segue” o sujeito. São duas opções de velocidade de disparo, uma rápida (5 fps) e outra lenta (3fps) com prioridade a precisão, taxa que deixa a desejar em relação as mirrorless recentes. A escolha do ponto pode ser por detecção de rostos + tracking, que honra bem o sujeito escolhido inicialmente, humano ou apenas por cor; por área grande e flexível, que ou busca o quadro todo ou limita o espaço ao toque na tela; ou manual, com uma área fixa pequena. O “ponto” de foco é confirmado por um quadrado azul, que se movimenta pelo quadro da mesma forma que vemos nas câmeras sem espelho.
Mas embora a câmera faça um bom trabalho focando continuamente em sujeitos lentos ou estáticos, por exemplo eliminando o focus & recompose, ela ainda não é apropriada para fotografar ação de verdade. Notem a diferença na nomenclatura: o “SERVO AF” do Dual Pixel não é “AI SERVO AF” do sistema phase tradicional! Então ele não é capaz de prever a próxima posição do sujeito, coisa que as mirrorless tem feito brilhantemente com os 4D Focus (da Sony) e o AF-C da Fuji. Então objetos com aproximação linear, situações com diversos sujeitos passando um na frente do outro, ou seja, qualquer esporte ou cena de ação, ainda são difíceis de fotografar em foco pelo Live View da 80D, e precisaremos esperar ainda outra geração com um “AI SERVO AF” preditivo.
Se o Dual Pixel já não fosse extremante útil para fotografar durante o Live View, é nas gravações de vídeo com a 80D que ele realmente brilha. Com uma “malha” tão densa de informações de foco phase, a Canon consegue programar a transição do ponto de foco de maneira também suave, interessante para efeitos de focus pull automatizados pela câmera. Mas a 80D trás no modo “EOS Movie” a resolução máxima de 1920×1080 (HD) a até 60 quadros por segundo, comprimida em H.264 e “ envelopada” em MP4. IPB-S (60Mbps), ou 30 fps IPB-S (30Mbps), IPB-L (12Mbps), ou MOV. ALL-I (96Mbps), com áudio Linear PCM (MOV) ou AAC (MP4); uma especificação datada em tempos de 4K até nos smartphones. E, como de costume na Canon, a EOS 80D obtém os arquivos por line skipping, com resolução sofrível e problemas de moiré, longe da “qualidade HD” de verdade.
O erro mais fatal é a resolução pobre do 1920×1080, que sinceramente não é um padrão ruim apesar do 4K estar tomando conta do mercado. O HD ainda é mais que o suficiente para posts na web ou mesmo publicações profissionais, com detalhes de sobra para as tela dos smartphones; responsáveis pela maior parte do consumo de vídeos hoje. Porém mesmo nos 1920×1080, os arquivos da 80D são “borrados”, sem vida, com nitidez ruim e contraste demasiadamente alto, ficando atrás até de smartphones de três anos atrás. Além disso, funções básicas como focus peaking, zebra e até a saída “limpa” (sem compressão) pela HDMI ficaram de fora (!) do modelo, evidenciando como a Canon dedica o “EOS Movie” a usuários domésticos, sem chances de competir com o mercado profissional. É cômico ver como uma Sony A6300 tem quase 30 (!) ajustes para o engine de vídeo (compressão, cor, gamma etc.), e a Canon 80D sequer faz saída pela HDMI.
Pelo menos eles estão tentando algumas coisas novas, como a função “HDR Movie”. Nela a câmera faz uma leitura a 60 quadros por segundo do sensor, mas com exposições diferentes entre cada quadro, técnica que o firmware Magic Lantern propôs há quatro anos. Com a exposição dupla, a câmera “combina” os 60 quadros para uma saída 30P, com o dobro de informações de luz; um HDR propriamente dito. Porém este modo está limitado há apenas a exposição automática (nada de P-A-S-M), limitada a 1/30 no obturador e, como se podia imaginar, não funciona em cenas de muita ação (com rastros visíveis nos movimentos). Ou seja, é mais uma função inútil do que útil, e fica difícil ver a boa vontade da Canon em entregar uma “HDSLR” apta a gravar vídeos com qualidade.
Outra “função” que apresentou dúvidas na usabilidade da EOS 80D, é a sensibilidade do fotômetro RGB+IR de 7560; principalmente para fotografar paisagens. A câmera interpreta grandes blocos de árvores como “zonas escuras”, e compensa demais a exposição “para cima”; resultando em fotos estouradas. É tão caótico com erros de até +2EV que eu me vi fotografando o tempo todo com o modo Live View, que dá um preview de como a exposição sairá; evitando erros. Enquanto o fotômetro não teve grandes problemas para medir a luz em cidades e pessoas, para quem fotografa paisagens é uma coisa a se considerar. O erro é tão grande que não dá para salvar nem os arquivos raw. Então recomendo verificar o registro no LCD, para corrigir erros na exposição.
A 80D segue a “tendência 2016” da Canon em oferecer conexão sem fio em todas as câmeras EOS. Com uma implementação avançada de Wi-Fi com modos de infra-estrutura, ponto de acesso, conexão por app ou até upload direto a serviços de armazenamento ou publicação na internet, a 80D é uma das câmeras mais fáceis de aproveitar o Wi-Fi. Um chip NFC facilita a configuração com aparelhos Android ou a “dock” Canon CS100, para pareamento instantâneo sem mexer nos menus. Há até uma opção de configurar o smartphone como “sensor” GPS para geotagging das fotos, uma vez que a 80D não tem um módulo integrado. O Wi-Fi é uma função completa e muito útil, que vem sendo implementada sistematicamente nas câmeras EOS. Pelo menos isso funciona bem. :-)
Com uma novíssima geração de sensor CMOS APS-C Dual Pixel, agora com 24MP, a Canon 80D acompanha os passos da linha Rebel T6i/T6s para levar adiante as câmeras “crop” da família EOS. Gerando arquivos 6000×4000 levemente maiores que os 5472 x 3648 da 70D/7DII, a 80D é flexível tanto para impressões imensas, de 1.5m x 1m a 100 pixels por polegada, quanto para saídas web de qualidade, dado o sensor grande. Os arquivos raw também tem um dynamic range maior durante a manipulação, com menos pontos coloridos em áreas de sombras quando ultrapassamos dois, três stops de compensação no software. E os ruídos também são discretos e orgânicos a partir de ISO3200, com detalhes visíveis até ISO5000. É uma aproximação do APS-C ao full frame na Canon, e um avanço estável sobre a qualidade de imagem bruta dos sensores das câmeras EOS.
“Valley” com a Sigma 50-100mm f/1.8 DC HSM em f/5 1/40 ISO100 @ 50mm; ACR +100 Shadows +100 Blacks – 25 Highlights. “Sunset” com a Sigma 50-100mm f/1.8 DC HSM em f/6.3 1/1250 ISO100 @ 50mm; ACR +80 Shadows +1.00 Exposure. “Grand Canyon” com a Sigma 50-100mm f/1.8 DC HSM em f/2.2 1/640 ISO100 @ 50mm; ACR +100 Shadows +23 Blacks. “Kolob” com a Sigma 50-100mm f/1.8 DC HSM em f/6.3 1/500 ISO100 @ 100mm; ACR +100 Shadows.Em ISOs base o mais interessante é ver como os arquivos raw mantém informações nas sombras, que podem ser recuperadas até valores altos (porém não extremos) com qualidade. Enquanto a geração passada APS-C Canon não tolerava mais que “+2” de compensação de exposição no software, apresentando problemas de banding (visíveis até na T6i deste ano), a 80D vai “justa” até o +3; mais que o suficiente para corrigir qualquer cag*da feita na hora do click. Digo “vai justa” porque não é “perfeita” como as Sony, Nikons e Fujis em valores ainda maiores (o Adobe Camera Raw só vai até +5 no slider “exposure”). Mas é um sólido avanço para a Canon: os arquivos são fáceis de manipular sem redução significativa de qualidade, especialmente útil para impressões.
A resolução também é perfeita em valores baixos (ISO400 ou menor), rivalizando até as câmeras sem filtro low pass (“função” que a 80D não tem). Paisagens urbanas e naturais podem, de novo, ser impressas em tamanhos gigantes e com qualidade, limitadas mais pela performance da objetiva e técnica de exposição (para não borrar), do que pelas capacidades do sensor. É outra tendência que os fotógrafos sentirão enquanto a resolução aumentar: se o corpo da câmera for mais caro que a objetiva, você provavelmente está fazendo algo errado. Aqui testada com a quase perfeita Sigma 50-100mm f/1.8 DC HSM, já dá para ver nas bordas o limite dos vidros da zoom, que outrora pareceriam perfeitos em câmeras de menor resolução. Nem as monstras Canon EOS 5Ds/5Dsr de 50MP tem um sensor tão “denso” (número de pixels na área), então preparem-se para investir em objetivas topo de linha para usar até com as câmeras “intermediárias”, como a 80D.
Os ruídos em valores altos do ISO são bonitos e orgânicos, servindo de ferramenta criativa para fotógrafos P&B. A 80D vai praticamente “limpa” até ISO3200, mais que o suficiente para compensar a abertura pequena de objetivas zoom para fotografar ação; ou trabalhar com as zoom de kit sob pouca luz. A partir de ISO6400, o destaque da 80D é manter as cores sob controle, sem blocos coloridos aleatórios; um problema antigo do APS-C na Canon. Os detalhes ainda não se comparam aos full frame da geração passada (tipo EOS 6D), que mostra ainda mais nuances juntos dos ruídos. E em valores absurdos além de ISO10.000, o software de processamento raw precisa tratar as sombras magentas, o que acontece automaticamente na versão 9 do Adobe Camera Raw. Lembrando como sofríamos logo a partir de ISO800 mesmo na 7D Mark II atual (mais cara), a 80D (junto da T6i lançada no começo do ano) é um avanço sólido em ISOs altos no APS-C da Canon.
Por fim as cores da Canon são sempre um prazer de avaliar na tela ou nas impressões. Mesmo no Picture Profile Auto e com processamento JPEG interno na câmera, os arquivos são extremamente saturados em todo o range de tons, sem “puxar” a foto para algum look específico; um resultado agradável que estamos acostumados na fabricante. Paisagens tomam outra dimensão com o céu azulado e folhas verdes de verdade, que são difíceis de ver nos perfis padrão da Nikon e da Sony. Tons de pele também saem um pouco mais vivos do que a realidade, o que pode gerar retratos “intensos”, marca registrada das EOS digitais há mais de uma década. Unida as objetivas L com equilíbrio idêntico de tons, o sistema Canon como um todo é o mais fácil para trabalhar com cor.
A EOS 80D tenta muito numa câmera só e, felizmente, ela tem sucesso na maioria das novidades. “Outra DSLR APS-C intermediária-avançada”, a Canon precisou trabalhar para diferenciar o modelo, e percebemos isso logo que pegamos a câmera nas mãos. A ergonomia é fantástica com sulcos desenhados no plástico, botões em ângulo, direcionais mais altos e respostas táteis distintas em cada controle, para uma pegada de fazer inveja até as câmeras topo de linha. É só ver os traços funcionais no design da câmera, para notar a atenção para com o fotógrafo, e perceber que a Canon não está parada no tempo: “se vamos fazer ainda outra DSLR, que façamos a melhor.”
O mesmo raciocínio vai para as especificações técnicas, com um processador extremamente rápido DIGIC6 e um espelho motorizado, suave que, sozinhos servem de justificativa para um upgrade. Só de ligar a câmera você é lembrado como as mirrorless estão atrás em agilidade, e não adianta elas dispararem 10, 20, 1.000.000 de quadros por segundo se elas demoram para ligar; o momento será perdido. Não, eu não estou feliz com o buffer limitado para arquivos raw, e a Canon poderia ter implementado pelo menos uma BUS mais atual, já que ela não é atualizada há mais de uma década. Então não tiramos tanto proveito do novíssimo módulo de 45 pontos phase que, embora seja rápido, não faz nada de diferente. Um AF que não detecta rostos em 2016? Passo.
E aí eles foram longe demais (ou não longe o suficiente?) com a terceira DSLR Dual Pixel que não tira de fato proveito da tecnologia. Ok, a função “SERVO AF” era sim um pedido dos fotógrafos, mas não só o “SERVO”; nós queríamos o “AI” preditivo também! É uma limitação do Dual Pixel ou uma limitação do software da Canon? Teremos de esperar a próxima geração para responder. O modo EOS Movie continua vergonhoso na capacidade de gerar arquivos HD de baixa resolução, e não há qualquer função séria para gravar vídeos com a 80D: sem focus peaking, sem zebras e sem sequer saída HDMI limpa. Em tempos de Sony A6300 4K-S-Log3-1080P120 a US$998, só dá pra passar vergonha com uma “DSLR EOS” nas mãos. Serve pra carreira de “YouTuber” e olhe lá…
E enfim o sensor de imagem APS-C 24MP é um passo a frente da geração anterior, o que não é muito difícil de fazer nos padrões Canon. O dynamic range aumentou 1 stop sim, mas continua 2 atrás da concorrência. Os ruídos continuam matando os detalhes além de ISO5000, e não competem com os full frame. E então temos de nos contentar com as cores, que são longe da realidade mas agradáveis. Afinal, o que salva a EOS 80D? Por US$1199 o corpo, pelo menos ela não é muito cara. E este é o aval mercadológico que dá para considerá-la como opção a quem está interessado nas fotos & nos vídeos. US$1199 é uma fração de qualquer outra “câmera melhor” mencionada neste texto, e o grande trunfo da EOS 80D. Então se isso é o que você pagar, de fato a 80D é a melhor “intermediária-avançada”. Mas se ela é a melhor em tudo? Não, não é. Boas fotos!