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Janeiro/2015 – A Sigma 12-24mm f/4.5-5.6 II DG HSM é uma objetiva exclusiva porque nenhuma outra grande angular é tão aberta no full frame em 122º retilíneos. A Canon só vai até os 114º da EF 14mm f/2.8 L II USM, e está enrolando para anunciar a EF 11-24mm f/4L USM. E a Nikon também só “desce” até a AF-S 14-24mm f/2.8G, sem contar a ultra rara Ai-S 13mm f/5.6 de 1976. Outros formatos até são mais “curtos” em 8mm, como a Sigma 8-16mm f/4.5-5.6 DC HSM, irmã gêmea para o APS-C. Mas no full frame retilíneo, sem distorção fisheye, a 12-24mm é única. (english)
“Alcázar” em f/8 1/250 ISO100 @ 24mm; foto “normal” em 24mm e extrema em 12mm.Esta distância é tão extrema de trabalhar que são poucos os sujeitos que realmente se beneficiam dela. As fotos saem com o look bizarro da projeção retilínea e todas as linhas retas caem no mesmo ponto de fuga, tornando colunas em setas, prédios em triângulos, pessoas em formas desconhecidas. E por isso a Sigma decidiu criá-la num projeto zoom até os 24mm, para atender outras situações como fotografia de rua, retratos com a participação do ambiente, e alguns produtos. Então se você decidir colocá-la no seu kit, não estará levando uma “one trick pony”; ela faz mais do que só as fotos distorcidas do ultra grande angular.
Ela chegou no vlog do zack como alternativa a todas estas objetivas citadas. Depois da “fase standard”, quando eu explorei dos 35mm aos 85mm, veio a “fase grande angular” com as EF-S 10-22mm f/3.5-4.5 USM, a zoom EF 16-35mm f/2.8 L II USM de desempenho pobre em abertura máxima, e a top prime caríssima EF 14mm f/2.8 L II USM. Mas como não é fácil recomendar nem justificar estas compras por causa do preço, a Sigma foi a que me pareceu a compra mais lógica, mais exótica, mais interessante. E portanto decidi testá-la. :-) Boa leitura!
A 12-24mm f/4.5-5.6 DG II HSM faz parte de uma “geração de transição” da Sigma, entre pré-Global Vision e pós “defeitos de fabricação”, quando os equipamentos começaram a abandonar o design tosco e a construção porca que comprometeu por anos a reputação desta marca. A 12-24mm II é séria, preta, com construção de plástico e metal (no hood), que só não tem “cara” de Global Vision porque o corpo não é coberto por borrachas. Tudo está no lugar certo e não parece que vai quebrar, soltar ou riscar por anos de operação, se você cuidar com carinho.
Mas em 670g o projeto não deixa de ser complexo e ousado com 17 elementos em 13 grupos, muitos para uma abertura tão conservadora. São quatro (!) vidros “FLD”, uma fórmula artificial da Sigma que tem o mesmo nível de baixa dispersão que os vidros “flourite” naturais; um mais “simplão” SLD (Special Low Dispersion) para juntos controlares aberrações cromáticas. E ainda tem outros três “glass mold” e um híbrido asférico para manter a performance intacta dos 12mm aos 24mm. É sem dúvidas a objetiva mais exótica que já vimos em termos de vidros especiais.
Do lado de fora o design é funcional com dois anéis plásticos de tamanhos idênticos para zoom e foco manual, com grip de borracha ao redor. Na frente o hood não removível é de metal assim como a tampa da lente, que engenhosamente tem duas funções: além de sair completamente você também pode montá-la e tirar apenas a parte da frente da tampa, relevando um threadh de ø82mm. Dá para usar filtros na 12-24mm, mas só se ela estiver montada num corpo APS-C. Esta peça cobre a área do full frame e causa vinheta. Foi uma boa ideia porém pouco prática.
A única chave AF/M é do motor HSM interno, também conhecido como “hypersonic motor”. Ele é absolutamente silencioso e usa o mesmo princípio de operação dos USM (Canon) e SWM (Nikon), por “ondas” magnéticas no lugar da bobina. Mas como foi a minha primeira Sigma do kit, ficou inevitável não notar a diferença de velocidade dele para as Canon originais. A sensação é que ele “pensa” antes de começar a girar e não é instantâneo igual as EF de marca. Não que seja um problema para o estilo de fotografia mais usado no GA: itens arquitetônicos e paisagens. Porém não recomendo para ação e takes dramáticos de esportes, como pistas de skate. Ele realmente demora para começar a focar e nunca tinha visto este comportamento antes.
A operação no geral é simples para uma lente super exótica, fora das marcas tradicionais, provando que a Sigma estava para mudar o departamento de design e desenvolvimento. A 12-24mm f/4.5-5.6 II DG HSM é robusta, bem feita e fácil de usar. Os anéis são firmes, suaves, precisos, sem dar a impressão de que algo está fora do lugar. A abertura, que não é das maiores, colabora para ela ser bem menor que as concorrentes zoom, notavelmente as f/2.8. Vale como alternativa inclusive para quem só quer uma grande angular, sem precisar de toda amplitude nos 12mm.
O design das objetivas grande angulares é o mais difícil dentre as distâncias porque o formato esférico das lentes não projeta uma imagem retilínea, na qual as linhas retas continuam retas depois de passar pelo vidro. Então a parte mais complicada de projetá-las é pegar esta imagem circular e transformá-la de volta num quadrado, “entortando a luz” e mantendo resolução no quadro todo, principalmente nas bordas. Mas a Sigma conseguiu o que parecia impossível nos 122º de visão ao “condensá-lo” de volta a um retângulo 36x24mm do formato 135 full frame, através destes 17 elementos, em especial estes três glass mold (mais precisos que os polidos manualmente) e um híbrido asférico (as superfícies não são esféricas). Fotos com a 5D Mark II.
Por causa deles a resolução é excelente em 95% do quadro com os 5% restantes limitados as bordas máximas das imagens. Contraste e detalhes estão de sobra nos arquivos, ideal para reproduzir cenas detalhadas de igrejas ou outras decorações, e as cores são ótimas para uma lente third party. As únicas reclamações ficam para o CA axial que é fortíssimo em situações de muito contraste, e a distorção geométrica em 12mm; dois problemas facílimos de corrigir via software e que aparecem nas Canon e Nikon. Para o que esta lente faz e por este preço, a 12-24mm é outra maravilha da engenharia da Sigma, antes da linha “Art” da geração Global Vision.
Fechando para f/5.6, f/8 em diante, a diferença fica mesmo para a profundidade de campo já que logo a partir de f/4.5, abertura máxima e exclusiva dos 12mm (13mm já cai para f/5), a resolução é excelente. Não há motivos para fechar a lente para maior qualidade de imagem já que o CA lateral não é influenciado pela abertura e nenhum detalhe aparecerá além do f/4.5. Há quem diga que nos 24mm a resolução não é tão boa e eu até concordo que ela é diferente dos 12mm, mas nada que um sharpning via software não resolva. Tem de ser muito chato (ou burro) para justificar (ou não) a compra de uma 12-24mm por causa do desempenho em 24mm.
O CA lateral aparece nas bordas das imagens em situações de contraste extremo, como contornos de linhas gráficas ou detalhes ornamentais das paredes. As linhas coloridas verdes e magenta são finas o suficiente para não serem notadas em saída web ou impressões pequenas, e só numa avaliação em zoom 100% na tela do computador ou numa impressão pixel-por-pixel (quase 100x60cm a 150dpi) que você notará esta aberração. Ela é a mais fácil de corrigir via software e uma injustiça falar mal a respeito dele, contra qualquer objetiva hoje em dia.
O mesmo para a distorção geométrica que alta em 12mm, vai sumindo até os 18mm, e volta como bigode em 24mm. Também basta um único click no Photoshop para corrigí-la, assim como a vinheta que vai embora no perfil desta lente. A vinheta é relativamente acentuada por causa do projeto extremo e revela esta dificuldade em “entortar” a luz de um ângulo tão grande para um retângulo tão pequeno. Ela chega a ser imperceptível no dia a dia e só quando você liga/desliga a correção que realmente dá para notar como era grande diretamente da câmera.
Enfim os arquivos em 12mm exigem cuidados na hora da produção e na pré-produção. É difícil alinhar perfeitamente todos os elementos num quadro tão amplo considerando composição, formas, distorção e luz; tudo isso sem que você mesmo apareça na foto! E depois no computador a exigência de equalizar todos estes fatores com uma exposição uniforme faz parte do trabalho no grande angular hoje em dia. Mas a Sigma entrega um produto de alta qualidade, fácil de usar, que não é “Global Vision” apesar de não dever em nada na construção e nas fotos que faz. É uma lente exclusiva que, pelo preço, todo mundo pode ter. Abraços e boas fotos!