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Abril/2015 – A EF 35mm f/1.4L USM é uma das “objetivas modernas” mais antigas da Canon. Parte da série L, ela foi introduzida em 1998 e já conta com 17 anos de mercado, enquanto outras distâncias menos importantes já estão na versão II. Como ela conseguiu sobreviver tanto tempo? Com um projeto óptico primoroso, construção de ponta, e francamente sem concorrentes que superem o conjunto acertado de foco automático e grande abertura. Ela chegou no vlog do zack na troca pau a pau da EF 16-35mm f/2.8L II USM, que eu nunca fui fã, e vi nesta 35mm f/1.4L uma oportunidade de entrada para a linha “f/1.4L”. Por US$1479, ela é a mais cara do mercado apesar da concorrência apertadíssima dos últimos anos. Será que ainda vale a pena? Boa leitura! (english)
Em 580g de 11 elementos em 9 grupos, em apenas 8.6 cm por 7.8 cm, a primeira impressão ao segurar a EF 35mm f/1.4L nas mãos é de pura solidez. Com uma estrutura interna de metal que vai do mount até a rosca de filtros, coberta por plásticos de alta qualidade, ela é (ou era) a síntese da série L, antes do emprego dos “engineering plastics” que nasceram na 24mm f/1.4L II USM. A construção grita “ferramenta” e nada vai sair do lugar com os solavancos do dia a dia. Ela é um tanque como as telephoto brancas, todas de metal “pau pra toda obra”, e combina bem com corpos full frame ou APS-C, que ficam pesados nas mãos, sem puxar para a frente.
O primeiro elemento é completamente chato, rente ao corpo da objetiva, diferente de outras grande angulares que dependem de um vidro convexo. Ele é bacana porque os filtros de ø72mm podem ser mais grossos, duráveis, e vão presos no último thread de metal que eu lembro da série L, depois da EF 24-70mm f/2.8L USM original. Você sente que é uma peça mais gelada e que a rosca “desliza” com mais facilidade. O que é bom e ruim: a minha cópia veio com um filtro “atolado”, então eu ganhei a peça de brinde com a lente nova. Tomem cuidado para não acontecer com vocês. Mas um dia eu tentei tirá-lo e saiu facilmente. Vai saber porque estava preso antes.
Como uma boa prime, a operação é fácil com apenas um anel de foco manual na frente, generoso em 27mm, mas sem ser over the top com a linha Art, e um switch “old school” para o foco automático. Destaque vai para o motor USM do tipo ring que é absolutamente instantâneo e preciso; muito, mas muito mais esperto que a concorrente Sigma DG. Esta EF passa a mesma impressão que eu tive com a 135mm f/2L USM: ela não foca, ela TRAVA. Mal terminei de apertar o botão, o foco já travou, não importa a quantidade de luz. Sujeito em movimento? Travou. EOS M com AF híbrido? Travou. 5D Mar… TRAVOU. É a razão de ser das DSLR Canon.
E a janela de distância em cima está lá só para constar, pequena, fina, e com sombra do barrel externo que dificulta a leitura. O design vem de um tempo que a Canon se importava só com o AF, e não existia esse papo de EOS Movie, follow focus e muito foco manual. Então as peças eram feitas para trabalhar, da maneira mais rápida e confiável possível, sem muitos agrados ao fotógrafo. Não, o anel MF não tem a mega borracha profunda da Sigma, mas porque você provavelmente não irá usá-lo. É montar na câmera, apontar para o sujeito e disparar. A EF 35mm f/1.4L USM está pronta para tudo, sem “firúlas para atender o mercado”. Faz 17 anos que é assim, e assim deve continuar.
Com um elemento asférico de alta precisão polido a mão e sistema float de foco automático, a EF 35mm f/1.4L USM tem resolução excelente no centro e um pouco atrás nas bordas, que vai melhorando stop a stop. Mas as aberrações cromáticas laterais são incrivelmente bem controladas, tanto por causa da distância focal fácil de corrigir quanto pelos poucos elementos em comparação a uma zoom. Enquanto o grande angular nos 24mm geram CA lateral e os 50mm tem problemas com CA longitudinal, os 35mm ficam no meio, sem os problemas dos dois. Resultado: fotos de alto contraste, com poucos problemas, que não importa o formato, geração e preço; é uma distância obrigatória em todos lineups. * Todas as fotos com a Canon EOS 5D Mark II.
Em f/1.4 a característica mais marcante da EF 35mm L é o híbrido do blooming que vimos na 50mm L com o contraste alto da 24mm L. São fotos “vivas” que funcionam direto da câmera para isolar o sujeito com a baixa profundidade de campo. Numa inspeção mais cuidadosa de elementos cromados nós vemos as bolhas coloridas em razão da falta de elementos de baixíssima dispersão na fórmula; e os contornos verdes no contraste do desfoque. Mas a quantidade absurda de luz que os f/1.4 permitem entrar na câmera vale mais que reclamar de defeitinhos ópticos sumirão na impressão. Se o problema for muito grande, provavelmente você está usando da maneira errada.
Fechando de f/2.8 até f/4 nós temos a perfeição de ponta a ponta do quadro em resolução e, continuando, contraste alto. Da mesma forma que a 24mm f/1.4L II USM entregou alguns do arquivos mais nítidos que eu tive com a 5D Mark II, a 35mm L também fez com menos CA lateral. São texturas perfeitas sem as bolhas coloridas nas bordas e paisagens urbanas sem o efeito “neón” no contorno dos prédios. Em composições gráficas com linhas repetitivas fica fácil ver o contraste entre positivo e negativo, que funciona muito bem no preto e branco; bacana para registros atemporais se você estiver na hora certa no lugar certo.
No f/8 a resolução ultrapassa qualquer sensor full frame da Canon (não testei com as 5DS) e fica claro o porque do projeto ter durado tanto tempo: performance absolutamente impecável para trabalhos profissionais. É aqui que vive um equívoco em relação ao cenário atual da fotografia. Okay, a Sigma 35mm f/1.4 Art DG HSM entrega mais detalhes em f/1.4, mas é aquele papo de “detalhes pra quê?” Nas bordas? Longe do sujeito? No quadro todo só para estar no quadro todo? A Canon entrega a mesma coisa se você precisa, mas em aberturas otimizadas, que funcionam a favor da performance óptica e da profundidade de campo. Repito: de duas décadas para cá, se algum problema aparecer na imagem, com certeza é culpa do fotógrafo.
Já o bokeh é um pouco confuso dependendo da distância de foco e aqui a Sigma sai na frente de fato. Elementos naturais como pedras e folhas nem sempre viram um blend suave de cores e acabam atrapalhando com uma textura dura no quadro, que dificilmente compõe um plano de fundo bacana para o sujeito “saltar” na tela. Por isso evite fotografar em abertura máxima sem propósito afinal os 35mm são mais bacanas para mostrar o cenário contando a história, e é melhor que ele esteja em foco. Se você quer uma máquina de desfoque, recomendo mover uma ou duas casas pra cima na distância focal, investindo numa 50mm ou até nos 85mm.
E as distorções geométricas são bem controladas em elementos bidimensionais como paredes e a linha do horizonte, diferente de outras 35mm low cost, especialmente as para o formato APS-C. Já as cores são equilibradas com o restante da linha L prime Canon e não vi diferença entre 24mm, 50mm, 85mm, 100mm etc. É uma mão na roda na hora de pós processar os arquivos já que você não terá de calibrar foto por foto a fim de conseguir os mesmos tons de pele ou reprodução de produtos. Tudo funciona, com a qualidade de imagem ao lado da construção mecânica, e o foco automático perfeito que sempre manteve as EOS no topo do mercado.
Com 17 anos nas costas e a sombra da Sigma 35mm f/1.4 DG HSM, sinto que a EF 35mm f/1.4L USM perdeu um pouco do brilho nos últimos anos. Eu mesmo adorei tanto a objetiva Art que ela substituiu a Canon na gravação do vlog do zack com a Blackgmagic Cinema Camera (equiv. a 85mm). A Sigma é mais resistente a flaring e a minha posição dos iluminadores não funcionam com a 35mm sem um flag. Mas é só pegá-la nas mãos para lembrar do status “legendário” deste anel vermelho na frente: construção fantástica, solidez e metal, como a série L nunca deveria ter deixado de ser. Ela nunca fez nada de realmente errado e dependendo da abertura ela continua além do que qualquer sensor digital exige hoje. A EF 35mm f/1.4L USM já tem um lugar nos kits profissionais e, sinceramente, não tem planos para sair dali. Boas fotos!