Tempo estimado de leitura: 12 minutos e meio.
Fevereiro/2017 – A Canon EF 24-105mm f/4 L IS II USM é a inusitada segunda geração da zoom-standard de abertura f/4 da série L. “Inusitada” porque ela atualiza uma objetiva não tão velha assim, a 24-105mm L de mesma especificação, datada apenas de 2005; cedo para o ciclo de vida de um equipamento fotográfico, e na frente de objetivas mais importantes, que precisavam de atualização (28-300mm, 50mm f/1.2, 24mm f/1.4…). Inusitada porque o modelo novo chega por US$1099 só a objetiva; valor alto para a linha “L f/4” que a Canon prometia ser acessível, ao mesmo tempo que entregava desempenho semelhante as tops f/2.8 (16-35mm, 24-70mm, 70-200mm). E inusitada também porque ela não faz muito mais que a versão anterior: com a ergonomia atualizada, foco automático rápido, estabilizador de última geração e projeto óptico renovado, será a 24-105mm L II a única objetiva que você precisará? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Em 8.3 x 11.8 cm de 795gr principalmente de plásticos do lado de fora, e talvez metais (dada a fluidez dos movimentos) do lado de dentro, a primeira coisa que notamos na 24-105mm f/4L II IS USM é como ela cresceu em relação a geração anterior (8.3 x 10.6cm de 670gr). Um update não somente estético com a nova tipografia da Canon nos números e a carcaça texturizada opaca que não risca, a justificativa para o crescimento está na engenharia mais robusta do lado de dentro, que exige tubos internos maiores e rolamentos grandes; além da correção da vinheta (escurecimento nas bordas), uma promessa da Canon no departamento óptico. O design acompanha a forma, grande e gostoso de segurar, com o mesmo raciocínio “lata de cerveja” que vimos na EF 35mm f/1.4L II USM: um tubo praticamente do mesmo diâmetro da baioneta de montagem até a frente, sem áreas táteis diferentes, para “desaparecer” na palma da mão.
Nas mãos a ergonomia é vastamente superior a versão anterior, que não raro recebia críticas pela experiência desconfortável. Enquanto as duas objetivas compartilham da mesma orientação de anel de zoom, atrás, e anel de foco manual, na frente, na versão nova os dois são do mesmo diâmetro e 50% mais longos, com 3cm de comprimento contra os 2cm da anterior; um salto significativo “na pegada” com os dedos. Uma característica (ou defeito?) da versão clássica era o zoom “pesado”, notado principalmente ao lado da 24-70mm f/2.8 da mesma geração (não II), que era feita de metal, com um zoom “leve” apesar dos vidros mais pesados. Isso foi corrigido na 24-105mm L II, que provavelmente usa os mesmos rolamentos de nylon “inventados” na 70-200mm f/2.8L IS II USM de 2010, mais apropriados para zooms pesadas. Tudo cresceu e amadureceu na linha zoom L, com recursos vindo do topo de linha f/2.8, mas agora vistos na base da gama f/4.
A operação do zoom é fluída e praticamente constante dos 24mm aos 105mm. Com um design single cam externo, a objetiva “abre” até o telephoto sem grandes variações de peso, velocidade e até distância focal; estas relativamente apertadas em cerca de 70º. É um giro idêntico as 24-70mm (f/2.8 L II e f/4 “macro”) para ir rápido de um lado até o outro, ótimo para fotografar com agilidade na rua. Mas ele é ruim para fazer movimentos de zoom pull durante a gravação de vídeos, uma vez que as distâncias estão muito próximas umas das outras (24mm e 35mm tem 3º entre elas). Então fica difícil recomendá-la para transições no enquadramento em tomadas dinâmicas, como a Canon propõe no APS-C da EF-S 18-135mm f/3.5-5.6 IS USM; até como um motor SERVO como acessório! Aparentemente a 24-105mm II é uma peça mais recomendada para fotografia, mais gostosa de ficar nas mãos o dia todo, do que um update pensado em vídeo, do ponto de vista ergonômico.
O anel de foco fica na frente e trás ainda menos novidades. Enquanto a borracha de cobertura cresceu para ficar do mesmo comprimento do anel de zoom, e os dois tem grooves táteis diferentes para operação “fora do olho”, mecanicamente o movimento é o mesmo de antes: suave e “lizinho”, coisa que só a série L garante. O giro de cerca de 110º é o mesmo da versão clássica, do foco mínimo de 0.45cm até o infinito, mas totalmente quieto na versão nova. Na anterior parecia que estávamos esfregando um pedaço de papel no outro, barulho que poderia ser capturado durante a gravação de vídeos. Mas agora ela é 100% silent, e com a mesma precisão sem balanços do lado de dentro, oferecendo ainda a função full time manual: mesmo com a chave de modo de foco em AF, o anel pode ser usado para compensações no ajuste do motor. A janela de distância recebeu o upgrade estético desta geração, mas na minha opinião está mais difícil de ler: os números aparecem “lá embaixo”, fundos no tubo interno, e precisamos “subir” na câmera para vê-los; na versão original, a janela mais “gordinha” ampliava os números sob qualquer ângulo.
Do lado de dentro os upgrades foram naturais nos motores de foco automático e estabilização; mas ainda mais questionáveis dentro do curto espaço de tempo do update. A versão clássica já era boa: um foco instantâneo por motor USM do tipo ring-type, silencioso e preciso, não importasse a câmera e a situação de luz. Para gravação de vídeos, as duas continuam idênticas nas transições suaves do EOS Movie SERVO AF (focus racking), especialmente nas câmeras com a tecnologia Dual Pixel: sem “travadas”, sem barulho, sem erros; PERFEITO. Então neste departamento, a Canon não mudou nada. Mas o IS, image stabilizer, o estabilizador de imagem da versão nova vai até 4EV, ligeiramente melhor que a versão de 2005 com 3EV. Para fotografia ele facilita o trabalho sob situações complicadas de luz, uma vez que não precisamos montar o tripé na maioria das fotos; só respirar fundo que a objetiva “segura” exposições até 0.5s em 24mm; incrível. E para o trabalho com vídeo, ele é obrigatório para quem usa o estilo run and gun: de novo sem tripé, com a câmera nas mãos, sem perder tempo. É a maior vantagem sobre a 24-70mm f/2.8 L II USM, que não tem IS.
Enfim na frente a 24-105mm L II IS USM aceita os mesmos filtros de ø77mm da versão anterior, excelente para atualizar o kit sem abrir um rombo no orçamento. Os primeiro e último elementos receberam tratamentos de fluorine, que repele óleo e água para facilitar a limpeza; coisa que a versão clássica não tinha. O parasol incluído na caixa agora é do tipo de botão, e prende firmemente numa posição só, depois de deslizar ao redor do elemento da frente. Atrás, o mount de metal tem ainda um segundo “parasol embutido” cortado em plástico, com um retângulo, que evita reflexos na posição telephoto do zoom. O weather sealing permanece largamente o mesmo, com anéis, botões e sapata de montagem protegidos por borrachas, embora a Canon recomende sempre proteger o equipamento de chuva e poeira em excesso. Mecanicamente a 24-105mm L II é uma peça atualizada na série L, com a mesma operação robusta das objetivas novas. Mas não é um update obrigatório sobre a versão anterior, apesar de bem-vindo para o futuro da linha EF.
Com 17 elementos em 12 grupos, quatro (!) deles glass molded aspherical e a nova cobertura Air Sphere Coating da Canon, a EF 24-105mm f/4L IS USM é largamente o mesmo projeto da 24-105mm de 2005, que perdeu um dos seus 18 elementos em 13 grupos (vários deles UD). A promessa da Canon com o novo projeto é claro, sem trocadilhos: aumentar a luminosidade nas bordas do quadro e reduzir reflexos internos, aumentando o contraste. Ou seja, nada de maior resolução e nitidez que, francamente, já eram aceitáveis. Na prática a 24-105mm II continua virtualmente idêntica as primes 24mm no centro, perdendo apenas em resolução nas bordas. De 35-85mm, ela é relativamente livre de aberrações cromáticas laterais e de distorção geométrica, sofrendo apenas com CA axial em highlights no desfoque. E em 105mm, a resolução total do quadro melhorou um pouco, notado principalmente na abertura máxima. As duas 24-105mm são “tranquilas” de trabalhar, independente de abertura, distância focal e situação de luz.
A resolução “justa” em qualquer posição do zoom e logo na abertura máxima sempre foi o destaque da “24-105mm f/4”. Tanto na versão clássica que dava “um banho” na 24-70mm f/2.8 “original”, quanto agora na versão II com AirSphere e menos elementos, a tranquilidade do projeto moderno, prático e de alta-resolução continua o ponto forte do modelo. Ele é fácil de ser oferecido como kit, para quem ainda não sabe qual objetiva comprar, e também para demonstrar a capacidade dos sensores novos da Canon. Embora a especificação tenha sua legião de haters, eu nunca fiz uma “foto ruim” com ela: é só montar na câmera, levar para passear, e voltar com arquivos que justificam o investimento no formato maior (full frame), e o “trabalho” de sair com ele (câmeras e objetivas grandes). Seja do grande angular ao telephoto, e na abertura máxima, a 24-105mm f/4 L II funciona; é só montar na câmera e sair para fotografar com a sua full frame.
Fechar a abertura melhora pouco a resolução do quadro, que fica “afiado” logo em f/8. Neste ajuste apenas o “miolo” das lentes é usado na projeção da imagem, excluindo quaisquer imperfeições de alinhamento, curvatura e focagem, para altíssima resolução vinda de uma zoom. É impressionante como registros em f/8 rivalizam com os arquivos das primes, cheios de detalhes de ponta a ponta do quadro, 1) divertidos de ver em zoom 100% na tela do computador ou 2) prontos para a impressão grande de qualquer trabalho sério. Letras em cenas urbanas são perfeitamente reproduzidas em fotos amplas nos 24mm. Detalhes mínimos de texturas são gravados em registros cotidianos em 35mm. E da normalidade ao telephoto, os arquivos aumentaram de resolução nesta geração, com ainda mais linhas finas vistas em acabamentos de roupas e paisagens distantes. Se o trabalho exige alta resolução e fidelidade nos detalhes, basta fechar a zoom para o f/8.
Ainda falando sobre resolução, um destaque da zoom é a capacidade de manter os detalhes mesmo em distâncias mais curtas de foco. Enquanto na primeira 24-105mm a Canon chamava as distâncias de 0.70cm – 0.45cm de “macro”, e até lançou uma 24-70mm f/4 L IS USM com a função embutida, na geração 24-105 II ela deixou a especificação intacta em 0.23x de ampliação (1:4.3); bacana para fotografar detalhes de perto com o fundo desfocado no final do telephoto. Nesta posição extrema (105mm em foco mínimo), a 24-105mm sofre para focar toda a luz no mesmo plano do quadro, com uma levíssima perda de contraste no centro – fácil de ser recuperada via software – e aberrações cromáticas laterais nas bordas, com halos coloridos em contornos de muito contraste. É um “efeito” razoavelmente difícil de acontecer (105mm + MFD + sujeito nas bordas) e esperado, uma vez que acontecerá num quadro com baixa profundidade de campo. Mas demonstra os limites da zoom f/4, que não compete com as primes em ajustes parecidos.
Crop 100%, antes e depois da correção de aberração cromática lateral. Crop 100%, situação difícil para a objetiva e para o software; uma janela roxa e com aberração cromática. Crop 100%, CA lateral discreto em zonas de pouco contraste. Crop 100%, detalhes mínimos de aberração cromática fora dos extremos do range.Aberrações cromáticas aparecem principalmente nos limites do range, com linhas coloridas nas bordas no grande angular; e linhas coloridas em qualquer contorno de contraste no telephoto. Fáceis de ver inclusive em primes grande angulares (24-35mm), as aberrações laterais aparecem em linhas arquitetônicas de prédios contra o céu durante o dia, ou árvores na mesma situação, que exigem correção dos arquivos via software antes da publicação; tarefa tão difícil quanto 01 único click no Photoshop, ou usando uma correção embutida na câmera. Da normalidade ao telephoto (50-105mm), as aberrações ocorrerão quando a fonte de luz aparecer no quadro (por exemplo em ambientes fechados), ou quando isolamos o sujeito do fundo, com uma luz de contorno; este ganhando aberrações secundárias vistas como linhas roxas. É um fenômeno que a Canon começou a corrigir opticamente somente na 35mm f/1.4L II USM com Blue Refractive Optics, afinal a prime é pensada para qualidade máxima, mas não nas zoom mais novas, que devem ser tratadas in post. De qualquer maneira, são aberrações esperadas do projeto, pensado mais na flexibilidade.
”Lock” em f/4 1/40 ISO2000 @ 24mm; antes e depois da correção eletrônica de distorção geométrica. ”Teto” em f/8 1/320 ISO320 @ 24mm. ”Hong Kong” em f/4 1/20 ISO1600 @ 64mm. ”Salgados” em f/8 1/60 ISO3200 @ 70mm; curto telephoto com leve aberração do tipo pinchushion.Distorções geométricas continuam em peso na zoom 24-105mm, vistas principalmente como uma imensa bolha no grande angular (24mm); inaceitável para trabalhos de precisão (arquitetura) quando não podemos “pagar” pela correção eletrônica. Como o software descarta uma área muito grande das bordas, este é o principal motivo de investir numa prime. Para fotos do dia-a-dia, o resultado é até “engolível” para quem pensa em explorar com as composições “dramáticas” de linhas nesta distância focal; bacana para retratos ousados ou mesmo com arquitetura. Mas para trabalhos mais sérios, pense em objetivas específicas para isso como as fantásticas Sigma 24mm f/1.4 DG HSM, ou a topo de linha Canon TS-E 24mm f/3.5L II. Da normalidade ao telephoto (35-105mm), o inverso acontece: a distorção pincushion puxa as linhas para o centro do quadro, notado no horizonte de paisagens (com uma bolha inversa) ou em prédios que “caem” para o centro. Como a correção é positiva, sem perda de pixels nos arquivos, dá para recomendar a zoom.
Por fim cores e desfoque são típicos da série L zoom, neutros quando você não se importa com eles; mas bonitos quando dominam a imagem. Os tons fortes são a assinatura final dos projetos Canon que, em conjunto com as câmeras EOS e a ciência de cor da marca, entregam os vermelhos mais fortes do mercado, ao lado de valores absolutos de verdes e azuis naturais; fantásticos! É fácil ver como o álbum de fotos sai colorido dos review de série L ou de câmeras como T6i, 7DII, 80D, 5DS e 5D Mark IV, enquanto eu preciso “tunar” os arquivos de outras marcas (principalmente da Sony). O desfoque também agrada para quem pretende explorar o look do formato full frame, quando adquirida num kit, com highlights propriamente circulares não importa a abertura (o diafragma novo tem 10 lâminas, contra 8 da anterior), para segundos planos difusos, suaves, coloridos e de alto contraste. É um comportamento neutro e ao mesmo tempo impactante, seja para publicação web ou ampliações no papel, como estamos acostumados na série L.
A EF 24-105mm f/4L II IS USM é uma objetiva inusitada por que não faz nada que já não recebíamos na Canon: uma zoom mecanicamente robusta para trabalhar o dia inteiro e com fotos neutras, que funcionam sem grandes esforços. Ela casa com a tendência da marca em incrementar as próximas gerações de produtos com mudanças ergonômicas (mais gostosa nas mãos, apesar de maior e mais pesada) e técnicas (estabilizador de última geração), para trabalharmos sem dores de cabeça ou mudanças drásticas (tipo quem sai de uma DSLR e vai para uma mirrorless). Ela é mais do mesmo e levemente melhor, o que agradará quem já estava acostumado com a marca; ou prepara os fotógrafos que estão chegando agora, no topo da série L. Ela não vale como upgrade para quem já estava trabalhando com a versão antiga, que já era moderna, mas é um novo ponto de partida para uma compra a partir de agora. Para comprar agora, vá no modelo novo e boas fotos!