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Junho/2015 – Levou 25 anos mas finalmente está aqui! A Canon atualizou a prime mais popular do mundo com a EF 50mm f/1.8 STM. O diafragma é novo e tem sete lâminas circulares para teoricamente um bokeh mais suave fora da abertura máxima. Os grupos foram otimizados para diminuir a distância mínima de foco, além de receber coatings Super Spectra para maior contraste. Estabilizador? Não. Weather sealing? Nem pensar. A novidade é o stepping motor para foco automático silencioso, no lugar do micro motor DC barulhento de antes. O mount voltou a ser de metal, e mais resistente a várias montagens/desmontagens. E o resto da construção está melhor, com design mais sóbrio e limpo. Tudo pelo mesmo preço de antes, tacada de gênio da Canon para continuar no topo. Vale a pena colocá-la no kit? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)
Como ela vem substituir uma objetiva que provavelmente todo mundo conhece, inevitável os reviews compararem extensivamente as duas; e não fugirei a regra. Elas são o mínimo que você pode comprar da Canon para tirar fotos e o preço de US$130 é ridículo para um lançamento. Ok, a chinesa Yongnuo tem uma 50mm f/1.8 “fajuta” de US$62, mas vocês confiam? Eu não sei. Em 162g a versão STM ficou 32g mais pesada que a “plastic fantastic” e a sensação de brinquedo ficou para trás. Cosmeticamente está moderna com um plástico emborrachado, suave nas mãos, e um tubo externo sem rebarbas e vários painéis como a antiga. O mount voltou a ser metal como a primeira versão de 1987 e complementa melhor as câmeras mais robustas como 5D e 7D pra cima.
Do lado de dentro a novidade é o motor de foco STM. Enquanto a Canon vende como uma grande coisa, praticamente todas objetivas mirrorless usam um “brushless stepping motor” parecido. Ele é mais barato de fabricar que os ultra-sônicos e tem a vantagem de ser suave, feito para o EOS Movie. Mas tem um problema relativamente grave para quem tira fotos: ele não é tão rápido quanto os USM. Do foco infinito ao foco mínimo leva quase dois segundos, e é definitivamente mais “pensado” que a f/1.8 II, que eu julgava “esperta”. Parte da decisão de compra pode vir daqui: para quem usa o AI SERVO no modo movie, este modelo é para você. Mas eu queria uma USM, como o upgrade da EF 35mm f/2 IS USM. Já pensaram uma 50mm f/1.8 IS USM? O_o
Na frente o anel de foco manual ficou mais “saudável” e está emborrachado. O movimento é suave por causa do STM, já que a operação é fly by wire. Quando você gira ele diz para o motor mover o grupo de foco num movimento linear, quase totalmente silencioso. Mas longe de ser perfeito, há um enorme lag entre o toque no anel e a resposta do motor. E como não há uma janela de distância, às vezes nem dá pra saber se está acontecendo alguma coisa; só vendo se o tubo interno está expandindo ou não. Pelo menos ele suporta o full time manual e pode controlar o foco mesmo com a chave em “MF”, o mínimo de se esperar hoje em dia. Nos testes com a Sony A7 II + Metabones Adapter IV, que é beeem devagar pra focar com as Canon EF, o anel manual “ligado” o tempo todo ajudou muito as coisas. Você só sente falta quando precisa.
Na frente os filtros ficaram menores em ø49mm, ruim para quem já estava “investido” nos ø52mm da versão anterior; ou seja, terão de comprar um anel step down. E todo o conjunto interno mexe para frente e para trás durante a focagem, mas sem girar o anel da frente; como a versão antiga e bom para polarizadores. Há até um trilho para hood (não incluído na caixa), que estava faltando na outra. No geral o upgrade é bacana, o projeto amadureceu, e nem dá pra pensar em recomendar a antiga pra quem está começando agora, ainda mais considerando o preço que é o mesmo. Mas e quem tem a versão f/1.8 II, vale o upgrade? Vamos ver nas fotos.
Com o mesmo projeto de seis elementos em 5 grupos baseado numa fórmula duplo Gauss, aqui está o grande tiro no pé: perderam a oportunidade de fazer algo totalmente novo, tipicamente Canon. Enquanto a Nikon colocou uma peça asférica na f/1.8G, para resolução perfeita de ponta a ponta do quadro, e a Sony tem a fenomenal FE 55mm f/18 ZA em parceria com a Zeiss, as lentes EF tem um apelo “popularesco” na linha básica. Eles prometem que o arranjo dos grupos foi “otimizado”, com distância mínima de foco menor em 35cm (antes era 45cm), coatings Super Spectra em todos (para aumentar o contraste), e diafragma circular de sete lâminas. E como eu nunca vi grandes problemas na f/1.8 II, a história se repete e melhorou: tudo está mais nítido na abertura máxima, e a resolução assusta logo em f/2.8. Por US$130, é obrigatória no kit.
As melhorias são visíveis no projeto mais acertado com coating Super Spectra. Você consegue ver que os detalhes são mais nítidos na abertura máxima e o blooming foi resolvido no quadro todo. O miolo que já era bom, agora está melhor; acho que até na frente da f/1.2L. Não há bolhas coloridas se você acertar o foco, que a L sofre pra caramba. E nas bordas fica mais claro a vantagem da nova f/1.8 STM. Enquanto a f/1.8 II apagava os detalhes por aberração esférica, na f/1.8 STM isso é menos visível. Então não precisamos mais nos preocupar tanto para aumentar a resolução nitidez. Dá para trabalhar tranquilamente em qualquer abertura, se você acertar precisamente o foco.
Sim, o astigmatismo ainda está lá e pontos de luz ao redor do quadro não serão pontos em f/1.8; falta elementos para corrigir isso. Mas vocês sabem a minha opinião: usem a objetiva direito! Precisa de resolução nas bordas? Feche pelo menos para f/2.8. A Canon está muito mais próxima da AF-S f/1.8G da Nikon do que nunca, e aquele foi uma das minhas melhores lentes testadas na D800E. Mas a EF custa US$100 a menos e tem um elemento a menos; ou seja, a mãe do EOS realmente melhorou a performance óptica da objetiva mais popular da linha. É também no f/2.8 que a luz parece perfeitamente focada para retratos com detalhes finos de cabelos, textura da pele, trama de tecidos e grades, causando moiré na Sony A7 II e outras câmeras.
E do f/4 em diante nós temos virtualmente a mesma performance da f/1.8 II, que já era perfeita: resolução de sobra para qualquer sensor que eu conheço, de ponta a ponta do quadro. São todas as folhas das árvores, todas as gramas no chão, contraste perfeito para gráficos etc. Está nos luz (sem trocadilho) a qualquer zoom de kit, aliás, qualquer zoom. E da mesma forma que o modelo antigo, não sei como a Canon fez um projeto (dois, no caso) que não sofrem de aberração cromática lateral. Sabe aquelas linhas coloridas que eu mostro em pontos de contraste e contra a luz? Não acontece nestas lentes. Na minha opinião é o melhor “recurso” óptico para fotografia de rua, como grafites, placas, pilares e qualquer sujeito urbano.
As duas novidades estão no foco mínimo que aumentou (ou abaixou?) de 45cm para 35mm, e o no diafragma de sete lâminas arredondadas. Embora não seja a mesma coisa de uma objetiva macro, com perda notável de resolução quando você fotografa perto demais, eu achei a qualidade bacana. Se está tão perto, já sabe que a baixa profundidade de campo será curta e a chance de alguma coisa sair em foco já é mínima; então “normal” o sujeito aparecer suave, num quadro desfocado. É uma mão na roda para quem fotografa flores e fauna no dia a dia.
E o bokeh está mais suave mesmo na abertura máxima. É colorido, com contraste muito mais alto que antes (de novo, agradeçam o coating Super Spectra), e sem contornos coloridos ou mais fortes. Ok, não é ultra suave como a série L quem tem um grupo de lentes só para tratar do bokeh, mas vale pelo preço e para o que vocês procuram. Retratos com fundo desfocado, entrevistas em vídeo sem participação do cenário, detalhes da decoração de festa e qualquer foto mais “íntima” que os 50mm forem adequados, funcionam melhor que a f/1.8 II.
Que nos trás a principal pergunta deste artigo: vale o upgrade a versão antiga ou não? Bom… Se você usa a EF 50mm f/1.8 II todos os dias, sim, vale totalmente o upgrade. A construção é vastamente superior e os resultados ópticos são notáveis. Quem percebeu a minha indiferença sobre a f/1.8 STM no Twitter quando descobri que a fórmula das duas era igual, agora tem o veredicto: sim, a Canon melhorou bastante e não compraria uma f/1.8 II pelo mesmo preço da f/1.8 STM. Mas quem já tem a f/1.8 II e usa esporadicamente, não precisa sair correndo pelas novidades: a sua lente continua bacana, bem usada e os resultados podem ser fantásticos, e não está chovendo US$130 lá fora. Guarde o dinheiro para outra coisa. Boas fotos!