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Fevereiro/2016 – A 70-200mm f/4L IS USM ($1199) é nada menos que a terceira Canon EF deste range que vemos no blog do zack. Lançada em 2006, ela trouxe para a linha f/4 o estabilizador de imagem da f/2.8L IS maior, que faz falta na versão f/4L sem-IS (1999, $599), como vimos naquele review em 2012. Era só o céu ficar nublado para o ISO começar a subir, aumentando também a insegurança de fotos tremidas, inevitáveis no telephoto. A 70-200mm f/4L é uma ótima lente, mas a falta do estabilizador incomoda. O que fazer quando a f/2.8L IS não é uma opção? (english)
Entra a f/4L IS. Chegando no blog do zack meramente para testes, ela tentará ser uma substituta da minha EF 70-200mm f/2.8L IS II USM; objetiva-desejo de muitos, pesadelo, porém, de poucos. Com o peso de 1.49kg e o preço de US$1999, as vantagens do f/2.8 logo vão embora quando ela enche o saco na hora de carregar, pesadona na mochila e de fato uma peça para quem precisa trabalhar. Então uma alternativa mais leve é bem-vinda, por isso decidi dar uma chance a f/4L IS, também mais amigável aos bolsos. Mas vale a pena pagar o dobro da f/4L tradicional só pelo IS? E para quem tem a f/2.8L IS grande, vale o downgrade? Vamos descobrir! Boa leitura.
Em 17×7.6cm sozinha ou 24.5x10cm com o parasol ET-74 incluído, montado; tudo em 760g de metais, vidros e algumas borrachas; a EF 70-200mm f/4L IS USM fica longa em qualquer corpo EOS e grita “ferramenta!” por causa da construção robusta com tubo de metal. Ela é comprida e chama bastante atenção na rua como a f/2.8, então ainda está voltada para profissionais que dependem da operação confiável, e não para amadores de final de semana que vão estragar o passeio da família com um negocião destes. Ela equilibra bem com todos os corpos EOS porque é leve, casando tanto com os modelos de policarbonato (6D) quanto os de magnésio (1D, 5D e 7D).
Vindo da f/2.8L II IS, a f/4L se resume em prazer de usar uma vez que os excessos ficaram de fora. A maior diferença é a espessura do tubo e o peso, obviamente maiores e incômodos na objetiva grande. Mas a ergonomia da Canon continua intacta. Há amplo espaço para a mão esquerda e os dedos caem sobre o anel de zoom traseiro, com um caminho curto até o anel de foco na frente, arranjo idêntico a todas 70-200L. O destaque mesmo e a minha razão de ser fiel a Canon é a absoluta perfeição no peso e feedback destes anéis. Meu deus, que suavidade! A força que eu faço para girá-los é a mesma de deslizar um menu no smartphone. Ou seja, nenhuma. É suave e está assim desde que tirei da caixa, diferente de algumas Nikkor que precisam “amaciar”.
O giro dos 70mm aos 200mm acontece em 90º e, de novo, é o mesmo das outras 70-200L. Não há diferença de torque nem espaçamento entre distâncias, e é tão “liso” que dá até para fazer zoom-pull durante a gravação de vídeos. Na frente o anel de foco percorre o giro de 150º do infinito até o mínimo de 1.2m (o mesmo em todas), e a janela de distância é fácil de ler e com marcações em pés e metros. As chaves de controle do estabilizador e do motor USM estão no espaço entre os anéis, para controles intuitivos com o dedão, posição mais bem resolvida que as telephoto zoom L do range 300-400mm que deixam as chaves perto da câmera. Nestes modelos a mão fica muito perto do rosto para operar o AF/IS, então prefiro as chaves mais a frente como nas EF 70-200mm L.
Do lado de dentro o motor de foco é do tipo ring-USM, rápido, preciso e totalmente silencioso. Com a EOS 7D Mark II foi fácil conseguir sequências inteiras em foco de animais em movimento, retratos com o modelo andando ou apenas “apertou=focou” para fotos inesperadas. É a mesma sensação que tenho do lado de fora com o anel de zoom, mas você percebe do lado de dentro como o conjunto óptico está bem acertado, por isso o motor foca com agilidade. Porém comparada a 70-200mm f/2.8L II IS USM topo de linha eu senti sim diferença na velocidade. Não tive problemas com a f/4L IS, mas a f/2.8L II IS me pareceu mais rápida para focar em sujeitos estáticos. Dá pra perceber que o viewfinder da câmera fica nítido mais rápido com a f/2.8L II IS.
O estabilizador de terceira geração é taxado em até 4 stops e funciona como prometido. Ele é mais barulhento do que eu gostaria e faz um “arranhado” do lado de dentro que nunca ouvi numa EF. Não é o “CLICK!” alto das Nikon mas um “rrhgnrrghrgmhnrgn” que parece até estar quebrado. Mas ouvi outras cópias fazendo o mesmo barulho, portanto não é defeito, é característica. Pelo menos ele “segura” a composição no lugar e permite exposições até 1/4 em 200mm (!) sem borrar a foto, coisa que os modelos sem IS não fazem sem um tripé. Note que isso dependerá também da sua técnica, segurando firme a câmera; não vale sair fotografando como um maníaco que o IS não ajudará. E ainda há um mode 2 para panning, que deve ser ativado na objetiva antes de fotografar movimentos lineares como carros na pista; ele desligará a compensação num dos eixos.
A principal pergunta é: vale a pena o estabilizador pelo dobro do preço da f/4L sem-IS? A resposta é não. Mesmo com o estabilizador ativado eu tive a proeza de conseguir exposições 1/125 tremidas por desatenção, que estava confiando demais no módulo e esqueci de manter a postura antes do click. Ainda mais usando a 7D Mark II, considerada “DSRL de alta densidade” por causa do tamanho dos pixels, eu deveria ter prestado mais atenção a velocidade do obturador. Mas não prestei e o módulo salvou menos fotos do que eu gostaria. Então não vale como “aval psicológico” e custa muito caro. Se fosse comprar de novo, optaria pela f/4L sem-IS e um tripé.
Na frente os filtros de ø67mm são pequenos e acessíveis, certamente mais baratos que os de ø77mm dos modelos f/2.8. O trilho parece de plástico e fica dentro do lens hood, que deve ser montado num trilho a parte. A montagem deste é ruim, por fricção, justa demais; estamos falando de um lançamento de 2006 quando o hood de botão ainda não existia. E atrás o mount de metal tem uma distância profunda até o último elemento, tornando-o compatível com ambos EF Extenders 1.4x ou 2x. Note que a abertura máxima resultante f/8 não permitirá o uso do AF phase na maioria das EOS, somente aquelas com ponto central super sensível. Na minha EOS 7D Mark II funciona, mas na EOS 6D e T6i não. O estabilizador, por outro lado, continua funcionando.
Para completar, o “WR” (Weather Resistance) é declarado pela Canon e indica que a f/4L IS está protegida contra respingos d’água e poeira. Há uma borracha ao redor do mount, nos anéis e nas chaves laterais, novidade sobre a f/4L sem-IS que não tem. Enfim sem grandes avanços para a linha exceto o estabilizador no corpo menor, que funciona bem apesar do barulho. Mas ele não faz milagres nem congela o sujeito, então o diferencial do modelo está no tamanho e no peso, que é o mesmo da versão f/4L sem-IS que custa metade do preço. Então vale o IS? Na minha opinião, não. E as fotos, são comparáveis com a f/2.8 topo de linha? Vamos ver.
Com um projeto óptico de 20 elementos em 15 grupos, quatro a mais que a versão f/4L sem-IS mas com as mesmas peças Fluorite (1) e UD (2); e três a menos que a top f/2.8L II IS USM (23EL19GR), a 70-200mm f/4L IS USM está bem no meio da família EF 70-200mm. Ela não tem o preço tão caro das versões maiores, nem uma fórmula tão simples da base da gama. Então fica entre as duas como uma opção pra quem tem um orçamento mediano. Mas para a performance óptica isto é bom e ruim ao mesmo tempo: ela não fica atrás dos outros modelos em aspectos-chave como resolução e contraste, além do controle quase perfeito de aberrações, o que é bom; porém não tem a suavidade no bokeh e vinheta corrigida em f/4, maior diferença a favor dos modelos f/2.8.
Contraste e resolução são impecáveis independente da abertura, argumento difícil de defender numa zoom mas que a Canon domina nos 70-200mm. Da máxima f/4 até a otimizada f/8, não há diferença nos detalhes do centro até as bordas, que são assustadoramente nítidas. Tenho alguns arquivos de paisagens em f/4 que eu verifiquei duas vezes os valores do EXIF para ter certeza que eram na abertura máxima. São todas as grades, tijolos, galhos e placas a distância que me faz pensar o motivo de existirem as primes nesta altura do campeonato. Vindo do review da AF-S 105mm f/2.8G, prime Micro-Nikkor que me surpreendeu pela resolução nas paisagens, esta 70-200mm f/4L IS USM faz a mesma coisa numa zoom. Pensando então nas anteriores AF-S 28-300mm e 70-300mm, nem se fala: as 70-200L são de fato produtos em outra classe.
Aberrações cromáticas, que também irritaram nos reviews zoom recentes, embora de projetos totalmente diferentes, eu sei, também são totalmente controladas nesta Canon. Eu começo a questionar se o conjunto Fluorite + UD algum dia será combatido por outra fabricante, porque até agora não vi nada parecido no telephoto da concorrência. A Nikon adora falar do “ED” nas objetivas deles mas francamente não vejo bons resultados. E o Fluorite só é empregado nas top AF-S G/E, enquanto a Canon coloca até na f/4L de US$599. A consequência é óbvia: arquivos perfeitos de ponta a ponta do quadro, seja no formato APS-C ou no 135 full frame.
Talvez os únicos comentários negativos a respeito da performance óptica venham a partir da comparação lado a lado com outra objetiva “melhor”, técnica de análise que eu geralmente não apoio nos meus reviews mas que, vira e mexe, acabam valendo como argumento na hora da compra. A vinheta e o bokeh da f/4L IS ficam atrás da f/2.8L II IS e respondem sozinhos a dúvida: vale a troca da grande pela menor? A resposta é não. As diferenças são sutis e esperadas: as duas em f/4 mostram uma exposição mais clara na f/2.8L II IS uma vez que ela está fechada em 1 stop, portanto usando o “miolo bom” do projeto. Mas o bokeh é mais suave e com menos linhas duras na f/2.8L II IS, e de fato a melhor opção para retratos e fotos com baixa profundidade de campo.
Enfim uma objetiva interessante no blog do zack porque me faz questionar de fato quanto vale um estabilizador de imagem. O projeto da EF 70-200mm f/4L IS USM é o mesmo de todas outras 70-200L: uma zoom de alta performance, construída para profissionais, com operação suave, AF rápido e performance óptica pronta para publicação. Mas pensando na linha com quatro opções, cada uma a primeira vista com um preço “justo” para o que entrega, numa análise mais de perto eu só posso concluir que este IS está caro demais. A 70-200mm f/4L sem-IS é uma barganha por US$599: mesma construção, mesma operação e excelente performance. Mas os US$1199 da f/4L IS são grana demais por causa de quatro stops (teóricos) de vantagem, e, sinceramente, vale mais a pena comprar um tripé. A EF 70-200mm f/4L IS USM não entrega o que custa. Boas fotos!