Canon EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM

Nem luxo, nem lixo

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Maio/2019 – A EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM é a sexta e mais recente geração da objetiva zoom grande-angular/padrão da Canon para o formato APS-C. Geralmente oferecida como kit das câmeras de entrada Rebel e #0D, a ideia é atender os iniciantes com câmeras de troca de objetiva, uma lente flexível para as fotos do dia-a-dia; tudo num equipamento portátil e acessível, com concessões mínimas na performance. Uma novidade inesperada, porém é a abertura reduzida: enquanto as outras EF-S “18-55” todas vinham com o diafragma variável f/3.5-5.6, o modelo apresentado parte do f/4-5.6; ou seja, 1/3 a menos de stop no grande angular, agora num produto 18% menor. Por outro lado todos os recursos das versões anteriores foram mantidos, como o estabilizador de 4-stops e o motor de foco automático “STM” silencioso, compatíveis com a gravação de vídeo das câmeras EOS e a fotografia descomplicada. Mas por cerca de US$50 extras nos kits, ou incríveis US$249 como uma peça vendida a parte, será que a “18-55 de kit”, agora com abertura ainda menor, vale para boas imagens? Vamos descobrir! Boa leitura. (english)

CONSTRUÇÃO E OPERAÇÃO

Canon EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM

Em 6.2 x 6.1cm de 215g de principalmente plásticos e vidros, e primeira coisa que notamos na EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM é o tamanho; de fato a menor 18-55mm para DSLRs da Canon, porém não a menor objetiva neste segmento. Não me levem a mal: a 18-55mm com abertura f/4-5.6 é pequena e casa bem com câmeras de entrada T7i ou SL2, mas não se compara às ofertas do mercado “mirrorless”; nem as com abertura maior; nem as com design dobrável. Por isso a justificativa da mudança para a abertura menor parece duvidosa; ela é uma objetiva pequena sim, prática de usar, mas até a Canon tem uma 18-55mm menor no sistema mirrorless. Porém o que a 18-55mm f/4 tem de “grande” ela tem de resistente, e a construção parece robusta para evitar desalinhamentos e degradação óptica. Também todos os recursos que fazem dela uma boa objetiva estão lá, como os botões mecânicos de foco e estabilizador, que não dependem da interface gráfica da câmera para ativar; além de anéis generosos de operação, para perfeita sintonia com as mãos. Então no geral a 18-55 f/4 é simples e acessível, mas de ótima qualidade; pronta para resistir as fotos do dia-a-dia.

Canon EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM

Nas mãos a ergonomia é perfeita com câmeras DSLR e operação com as duas mãos, segura nos controles e na precisão do enquadramento; tudo ao alcance dos dedos. O anel de zoom tem cerca de 2.9cm num peça emborrachada de ótima pegada, com ajuste rápido dos 18mm aos 55mm em menos de 90º graus. O giro é suave e anti-horário do grande-angular ao telephoto, e passa a impressão de qualidade na construção, sem balanços do tubo interno retrátil que carrega as peças de vidro. A Canon sem dúvidas tem dominado a construção de policarbonato em suas objetivas e câmeras da linha de entrada, e com certeza estas peças durarão anos de operação; mesmo sendo baratas de fabricar. Na frente o anel de foco manual é menor em apenas 0.6cm numa peça também emborrachada, mas a conexão eletrônica (não mecânica) com o motor de foco STM é questionável. Enquanto o AF seja totalmente interno e silencioso, além de permitir que a peça da frente da objetiva seja fixa para usarmos filtros polarizados, o foco manual fica prejudicado, desconexo das peças internas. Então o giro do anel é “liso”, sem precisão ou agilidade na operação, e parece uma controle secundário; prefira usar mais o foco automático do que o foco manual pelo anel.

Canon EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM

Do lado de dentro a Canon mantém os motores da geração STM anterior f/3.5-5.6, e a operação é idêntica na objetiva f/4-5.6 nova. O primeiro deles é o sistema de foco “stepping motor” totalmente silencioso e suave, introduzido na EF 40mm STM, e a maior novidade sobre as versões não-STM anteriores. A operação tem destaque para a total ausência de barulhos e vibrações, pensada nas fotos em lugares quietos (eventos sociais, behind the scene), e na gravação de vídeos com as câmeras EOS. A velocidade de focagem também é quase instantânea com câmeras Dual Pixel (Live View) ou com o módulo “phase” do viewfinder, rivalizando até os USM/NANO-USM mais caros; é difícil perder o momento da foto com uma câmera Canon. E a taxa de acerto é virtualmente perfeita com a operação correta da câmera (pontos ou zonas AF sobre áreas de grande contraste), com os testes na EOS M com taxa de 100% de acerto. Ainda, o motor STM tem algoritmos revisados e compatíveis com a focagem contínua durante a gravação de vídeos, se comportando como uma verdadeira “Handycam” no modo EOS Movie. A focagem é segura, precisa e silenciosa, e dá para trabalhar tranquilamente com uma objetiva “de entrada”, agora ainda mais portátil e acessível.

Canon EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM

Também do lado de dentro a Canon mantém na 18-55mm f/4 o excelente módulo de estabilização óptica “IS”, taxado em impressionantes 4-stops. Antes um recurso destinado às objetivas mais caras, o IS atual é simples de implementar e acessível, e cada vez mais capaz de “segurar” a composição no lugar; bacana para dispensar o tripé nas fotos do dia-a-dia. Com 4-stops é possível registrarmos exposições até 0.5s em 18mm, permitindo fotos com baixo ISO sob pouca luz. Na posição telephoto (55mm) a compensação também é bem-vinda, até 1/3s para registros nítidos de paisagens e retratos. E na gravação de vídeos o estabilizador da Canon sempre mostra a maestria desta fabricante para com este recurso; “segurando” a composição sem travadinhas, vibrações ou falta de suavidade; um problema que assombra soluções de estabilização interna na câmera ou outras marcas alternativas. O resultado se dá no acabamento “profissional” dos vídeos logo na linha de entrada da Canon, e vale a sugestão desta objetiva até para câmeras mais caras.

Canon EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM

Enfim na frente a 18-55mm aceita os mesmos filtros de ø58mm das gerações anteriores; bacana pela compatibilidade ao longo dos anos. A melhor parte é que nestas versões STM o filtro frontal não gira com a operação do foco manual, e permite o uso com polarizadores (usados em todas as fotos deste review) ou NDs graduados, sem complicações. Eles vão numa rosca relativamente robusta na frente da objetiva, e dentro do trilho para o parasol opcional EW-63C, e funcionam como qualquer objetiva maior, fáceis de usar. E atrás a baioneta de montagem feita de plástico nos lembra do último “corte” em prol do preço acessível; lentes mais caras geralmente usam este acabamento em metal. Uma última curiosidade está dentro desta rosca: o elemento óptico é protegido por uma capa de plástico, e evita danos ao vidro caso o usuário 1) monte a EF-S numa câmera full-frame (elas não são compatíveis) ou 2) seja descuidado na troca das peças. Então no geral a 18-55mm demonstra o comprometimento da Canon para com o mercado de entrada, numa peça ainda menor e acessível, flertando com os fotógrafos que outrora escolheriam as câmeras sem espelho. E como veremos na fotos a seguir, talvez o tamanho não seja tudo nesta objetiva; como fica a qualidade de imagem desta “objetiva de kit”? Vamos descobrir nas fotos do review.

QUALIDADE DE IMAGEM

“Topo” em f/6.3 1/500 ISO100 @ 18mm; todas as fotos com a EOS M.

“Topo” em f/6.3 1/500 ISO100 @ 18mm; todas as fotos com a EOS M.

Com uma fórmula óptica relativamente complexa de 12 elementos em 10 grupos, uma nova peça asférica para performance em todas as posições do zoom, cobertura química Super Spectra para maior contraste e diafragma de 7-lâminas arredondadas para melhor desfoque, como sempre a performance de uma Canon EF-S 18-55mm “lente de kit” é… justa. A resolução no quadro todo é aceitável para impressões até tamanho A3 com câmeras APS-C na casa dos 18-24MP, com destaque para o contraste afiado e cores equilibradas com o restante da linha Canon. A peça asférica garante performance no final do telephoto (55mm) que não víamos nos projetos anteriores “não-STM”, e a cobertura Super Spectra mantém sobre controle os reflexos internos. Mas os problemas continuam nas bordas com resolução duvidosa e as eventuais aberrações cromáticas, além da geometria questionável no começo do grande-angular. Portanto a qualidade desta 18-55mm é justa: agradará pela portabilidade e facilidade de uso; mas não espere a mesma performance de objetivas mais caras, pensadas em quem imprime fotos além do tamanho A2.

“Piscina” em f/7.1 1/125 ISO100 @ 18mm.

“Piscina” em f/7.1 1/125 ISO100 @ 18mm.

Logo na abertura máxima a performance óptica da 18-55mm f/4-5.6 é muito boa. Como não temos uma grande amplitude de aberturas entre as máximas e as limitadas pela difração nas câmeras APS-C para usarmos (qualquer coisa além de f/8 e já vemos perda de nitidez em razão da difração), os dois/três stops de trabalho na 18-55mm meramente corrigem a vinheta acentuada nas bordas do quadro; a resolução é boa em qualquer abertura. O centro do quadro, aliás, tem momentos de brilhantismo em fotos de paisagem e retratos, e a nova peça asférica garante resolução maior no final do telephoto; uma vantagem das 18-55 STM em relação as gerações passadas. Aqui testada com a EOS M no Parque Nacional do Itatiaia, por exemplo, fica fácil ver o salto na qualidade de imagem em comparação a um smartphone topo de linha (iPhone 8 Plus em modo raw).

“Amarelo” em f/4 1/200 ISO100 @ 18mm; próximo do foco mínimo.

“Amarelo” em f/4 1/200 ISO100 @ 18mm; próximo do foco mínimo.

Crop 100%, performance bacana para uma zoom de kit.

Crop 100%, performance bacana para uma zoom de kit.

“Mato” em f/5.6 1/500 ISO800 @ 55mm.

“Mato” em f/5.6 1/500 ISO800 @ 55mm.

Crop 100%, detalhes no centro graças a nova peças asférica.

Crop 100%, detalhes no centro graças a nova peças asférica.

“S.Sebastião” em f/4 1/200 ISO100 @ 18mm.

“S.Sebastião” em f/4 1/200 ISO100 @ 18mm.

Crop 100%, nitidez de sobra na objetiva zoom.

Crop 100%, nitidez de sobra na objetiva zoom.

Fechar a abertura não tem impacto visível na resolução do quadro, como acontece em algumas objetivas prime, embora corrija sim a vinheta acentuada nas bordas; especialmente no grande angular. Do f/4 ao f/7.1 há um ganho de até 2-stops de luminosidade nas bordas do quadro em 18mm, bacana para registros de céus e outros elementos lisos (como paredes em arquitetura); apesar de nunca 100% uniformes como algumas primes. Há cerca de 0.5-stop de escurecimento das bordas mesmo no f/8 nesta 18-55mm e, como já vemos impactos da difração nos detalhes, a recomendação fica em usar o diafragma apenas para controles de exposição. O interessante é ver a abertura de 7-lâminas produzindo desfoque suave em distâncias focais longas e focos curtos, utilizado pelo novo foco mínimo de 25cm (ampliação máxima de 0.25x); bacana para registramos até selfies com câmeras de tela LCD Vari-Angle como 80D/T7i/SL2; tudo com uma objetiva portátil. 

“To the moon” em f/7.1 1/250 ISO100 @ 18mm.

“To the moon” em f/7.1 1/250 ISO100 @ 18mm.

Crop 100%, detalhes impressionam vindo do kit portátil.

Crop 100%, detalhes impressionam vindo do kit portátil.

“Parada 1” em f/6.3 1/250 ISO100 @ 18mm.

“Parada 1” em f/6.3 1/250 ISO100 @ 18mm.

Crop 100%, impressões de grande formato são possíveis com estes arquivos.

Crop 100%, impressões de grande formato são possíveis com estes arquivos.

“Lâminas” em f/8 1/40 ISO400 @ 18mm.

“Lâminas” em f/8 1/40 ISO400 @ 18mm.

Crop 100%, texturas bem definidas nos 18MP da EOS M.

Crop 100%, texturas bem definidas nos 18MP da EOS M.

Problemas crônicos, porém, continuam nas aberrações cromáticas laterais nas bordas do quadro, e na geometria duvidosa no grande-angular; ambas, porém, fáceis de corrigir. Como os diferentes espectros de luz tem diferentes valores de refração, eles são focados em posições diferentes sobre o sensor; gerando bordas coloridas em zonas de alto contraste. Isto será visto nos limites entre montanhas e o céu; folhas de árvore contra a luz; ou elementos gráficos urbanos, com linhas coloridas artificiais. Mas a correção é praticamente perfeita via software, portanto difícil de reclamar nas objetivas hoje em dia. O mesmo pode ser dito sobre a geometria do grande-angular em linhas retas que tomam formas esféricas nos limites do quadro, em razão dos grupos de zoom simplificados, visíveis em projetos arquitetônicos ou mesmo na linha do horizonte. Novamente esta é uma correção simples e com boa qualidade de imagem, e não precisa ser uma preocupação.

“Céu” em f/7.1 1/640 ISO100 @ 18mm.

“Céu” em f/7.1 1/640 ISO100 @ 18mm.

Crop 100%, caso mais sério de aberração cromática lateral.

Crop 100%, caso mais sério de aberração cromática lateral.

“Flaring” em f/7.1 1/40 ISO100 @ 18mm.

“Flaring” em f/7.1 1/40 ISO100 @ 18mm.

“Igreja” em f/4 1/40 ISO100 @ 18mm; antes e depois da correção de distorção.

Por fim as cores, a qualidade do desfoque e o controle de reflexos internos são “felizes” na EF-S 18-55mm; sempre um destaque na Canon e em qualquer faixa de preço. As cores são um show no mercado digital: azuis são puros e equilibrados em fotografias de paisagens, com o verde das florestas e as sombras amareladas ao longo do dia. Aliás, neste review feito com filtro polarizado em todas as fotos, os tons são saturados e sem necessidade de compensação no computador.; graças ao trilho de filtros fixo na frente da objetiva. Os reflexos internos também são interessantes em razão da cobertura química Super Spectra, eliminando vazamentos em pontos de luzes fortes como o sol. Enquanto os resultados não sejam perfeitos por causa das dimensões dos vidros, a qualidade é a melhor numa 18-55 até agora. E até o desfoque é agradável, apesar de difícil de ser conseguido; somente próximo das distâncias mínimas do foco e nas aberturas máximas. É possível “enganar” com desfoque suave e agradável, próximo até das primes, e infinitamente superiores a qualquer “bokeh falso” feito via software nos smartphones mais recentes.

“Azul” em f/6.3 1/80 ISO100 @ 18mm; filtro polarizador aumenta a saturação das cores.

“Azul” em f/6.3 1/80 ISO100 @ 18mm; filtro polarizador aumenta a saturação das cores.

“Flor” em f/4 1/500 ISO400 @ 18mm; foco mínimo permite fotos com curta profundidade de campo.

“Flor” em f/4 1/500 ISO400 @ 18mm; foco mínimo permite fotos com curta profundidade de campo.

“Detalhe” em f/4.5 1/200 ISO400 @ 28mm.

“Detalhe” em f/4.5 1/200 ISO400 @ 28mm.

VEREDICTO

A EF-S 18-55mm f/4-5.6 IS STM é, como sempre, um review interessante no vlog do zack porque eu sou um grande defensor destas peças mais simples no kit do dia-a-dia; mais fáceis de usar, carregar e comprar; e com performance razoável para 99% das fotos. Foi-se o tempo em que um equipamento topo-de-linha era exigência para “boas fotos”, e insisto em dizer que “o profissional é o fotógrafo”; não a câmera. Portanto mesmo nestas “zoom de kit” é possível fazermos boas fotos com boa técnica, e faz todo o sentido recomendá-la tanto para quem está começando quanto para quem está em busca de uma objetiva leve e flexível. Todos os recursos estão presentes na nova 18-55 IS STM, e as principais aberturas (e distâncias focais) de trabalho estão lá. Então as fotos do álbum são prova da qualidade da objetiva: tanto faz se fossem feitas por uma EOS 5D Mark IV + EF 24-70mm f/2.8 lI USM; ou por uma EOS M + 18-55mm. As fotos são as mesmas e a performance é muito parecida. No geral vale mais a sua criatividade e a sua experiência, e boas fotos!