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Novembro/2015 – Quando a Sigma anunciou a linha Global Vision em 2012, ela começou uma mais que necessária revolução no datado mercado fotográfico. Um mercado que parou no tempo enquanto os consumidores se uniram num rebanho conectado, a tecnologia trouxe um gadget novo a cada ano enquanto as fabricantes de câmeras continuaram a entregar os mesmos produtos de 10 anos atrás, com nomes diferentes e preços cada vez mais altos. Enquanto foi “tipo-tudo-bem” pra Canon e Nikon perderem o mercado de câmeras compactas para o smartphones, perder também o mercado de objetivas é uma coisa que elas não deveriam deixar acontecer. (english)
Se Canon e Nikon se recusam a entregar produtos interessantes, outras marcas estão mais que felizes de entrar no mercado delas. Sigma com suas fenomenais linhas Art, Contemporary e Sports; Sony com as incríveis mirrorless A7 e A6000; a Zeiss com as linhas Otus, Batis e Milvus… Até a Leica, com a toda-eletrônica, com foco automático mirrorless full frame Typ 601 SL, produto inimaginável para uma marca tão tradicional. Todos criaram mais que animação suficiente para alavancar vendas no mercado, e num mundo cheio de snapschats, Instagrams e paus de selfie, fica bem claro o interesse do público pela fotografia digital: mais acessível, mais rápida, e para todos.
A Tamron decidiu entrar neste mercado da moda, sexy, desejável, restruturando a linha SP (Super Performance), com novo design, fórmulas ópticas topo de linha e muita tecnologia; tudo por um preço competitivo na relação custo/benefício, que só as marcas alternativas estão dispostas a fazer. Curiosamente ela começou com duas objetivas fixas, 35mm e 45mm f/1.8, de uma marca mais conhecida pelas objetivas zoom. Ela foi a primeira a introduzir a zoom “mais grande” angular f/2.8 com estabilizador, a SP 15-35mm Di VC USM, e também a primeira zoom standard f/2.8 full frame com estabilizador, a 24-70mm SP Di VC USD que vimos no final do ano passado.
Desta vez eles apresentaram algo realmente especial, com as primeiras primes f/1.8 “VC” (Vibration Compensation) do mundo, provando sua expertise no mercado de estabilizadores também em fórmulas de grande abertura. Nós já vimos algo parecido na Canon EF 35mm f/2 IS USM, mas Tamron apresentou duas distâncias focais diferentes (apesar de próximas, devo assumir), 1/3 de stop a mais, foco close-up embutido, proteção a respingos e poeira, acabamento de metal, foco automático rápido… Tudo por, vou repetir, uma fração do preço das objetivas de marca. Funcionou? Fotógrafos de Canon ou Nikon devem considerá-las uma opção? Boa leitura!
Em 80.4 x 91.4mm de 498g, a primeira coisa que chama atenção na SP 45mm f/1.8 VC é o tamanho. Ela não é grande, não é enorme, é uma aberração! É insana de tão grande e até engraçada considerando que uma parte do mercado está adotando corpos menores, sem botão (estou falando com você, Sony A7) enquanto a outra está pensando em tamanho, peças grandes, quanto maior, melhor. É o que a Tamron está chamando de “filosofia Toque Humano” e a inspiração vem do próprio usuário. “Os botões são maiores e reconfigurados para toque mais suave, e a nova família tipográfica foi desenhada para facilitar a leitura”, diz o press release deles. E o que criaram foi um equipamento bem grande, definitivamente o maior de baixo custo que já usei no standard.
Próxima em especificação (distância focal e abertura, pelo menos) são as plastic fantastic EF 50mm f/1.8, que eu mantive apenas a Mark II no kit para emergências. E você consegue ver como ela é uma anã ao lado da Tarmon. Do lado de fora as primes “Super Performance” receberam acabamento de metal, bonito na teoria, fácil de riscar na prática; só o tempo poderá dizer se foi uma boa ideia (eu tenho a SP45 por um mês e nada aconteceu). Ela é bonitona com o emblema SP de um lado, botões do outro, família tipográfica nova e janela de distância 20% maior em cima, e um prazer de usar nas mãos. A Canon não tem nada comparável na linha EF (em estilo e preço) e ela parece mais limpa que a Sigma Art. Menos é mais e funciona nas novas Super Performance.
Do lado de fora o anel de foco manual é grande e fácil de usar, também bem diferente das standard f/1.8 que vemos das principais marcas. Ele se parece e opera muito mais como as Sigmas Art f/1.4 do que qualquer Canon ou Nikon f/1.8 (EF ou G), e é generoso nas mãos. O feedback é preciso, sem jogo nem atraso entre o movimento do anel e o grupo de foco interno, mais comparável com a série L do que algumas (não todas) Nikkors f/1.4. Quem tem estes equipamentos high end se sentirá em casa, e novos compradores serão mimados pelo upgrade. A Tamron SP está longe de ser barata em US$599, mas entrega um produto topo de linha no geral.
Do lado de dentro do motor de foco automático USD (UltraSonic Drive) é preciso e quieto. Mas não é o mais rápido, com uma curva de torque diferente entre o ponto A e B. A maioria das Canon, especialmente da série L, tentam atingir o foco certo o mais rápido possível, com um movimento linear, quase instantâneo assim que você aperta o botão. A Sigma por outro lado “pensa” antes de se mover, provavelmente perdendo qualquer chance de fotografar ação. A Tamron escolheu uma “curva de aceleração” e você claramente percebe como ela começa devagar e fica mais rápida.
Talvez o motivo para este approach com a velocidade seja a distância mínima de foco reduzida, que a Tamron também está anunciando nas novas primes SP. Também as primeiras do mercado, as duas objetivas tem uma distância MOD (Minimum Object Distance) de 0.2m para a 35mm e 0.29m para a 45mm, dando a elas ampliações máximas de 1:2.5 e 1:3.4 respectivamente. Embora não seja macros 1:1 de verdade, é mais que o suficiente para sujeitos do dia a dia como flores, insetos, pets e produtos, adicionando mais uma função a objetiva. Grande abertura? Estabilizada? Com foco close? O equipamento precisaria ser longo para aceitar tudo do lado de dentro.
Destaque do lado de dentro é o excelente módulo de estabilização da Tamron, chamado de “Vibration Compensation”. Disponível em quase todas suas objetivas, é um dos melhores sistemas do mercado porque é totalmente silencioso e sem atraso entre o apertar do botão e o funcionamento. Ele vai estabilizar o viewfinder para facilitar a composição, e compensar cerca de 3-4 stops no obturador. É impressionante para fotos em pouca luz considerando a distância focal e a abertura. Apareceu na internet uma foto do módulo VC, e é enorme. É quase tão grande quanto os das telephotos de grande abertura da Canon, mas aqui numa objetiva de US$599. É o principal selling point da linha SP contra a Sigma Art f/1.4, e muito mais útil que a abertura da concorrente.
Por fim na frente os filtros de ø67mm são compartilhados entre as duas objetivas; vamos torcer para continuar assim. O elemento da frente tem cobertura de fluorine, mais fácil de limpar contra dedadas. Alguns fotógrafos estão dizendo que é tão eficaz que repele água durante chuva, convidando mais um uso ao corpo já protegido contra poeira e respingos. Anéis de borracha no mount, embaixo do anel de foco e nos botões selam o equipamento. E as chaves AF/MF e VC ON/OFF são suaves, fáceis de usar mas não tão fáceis a ponto de mexerem sozinhas.
No geral este é um produto bizzaro porque o preço compete não em relação à Canon ou Nikon, mas contra a Sigma Art! Por que você pagaria quase US$700 a mais pelas duas Sigma f/1.4, 35mm DG de US$899, e US$999 pela 50mm DG, se você pode ter ambas estabilizadas e muito mais fáceis de usar (mais leves e com weather sealing) nas novas Tamron f/1.8 VC? Canon e Nikon nem entram na conta porque não tem nada parecido com a especificação e estabilizador. A Sony fez algo parecido na E-Mount 50mm f/1.8 OSS, mas ela é para o formato APS-C. A Tamron fez um trabalho brilhante na reformulação da linha SP, tanto mecânica quanto opticamente.
Com uma fórmula óptica de 10 elementos em 8 grupos, um de baixa dispersão, dois asféricos em vidro moldado, coatings eBAND e BBAR, a Tamron está demonstrando tudo o que sabe fazer na óptica para combinar com a performance mecânica do equipamento. Ela tem se superado no mercado zoom com duas ótimas f/2.8 full frame com as bem recebidas 15-35mm e 24-70mm, ambas também na linha “Super Performance”. Sim, eu tive problemas de alinhamento com a minha cópia da 24-70mm e o teste logo após a perfeita Canon EF 24-70mm f/2.8L II USM provavelmente impactou na minha opinião sobre a Tamron na época. Mas no geral a SP45 se saiu bem: os arquivos são limpos, as aberrações são bem controladas e a resolução é alta.
Farei de tudo para não deixar que o recente review da também perfeita Canon EF 35mm f/1.4L II USM interfira com as minhas opiniões sobre a Tamron SP 45mm f/1.8 Di VC USD. Aquela objetiva foi sem dúvidas a melhor que usei em 2015 e é difícil de comparar com o que a Canon demonstrou no mercado de grande abertura. Mas a Tamron fez um bom trabalho na 45mm f/1.8 totalmente aberta, com mais que resolução suficiente de ponta a ponta e aberrações negligenciáveis. Bolhas coloridas são visíveis em zonas de contrast e alguns vazamentos levam um pouco da resolução embora totalmente aberta. Mas não estou com medo de recomendá-la para o uso em f/1.8 e ela teve momentos de brilhantismo em situações de pouca luz.
Fechar a abertura rapidamente corrige a já discreta vinheta não importa a distância de foco. Objetivas estabilizadas tem uma tendência de mostrar menos vinheta uma vez que o caminho da luz deve ser maior para comportar a mudança de enquadramento do sistema, e a Tamron deixou ela invisível em f/4. A resolução é quase nada mais alta fechando o diafragma já que a partir de f/1.8 é muito boa, pelo menos da EOS 6D de “baixa densidade” com 20MP. Eu vi mais aberrações cromáticas do que gostaria mas isso é provavelmente o recente review da Canon 35L II falando mais alto. O fato é: esta prime SP não é nem melhor nem pior que qualquer outra objetiva intermediária que usei recentemente, e as vantagens do estabilizador e do foco close-up embutido serão decisivos na hora da compra. Opticamente ela está no padrão do mercado.
Fotos do tipo close-up são interessantes e outra prova da maravilha desta Tamron. Os arquivos são limpos, de alta resolução e contraste, qualidades que tendem a ir embora quanto mais perto você está do sujeito. Nestas condições qualquer aberração cromática aparece maior e visível uma vez que a objetiva se transforma numa lupa para as imperfeições, mas nem aparece tanto. Sujeitos gráficos, produtos e outros motivos “industriais” talvez mostrem as imperfeições do projeto, mas não é uma performance ruim para a ampliação 1:3.4. Um único click na maioria dos softwares consertam as bolhas coloridas instantaneamente e é um ótimo recurso embutido.
Infelizmente o bokeh não é o ponto forte da SP45 e o look tem aparência de tubos de néon, com bordas fortes e círculos imperfeitos no segundo plano. Eu adoraria que fosse perfeito, mas desculpem, não é. Outras objetivas mais simples conseguem um look muito mais suave e pontos de luz são dissolvidos direto na câmera. A abertura circular de nove lâminas não continua redonda por muito tempo, então o valor máximo é recomendado para evitar problemas. Na verdade as lâminas fazem o trabalho oposto melhor: pontos de luz ganham estrelas de 18 pontos, mais que as zonas de desfoque do quadro na abertura máxima.
A Tamron fez o seu melhor para chamar a atenção do mercado, algo não muito fácil hoje em dia. Objetivas fixas f/1.8 são de entrada ou intermediárias no máximo na Canon ou na Nikon, mas a linha Super Performance se posiciona como um produto premium e entrega. Mecanicamente não há muito mais o que pedir: design bonito, acabamento excelente, anel de foco manual perfeito além da ergonomia, com um módulo de foco automático que funciona. Opticamente ela é “okay” para o que é: os arquivos são limpos, a resolução é alta e as aberrações são típicas.
O que realmente faz esta objetiva brilhar é o estabilizador, muito útil para fotografias com ISO baixo em pouca luz, gravações de vídeo e fotos mais nítidas em geral, não importa a situação. É um produto tão importante quanto as Sigmas Art. Se você ainda não comprou qualquer objetiva Global Vision e quer começar um kit melhor que as fabricantes de marca tem para oferecer, a linha SP é uma ótima opção por uma fração do preço. Tamron, por favor, continue o bom trabalho!