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Maio/2015 – A Canon EF 16-35mm f/2.8L II USM foi a primeira objetiva que eu não recomendei no vlog do zack. Vamos esclarecer uma coisa: não, eu não tenho nada contra este modelo; sim, eu fiz ótimas fotos com ele. Porém eu não consigo superar a performance nas bordas no full frame mesmo em f/8, pelo preço de US$1599. Querem ver um exemplo? (english)
Ela é a única opção zoom f/2.8 da Canon para o formato full frame ultra grande angular. A nova EF 11-24mm f/4L USM perde metade da luz. A nova EF 16-35mm f/4L IS USM, com estabilizador, também perde metade da luz. E só a prime EF 14mm f/2.8L II USM, com performance superior, entrega a mesma abertura; mas custa US$2099. Resultado por resultado, fiquem com a EF 17-40mm f/4L USM de US$799 que é muito mais negócio. Ela chegou no vlog do zack em fevereiro de 2011 como a primeira experiência ultra grande angular da EOS 5D Mark II. A construção é impecável; e a operação é facílima, feita pra trabalhar o dia inteiro. Mas pelo preço eu não tenho como recomendar. Vamos ver por quê? Boa leitura!
Em 635g de 88.5x111mm com 16 elementos em 12 grupos, a primeira coisa que você nota na EF 16-35mm f/2.8L II USM é o comprimento super longo. A EF 24-105mm, por exemplo, é mais curta em 10.6cm, apesar do range maior. E a prime EF 135mm f/2L USM, considerada médio telephoto, tem os mesmos 88x113mm da zoom ultra grande angular. Ou seja, não é uma construção normal e talvez explique o problema da performance óptica das bordas. A luz entra num amplo ângulo de visão com 108º e tem de caminhar 11cm até o sensor? Alguma coisa vai dar errado.
A construção é impecável, com plásticos de alta qualidade do lado de fora e o que parece uma estrutura de alumínio do lado de dentro; da mesma geração da EF 24mm f/1.4L II USM. Do mount de metal até a rosca de filtros, também de metal, são dois anéis, de zoom e de foco, com movimento preciso e suave, sem qualquer balanço, para nenhum lado. A lente vai crescendo consideravelmente até o trilho para hood, incluído na caixa, e o thread de ø82mm na frente; o primeiro numa objetiva Canon EF. Apesar de grandes e caros, estes filtros não causam vinheta, já que os elementos ópticos ficam longe das bordas. Nada expande durante a operação.
O destaque como sempre vai para o motor USM de foco automático do tipo ring. Este é um dos principais updates da geração II, que saiu junto da 1D Mark III em 2007; fazendo a festa para fotojornalistas. Extremamente rápido e silencioso, foi uma das minhas primeiras experiências de fato com foco instantâneo, mesmo com a EOS 5D Mark II. Apertou, focou; notavelmente mais rápido que até outras série L que eu já tinha na época: 24-105mm, 100mm Macro, 50mm e 85mm f/1.2. A 16-35mm II é super precisa e pode receber inclusive mais alguns watts de potência das 1D, para focagem ainda mais rápida. É o que a Canon tem de melhor no mercado fotográfico.
Para focagem manual o único switch AF/MF pode ser mantido em “AF”, já que o anel suporta o full time manual. Ele é de metal e emborrachado, grande na frente, para maior firmeza. A distância é automaticamente traduzida na janela superior com marcações em pés e metros, sem atraso/jogo, bacana também para gravação de vídeos. O foco mínimo de 28cm pode até causar o “efeito bokeh” com a baixa profundidade de campo em abertura máxima, interessante para isolar o sujeito mesmo no grande angular. Talvez este seja um dos poucos triunfos do modelo, já que o desfoque é super suave, bem “série L”. Agradeçam a abertura completamente circular.
No geral a experiência da EF 16-35mm f/2.8L II USM nas mãos é fenomenal. Apesar de grande, ela não é pesada, e equilibra bem até nos corpos APS-C, embora eu não recomende o uso já que você perde o apelo “grande angular”. O parasol na frente é um pouco estranho, grande demais; e questiono a utilidade dele nesta distância. Mas várias vezes vejo este modelo montado numa 1D como a segunda ou terceira câmera de jornalistas, para composições dramáticas, “dentro da ação”. Pode observar: quando tem alguma farofa acontecendo e um fotografo “atirando pra qualquer lado” sem nem olhar pelo viewfinder, grandes chances de ser um corpo 1D com uma 16-35mm f/2.8L na frente. É “pau pra toda obra”, tipicamente Canon série L.
Mas eu nunca engoli a performance óptica da EF 16-35mm f/2.8L II USM e ela foi trocada pela EF 35mm f/1.4L USM, que fazia sentido depois da compra da EF 14mm f/2.8L II USM. O projeto óptico é high end, com três peças asféricas, uma de cada tipo (ground, replica e glass mold); e um elemento UD. Os coatings são modernos, feitos para a era digital com alto contraste e cores equilibradas. Porém a resolução nas bordas simplesmente não está lá, e detalhes viram borrões. Foto a foto a EF 17-40mm f/4L USM fará a mesma coisa, pela metade do preço. * Fotos com a 5D Mark II.
No centro do quadro a resolução é excelente e no geral o contraste e as cores podem justificar o investimento na 16-35mm f/2.8L II USM. Tudo é saturado, vibrante, e com poucos ajustes via software para arquivos “com cara de publicidade”. Direto da câmera dependendo do seu picture style dá pra fazer a mesma coisa, e com certeza é um passo a frente dos kits APS-C. Os amarelos e vermelhos são vibrantes, e parecem calibrados para fotografar cultura asiática ou tons de pele, que misturam as duas cores. E em cenas naturais os azuis e verdes também são fortes, perfeitos para paisagens amplas. Funciona muito bem e são um ponto a favor da série L.
Mas indo para as bordas e esta zoom não consegue entregar o mesmo desempenho em resolução da prime EF 14mm f/2.8L II USM; performance que começamos a nos acostumar recentemente (zoom com qualidade de prime). A primeira vez que notei foi num espaço que facilmente poderia simular uma situação profissional: fotografia de arquitetura. Na verdade eu queria fotografar uma sequência para explicar a diferença na vinheta de f/2.8 até f/11, que, aliás, é bem forte. E foi quando eu abri as fotos no computador que vi a desgraça nas bordas. Intolerável.
Aí eu comecei a ser chato e investigar todos os outros arquivos. Era verdade: a objetiva high end, “série L” da Canon, não entregava de fato o que a 5D Mark II pedia nas bordas. Seja em cenas tridimensionais, que eu até concordo na variação de nitidez devido a profundidade de campo acentuada, ou em cenas planas, distantes, há uma notável perda de nitidez nas bordas. Okay, eu não sou a favor de itens importantes no perímetro e de fato só em output 100%, com impressões gigantes, fará diferença. Mas recomendar a compra para quem assiste o canal, eu também não sou.
E num passeio a Islas Ballestas (Peru), por acaso tive um encontro caótico com flaring. Enquanto eu fotografava pelo viewfinder óptico e usando óculos polarizados, eu nem vi. Mas quando abri os arquivos no computador, foi a experiência mais tosca que já tive com uma objetiva: toda a minha sequência de fotos estava destruída com um “clarão” vindo do sol. O contraste foi pro saco e não dá para recuperar via software. Nunca usei filtros e estava com o parasol. Foi a gota d’água.
US$1599 por uma zoom grande angular “rápida” com construção topo de linha, AF perfeito e operação simples? Sim, aceito. Mas as bordas serão tão ruins quanto a EF-S 10-22mm e há o risco de perder fotos por causa do flaring. Thanks, but no thanks. No final das contas eu não tenho mais a EF 16-35mm f/2.8L II USM e ela nunca fez falta. Primeiro a adição dos 14mm f/2.8 prime mataram os 16mm; estes 2mm a mais fazem uma composição muito mais dramática e prime é prime, com qualidade imbatível. Segundo, depois de experimentar outras opções mais baratas, mais caras, melhores e piores, a 16-35mm simplesmente caiu no esquecimento. Eu entendo quem defende: o equipamento não é tão ruim e nunca perdi uma foto por causa das bordas. Mas recomendá-la aos meus seguidores? Por US$1599? Conhecendo a Nikon 14-24mm? Nem pensar. Boas fotos!