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Junho/2014 – A EF 28mm f/1.8 USM (US$449) é a última opção na linha Canon de lentes grande angulares de grande abertura, antes de chegar na três-vezes-mais-cara EF 24mm f/1.4L II USM (US$1749). Ainda mais ampla é a EF 20mm f/2.8 USM, mas que não tem o mesmo f/stop; e semelhante em luminosidade é a EF 35mm f/2 IS USM, mas que não tem o mesmo ângulo de visão. Então podemos dizer que a 28mm f/1.8 USM é única por oferecer o melhor dos dois mundos: é grande angular luminosa e não abre um buraco no orçamento. Perfect! (english)
Embora o projeto antigo de setembro de 1995 mostre seus limites nos sensores digitais exigentes como os 18MP APS-C da EOS M (todas as fotos deste review) ou os full frame a partir da EOS 5D Mark II, os resultados no dia a dia são bacanas. Outras objetivas modernas, recentes, com projetos pensados para o digital deixam a 28mm f/1.8 para trás em desempenho óptico, principalmente notado em impressões gigantes. Não quero dizer que as imagens sejam ruins, longe disto. Mas pensando numa prime eu estava esperando mais. Às vezes falta resolução, contraste, cores e, principalmente, personalidade. Será que funcionará para você? É tão ruim assim? Vejamos!
Em 310g de 10 elementos em 9 grupos, a EF 28mm f/1.8 USM casa muito bem com câmeras full frame ou APS-C. O tamanho é compacto em apenas 7.3mm e ela nunca enche o saco na rua. Basta montar na câmera e esquecê-la, sem pesar nas mãos ou puxar o corpo para frente. Montada na 5D Mark II a EF 28mm f/1.8 USM fica bem equilibrada, até leve demais. Por ser compacta, falta espaço para as mãos apoiarem a lente e me vi segurando parte da base da câmera. Com a EOS 60D a história muda e tudo fica ainda mais agradável; as duas são leves e gostosas de usar.
O design é da mesma escola da EF 50mm f/1.4 USM e 85mm f/1.8 USM, com anel generoso de foco manual, full time manual (tanto faz o botão em “AF” para operá-lo) e janelinha de distância; além do motor USM com a característica impressão “ultrasonic” dourada na frente. A minha cópia é um pouco mais robusta que a 50mm f/1.4 USM (que vocês sabem que eu não gostei), com menos jogo no anel e menos balanço dos tubos. Isto porque o foco é 100% interno, traseiro, e nada mexe durante sua operação. É tudo feito de plástico e o mount é de metal, sem proteção a respingos.
O foco USM é muito rápido e a principal marca da Canon. Tanto na 5D Mark II full frame, phase detection, quanto na EOS-M, APS-C mirrorless, híbrida, ele foi instantâneo com muita luz e caçou pouco no final do dia. O botão AF/MF tem uma lombada que facilita a operação e não vi mudando a opção acidentalmente. Usei pouco o anel manual já que a maioria das fotos foi com a EOS-M; basta clicar na área da tela touch para focar automaticamente ali, tudo sempre bem preciso e rápido. A única reclamação é o foco travar às vezes nas zonas de contraste do bokeh, quando por exemplo os círculos dos highlights ficam bem definidos. Aconteceu poucas vezes e mostra que o AF híbrido tem suas limitações técnicas: levar em consideração o contraste ou a distância?
Detalhe interessante é o “hood interno” ao redor do círculo da abertura, que eu nunca tinha visto em outra objetiva. Ela continua aceitando um parasól em formato de pétala EW-63II do lado de fora, que não vem na caixa. A janela de distância é boa e de fácil leitura, e os filtros de 58mm na frente não giram. Enfim a operação e construção são bem padrões. Nada além da série normal da Canon, sem as firúlas de metal da linha L nem a vergonha da EF 50mm f/1.8II. Era uma lente que eu poderia facilmente me apaixonar pela usabilidade e usar o tempo inteiro na câmera, mas como veremos nas fotos, os resultados sem vida me fazem questionar a qualidade das imagens.
Com um projeto de 10 elementos em 9 grupos, a EF 28mm f/1.8 USM vem de uma época quando os sensores digitais nem eram sonhados comercialmente para atingir as massas, muito menos com a resolução e velocidade de capturas atuais. Então o projeto pensado para o filme é bem menos exigente em resolução e nitidez, e que naturalmente fica mais “suave” em ampliações gigantes. Por isto a 28mm f/1.8 USM não entrega o mesmo nível óptico de lentes modernas como as novas EF 35mm f/2 IS USM, Sigma 18-35mm f/1.8 DC HSM; ou 30mm f/1.4 DC HSM, todas da era digital.
O que não quer dizer que as fotos sejam ruins ou que as possibilidades criativas não estejam disponíveis. As cores são agradáveis, típicas das lentes Canon, e para impressões de tamanho razoável a lente consegue gerar arquivos mais que o suficiente detalhados. Pêlos, tijolos, placas, todos estarão lá independente da distância de foco. Mas o projeto aspherical não garante resolução nas bordas e é a principal reclamação do desempenho da 28mm f/1.8 USM. Esta não é a ferramenta correta para quem coloca sujeitos importantes nos cantos da composição.
CA longitudinal na minha opinião é baixo e não aconteceu nas minhas fotos. O desfoque não ganha cores estranhas e, sinceramente, isto só aconteceria se o segundo plano fosse sem graça. Dica: preencha o fundo das fotos com cores agradáveis, com complementem a composição, sem linhas que compitam com o sujeito. Já o CA lateral é alto e deve ser corrigido nas câmeras a partir do DIGIC5 ou na pós-produção, no computador. É tão grave quanto aquela zoom Nikon AF-S Nikkor 24-85mm de entrada; ultrapassa os três pixels e fica aparente em contornos de prédios.
O bokeh poderia ser mais suave e nem sempre é possível isolar o sujeito do fundo. Aqui começam os problemas de “personalidade”. O desfoque não é tão suave quanto as lentes mais caras (tipo 24mm f/1.4L II USM) e entregam a alma do projeto low cost. E com a ausência do vignetting, que é aquele escurecimento das bordas em abertura máxima, a tal “personalidade” também sofre. As fotos não ficam interessantes, focadas no sujeito ao centro, com características ópticas marcantes. Poderá satisfazer alguns que não gostam do problema, mas eu sinto falta na maioria das fotos. Por fim a distorção geométrica é bem controlada e só aparece em linhas retas horizontais, nas bordas.
A EF 28mm f/1.8 USM completa a linha de entrada com grande abertura da Canon ao lado das 50mm e 85mm f/1.8. Como todos estes projetos ultrapassam os 15 anos, fica difícil compará-los opticamente a opções modernas Nikon e Sigma. O que sempre me deixa com a sensação que a Canon não está tentando nada de diferente além de depender do nome. E não dá para esconder nas imagens que os resultados não estão lá, por mais competente que seja o fotógrafo. Enfim, se vale a pena colocar esta objetiva no kit? Sim se você for fiel a marca e precisa da distância. Mas temos de novo um projeto que implora upgrade, desta vez óptico, na minha opinião em respeito aos fotógrafos digitais. Se encontrá-la barata no mercado de usadas (alguém nos últimos 19 anos já deve ter pensado em vendê-la), compre. Como nova? Melhor olhar outra marca. E boas fotos!